Arte cumpre papel de restauração e traz novos usos para locais abandonados

Catherine O’Halloran, uma artista de rua que trabalha como assistente social durante o dia, usou um posto de gasolina como tela para criar uma enorme obra inspirada na pop art, tudo dentro da lei e com o apoio da cidade de Limerick, na Irlanda.

A obra no posto de gasolina visa incitar nas pessoas novas possibilidades e pontos de vista.

Esta é a obra mais recente criada para o projeto Draw Out, que conta ainda com mais 20 instalações artísticas a serem criadas.

O objetivo do projeto é se apropriar de propriedades abandonadas, que acabam por interferir visualmente no espaço e na interação dos habitantes para com a cidade.

Com tais locais deixados de lado durante muito tempo, as pessoas começam a se distanciar deles, de forma a se tornarem quase invisíveis. Propondo o oposto, aqui Draw Out destaca como os habitantes adquirem uma dissociação entre si e a cidade, a partir dos espaços que os rodeiam.

A obra no posto de gasolina, a maior até agora, visa incitar nas pessoas novas possibilidades e pontos de vista, enxergando o espaço de forma completamente diferente do olhar rotineiro e viciado.

Por trás da arte, O’Halloran propõe que os espaços sejam abertos com novos usos, como sede de oficinas, debates e eventos musicais para a comunidade.

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Ao partir da arte para alertar e gerar consciência, Draw Out escapa das intermináveis discussões legais e políticas por trás de problemas urbanos, e parte para uma regeneração e reintegração do povo para o povo.

Para o futuro do projeto, O’Halloran espera receber ajuda de artistas do mundo todo que queiram colaborar com suas ideias.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Campanhas colocam assédio sexual em evidência

Inconveniente: que não é conveniente, que é importuno, impróprio. Acontecimento que embaraça, importuna, incomoda. É desta maneira que muitas mulheres definem o comportamento de um homem quando ele as aborda em um local público, usando um “elogio” como uma espécie de disfarce para a intimidação – às vezes, até muito mais do que isso, quando o verbal se transforma em físico. Agora, duas campanhas, uma nos Estados Unidos e outra no Brasil, resolveram colocar o assédio masculino em evidência, criando um grande zum-zum-zum na internet.

E como é que esse assunto veio parar até aqui, no Brainstorm9? Basta uma rápida busca pelo nosso arquivo e você irá encontrar diversas campanhas relacionadas à violência contra a mulher no ambiente doméstico, geralmente caracterizada por agressões verbais, psicológicas e físicas. O que a gente percebe nestas ações é que existe um grande incentivo para que as vítimas denunciem seus agressores, já que a maioria costuma ficar em silêncio por medo ou vergonha.

Romper o silêncio, entretanto, não é uma tarefa fácil. Significa ter de se expor, de admitir que não se é tão forte e segura quanto se gostaria, e ainda por cima ser julgada, como se fosse sua a culpa pela violência sofrida. São sentimentos confusos, muito parecidos com os de quem sofre assédio em locais públicos, um tipo de violência tão comum para muitas mulheres quanto ignorado pela sociedade em geral .

Seja para o bem ou para o mal, o assunto parece estar começando a ganhar certa atenção – apesar de as opiniões em relação a ele estarem longe de um consenso. À frente desta cruzada contra as abordagens intimidatórias estão a artista plástica Tatyana Fazlalizadeh, nos Estados Unidos, e a jornalista Juliana de Faria, no Brasil.

Nos EUA, Tatyana resolveu dar um basta – ou ao menos tentar – no assédio sofrido pelas mulheres nas ruas de Nova York e Filadélfia, usando a arte como sua principal arma. Stop Telling Women to Smile é uma série de cartazes com ilustrações e frases que falam diretamente aos ofensores, atualmente em fase de captação de recursos no Kickstarter para percorrer outras cidades dos Estados Unidos.

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Na descrição do projeto, a artista conta que começou o STWTS como uma forma de explorar o ativismo social por meio da arte nas ruas, usando ilustrações de mulheres – algumas, amigas dela – para dar rostos e vozes aos corpos sexualizados. As histórias dos assédios sofridos no espaço público inspiram o texto que acompanha a imagem da pessoa retratada.

Ao levar o Stop Telling Women to Smile para outros lugares, Tatyana planeja repetir o trabalho com as mulheres de cada cidade, ouvindo suas experiências e retratando-as nos cartazes, que depois serão espalhados localmente. Para a artista, será uma forma de aprender como o assédio acontece nas ruas e como as mulheres reagem a ele em diferentes pontos do país, e desta forma criar trabalhos que reflitam melhor aquela comunidade.

Na primeira leva, por exemplo, espalhada pela região de Nova York, as mensagens dizem “Pare de dizer às mulheres para sorrirem”, “Minha roupa não é um convite”, “As mulheres não estão na rua para o seu entretenimento”, “As mulheres não estão em busca da sua validação”, “Meu nome não é baby, pequena, docinho, querida, linda, buu, coração…”, “Críticas ao meu corpo não são bem-vindas”, “Mulheres não devem a você seu tempo ou sua conversa”.

Na primeira leva, espalhada pela região de Nova York, há mensagens como “Minha roupa não é um convite”

A princípio, Tatyana estabeleceu uma meta de US$ 15 mil no Kickstarter, a ser atingida até o dia 3 de outubro. A alguns dias do prazo final, ela já arrecadou mais de US$ 29 mil. Com o sucesso muito além do esperado, a artista está estudando formas de expandir o projeto, talvez incluindo outras cidades além das já definidas – entre elas Baltimore, Boston, Atlanta, San Francisco, Miami, Kansas City, Los Angeles e ?Chicago. Ela também não descarta a ideia de levar o STWTS para outros países, provavelmente no próximo ano. Amsterdã, na Holanda, e Berlim, na Alemanha, são dois destinos em potencial.

Em uma breve troca de mensagens com Tatyana, perguntamos se o Brasil também poderia estar incluído em seus planos. “Eu adoraria ir ao Brasil. Para que eu possa viajar para qualquer cidade ou país, entretanto, eu preciso ter recursos. Isso significa que se eu conseguir fazer alguns contatos, levantar recursos e encontrar pessoas ou organizações dispostas a trabalhar comigo por aí, então será muito mais viável”, explica. 

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Chega de Fiu Fiu

A disposição de Tatyana Fazlalizadeh em vir ao país é uma boa notícia, especialmente agora, quando os resultados de uma pesquisa realizada pela jornalista Karin Hueck e divulgada pelo site Think Olga estão em evidência: 99,6% das 7.762 mulheres ouvidas já foram assediadas em locais públicos. E tem mais: 81% já deixou de fazer alguma coisa por medo do assédio, que disfarçado de “cantada” é rejeitado por 83% das entrevistadas.

Há aqueles que acreditam que tudo se resolve rotulando as mulheres de “mal-amadas”, “mal-comidas”, “frescas” e afins

O estudo pode ser conferido na íntegra aqui, e apesar de seus dados e informações não serem definitivos, eles serve de ponto de partida para debates importantes e que precisam ser feitos. Ao ler os comentários sobre a campanha Chega de Fiu Fiu, criada por Juliana de Faria e da qual a pesquisa faz parte, é possível encontrar todo tipo de opiniões sobre o assunto. Há aqueles que acreditam que tudo se resolve rotulando as mulheres de “mal-amadas”, “mal-comidas”, “frescas” e afins, aqueles que acham que essa história toda é um exagero e quem ainda está se esforçando para entender o motivo disso tudo.

Em comum, é perceptível que a maioria dos homens não consegue entender de verdade a razão de ser da campanha, e talvez ela devesse ter começado por aí: não basta apenas dizer para os eles que nós consideramos determinadas abordagens ofensivas, é preciso explicar para eles o que caracteriza uma abordagem ofensiva e a razão de as mulheres interpretá-las como tal.

É provável que isso seja um choque para alguns homens, mas mulher nenhuma gosta de ser encoxada por um estranho no metrô ou no ônibus. Mulher nenhuma gosta de receber assobios (o tal do fiu fiu), como se fosse um animal de estimação, ou de não conseguir ir de casa ao trabalho (ou a qualquer outro lugar) sem ouvir comentários do tipo “te chupava inteira”. E sabe aquela história de que a mulher quando está com a autoestima baixa passa em frente da construção, só para receber uns elogios? Lenda urbana.

É provável que isso seja um choque para alguns homens, mas mulher nenhuma gosta de ser encoxada por um estranho no metrô ou no ônibus

Se você é mulher, há grandes chances de ter alguma história para contar de abordagens invasivas ou toques indesejados em locais públicos. Se você é homem e duvida, pergunte para a mulher mais próxima. Eu tenho várias, do cara que tentou me cheirar no meio da rua até o cara que ficou passando o pé em mim no cinema. E essas são as mais leves.

No site Think Olga, as mulheres são convidadas a deixar depoimentos com suas histórias de abordagens invasivas – e são não são poucos os casos. Assim como o STWTS, o Chega de Fiu Fiu também conta com algumas ilustrações contra o assédio, assinadas pela designer Gabriela Shigihara. “Apesar de eu não conseguir entender o que está escrito, gosto da ideia por trás deste projeto. Eu adoraria encontrar uma forma de poder trabalhar com elas”, diz Tatyana Fazlalizadeh.

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Cantada x contexto

Se você leu este post com atenção, provavelmente percebeu que a palavra “cantada” foi usada apenas na apresentação dos resultados da pesquisa publicada pelo Think Olga, e agora neste trecho final. Em praticamente todos os textos que li, percebi que as pessoas se prenderam demais à ela e deixaram de prestar atenção ao que realmente importa: a questão do assédio sexual em espaços públicos, definição básica da campanha Chega de Fiu Fiu.

Enquanto todo mundo está discutindo semântica e filosofando sobre como as mulheres estão sendo injustas tentando acabar com um patrimônio antropológico-sentimental que é a cantada, a intimidação, o assédio e a violência continuam sendo ignorados pela maioria, fazendo parte apenas do cotidiano de suas vítimas.

Há várias formas de se abordar uma mulher em público e é possível iniciar uma conversa sem precisar chamá-la de linda, gostosa ou afins. É claro que essas palavras vão acabar aparecendo em algum momento, mas é sempre bom esperar para inseri-las em um contexto mais apropriado.

No final das contas, mulher nenhuma quer ser tratada como um pedaço de carne esperando para ser garfada por aí. O importante é que as pessoas se conscientizem de que o problema existe, sim, e que campanhas como Stop Telling Women to Smile e Chega de Fiu Fiu devem ser apenas um primeiro passo de uma caminhada que deverá passar, também, pela forma como a mulher é tratada no mundo publicitário. Mas isso é assunto para uma outra hora.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Converse pinta murais em Berlim com máquina que atira balas de tinta

A Converse saiu colorindo as ruas de Berlim com desenhos de seu icônico tênis, feitos com uma máquina que dispara balas de tinta.

Chamado de Facadeprinter, o dispositivo foi desenvolvido pelo estúdio alemão Sonice Development, composto por artistas e inventores que focam em criar “robôs-desenhistas” e instalações interativas que borram as barreiras entre arte e tecnologia, e físico e virtual.

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Ao disparar as balas de tinta, a máquina desenha ponto por ponto na parede, criando uma enorme obra de arte. Integrada à um computador, ela lê os gráficos virtuais da composição e consegue corrigir perspectiva e distorções balísticas em tempo real.

Assim, o desenho consegue ser adaptado para cada situação arquitetônica em que será pintado.

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A Facadeprinter funciona como extensão e reprodução do processo criativo e também do próprio artista.

As novas tecnologias ampliaram significativamente as formas de expressão dos artistas contemporâneos, publicitários e criativos, assim como nossa percepção da realidade. Um painel gerado por algoritmos e comandos eletrônicos que dispara balas de tinta extrapola a arte enquanto resultado final, existindo enquanto processo e reprodução. E, ao se “moldar” a cada superfície que pinta, a máquina toma emprestado do artista as características de imprevisibilidade e tempo real.

A ação faz parte da campanha Just Add Color, que mistura guerrilha, graffiti e tecnologia com o objetivo de colorir as ruas com arte, e não anúncios. Seria interessante se o desenho de extendesse para além do simbólico tênis.

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Pop Art nas embalagens do McDonald’s

Ben Frost, o artista australiano conhecido por suas obras que lembram o conceito e estilo da Pop Art, extendeu suas criações para além do papel, passando a trabalhar com embalagens na série Packaging Paintings.

O projeto é um mash-up de pinturas com traços inspirados em graffiti, colagem e fotorealismo, se apropriando das clássicas embalagens dos produtos do McDonald’s e usando-as como tela.

Em Packaging Paintings, o papel vermelho e o logo amarelo marcantes da empresa dividem espaço com imagens da cultura pop feitas em tinta acrílica.

Aqui, superheróis e cartoons brincam com a marca e com a própria essência do que é arte e do que é produto. E como consumimos cada um.

O artista mexe com a percepção daquilo que reconhecemos de longe (as famosas embalagens), adicionando uma sutil camada de subtexto para ilustrar como consumimos fast food e cultura pop.

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Frost é conhecido por subverter a cultura mainstream e brincar com ícones da publicidade, do entretenimento e da política, criando obras que falam alto, tiram sarro e confrontam modelos tradicionais na sociedade atual.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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