Un-Britto, um app que substitui Romero Britto por outras artes

Romero Britto já é pop. O estilo super colorido do artista já estampa capinhas de celulares, sapatilhas e até móveis, e está por todos os lados. Para libertar quem não é tão fã do artista dessa onipresença da sua arte, surgiu o app Un-Britto, que promete ‘desbrittizar’ a realidade.

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Funcionando em um Google Glass, o app reconheceria os traços de Romero Britto e substituiria aquela imagem por outra obra prima clássica, como pinturas de Van Gogh ou Da Vinci. O mais surpreendente é que a proposta, que ainda é um conceito, também se empenharia em ‘apagar’ objetos que contém estampas brittizadas – de repente, sai o colorido e entra uma Mona Lisa (!)

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Segundo o vídeo de apresentação, o app também poderia ser adaptado para substituir Romero Britto por outras imagens, por exemplo, de cachorrinhos abandonados (!!).

Por enquanto, o Un Britto é só uma brincadeira, mas provavelmente haveria público caso se tornasse realidade.

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Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Braincast 105 – Isto é Arte?

Nas últimas décadas vimos as artes plásticas tomarem uma dimensão muito contrastante com boa parte do que já foi concebido na história da produção artística e criativa. Experimentos com novos suportes, uso de tecnologia e até mesmo encenações por parte dos criadores se tornaram pauta de uma discussão muito curiosa, que tenta separar o que realmente é arte, daquele frenesi que muitos cultivam e demonstram nas mais diversas galerias, mostras e exposições.

No Braincast 105 debatemos o que realmente é arte ou não, em algum momento entre o pós-impressionismo e o movimento contemporâneo. Carlos Merigo, Saulo Mileti, Ivan Mizanzuk e Leo Giannetti discutem sobre esse universo tão rico e nebulosamente complexo.

Faça o download ou dê o play abaixo:

> 0h01m50 Comentando os Comentários?
> 0h13m05 Pauta principal
> 1h32m10 Qual é a Boa? – qualeaboadobraincast.tumblr.com

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Workshop9

Nosso curso de Design acontecerá nos dias 3 e 4 de maio, em São Paulo. Mas as vagas já acabaram. Estamos remanejando alguns alunos. Portanto, se você tiver interesse, pode procurar a Cláudia Capuzzo (nossa organizadora) para tentar se matricular em alguma vaga aberta. O e-mail é: claudia@colosseo.com.br.

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TUCCA – Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer

Música pela Cura – 2014
Durante o ano de 2014 a TUCCA estará com o projeto “Série de Concertos Internacionais – Música pela Cura”, que apresentará shows na Sala São Paulo e arrecadará 100% dos fundos para que a instituição continue funcionando e ajudando crianças e adolescentes que lutam contra o câncer. Para conhecer mais sobre o projeto, acesse o site.

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Críticas, elogios, sugestões para braincast@brainstorm9.com.br ou no facebook.com/brainstorm9.
Feed: feeds.feedburner.com/braincastmp3 / Adicione no iTunes

Quer ouvir no seu smartphone via stream? Baixe o app do Soundcloud.

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Chegará em breve ao Kickstarter a Lix, uma caneta 3D que permite criar objetivos no ar

Desenhar no papel poderá ser coisa do passado, ao menos se depender do entusiasmo dos fundadores da Lix, uma caneta 3D que permite criar objetos e obras de arte no ar.

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No que parece uma mistura de caneta com pistola de cola quente, a Lix precisa ser plugada em uma fonte de energia (que pode ser a porta USB do seu computador) e receber filamentos de um material que se solidifique rapidamente – pode ser PLA, com base vegetal, ou plástico ABS – e então a ‘mágica’ acontece. Basta deslizar a caneta no ar, usando um papel ou estrutura como base, para começar a ‘rabiscar’ em 3D.

Grosso modo, a Lix é basicamente uma impressora 3D de traço livre, o que pode ser uma ótima ferramenta para artistas. 

A Lix tem pouco mais de 16 cm de comprimento, 1,3 cm de diâmetro e pesa cerca de 35 gramas, oferecendo uma maior facilidade de manuseio. A capacidade de transformar os rabiscos em arte parece estar fundamentada na estabilidade da mão de quem desenha – como o líquido da caneta está aquecido e rapidamente se solidifica, é necessário ter um traço consistente e preciso para criar as formas no ar.

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A previsão é de que a Lix chegue ao Kickstarter no dia 24, a um custo inicial de 140 dólares. Os filamentos de PLA ou ABS podem ser adquiridos em lojas que fornecem material para impressoras 3D – cada 10 cm do filete corresponde em média a 10 minutos de rabiscos no ar, e o custo do quilo é de cerca de 30 dólares.

Grosso modo, a Lix é basicamente uma impressora 3D de traço livre, o que pode ser uma ótima ferramenta para artistas.

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Tanque de água é controlado com o movimento da mão usando Kinect

Teo Park, artista digital de Seoul, criou uma instalação interativa usando um Kinect hackeado e integrando-o a um tanque de água. Dessa forma, os visitantes podem controlar o movimento da água com os gestos das mãos.

Ao usar a força gravitacional – determinada pela posição da mão do visitante – os dados captados pelo Kinect são transferidos para os motores. Com isso, geram energia e, de forma mecânica, movimentam a água do tanque. O nome “May The Force Be With You” vem daí.

Misturando-se à superfície do tanque, uma imagem carregada de luz e tons de azul é projetada no espaço. Funcionando como uma textura, a projeção torna visível o movimento da água.

Dessa forma, os visitantes são engajados a interagir, testar “sua força” e observar as mudanças que seus gestos causam em tempo real e de forma totalmente imersiva, como se estivessem dentro d’água.

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Todo o projeto e a integração do Kinect aos sistemas interativos foram realizados utilizando programas open source como Processing e Arduino.

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Google Street View hackeado transforma cidades em selvas apocalípticas

Einar Öberg, programador de Estocolmo com um portfólio repleto de criações interativas, acabou de lançar mais um experimento: Urban Jungle Street View.

Usando dados da API do Google Maps não documentados, Öberg transformou as cidades vistas através do Google Street View em selvas urbanas e com visual apocalíptico.

Para conseguir tal efeito e tamanha facilidade de interação com o aplicativo, Öberg usou o depth data do Google Maps através da biblioteca GSVPanoDepth.js, disponível no GitHub. Isso permitiu que formas geométricas e efeitos visuais fossem aplicados quase que no exato local do ambiente 3D das panorâmicas.

O app também toma emprestado o design de interação e efeitos visuais do Panorama Viewer, criado via Three.js por Jaume Sanchez Elias (mais conhecido como @thespite), outro programador que também possui extenso portfólio de wep apps experimentais com JavaScript e WebGL.

Abaixo, algumas imagens de São Paulo tiradas através do Urban Jungle Street View (Av. Paulista, Praça da Sé e Ponte Estaiada).

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Acesse o aplicativo para testar com sua localização e outros locais interessantes. Dica: funciona melhor com ruas de prédios altos.

O resultado desse mashup de códigos e ideias é impressionante, as cidades ganham, ao mesmo tempo, um aspecto primitivo e apocalíptico.

Segundo Öberg, mesmo algumas cidades precisando de mais imaginação do que outras, o projeto faz repensar não só a interação com as cidades e como elas podem parecer no futuro, mas também o potencial de criação que temos com tecnologias, ideias e produções deste tipo.

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Série de fotos brinca com buracos encontrados nas ruas

Quando dois fotógrafos cruzam os EUA dirigindo e encontram pelo caminho centenas de buracos, o que eles fazem? Davide Luciano e Claudia Ficca resolveram criar uma série de fotos que retratassem tais buracos de forma inusitada.

MyPotholes retrata 18 cenas detalhadas em diferentes buracos das cidades de NYC, Los Angeles, Toronto e Montreal.

Todas as cenas foram fotografas com amigos e família servindo de modelos, às vezes em locais calmos e desertos, outras em meio ao caos do trânsito e pessoas se amontoando em volta da sessão. Como não havia permissão da polícia, era preciso estar preparado para arrumar tudo e sair a qualquer momento.

Os fotógrafos contam que, como as fotos foram feitas publicamente e de forma descontraída, algumas pessoas curiosas paravam para ver e aproveitavam para contar suas experiências com os buracos.

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Inicialmente, o projeto teve sua criação com pretensões de expor o ridículo da situação dos buracos pelas cidades. Porém, eventualmente, passou a significar mais, como a dificuldade de mudar algo que incomoda e frusta qualquer cidadão.

E são desses problemas que MyPotholes surge como um projeto despretensioso porém com voz ativa, dando poder à mudança e à perspectiva que enxergamos a cidade que nos cerca.

 

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Objetos analógicos e obsoletos são transformados em “robôs-artistas”

Como parte do projeto Autonomos Machines, a designer Echo Yang transformou objetos analógicos e obsoletos em “robôs-artistas”.

Autonomos Machines é uma resposta ao processo moderno de design generativo, onde computadores sozinhos criam intermináveis variações de um tema, sem input algum do ser humano.

Com a simples ideia de prender pincéis carregados de tintas (e outros materiais como cerdas e cotonetes) nas máquinas e então ligá-las, surpreendentes desenhos e texturas se formam no papel.

Uma resposta ao design generativo moderno, onde computadores sozinhos criam intermináveis variações de um tema, sem input algum do ser humano, Yang resolveu repensar esta técnica transferindo a automatização do processo de criação para máquinas analógicas.

Cada objeto, dependendo do seu tamanho, movimento, cor e tipo de tinta, resultou em diferentes padrões e criação artística.

TinToy (Chicken)

TinToy (Chicken)

Batedeira

Batedeira

Barbeador Elétrico

Barbeador Elétrico

Walkman

Walkman

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Relógio de Corda

Relógio de Corda

Aspirador de Pó

Aspirador de Pó

Passando longe de complexos códigos de programação, os desenhos formados poderiam ter vindo de qualquer mão talentosa. Mas o uso das máquinas aqui reflete justamente esta interação entre tecnologia e arte, levantando questões sobre o processo de criação e a impressão do artista, do meio e das ferramentas, estampadas na arte contemporânea.

Outros vídeos do Autonomos Machines podem ser vistos aqui.

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Mosaico transforma mais de 21 mil Pantone chips em “pixels reais”

O departamento de design da OgilvyOne, que trabalha tanto com impresso quanto digital, juntou essas duas disciplinas para fazer uma instalação artística em seu escritório em Londres, chamada de Paper Pixels.

Dois pilares de 3 metros de altura foram cobertos com mais de 21 mil fichas destacáveis da Pantone, transformando cada uma dessas fichas em um “pixel real” para formar dois grandes mosaicos de emoticons – ícone da cultura digital.

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Dezenas de pessoas trabalharam por quatro meses destacando e separando cada ficha colorida dos livros concedidos pela Pantone. Depois foram necessários 4 dias para a colagem de cada “Pantone pixel” nos pilares.

“Assim como pixels em uma tela digital, você não consegue ver a imagem de perto, mas se afastando um pouco os emoticons aparecem.”

Nas palavras do Head of Design, Rory Campbell, “assim como pixels em uma tela digital, você não consegue ver a imagem de perto, mas se afastando um pouco os emoticons aparecem. Essa ilusão de ótica destacou visualmente o departamento de design, unindo os times de digital e impresso.”

A idéia partiu do designer Hiten Bhatt. O resultado você assiste no vídeo acima 🙂
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Archist City transforma grandes artistas em prédios

Arquiteto e ilustrador, Federico Babina ganhou destaque recentemente por Archicine, uma coleção de pôsteres que usa a arquitetura para representar filmes bastante conhecidos. Agora, ele volta a chamar a atenção com Archist, nova série de ilustrações que homenageia grandes artistas transformando o estilo de cada um deles em prédios.

Ao todo são 27 nomes, entre eles Andy Warhol, Pablo Picasso, Piet Mondrian, Roy Lichtenstein, Salvador Dalí e Joan Miró, entre outros.

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Entre Archicine e Archist, há um outro projeto de Babina, que também merece atenção especial. Archiset usa a mesma ideia das demais séries, mas usando a arquitetura para representar os sets de filmagens de 17 clássicos do cinema. Aqui, selecionamos alguns exemplos, mas mais uma vez recomendamos uma olhada mais demorada no portfolio do artista.

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Copos de Stella Artois viram instrumentos musicais

Os cálices de vidro da Stella Artois são preciosos para qualquer amante de cerveja. E, graças ao escultor e pesquisador do MIT Andy Cavatorta, virou matéria-prima de quatro instrumentos musicais de vidro.

“Queríamos destacar os princípios de esforço, determinação e dedicação que a Stella Artois carrega em sua concepção.” – Debora Koyama, VP para PSFK

O projeto, chamado The Chalice Symphony, também envolveu a banda Cold War Kids, que deu vida aos instrumentos ao tocar sua nova faixa “A Million Eyes” e, assim, transformar vidro em música.

Cada instrumento – Hive, Pryophone, Star Harp e Violina – também estão expostos em uma galeria montada pela marca no Lower East Side de Manhattan.

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Para dar um gostinho, além do vídeo e fotos no site do projeto, o próprio escultor Andy Cavatorta registrou todo o processo de criação de cada instrumento em seu blog.

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MoMa abre para exposição sua coleção de 40 anos de inovação no design

Uma nova e eclética coleção no Museum of Modern Art, em Nova York, espera representar o que tem de mais inovador no design da última década. A exposição entitulada “A Collection of Ideas” contempla tudo o que você pode imaginar, de Minecraft à drones, passando por ternos punks e simples símbolos que hoje fazem parte do nossos alfabeto visual como o “@“.

A coleção entra com uma tarefa difícil: explicar ao público que design, apesar de quase sempre discutido apenas em publicações de estilo ou especializadas, não é apenas sobre “fazer bonito”. É, na verdade, sobre a vida real, o dia a dia e o ser humano.

As peças mais chamativas podem ser aquelas que ficam mais próximas do que já somos familiarizados. De símbolos ubíquos como o “pin” do Google Maps e o “@“, são em demonstrações como essa que o olhar para, observa e repensa as interações diárias.

Também se encontra disponível uma pequena seção para os clássicos dos games, repleta de jogos do Atari, de Asteroids ao Pong. Todos estes ficam expostos em telas acopladas à parede, sem molduras, como uma pintura clássica em um museu. Além disso, são liberados para jogar!

MoMa tem feito esforços para relacionar os game à arte, colecionando-os há um bom tempo e apontando conceitos inovadores como os gráficos em vetor de Asteroids e a arte generativa de Minecraft, resultando em um mundo gerado por algoritmos que compõe uma experiência única para cada usuário.

Joris Laarman Bone Chair

Joris Laarman Bone Chair

Google Pin

Google Pin

CamCopter-S-100

CamCopter-S-100

Atari

Atari

@

@

“O tempo muda, mas a humanidade nem tanto assim.” – Antonelli, curadoria sênior, para The Verge 

Grande parte das peças partilham do mesmo objetivo de destacar como a interação e o design evoluíram ao longo do tempo e misturam-se um com o outro. Já alguns trabalhos apontam para como as ferramentas digitais transformaram e adicionaram às formas naturais, como uma cadeira feita de ossos e esculturas de madeiras que recriam a anatomia de um escorpião.

Sem dúvidas, cada objeto tem uma história para contribuir para a evolução do design ao longo de décadas, deixando visíveis ora revoluções ora traços de imutabilidade.

Objetos pragmáticos expostos como arte tradicional.

Com trabalhos que podem parecer desconectados do MoMa e do mundo da arte como um todo de tão comuns e alheios a tal pensamento, os esforços de dar espaço para o visitante observar e refletir são aparentes. Afinal, traduzindo bastante esta era digital e participativa, às vezes é preciso deixar que as pessoas conectem os pontos por elas mesmas. E são com tais objetos pragmáticos que a exposição busca refletir passado, presente e futuro.

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Desafie Dalí para ver quem pisca primeiro

Os retratos de Salvador Dalí são tão conhecidos e expressivos quanto suas artes. Olhos arregalados acompanhados do pontudo bigode em uma expressão maníaca, quase que hipnótica.

Esse seu visual notável e teatral foi justamente a base para a criação de um aplicativo de suporte ao Dalí Museum e sua nova exposição, com trabalhos de Andy Warhol, “Warhol: Art. Fame. Mortality“.

O aplicativo, The Dalí Museum Staring Contest, é exatamente o que parece ser: uma simples competição de encarar Dalí e ver quem fica mais tempo sem piscar. Para isso, através do app, é preciso olhar fixamente para os olhos do artista, em sua figura que aparece na tela, e tentar não piscar. A pegadinha: Dalí sempre vence!  Outra coisa interessante é que ele continua olhando para o usuário apenas se este manter seu olhar.

Mecânica simples e até mesmo boba, o ar de brincadeira e visual vintage acabam expressando de forma inusitada as personas e obsessões de Dalí e Warhol.

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“A obsessão de Dalí e Warhol com celebridades foi a motivação por trás do Staring App.” – Hank Hine, diretor executivo do museu, no site do projeto

Por trás do app está a obsessão tanto de Dalí quanto de Warhol com o mundo das celebridades. De fato, a interação nos coloca face a face com personalidades e estrelas do mundo da arte, e estas olham diretamente para nós, com ego imenso e olhar fixo sempre vitorioso.

Da mesma forma que não era possível tirar os olhos destas duas maiores figuras artísticas e de ideias disruptivas do século 20, o aplicativo, mesmo que simples, faz um bom trabalho ao gerar conhecimento sobre a exposição atual do museu e também ao levar o tema para o bolso de cada amante da arte: um simples aparelho que conecta olho no olho e prende sua atenção por quanto tempo for possível.

Staring App está disponível para iOS de graça.

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A vez delas na indústria dos quadrinhos

She Makes Comics é um novo documentário que quer acabar com o preconceito sofrido pelas mulheres quando o assunto é quadrinhos.

Como lembra a diretora do filme, Marisa Stotter, as mulheres estão presentes neste mundo desde o começo, seja como roteiristas, artistas, editoras, donas de lojas e também como fãs. E a discriminação, com seus altos e baixos, para Stotter sempre esteve lá – seja por ser a única mulher no meio da roda masculina, ou por ser constantemente testada sobre seus conhecimentos, como se nunca fossem suficientes.

Suas vozes darão vida às dificuldades, às revoluções e aos tipos de narrativas e composições que partiram dali e permanecem até os dias de hoje. 

O documentário irá incluir mais de 50 entrevistas com mulheres que trabalham ou já fizeram parte da indústria dos quadrinhos, desde 1930 até os dias de hoje.

Dentre as personalidades estão: Jackie Ormes, cartunista dos anos 40; Joyce Farmer, que revolucionou o movimento de comics underground nos anos 70 com suas narrativas cruas e feministas; Karen Berger, diretora da DC Comics, entre muitas outras.

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She Makes Comics é co-produzido pela Sequart, uma organização de Los Angeles que visa promover as HQs como forma legítima de arte.

Em campanha para financiamento coletivo via Kickstarter, o documentário espera arrecadar $41,500 até março, para poder ser finalizado e distribuído.

 

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Woody Allen: É possível separarmos a obra de arte do artista?

Recentemente, vimos a carta Dylan Allen, filha adotiva de Woody Allen quando casado com Mia Farrow, na qual ela confirmava que seu pai havia abusado dela quando criança. Textos ora a favor de Dylan, ora duvidando, pipocaram por toda a internet. Não vou entrar nos detalhes do caso. Quem quiser, recomendo a leitura desses dois textos: a carta aberta de Dylan sobre o assunto e este texto de Robert B. Weide, responsável por um documentário sobre Woody Allen que foi ao ar nos EUA pela emissora PBS. No texto, Weide explica uma série de fatores que colocam em dúvida as acusações (ambos os textos estão em inglês).

O que mais me chamou a atenção no retorno da polêmica, que teoricamente já foi resolvida em 1993, quando Woody Allen foi absolvido pela corte americana, foi a quantidade de fãs dele se questionando “e agora, devo (ou posso) continuar fã?”. Certamente, ninguém quer correr o risco de ter sua reputação misturada a de um suposto pedófilo, simplesmente porque gosta dos filmes dele.

Mas será que tal associação, mesmo que feita de forma involuntária, é justa? Até que ponto devemos fazer tais questionamentos? Esse é um dos mais mais frequentes debates no campo artístico, e Woody Allen não foi o primeiro a ser objeto de tais dúvidas. Com certeza, não será o último. Este texto é uma infame tentativa de resposta para o dilema.

Woody Allen no set de "Match Point" (2005)

Woody Allen no set de “Match Point” (2005)

Qual a importância do autor?

Quando Roland Barthes, semiólogo francês do século passado, escreveu seu famoso texto “A Morte do Autor”, de 1967, ele desenvolvia uma posição provocadora: em contato com uma obra, a única coisa que importa é o leitor. Seu ensaio era voltado especialmente a uma corrente de crítica literária muito comum em seu tempo, na qual buscava explicar obras publicadas a partir da biografia de seus autores.

“E agora, devo (ou posso) continuar fã?”

Segundo Barthes, a obra literária possuiria uma vida independente da vida do autor que a escreveu, sendo então o resultado de leituras, recepções e interpretações diversas no meio social. Nesta perspectiva, definir a qualidade ou alcance de uma obra partindo da limitação da vida do criador da mesma seria inconsistente. Para os curiosos, discutimos essa questão de Barthes no AntiCast 37.

Woody Allen

Eu tendo a concordar com Barthes nesse ponto. Apesar de achar que o conhecimento sobre a vida do autor pode ajudar a um maior esclarecimento sobre detalhes de determinadas obras, quando vou à livraria ou ligo a TV para ver um filme, especialmente se for algo pouco conhecido, não me importa quem é o realizador. Caso o trabalho me chame a atenção, só então corro atrás para saber quem é o escritor, diretor, ator, e qualquer outro “or” (ou “ora”).

Mas, claro, esse não é o caso de Woody Allen. Seu nome é uma assinatura valiosa. Quem é fã, assistirá seu próximo filme sem pestanejar. Quem é simpatizante, poderá dizer que gosta de seus filmes e verá se tiver a oportunidade. E há sempre aqueles que nunca sabem o nome do diretor, e se surpreendem quando descobrem que o diretor de “Noivo neurótico, Noiva Nervosa” é o mesmo de “Meia-Noite em Paris”.

Trocando em miúdos: o nome Woody Allen vende, mesmo em seus filmes menos conhecidos. É um daqueles diretores de público fiel, uma aposta segura para os estúdios. Você com certeza consegue pensar em outros artistas que possuem o mesmo “selo de qualidade”, seja no cinema, na música, na literatura etc.

Claro, sempre há excessões. Um caso recente, no caso de Woody Allen, foi a fraca recepção ao “Para Roma com Amor”, em 2012, provavelmente por causa da alta expectativa causada após o sucesso que foi “Meia-Noite em Paris”. Ainda assim, seu nome continua forte.

Não estou falando nenhum novidade, mas o curioso é perguntarmos “será que o nome do artista sempre teve essa importância?”. A resposta é não.

Woody Allen

Quando surgiu o artista como um nome?

Recentemente, um colega meu, o professor Rodrigo Graça, do curso de design da UTFPR, foi a Paris e postou uma constatação curiosa:

“A disciplina de História da Arte (HA) poderia se chamar marquetingue (sic), ou HA é um protomarquetingue. O culto as obras primas e o endeusamento do indivíduo, na figura do artista criador, é evidente em Paris. Lugares como o Louvre, o d`Orsay e a l`Orangerie tem filas absurdas, enquanto lugares como o Petit Palais e o Musée Centre du Patrimoine et de L`Architecture com excelentes exposições e, em janeiro de 2014, com exposições temporárias sobre Jordaens e sobre o Art-Deco respectivamente, estão vazios; vazios mesmo, sem filas, sem salas cheias, sem atropelo…”

Se pegarmos qualquer livro de história da arte, ao menos os mais famosos (tipo aquele Gombrich que você tem juntando pó na estante de casa), veremos que eles são recheados de nomes. Contudo, os nomes passam a surgir com mais frequência apenas a partir do Trecento, ou o chamado Pré-Renascimento, que marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna, no século XIV. Alguns nomes que aparecem nesse período, apenas a título de curiosidade, são Giotto, Domenico Di Bartolo, e Ambrogio Lorenzetti.

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O que quero dizer com isso? Por toda a Idade Média, com raríssimas exceções, os artistas que lidavam com artes manuais (esculturas e pinturas) não tinham grandes preocupações com autoria (ou, se tinham, eram contidos). Eram considerados prestadores de serviço, numa configuração determinada pela mentalidade medieval que declarava que toda capacidade de produção deveria ser em prol da representação religiosa. Não à toa, a assinatura do artista em suas obras é uma das marcas que assinalam o fim da Idade Média.

Não desejo entrar aqui nos méritos ou deméritos da mentalidade religiosa medieval e sua relação com a produção artística. Quero apenas enfatizar essa característica. Importante notarmos também que, no caso das artes de cunho intelectual, tal como música e poesia, a autoria foi mais levada em consideração. Os primeiros artistas plásticos do Renascimento, sendo frutos de um momento histórico de intensas revoluções culturais, são responsáveis por uma mudança de mentalidade da sua época: a luta pela valorização das artes manuais, de forma a mostrá-las como também oriundas de um intenso esforço intelectual. Por consequência, seus nomes passaram a ser importantes. Viu-se surgir a uma economia de reputações baseada na excelência de seus trabalhos.

Os ícones máximos do Renascimento, Leonardo da Vinci e Michelangelo, são exemplos claros disso. Da Vinci era conhecido como um artista excelente, mas que demorava demais para entregar suas encomendas, dado seu zelo com a qualidade do trabalho. A Monalisa mesmo, sua peça mais famosa, nunca foi entregue ao cliente, e estima-se que ele trabalhou nela por mais de 10 anos. Michelangelo era famoso por confrontar seus clientes, dizendo que eles não entendiam nada de arte e que deviam deixá-lo trabalhar em paz, pelo tempo que fosse necessário. E, claro, se deixassem de pagar, o trabalho era encerrado. Que sonho para criativos de hoje, não?

Por toda a Idade Média, com raríssimas exceções, os artistas que lidavam com artes manuais não tinham grandes preocupações com autoria

Os nomes dos artistas carregavam consigo reputações acerca da qualidade de sua obra, seu método de trabalho, seus preços, entre tantas outras informações. Com a difusão das galerias na Europa a partir do século XVIII, os nomes dos artistas passaram a ser ainda mais importantes. Quanto mais admirado fosse, maior seriam as visitas e as ofertas pelas suas obras expostas. Essa mesma lógica ganhou ainda mais força no mercado literário europeu do século XIX, quando vemos a proliferação do Romance (narrativa longa em prosa) como produto bastante consumido pela classe burguesa. É a época na qual os primeiros bestsellers passam a surgir.

Claro, há mais coisas a serem contadas nessa questão da formação histórica da importância do nome do artista. Poderíamos falar sobre as assinaturas dos pintores em suas telas, dos nomes dos escritores nas capas de livros, ou ainda da construção da idolatria aos diretores de filmes pelo fato de colocarem seus nomes nos créditos iniciais, dando assim a ideia de que ele é a figura mais importante na realização do filme.

Hitchcock é marcante nesse sentido, pois foi um dos primeiros diretores dos EUA a transformar seu nome em um selo de qualidade que vendia o filme com algum respaldo. Fato curioso: se olharmos, na mesma época, para a União Soviética, que desenvolvia sua indústria cinematográfica mais ou menos ao mesmo tempo em que o cinema de Hollywood está amadurecendo, o nome que tinha mais destaque nos créditos de abertura era o do roteirista, e não o do diretor. Podemos deduzir daí que a própria noção de autoria é determinada pelas condições sociais nas quais a obra artística é criada.

E isso me faz retomar a frase que citei do meu amigo há pouco. Até que ponto, hoje, estamos consumindo obras de arte e até que ponto estamos consumindo o artista? Há diferença? E, caso sim, qual é o mais importante?

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Famosos “Podres”

Espero ter demonstrado, ao menos brevemente, o autor nunca foi algo muito importante pela esmagadora maior parte da história da humanidade. Passou a ser importante quando surgiu um mercado que consumia não apenas mais a obra, mas sim o nome atrelado a ela. No caso das artes plásticas, gosto de localizar esse momento no Renascimento – como na famosa Pietá, de Michelangelo, única obra sua que leva a assinatura do autor.

No caso das artes ditas “intelectuais” (música e poesia), podemos remontar aos gregos e romanos da antiguidade clássica – ainda assim, com uma série de restrições. A obra sempre foi mais importante do que o artista. Mas o tempo passa e, com ele, obviamente, as formas de nos relacionarmos ao ambiente em que estamos inseridos. Por isso, a pergunta torna-se pertinente.

Picasso era misógino. Caravaggio assassinou um homem. Rimbaud era contrabandista. Lorde Byron cometeu incesto, enquanto o escritor Flaubert pagava por sexo com garotos.

Há um excelente artigo do NY Times, assinado pelo crítico de arte Charles McGrath, chamado “Good Art, Bad People”. Recomendo a leitura do artigo e usarei parte dele para responder a pergunta que dá nome a este post. Vamos, então, à lista dos podres de artistas famosos.

Um ponto recorrente em vários artistas é o anti-semitismo. Neste caso, a lista é gigantesca. O compositor clássico Wagner, aquele que compôs a marcha nupcial, é um dos casos mais famosos nessa lista. Acompanham-no neste caso o pintor Degas, os poetas Ezra Pound e T.S. Eliot, além de Walt Disney e Mel Gibson.

Uma provocação: você acha que, ao tocar a marcha nupcial em seu casamento, você torna-se um anti-semita por tabela? E quando vê um filme da Disney ou um filme estrelado/dirigido por Mel Gibson?

Picasso era misógino. Caravaggio assassinou um homem. O poeta Rimbaud era contrabandista. Outro poeta, Lorde Byron, cometeu incesto, enquanto o escritor Flaubert, autor do clássico “Madame Bovary”, pagava por sexo com garotos (em tempos em que isso era um crime grave). Charles Dickens era um péssimo pai e marido, assim como Hemingway. John Lennon entraria nesse mesmo caso, especialmente quando pensamos no seu primeiro casamento, com Cynthia Powell, no qual teve seu primeiro filho, Julian.

Frank Miller, autor de quadrinhos que escreveu obras de inestimável valor, como “Batman Ano Um”, “Batman: Cavaleiro das Trevas”, “Elektra: Assassina”, entre tantas outras, é conhecido hoje por fazer comentários de alto teor racista a respeito de muçulmanos nos EUA.

Arthur C. Clarke, famoso escritor de ficção científica, autor de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, recebeu sérias acusações de praticar pedofilia no final dos anos 90. As acusações foram, aparentemente, infundadas. Contudo, na época, muitos ligaram o fato dele residir no Sri Lanka, país com sérios problemas na questão de preservação dos direitos humanos, aos seus possíveis hábitos sexuais.

Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, também foi chamado de anti-semita no ano passado, por ter feito críticas duras ao governo de Israel. Ele se defendeu, dizendo que não estava criticando o povo judeu, mas sim o Estado de Israel. Independente do que quis dizer, a repercussão de suas críticas não foram das mais favoráveis.

Aliás, se formos para a música, teremos uma lista incontável, com os mais variados delitos. Axl Rose (e outros membros do Guns N Roses) confessaram que vendiam drogas antes de se tornarem famosos. Richie Blackmore, fundador do Deep Purple, era (e possivelmente ainda é) um babaca. Morrissey, fundador do The Smiths, já soltou declarações racistas para meio mundo. E se entrarmos no assunto “infidelidade”, esse post não terá fim.

Enfim, a impressão que tenho é que os “podres” dos artistas parecem só ter importância quando eles são próximos de nós, a ponto dessas manchas em suas histórias terem sido esquecidas pelo tempo. A pergunta que poderíamos fazer é “devemos esquecê-las”? Não acho que seja o caso. Contudo, não consigo também deixar de acreditar que a obra do artista continua sendo mais importante que sua figura. Todos morremos – algumas obras sobrevivem.

Sendo assim, apesar de condenar muitas das atitudes que listei aqui, não sei até que ponto é possível “higienizarmos” toda nossa biblioteca de livros, músicas e acervo de gostos artísticos em geral. Imagine a situação: para cada banda nova legal que ouço na rádio, procuro no Google sobre o passado dos artistas, para ver se eles merecem ou não minha atenção. Isso me parece inviável e, até certa medida, paranóico. Talvez seja mais saudável lembrarmos do clichê “de perto, ninguém é santo”. Nem você.

Woody Allen

É possível separarmos a obra de arte do artista?

Sim, é possível e desejável. A obra de arte, especialmente aquela que sobrevive ao teste do tempo, é sempre mais potente do que o seu criador, seja no meio que for. Gosto de lembrar de Barthes neste momento e pensar que o que define a obra não é seu criador, mas sim o que fazemos com ela. Sei que essa resposta pode parecer covarde, como uma tentativa de isentar o autor de qualquer crime que tenha cometido no passado, mas realmente penso que é esse o caso.

Acho difícil que os Beatles, ao escreverem “Helter Skelter”, imaginavam que Charles Manson aconteceria. O mesmo vale para Salinger, e seu “Apanhador no Campo de Centeio”, no que se refere a Mark Chapman, o assassino de John Lennon. O verdadeiro perigo encontra-se no receptor da obra, e não nela em si – por mais perverso que tenha sido seu idealizador. Com isso, espero já ter destruído aquela noção simplista que você aprendeu em aulas de teoria da comunicação, na qual existe o emissor de uma mensagem e um receptor passivo, que só recebe a informação. O receptor é tão ativo quanto o transmissor. Às vezes, mais.

Outra questão é importante de ser levantada: a capacidade do artista em transformar-se em um Outro. Essa é uma noção que encontramos em vários momentos na obra do teórico russo Mikhail Bakhtin, especialmente quando analisa a obra de Dostoiévski.

A função da Arte não é te tornar uma pessoa melhor. Você pode até tentar fazê-la adequar-se aos seus desejos mais egoístas, mas isso é uma decisão exclusivamente sua.

Sobre isso, lembro da vez que conversei com o escritor Daniel Galera, no AntiCast 42, e perguntei como havia sido a experiência de escrever o livro “Cordilheira”, no qual o personagem principal, que é também o narrador da obra, era uma mulher.

Naquele momento, Galera teve de se demonstrar capaz de transformar-se num Outro – no caso, um do gênero feminino. O contrário também é comum: autoras que escrevem protagonistas homens – e nem precisamos falar de situações mais malucas, como humanos que escrevem sobre elfos, monstros, anjos, demônios etc. Se o artista estivesse confinado em si mesmo, todas as histórias seriam autobiográficas. Graças à capacidade criativa dos autores, podemos garantir que este não é o caso.

Obviamente, não quero isentar ninguém aqui de culpa. No caso de Woody Allen, sou da opinião de que, se cometeu abuso a uma criança, ele deve ser responsabilizado por isso. O mesmo vale para Polanski e qualquer outro que cometa um crime – especialmente com a gravidade dos casos de cada um. Contudo, suas produções artísticas parecem ser maior do que isso, como se elas não tivessem culpa de terem surgido de pais tão ruins.

O que quero dizer, da forma mais direta possível, é o seguinte: se você é fã do trabalho de Woody Allen, isso não te torna um cúmplice de seu suposto crime. Seria preocupante se você concordasse com sua conduta pessoal. Mas o trabalho do artista, por mais que seja, de alguma forma, um reflexo de sua vivência (em maior ou menor grau), é um trabalho de criação que busca extrapolar os limites da sua própria realidade. Importante citar também que, ao menos legalmente, Woody Allen já foi inocentado pela corte estadunidense na década de 1990, como já citamos no início do texto.

Se você é fã do trabalho de Woody Allen, isso não te torna um cúmplice de seu suposto crime

Para tornarmos essas considerações um pouco mais complexas, é interessante percebermos que é possível o autor “ser um santo” (ou pelo menos parecer um) e criar ótimos vilões ou anti-heróis: o romance “Lolita”, de Nabokov, que narra a história de um pedófilo, é um desses casos. O recente filme “O Lobo de Wall Street”, de Martin Scorsese, é outro. Toda a filmografia de Gaspar Noé, diretor do pesadíssimo “Irreversível”, é mais um. A lista de ótimas obras com temas horríveis é também infinita. Você pode não concordar com a atitude ou conduta dos personagens, mas isso não tira o mérito de serem boas histórias/obras, nem necessariamente exigem que se credite uma “mente doentia” ou um passado criminoso ao autor.

Caso você ainda acredite que a biografia do artista é fundamental para seu trabalho, e que um criador que tenha sua “ficha suja” deve ser ignorado pelo seu estimado “bom gosto”, eu lanço aqui uma última provocação: a função da Arte não é te tornar uma pessoa melhor. Você pode até tentar fazê-la adequar-se aos seus desejos mais egoístas, mas isso é uma decisão exclusivamente sua. E se você acredita que essa deve ser a função dela, você não a entende. Ao procurar apenas por autores higiênicos, você diz mais sobre si mesmo e sua visão de como o mundo deveria ser do que sobre as obras que recusa.

Portanto, sujemo-nos.

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Google DevArt abre inscrições para projetos de arte que usem tecnologia

Google lançou o DevArt, uma iniciativa que busca destacar artistas que usam tecnologia – especialmente códigos e plataformas interativas – em seus trabalhos. O primeiro resultado desse projeto será a execução de quatro instalações no Barbican Performing Arts Center, em Londres.

Três dos trabalhos a serem expostos já foram escolhidos, sobrando ainda um lugar a ser preenchido. Essa vaga está aberta para inscrições pelo site do projeto.

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Neste primeiro momento, a escolha mais restrita dos artistas serve mais como uma inspiração para os futuros projetos a serem financiados e expostos pelo Google. A ideia é receber novas submissões a cada concurso e vagas abertas ao longo do ano.

Os primeiros artistas escolhidosZach Lieberman, a dupla Varvara Guljajeva e Mar Canet, e Karsten Schmidt – tem em comum o uso de tecnologia e interação como essência do trabalho. Enquanto Lieberman mistura música com código, criando um programa que ensina um computador a “apreciar e curar” sons, a dupla transforma desejos dos visitantes em borboletas interativas. Já Schmidt mistura natureza com design generativo criando colaborativamente objetos em 3D.

Zach Lieberman

Zach Lieberman

 

Varvara Guljajeva e Mar Canet

Varvara Guljajeva e Mar Canet

 

Karsten Schmidt

Karsten Schmidt

Google espera criar um acervo gigantesco de inspirações e boas ideias que usem tanto Google APIs como Kinect, Unity, WebGl, Arduino, Processing e demais linguagens e plataformas.

Os trabalhos inscritos podem vir de qualquer lugar do mundo. Esta última vaga fica aberta até dia 28 de Março.

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Tóquio noturna feita de pontos de papel

As luzes de grandes cidades durante a noite são tema comum em representações artísticas. Para fugir dos mesmos visuais, Yukino Ohmura criou uma forma inovadora de representar os prédios e ruas de Tóquio e suas luzes neon.

A jovem artista usou centenas de pequenos pontos adesivos – daqueles comprados em papelaria com diversos tamanhos e cores – que, colocados de forma estratégica, formaram um retrato das luzes das cidades.

“Usando materiais comuns, pensei em tornar a arte mais acessível aos japoneses e também adicionar algo novo para um tema tão comum.” – Ohmura, via The Verge

Suas telas ganham fundo preto de tinta acrílica e levam em torno de 3 semanas para ficarem prontas.

Sua técnica deu tão certo que Ohmura criou uma série de paisagens noturnas retratando outras cidades grandes da mesma forma.

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Ao usar materiais como os pontos adesivos, que são bastante comuns no Japão e usados regularmente na escola, Ohmura expressa um contraste entre o conceito de glamour da visão noturna de uma cidade grande e sua forma mais acessível expressa por materiais baratos e do dia a dia.

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Animação feita com pinturas explora o mistério da morte de Van Gogh

Entre as controvérsias que rondam a morte de Vincent Van Gogh, o pintor que teve um histórico de doença mental morreu devido a uma infecção de um tiro que tomou no peito aos 37 anos.

O mistério está por trás de quem atirou. Apesar de dito que supostamente foi ele mesmo, há uma teoria de grande controvérsia que aponta que a culpa foi de dois adolescentes.

Loving Vincent, novo filme do estúdio Breakthru Films vencedor de um Oscar, explora essa teoria usando como conceito visual o próprio estilo artístico do pintor.

Para isso, cada frame da animação contempla pinturas sutilmente diferentes, que dão a impressão do movimento ao serem colocadas juntas, em sequência.

Baseando-se em cartas escritas pelo artista, o filme conta com mais de 56 mil pinturas a óleo, realizadas por uma dúzia de pintores que estudaram e trabalharam metodicamente em cima do estilo de Van Gogh.

O filme está levantando fundos em campanha no Kickstarter até esta semana, para poder ser finalizado e exibido.

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Arte cumpre papel de restauração e traz novos usos para locais abandonados

Catherine O’Halloran, uma artista de rua que trabalha como assistente social durante o dia, usou um posto de gasolina como tela para criar uma enorme obra inspirada na pop art, tudo dentro da lei e com o apoio da cidade de Limerick, na Irlanda.

A obra no posto de gasolina visa incitar nas pessoas novas possibilidades e pontos de vista.

Esta é a obra mais recente criada para o projeto Draw Out, que conta ainda com mais 20 instalações artísticas a serem criadas.

O objetivo do projeto é se apropriar de propriedades abandonadas, que acabam por interferir visualmente no espaço e na interação dos habitantes para com a cidade.

Com tais locais deixados de lado durante muito tempo, as pessoas começam a se distanciar deles, de forma a se tornarem quase invisíveis. Propondo o oposto, aqui Draw Out destaca como os habitantes adquirem uma dissociação entre si e a cidade, a partir dos espaços que os rodeiam.

A obra no posto de gasolina, a maior até agora, visa incitar nas pessoas novas possibilidades e pontos de vista, enxergando o espaço de forma completamente diferente do olhar rotineiro e viciado.

Por trás da arte, O’Halloran propõe que os espaços sejam abertos com novos usos, como sede de oficinas, debates e eventos musicais para a comunidade.

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Ao partir da arte para alertar e gerar consciência, Draw Out escapa das intermináveis discussões legais e políticas por trás de problemas urbanos, e parte para uma regeneração e reintegração do povo para o povo.

Para o futuro do projeto, O’Halloran espera receber ajuda de artistas do mundo todo que queiram colaborar com suas ideias.

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Do asfalto para a parede: SK8room vende skate como arte

Há 11 anos, o skatista belga Charles-Antoine Bodson comprou um skate usado pelo profissional Mark Gonzales, com uma arte feita por Keith Haring. Este tinha sido só o primeiro passo. Hoje, Bodson possui mais de 2 mil shapes, incluindo peças pintadas por Banksy, Damien Hirst e Jeff Koons.

Porém, do hobbie de andar diariamente, já com 38 anos, a coleção saiu do asfalto e foi parar na parede. Pensando em uma plataforma que unisse skate, arte contemporânea e responsabilidade social, Bodson criou o SK8room.

Com uma loja física em Bruxelas e um sistema de compras virtual, SK8room oferece skates que funcionam não somente nós pés, mas são também quadros valiosos.

Os preços começam por volta dos €200, incluindo shapes feitos de madeira canadense e arte criada por artistas e designers famosos, aplicada em silk screen.

Dentre os nomes estão: Ai Weiwei, Banksy, eBoy, Invader, Damien Hirst, Terry Richardson, Keith Haring, Larry Clark, Richard Prince, Andy Warhol, e muitos outros.

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Pensando no skate como plataforma de educação de comunidades carentes, 20% de toda a venda é destinada ao Skateistan, ONG alemã que leva o esporte para crianças do Afeganistão e Camboja.

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Avenida em Montreal inova na decoração de fim de ano com balões de quadrinhos

A decoração de Natal na Avenida Mont-Royal, em Montreal, ganhou um tom mais divertido e criativo em 2013. Com balões luminosos de quadrinhos, o projeto Idea-O-Rama transformou o espaço público em instalação de arte temporária.

Criada pelo estúdio Turn Me On Design, a iniciativa contou com ilustrações dos artistas Astro e Jean-François Poliquin, num tom bem humorado em relação a ícones do inverno e da época de festas.

O Idea-O-Rama foi bancado pela Société de Développement de l’avenue du Mont-Royal, e continuará decorando a avenida até o próximo mês de março.

 Idée-O-Rama
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No vídeo abaixo, o estúdio Turn Me On mostra o processo de produção das peças:

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