“Star Trek: Além da Escuridão”, uma jornada sem mistérios

Gostar de J.J. Abrams implica em conhecer uma de suas maiores teorias sobre o ato de contar histórias: a caixa misteriosa (mystery box). Ela consiste na preservação do mistério, da vastidão das possibilidades e na magia que isso provoca durante um filme. Muitos diretores a chamam de “mccguffin”. É a maleta de Tarantino ou de “Ronin”, é o Charlie de “As Panteras”, é a força motriz por trás da maioria dos filmes de Hitchcock. É algo que todos querem saber e procuram.

Falando nos universos de J.J., o monstro de “Cloverfield”, por exemplo, se encaixa nesse conceito. Manter o mistério e a atenção do espectador é uma arte cada vez mais complicada especialmente por conta da avalanche de histórias “de origem” aparecendo nos blockbusters. E isso não é coisa nova, basta lembrar da lambança de George Lucas, em 1999, com os midi-chlorian em “Episódio I”.

Então J.J. resolve encarar “Star Trek” e entrega um primeiro filme revigorado, repleto de ação e, felizmente, conseguiu manter a atenção mesmo numa história de origens. Tentou repetir a dose e caiu na mesma armadilha dos demais diretores. E levanta a pergunta: até que ponto há mérito na revelação, ou explicação, de ícones ou elementos históricos de filmes, séries ou livros?

A pergunta é ampla e complexa, tendo em vista que, mesmo com uma eventual resposta, Hollywood vai continuar explorando todas as possibilidades ad nauseum, entretanto, faz pensar pelo aspecto da criatividade. Evitando totalmente os spoilers, “Star Trek: Além da Escuridão” explica e redefine um personagem irretocável do universo de Gene Roddenberry. Ponto.

J.J. Abrams na USS Enterprise

J.J. Abrams na USS Enterprise

Orci, Kurtzman e Lindelof foram corajosos ao extremo. Mas ficaram devendo.

Pelo aspecto prático, J.J. Abrams e os roteiristas Bob Orci e Alex Kurtzman fizeram isso com toda a tripulação original no primeiro filme da retomada. Entretanto, o ponto de ruptura com a linha temporal clássica era revigorante por si. Havia um novo vilão, os desafios eram novos e, por conta da redefinição dos personagens, novas dinâmicas foram bem-vindas e funcionaram na maioria das vezes. Olhar para o filme novo por essa ótica provoca sérios questionamentos e coloca o roteiro, agora também co-escrito por Damon Lindelof, em cheque. Quase um mate criativo.

Star Trek

A razão é simples: com uma nova linha temporal e todas as opções da galáxia para manter o senso de novidade, os roteiristas optaram por revisitar um ícone. Aliás, revisitar é pouco, pois ao também roubar cenas, inverter dinâmicas e recolocar falas em novos personagens, perderam a chance de criar; optando pela simples reciclagem. A caixa misteriosa não só foi aberta, como a surpresa ficou muito a desejar, afinal, fica complicado entender o porque da “jogada de segurança” ao precisar referenciar os filmes clássicos. Teoricamente, todo o esforço da redefinição de Star Trek tinha como objetivo permitir a renovação.

Orci, Kurtzman e Lindelof foram corajosos ao extremo. Mas ficaram devendo. Sair do cinema com a sensação de ter visto um remake do mundo bizarro é a pior coisa que poderia ter acontecido. E aconteceu. Kirk tornou-se um personagem desinteressante. Ele aparece num momento de busca pelo auto-conhecimento, mas não sofre o suficiente ou ousa o suficiente para justificar a indecisão. Ele sempre foi o carro-chefe da franquia clássica por ser o personagem mais forte. Ignorar isso chega a soar ingênuo. Assim como a necessidade de se incluir o maior número de referências, e personagens, possível num roteiro só.

Chris Pine e J.J. Abrams

Chris Pine e J.J. Abrams

Por que quase ninguém está falando sobre o filme com todo aquele afinco que só a internet permite?

É realmente estranho comentar essas coisas envolvendo nomes tão queridos e respeitados. Sempre busquei muita inspiração nos roteiros da dupla Orci-Kurtzman e costumava respeitar Lindelof. Até que ponto eles puderam, de fato, criar uma história do zero ou sentiram a necessidade de fazer essa reciclagem? Apontar para pressão do estúdio é juvenil demais, embora possa ter acontecido; ou eles, ao lado de J.J. realmente acharam que esse seria o caminho? Falta uma conexão.

Star Trek

Os filmes não encaixam dramaticamente. A assinatura visual é sólida e constante. Os flares também, aliás, eles aumentaram. Um deles chega a ganhar mais destaque que a atriz num dos diálogos-chave. Entretanto os personagens estão distantes uns dos outros e tão desconexos em relação ao filme anterior que piadas e citações diretas são necessárias para se criar uma conexão.

Há um elemento estrutural que, de fato, incomodou e me surpreendeu por estar num filme desse tamanho. O roteiro optou por uma muleta narrativa tão bizarra que deu medo. Num momento de crise, um personagem “liga para um amigo para pedir ajuda”.

Demorei a assistir “Star Trek: Além da Escuridão” e fiquei me perguntando: por que quase ninguém está falando sobre o filme com todo aquele afinco que só a internet permite? Bem, talvez essa seja uma das razões. É difícil embarcar nessa história depois da revelação surpresa. As correlações são inevitáveis e quando os diálogos reciclados entram em cena, chega a ser triste pela repetitividade.

É possível rir com boas piadas, algumas referências bem posicionadas (fãs de Sulu vão amar algumas delas) e há uma comparação a ser feita com “Homem de Ferro 3”. Um dos elementos de “Star Trek: Além da Escuridão” é a vingança. Nisso o roteiro acerto. Quer ir à forra com um inimigo? Vá para cima dele com toda sua ira! O acerto existe por conta da discussão sobre obrigação moral versus ordens.

Elenco lê o B9 durante o trabalho

Elenco lê o B9 durante o trabalho

“Star Trek: Além da Escuridão” abre a maldição do filme par?

Nesse aspecto há o reflexo da política norte-americana e o cenário militar atual, numa clara alusão, e questionamento, ao ato patriótico e aos controversos ataques com os reaper drones. Roddenbery acreditava na projeção de uma sociedade pacifista. Essa linha temporal de J.J. Abrams ainda está muito longe desse ponto, enfrenta o risco da militarização e a aparentemente inevitável guerra com o Império Klingon. A proximidade com o tema foi tamanha que, numa cena que mostra a cerimônia em homenagem aos heróis mortos durante o filme, J.J. chamou seis veteranos das guerras do Iraque e Afeganistão para replicar o procedimento do dobramento da bandeira.

Star Trek

Curioso comparar a efetividade da mensagem política contra a opção pela reciclagem. Medo de criar um inimigo próximo demais da realidade? Talvez, embora exista um atentado terrorista na trama. Devoção extrema ao personagem escolhido? Também pode ser.

Mas se a história nos ensina uma coisa é que erros do passado não devem ser repetidos. Hitler não aprendeu com Napoleão e perdeu na Rússia. J.J. deveria ter se lembrado de George Lucas. Darth Vader apavorou gerações. Transforma-lo num garoto incompreendido, concebido aos moldes de Jesus Cristo, e que matou criancinhas sem piedade não foi a melhor das ideias.

“Star Trek: Além da Escuridão” é sério candidato a iniciar a “maldição do filme par” – normalmente, os filmes ímpares eram os mais fracos da franquia -, mas, mesmo assim, merece o ingresso. Se tudo correr como de costume, no próximo longa, ímpar, eles voltam à boa forma! Só resta saber se, desta vez, irão realmente onde nenhum homem jamais esteve, ou vão voltar a visitar velhas praias.

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

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“300: Rise of an Empire” [Trailer]

Assim como Neil Blomkamp, de “Distrito 9” e do ainda em produção “Elysium”, Noam Murro é um diretor que se originou na publicidade.

Apesar de já ter um longa no currículo – a comédia “Smart People”, de 2008 – é sua experiência com grandes campanhas publicitárias que se destaca. Filmes premiados “Halo”, HBO, Heineken, Volkswagen, Stella Artois e Nike constam no portolio do diretor.

Em 2014, porém, estreia seu primeiro blockbuster. Noam Murro assumiu a direção de “300: Rise of an Empire”, sequência do filme de Zack Snyder – que continua como roteirista – e que trás novamente Rodrigo Santoro no papel de Xerxes e toneladas de fundo verde.

A Warner Bros. revelou hoje o primeiro trailer do filme, e pra quem assiste “Game of Thrones” não dá para deixar de notar a presença Lena Headey. Também tem espada e tudo mais, mas essa não é a Cersei Lannister.

300

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Games de velha geração

Quase despercebida, uma área do South Pavillion da E3 premiou o esforço de todos os gamers que resolveram explorar cada cantinho da feira. Nesse ano, o evento preparou uma exibição, bem com jeitão de mercado de pulgas, só com videogames antigos.

Além dos primeiros consoles como o Odissey, Atari e Intellivision, uma série de arcades e joguinhos eletrônicos estavam espalhados pelas mesas formando uma fantástica coleção. Os visitantes mais crescidinhos (35+) foram os que realmente se divertiram.

E3 Retro

Será que a indústria, assim como a do cinema, anda esgotando seus temas para novos jogos?

Algumas marcas tradicionais também trouxeram títulos originais das décadas de 1980 e 1990 para entreter os fãs dentro dos stands. Isso explica muita coisa. É uma tendência vista não apenas em relíquias tecnológicas, mas também nos mais novos lançamentos da indústria.

Além dos clássicos jurássicos que se tornaram grandes jogos da atualidade como “Castlevania”, “Castle of Illusion” (que vai ganhar um remake), “Mario” e outros, as produtoras tem bebido nessa fonte de diversas formas.

Esse ano tivemos os chamados “remasterizados”. Com sua jogabilidade e história originais os jogos são relançados com gráficos modernos. Um bom exemplo é “Duck Tales”, título de 1989 da Capcom para Nintendo que ganhou uma nova versão nesses moldes.

E3 Retro

Muitas produtoras indies tem feito o contrário: lançado jogos novos com visual 8 bits, jogabilidade 2D e alguns elementos gráficos que te ajudam a perceber que aquilo ali não é mais um Famicom.

Será uma necessidade dos gamers de jogar seus jogos de infância, de resgatar o passado de alguma forma ou não passaria de uma fonte de inspiração óbvia dentro de uma indústria que, assim como a do cinema, anda esgotando seus temas para novos jogos?

E3 Retro

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Quitutes de Tamriel

Para promover o aguardado “Elders Scroll Online”, a Bethesda levou aos fãs da saga uma ativação bem saborosa.

Quem passar em frente ao West Pavillion da E3, no Centro de Convenções de Los Angeles, pode saborear de graça um dos quitutes da excelente “cuisine” de Tamriel (continente onde se passa o jogo).

Um food truck distribui alguns “pratos típicos” como o Tomato-Mamooth, o Fire Petal Dip e o Tangil Ninroot.

Elder Scrolls
Elder Scrolls

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Zumbi não tem vida fácil na E3

Todo nós adoramos zumbis. Aquele jeitinho bobo, tropeçando no próprio sapato, de boca aberta, todo machucado… mas temo que, dessa vez, nossos amigos estejam correndo sério risco de extinção.

A zumbizada é o saco de pancadas oficial da E3 2013. Pois é, nunca se viu tanto morto-vivo de fato morto.

Esse ano, a lista de títulos com a temática é extensa e todo mundo resolveu tirar uma casquinha. Tem ninja, tem criança, tem até planta descendo o cacete nos coitados.

Entre os que pude contar estão:

“Dying Light”
“Plants vc Zombies – Garden Warfare”
“Ninja Gaiden Z”
“The Last of Us”
“Dead Rising 3”
“The Walking Dead”
“The Evil Within”
“DayZ”

Um prato cheio para os fãs. Ainda que seja um prato cheio de “braaaaaains”.

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Sessão Casada acaba com a briga para escolher o filme

Em todo relacionamento, especialmente os românticos, temos de aprender a escolher nossas batalhas em nome da boa convivência. Isso significa que, vez ou outra, a gente vai ter de ignorar a toalha molhada em cima da cama ou a calcinha pendurada no boxe do banheiro… E também que nem sempre você vai poder decidir o filme que vocês vão assistir no cinema. Ao menos por uma noite, entretanto, alguns casais não tiveram de abrir mão nem do filme francês, nem de Will Smith e muito menos da companhia um do outro, graças a uma ação que a Africa criou para o Itaú.

Para abrir a semana em que se comemora o Dia dos Namorados, o banco selecionou casais em sua página do Facebook para participar da Sessão Casada, que exibiu Além do Arco-Íris e Depois da Terra em uma mesma tela em uma das salas do Espaço Itaú de Cinema do Shopping Bourbon, em SP.

Para tornar a experiência possível, foram utilizados dois projetores e fones de ouvido com canais exclusivos de áudio para cada um dos filmes, escolhido previamente pelos participantes.

Ao que parece, pelo menos desta vez o impasse do cinema teve um final feliz para ambos os lados.

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A Sereia, O Jornalista e o Internauta

No último feriadão nos Estados Unidos, mais de 3.6 milhões de pessoas assistiram ao documentário “Mermaids: The New Evidence”, no Animal Planet. O programa mostrava nova evidência sobre a existência de, bem, Sereias!

Quando muita gente se tocou na natureza fictícia da descoberta, um surto de ódio contra o canal começou na internet. Gente reclamando de ter sido enganada, ludibriada e que perdeu seu tempo assistindo ao mocumentário (documentário de mentira) começou a atacar o canal. Perante a situação, claro, a imprensa aproveitou o ensejo para “desmascarar” o programa, exibir inúmeros tweets e posts do Facebook, e uma declaração do NOAA (Departamento de Pesquisa Oceanógrafa) sobre a inexistência de conexão entre a entidade e o conteúdo. Pronto: criou-se uma polêmica sobre SEREIAS!

Pensando de forma analítica, se uma entidade governamental, ou turistas malucos, tivessem encontrado evidência sobre a existência de Sereias, a notícia teria explodido no YouTube e na grande imprensa muito antes de um documentário no Animal Planet, certo? Entretanto, a falta de perspectiva é a maior responsável por essa polêmica. Essa NÃO foi a primeira vez que o assunto foi apresentado dessa forma.

Mermaids

Mermaid

Em 2012, o canal exibiu o mocumentário “Mermaids: The Body Found”, que segue os mesmos moldes, feito pela mesma equipe e estrelado pelos mesmos “cientistas”. Assisti a esse programa na estreia e, por conta da ótima edição e direção, acreditei ser algo verídico até o primeiro efeito especial meio tosco aparecer. Comecei a rir. Ponto para eles. A partir daí ficou divertido e curti a ideia. Mas não parava de pensar em “The Last Broadcast”, o mocumentário que transformou “A Bruxa de Blair” em fenômeno. Foi até exibido na GNT, no Brasil, como algo sério.

Foi uma bela mistura de ficcional, mitológico e narrativa moderna

O entretenimento tem a obrigação de encontrar novos formatos e, sinceramente, essa dobradinha sobre as sereias é uma ideia interessante. Entretanto fico perplexo ao notar que a continuação de um mocumentário tenha gerado tanta algazarra online. Sem vincular o programa ao antecessor, o canal deu a impressão geral de que o “truque” é novo. Bem, não é. E, pelo aspecto das mídias sociais, o marketing do canal acertou em cheio, pois atraiu atenção de público e imprensa, tem gerado bastante conversa entre amigos e nos talk shows das rádios, e vai garantir uma sobrevida interessante às reprises.

Mermaid

Vale ressaltar a qualidade dos programas. Lembro de uma entrevista com um dos criadores dos efeitos especiais de “Tron”, há pelo menos uns 14 anos, quando ele disse que o futuro dos efeitos especiais era desaparecer; chegaríamos ao ápice da arte quando recriarmos qualquer coisa e enganarmos todo mundo. Bem, se ainda não estamos lá, falta muito pouco. Os dois “Mermaids” não são exímios nos efeitos na hora da revelação, mas a mistura com a câmera amadora, a tela chuviscada e os movimentos bruscos, conferem aos programas um quê de realidade. Acima de tudo, o espectador é convencido pela narrativa, pelas entrevistas, pelas projeções científicas da evolução das sereias.

Mermaids

Aliado a isso está o desejo da descoberta. Não é todo dia que um ser mítico ganha vida e, pasmem, pode estar nadando em nossos mares nesse exato instante. Foi uma bela mistura de ficcional, mitológico e narrativa moderna.

O entretenimento tem a obrigação de encontrar novos formatos e esse foi um truque interessante

Para variar, a “galerinha online” se sentiu ofendida. Bem, novidade, não é? O volume de e-mails, tweets e posts de cheios de ódio foi gigantesca. Até a CNN resolveu fazer uma matéria revelando a verdade sobre tudo, dizendo que os cientistas eram atores, que havia uma linha nos créditos finais dizendo “alguns fatos são baseados em ficção” e dando voz aos reclamões online.

A frase não é minha, mas tomo posse: a internet deu voz a muita gente que, infelizmente, não merece ter uma. Tudo é oito ou oitenta, todo mundo se sente no direito de ficar ofendido e quem sofre são as timelines alheias. Ficar bravo com o Animal Planet deve estar em 5446° lugar na minha escala de prioridades na vida. Isso deve ser excesso de vontade de querer que as sereias existam… e o Papai-Noel… e a Fada do Dente… e o Capitão América.

Como vivo no mundo do cinema, onde ser enganado (no bom sentido) o tempo todo faz parte do jogo, só posso tirar o chapéu. Acreditei por um tempo e eles merecem tanto o respeito quanto o sucesso.

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

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A verdadeira batalha na E3 fica bem longe de PS4 e Xbox One

Ah, o suave som das cabeças explodindo pela manhã. Isso é que se houve ao colocar os pés dentro da E3.

Entrar na feira é entrar em um cenário de guerra. De consoles, de preços, de datas, de lançamentos. Exércitos de fãs a postos dos dois lados, entrincheirados nos stands para conseguir seus 10 ou 20 minutinhos de pura glória ao jogar o que quer que seja nos novos video games.

Não interessa, eles querem empunhar os controles. Pular, matar, subir, correr, dirigir. Querem voltar pra casa com a medalha de honra: “eu já joguei Xbox One” ou “eu já joguei PS4”.

E3

Uma aula de entretenimento

Claro que é sempre bom dar uma olhada em terreno inimigo e passar no QG daquele “outro console” para ter certeza de que a grama do vizinho foi devidamente queimada com napalm.

Mas, ao invés de lutar numa guerra que não é sua, a melhor estratégia dentro da E3 é partir em direção aos stands dos desenvolvedores. Uma briga que acontece ali, bem debaixo do seu nariz e, acredite, é muito mais feroz.

Afinal de contas quando se trata de consoles, o teatro de operações já é conhecido. Você já sabe de que lado está. E, a rigor, só há dois lados (sorry, Nintendo).

E3

Títulos despencam às centenas. Só para se ter uma ideia, 100 jogos estão sendo desenvolvidos nesse exato momento para PS4.

Aqui não tem exército. Vale dedo no olho, chute no saco, chamar a mãe de coxinha e o pai de empadinha. Por isso mesmo, é surreal a qualidade dos espaços de produtoras como a Blizzard, Ubisoft, EA e Bethesda.

Onde o tamanho do stand nem sempre é documento, cenografias elaboradas, telões gigantes e ativações para atrair, entreter e presentear o público disputam a tapa a atenção dos gamers.

E3

Desde a apresentação de “Diablo” (em sua nova versão para consoles) numa projeção gigante em 180º para assistir sob uma plataforma que treme conforme as explosões do vídeo, até um cercado lotado de zumbis “de verdade” loucos para almoçar um pedacinho do seu braço que a Capcom montou para promover “Dead Rising 3”.

É uma aula de entretenimento. Basta dizer que você sai da E3 com uma lista de jogos na cabeça para comprar até o fim de 2014 (quando muitos deles serão oficialmente lançados).

Pois é, prepare-se. Aliás, prepare seu bolso. Seja qual for seu console, vem chumbo grosso por aí. Daqueles que não dá pra se esquivar. É jogar ou morrer.

E3

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Plants vs Zombies: Garden Warfare

Algo que se esperava ver na E3 é uma boa dose de jogos para celular. Desenvolvedoras crescendo, montando seus stands e cutucando os ombros distraídos das produtoras de jogos para consoles.

Praticamente nada disso aconteceu. Nem mesmo uma mísera clínica de rehab para jogadores compulsivos de “Candy Crush Saga” (que certamente teria filas incalculáveis).

Apesar da total decepção, um lançamento da PopCap saiu da telinha do celular e virou imediatamente um dos jogos mais aguardados do ano.

“Plants vs Zombies: Garden Warfare”. Seu lançamento está previsto para 30 de Junho. Inicialmente com exclusividade para Xbox e em seguida para PC e outras plataformas.

O game foi revelado na press conference do Xbox One e ganhou um espaço especial no stand da EA (com demonstração de game play).

Plants vs. Zombies

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O primeiro teaser de “O Hobbit: A Desolação de Smaug”

A Warner Bros. revelou o primeiro teaser de “O Hobbit: A Desolação de Smaug”, o segundo filme da trilogia dirigida por Peter Jackson.

Tem a Kate, digo, Evangeline Lily, e a aparição de Legolas (Orlando Bloom?) com excesso de efeitos digitais no rosto e nos olhos.

Pra você que não gostou do primeiro, “Uma Jornada Inesperada”, digo que eu assistiria mais uma meia dúzia de filmes desses.

Hobbit Smaug

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Sony apresenta primeiro comercial para o PlayStation 4

Nada pode ser menos interessante para os jogadores e frequentadores da E3 do que campanhas publicitárias, certo? Ninguém prestou atenção, mas a Sony também revelou ontem o primeiro comercial do PlayStation 4.

É uma espécie de manifesto que introduz o conceito “Greatness Awaits”, com um discurso bem parecido até com a recente campanha da Nike, “Find Your Greatness”. A doce ironia é que podemos enxergar tudo como sedentarismo vs. atividade física.

Visualmente o filme é interessante, apesar de utilizar as mesmas convenções de outras campanhas do gênero, mostrando o grande e variado universo que aguarda o jogador ao reunir robôs, monstros, esportistas e criaturas místicas num mesmo cenário. Campanhas de TV de alta definição e 3D tem feito muito isso nos últimos anos.

É improvável que repita o mesmo sucesso e criatividade das clássicas campanhas do PS2, mas parece que verba para a produção não vai faltar.

PlayStation 4

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A incrível tecnologia de troca de jogos do PlayStation 4

Em sua apresentação ontem na E3, a Sony decidiu vencer a retórica na internet e agradou o público anunciando medidas populares (sem DRM, liberdade para jogos usados, preço mais barato, etc) para o seu PlayStation 4, atacando diretamente os pontos críticos do concorrente Xbox One.

Além disso, a marca resolveu fazer piada. Apresentam no vídeo acima a incrível tecnologia de troca de games do PS4, ensinando passo a passo tudo o que você precisa fazer para emprestar um jogo para um amigo.

E agora Microsoft?

Sony

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“Depois da Terra”: Depois de Lucas

Todo filme surge de um conceito. Todo conceito reflete alguma necessidade, seja de mercado ou pessoal. Quando a demanda determina a mensagem, normalmente, o resultado é uma colagem capaz de replicar a moda do momento e alienar qualquer um alheio a esse mundo. No caso da motivação pessoal, a ideia chega num pacote completo, devidamente adequado com as experiências do criador e com as projeções do que ele acredita ser correto ou plausível. Quando isso acontece, o espectador se vê diante de um reflexo devidamente filtrado de uma era, de um livro, de um filme, de um trauma ou alegria.

Essa é a essência de “Depois da Terra”, que, embora seja roteirizado e dirigido por M. Night Shyamalan, é baseado em argumento de Will Smith, um dos atores mais rentáveis, carismáticos e efetivos de Hollywood. Smith passou a juventude entre a transformação dos anos 1970 e as origens da cultura pop nos anos 1980. O resultado não poderia ser outro, essa ficção científica é uma jogada de segurança que reflete uma época e dá a Smith mais uma oportunidade de trabalhar ao lado do filho, Jaden. Sendo mais direto, “Depois da Terra” é uma nova versão dos conceitos de “Guerra nas Estrelas”, de George Lucas.

Com uma mensagem ecológica preventiva, o roteiro foca em sua vocação de origem: estudar a relação entre pai e filho

Por ter estudado tanto a jornada do herói e os tratados de Joseph Campbell, é até fácil ficar vendo essa trajetória em todos os filmes. Em tese, todo herói de filme passa por alguns dos momentos analisados por Campbell, entretanto, em “Depois da Terra” o paralelismo é claro e descarado. Toda a trama é armada para ser um grande rito de passagem clássico, visto tanto pelo lado daquele que o vivencia e daquele que valida todo o processo, ou seja, do pupilo e do mestre, do pai e do filho.

After Earth

O herói mergulha até as profundezas, enfrenta os medos – novos e antigos –, sofre a perda e enfrenta contempla a própria morte antes de se reerguer e concluir o rito de passagem. Desde o início da saga da família Skywalker, os roteiristas dos filmes de ficção científica tem uma busca eterna: fugir disso e encontrar modos de esconder as referências. Esse não é o caso. Ao assumir a estrutura clássica, o roteiro pode incluir uma mensagem ecológica preventiva e focar em sua vocação de origem: estudar a relação entre pai e filho.

Shyamalan continua com voz ativa e sabe dirigir, simplesmente não teve, de acordo com o resto do mundo, pelo jeito, uma nova ideia capaz de superar “O Sexto Sentido”

Embora não chegue a nenhuma conclusão brilhante ou transformadora, faz esse aspecto de forma interessante, com grande atuação de Will Smith e uma direção neutra de Shyamalan. Ele precisava dessa paz de espírito, precisava fazer algo normal, algo seguro para se levantar de tanta crítica e desprezo. Gostar de filmes é algo pessoal, mas, pelo ponto de vista técnico, à exceção de “Fim dos Tempos” – que é uma tragédia assumida em todos os aspectos – e do questionável “O Último Mestre dos Ar”, os demais filmes autorais tem valor (“Dama na Água” é um clássico do gênero, por exemplo).

Shyamalan continua com voz ativa e sabe dirigir, simplesmente não teve, de acordo com o resto do mundo, pelo jeito, uma nova ideia capaz de superar “O Sexto Sentido”. A insistência e a birra de se comparar cada segundo em tela de seus filmes ao longa com Bruce Willis nunca vai desaparecer e se tornaram em maldição. Ligando, ou não, ele continua trabalhando. Dessa vez, optou por dar voz a outra pessoa, alguém que atrai menos atenção negativa e cujos números de bilheteria são incontestáveis. A ideia de Will Smith é simples, mas poderia funcionar. O problema é o filho.

Shyamalan e Smith no set de After Earth

Shyamalan e Smith no set de After Earth

After Earth

Como em todo filme sobre ritos de passagem, o herói precisa ser carismático e envolvente. Jaden Smith não é nenhum dos dois. Tem jeito atlético, claro, e parece com o pai, mas ao dividir tela com um ator tão tarimbado e espirituoso – mesmo fazendo cara de sério o tempo todo –, o garoto perde a briga e prejudica. Nesse cenário, a trama simples transforma-se em algo tolo e previsível. Bem, isso já é desde o princípio, afinal, o final feliz é óbvio, só não se sabe para qual dos dois personagens. Neo e Luke Skywalker tinham toda aquela bravura e avidez a oferecer, Kitai oferece apenas o medo e a insegurança. Aliás, graças à campanha de marketing, o uso do medo no filme se dilui, pois o conceito do “Medo é uma opção” é interessante. Ficaria melhor caso fosse fruto de uma construção narrativa, não do pôster do filme. Como se identificar com um herói inseguro? Neo seguiu o coelho buraco a baixo, Luke queria avançar para cima de Vader na hora da morte de Ben Kenobi, Kitai vê onde está o problema e corre para o outro lado.

Há um pouco de romantismo no roteiro de “Depois da Terra”, pois além da visão idealista do futuro do planeta, existe o vínculo com o clássico “Moby Dick”, de Herman Melville. Embora desprovido de citações diretas, a obstinação de Ahab está pulverizada ao longo da trama e o conceito de “ação-reação” que o homem exerce sobre a natureza são constantes. Ele tenta ser provocativo como a ficção científica pede e atemporal como precisa ser. Quase acerta no primeiro e teve êxito no segundo. Pensar nas limitações humanas sempre rende boas histórias, uma vez que mesmo nos futuros de Asimov, Clarke e Heinlein, o planeta pode mudar, mas o ser humano continua sendo o mesmo.

Há valor nessa tentativa, na sinceridade de um astro que já se revelou sonhador anteriormente. É preciso respeitá-lo, gostando ou não do filme.

Será por isso que contamos tantas vezes as mesmas histórias? Na esperança de que algum dia isso mude? Pelo menos pelo olhar dos roteiristas atuais, continuamos passíveis das mesmas fraquezas e deficiências. No caso desse filme, o medo é o grande inimigo. Um homem sem medo é invencível, é o que precisamos, é o que nossos inimigos temem. Imagino um jovem Will Smith dizendo isso a si mesmo quando iniciou a carreira e enfrentou todas as dificuldades do mundo do entretenimento. Seja corajoso, não demonstre fraqueza, ignore o medo e acredite na força de vontade. Funcionou na vida real, por que não repetir a dose na tela?

Há valor nessa tentativa, na sinceridade de um astro que já se revelou sonhador anteriormente em “À Procura da Felicidade” e se encaixa perfeitamente no papel de herói salvador como em “Eu, Robô” e “Eu Sou a Lenda”. Ele tem uma visão. Um credo. E apostou nisso. É preciso respeitá-lo, gostando ou não do filme.

O orgulho exacerbado pelo talento questionável do filho pode ser o calcanhar de Aquiles, mas, fica claro que o astro respirou a corrida espacial, se maravilhou com “Guerra nas Estrelas”, deve ter se imaginado como Indiana Jones e sonhou com uma chance de explodir o Tubarão e, agora, devolve tudo que sentiu. Na esperança que embarquemos com ele nessa aventura de redescoberta, de solidão e com boas pitadas de bom-humor. Penso só ter utilizado o termo “blockbuster pessoal” para “Sucker Punch”, de Zack Snyder, mas vale para “Depois da Terra”. É uma homenagem de um astro, não de um roteirista, àquilo que ele viveu e ao que acredita. É simples, revelador e pode ser poderoso. Depende do espectador.

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

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Shoppe Satire faz humor para fotógrafos

Se você trabalha no mercado criativo/artístico, em algum momento já deve ter enfrentado uma situação em que seu ganha-pão é confundido com hobby por algum algum amigo, parente ou cliente. A fotógrafa e designer Meghan Aileen, do The Shoppe, resolveu transformar algumas das pérolas que costuma ouvir – e também as piadas internas do meio profissional – em uma coleção de pôsteres bem-humorados e com bela tipografia. Shoppe Satire conta com séries como “Você deve ser um fotógrafo se…” ou “Porque Contratar um fotógrafo” ou ainda “Humor para fotógrafos”.

Não escaparam aquelas pessoas que pensam que a câmera faz todo o trabalho sozinha, aqueles que aproveitam a sua ideia e se posicionam atrás de você no momento em que você está fotografando, aqueles que convidam você para suas festas, desde que você traga sua câmera, pedem descontos dizendo que são poucas fotos ou que um amigo vai editá-las…

No blog do The Shoppe é possível encontrar alguns pôsteres, assim como no Facebook.

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Pela porta da frente

De certa maneira, toda boa ideia acaba virando uma fórmula. É repetida, copiada e claro, transformada em alguma forma de ganhar dinheiro.

Outro dia, em um dos Braincasts, ouvi o Saulo falar sobre algo bem característico dos anos 2000 na publicidade: peças que se apoiam quase que 100% em um garoto-propaganda. Um rostinho nem sempre bonito mas na maioria das vezes conhecido se torna muito mais influenciador do que um conceito interessante, uma boa ideia, ou até mesmo um bom texto.

Mas boas ideias, bons textos e rostos conhecidos surgem a cada segundo na tal da internet.

Foi assim que o Porta dos Fundos deixou de ser um projeto lado B. Antes, tinha uma coisa quase underground, daquelas que você passa o link para os amigos com o simples propósito de dar risada, sem esperar que alguma propaganda marota vai enxergar em você um público circunstancial. Passou a ser um canal, um programa, que faz publicidade de um jeito claro (bem diferente do Rei Silvio Santos fazendo as propagandas subliminares de 1 frame para Jequiti).

O que chama a atenção na trajetória deles até aqui é a completa inversão do relacionamento entre a “marca” Porta dos Fundos e várias outras marcas de produtos e serviços.

Se você acompanha, mesmo que por cima, o canal (que é excelente, com alguns roteiros incríveis), deve se lembrar da primeira vez que uma empresa é citada de forma indireta (só que não). Fábio Porchat de Blue Men Group, tentando cancelar uma linha de celular, expondo problemas da TIM que fizeram clientes e não clientes se identificarem.

Depois foi a vez do Spoleto e seu atendimento com falhas. E da primeira grande virada: “Vamos aproveitar isso a nosso favor?”. Fizeram o segundo, que sugeria às pessoas reverem o primeiro e conquistou para a marca uma simpatia, uma imagem positiva vinda da atitude ousada de bater no peito e fazer o mea culpa.

Daí veio a FIAT, pulando a parte da crítica, indo direto para a propaganda, aproveitando os rostinhos e o canal conhecido (e descaracterizando um pouco o estilo deles).

Mas agora lá estão eles. Clarice Falcão – que já tinha um canal próprio beeeem legal no YouTube – emplacou uma música pra lá de chiclete para o Pão de Açúcar. Seu par, Gregorio Duvivier, que na época das propagandas da NET era quase um anônimo, já chama mais atenção do que o anunciante nos filmes do Renault. E o Fábio Porchat, que já não era exatamente um desconhecido, agora encena até mesmo propaganda dos biscoitos Mabel e da Prepara (!).

Puxa, que coincidência! Claro que não. O canal Porta dos Fundos Comerciais está lá, a todo vapor. Uma agência, uma produtora, uma mina de ouro. Mandem portfólios!

O que quero concluir com isso? Apenas a reflexão de que talvez estejamos entrando numa tendência de rir de nós mesmos, de olhar a ironia com bons olhos, de aprendizado sobre como usar a opinião espontânea do público em tempos de redes sociais. Talvez tenhamos passado da fase do “te processo”, e logo mais o CONAR fique menos rígido.

E que daí, quem sabe, um dia, a gente volte ao tempo em que a publicidade brasileira ganhava prêmio a rodo, porque tinha humor inteligente e ousado (aquele dos argentinos de hoje em dia, sabe?).

Enfim, é como diria o @raul_amderlaine: “mas devago” (sic).

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O filme antes do filme

Em 2011, o Art Of The Title reuniu algumas aberturas importantes na compilação A Brief History of Tittle Design. O projeto era bem bacana, mas como mostramos por aqui, cometeu algumas injustiças. Agora, um grupo de estudantes do Berliner Technische Kunsthochschule resolveu ir um pouco mais a fundo nessa história com o webdocumentário The Film Before The Film.

Para quem curte cinema, aberturas de filmes, design, tipografia e história, é imperdível. The Film Before The Film tem tudo isso e muito mais. De maneira didática, mas ao mesmo tempo envolvente, acompanhamos a evolução do que em muitos momentos realmente é uma espécie de prólogo da história, realmente, um filme antes do filme.

O que começou com o propósito apenas de creditar os profissionais envolvidos com aquela produção acabou se tornando parte da história, um campo fértil para experimentar novas ideias e tecnologias.

É claro que nem sempre dá certo e por algumas vezes, os créditos acabam ficando em segundo plano, com a escolha de uma tipografia ruim, ou do excesso de informação na tela, com imagens disputando a atenção do espectador com, teoricamente, a real função daquela sequência.

É uma bela homenagem, ainda, a pioneiros como Saul Bass, Maurice Binder e Kyle Cooper, e a chance de relembrar aberturas e filmes inesquecíveis.

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Fluxograma passeia pelo universo de Stephen King

Apesar de ser reconhecido por seus livros de horror – que originaram filmes como Carrie, A Estranha (seu livro de estreia), O Iluminado e Cemitério Maldito -, a obra literária de Stephen King é muito mais abrangente. O escritor criou personagens tremendamente humanos para histórias envolventes – como John Coffey, o gigante com um dom especial da série O Corredor da Morte (o filme À Espera de Um Milagre tenta condensar os seis livros da coleção) – o que torna impossível não reverenciá-lo por seu legado.

E falando em reverência, não são poucos os fãs de Stephen King. A designer australiana TessieGirl, por exemplo, se apaixonou pelos livros do escritor na adolescência e rende sua homenagem a ele no fluxograma The Stephen King Universe.

O gráfico foi atualizado recentemente, para incluir o clássico A Torre Negra e faz conexões entre personagens e histórias de uma maneira que é possível passar horas se perdendo pelas ligações encontradas por TessieGirl e ela mesma admite que ainda tem muita coisa faltando. Mas para quem é fã do escritor, é um bom começo.

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Aplicativo ReadSocial propõe gamificação da leitura

Um dos maiores obstáculos da disseminação da leitura tanto no Brasil, quanto no resto do mundo, é também um dos mais absurdos: pessoas não lêem porque acham “chato”. Da mesma maneira que é preciso tentar entender as razões disso, também é imprescindível buscar soluções. Uma que encontramos e que chamou bastante atenção nesta era de popularização de e-books é o aplicativo ReadSocial. Criado pelo Dopa Labs, o app gamifica a leitura ao propor desafios que ajudam a entender melhor as ideias mais importantes de cada capítulo.

Geralmente, são desafios divertidos, rápidos e fáceis de serem solucionados, mas que ajudam a mapear o progresso do usuário na leitura e até mesmo a desbloquear conteúdos exclusivos. Só que isso é apenas o começo da história.

No ReadSocial, é possível construir comunidades em torno dos livros, que permitem que seus leitores se conectem entre si e diretamente com os autores, para a troca de ideias e maior entendimento do conteúdo. Desta forma, o que para muitos é visto como uma atividade solitária, ganha um estímulo, como uma espécie de clube do livro digital.

Além disso, também é possível criar, ler e compartilhar anotações, explorar indicações de conteúdos relacionados com determinados capítulos e, acredite, até mesmo criar analytics da experiência de leitura, o que poderia ser bastante útil para editoras e autores.

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Fiquei imaginando como este tipo de aplicativo seria interessante tanto para o mercado de livros quanto para a educação, uma vez que poderia potencializar a absorção de conteúdo e, quem sabe, até mesmo ajudar a superar um pouco a ideia de que ler é “chato”.

Eu ainda gosto do modo analógico de ler livros, mas boto muita fé no digital para estimular um pouco mais uma atividade que parece estar cada vez mais desvalorizada.

Só para lembrar, o Dopa Labs é um braço da agência Dopamine, que tem Gabe Zichermann como CEO. Para quem não ligou o nome à pessoa, Gabe é um dos principais divulgadores da gamificação nos Estados Unidos. Por enquanto há apenas três livros disponíveis na biblioteca do aplicativo, mas há um formulário para autores interessados em gamificar suas obras. Será que rola algo assim por aqui?

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The Pirate Cinema transforma torrents de filmes em arte interativa

Instalação que participou recentemente do Sight + Sound Festival, em Montreal, The Pirate Cinema usa os torrents mais baixados do Pirate Bay para projetar imagens da cultura pop – e suas origens e destinos eletrônicos – nas paredes da instalação.

As imagens projetadas visam tornar visíveis as atividades, a experiência e a geografia do compartilhamento de arquivos.

Através de um sistema automatizado rodando em cinco computadores ao mesmo tempo, é possível constantemente atualizar os torrents disponíveis e projetar suas imagens em grande escala nas paredes da sala. Assim que a imagem é projetada, o arquivo é descartado.

O sistema utiliza uma conexão encriptografada para tornar as máquinas usadas na instalação anônimas e para que cada arquivo usado permaneça nos computadores por pouco tempo.

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O trabalho é do artista francês Nicolas Maigret, em parceria com Brendan Howell, que usaram softwares para interceptar dados e puxar os top 100 torrents mais baixados, com códigos escritos em PureData e Python.

“Meu objetivo era trazer o aspecto humano da rede para o centro da discussão dos downloads.” – Nicos Maigret

Muitas das técnicas usadas neste trabalho – open source, mashup, download, compartilhamento de arquivos via P2P – são baseadas em movimentos da cultura livre, não são reconhecidos pela lei e ainda levados pouco à sério como estudo e reflexão.

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Projetos globais como esse são importantes para nos lembrar que, mesmo depois de 15 anos do nascimento do MP3, as discussões ainda são as mesmas.

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Monstros & Monstruosidades

Aconteceu algo curioso em 2009. Depois de muito tempo, uma franquia tradicionalmente sanguinária e focada num nicho bem específico rompeu as barreiras mais importantes: fez sucesso nas bilheterias e conquistou moderadamente a crítica.

O autor da façanha foi “Sexta-Feira 13”, mais recente aparição de Jason Vorhees aos cinemas. Público e imprensa precisavam de um bom motivo para voltar a se divertir com o gênero e ele veio. Pelo ponto de vista estratégico, esse longa-metragem havia aberto a porteira para um revival de qualidade. Os estúdios entenderam o recado e os remakes começaram a invadir os cinemas em toque de caixa concorrendo com algumas histórias originais. A qualidade foi passear. O dinheiro veio aos montes. Acredite, por pior que pareça o filme, a maioria deles deu resultado com média de 2x o valor do investimento inicial.

O nível de diversão gerado por “Sexta-Feira 13” deixou muita gente empolgada, afinal, era possível misturar o bom e velho slasher movie com o cinema moderno e dar boas risadas. Pelo aspecto da produção, ele foi um divisor de águas pois com os US$ 19 milhões de investimento, faturou mais de US$ 90 milhões no mundo todo. 29% desse valor foi arrecadado nos mercados internacionais. Foi um bom indicativo, mas alguns vícios são difíceis de serem deixados para trás, então, enquanto o fenômeno “Atividade Paranormal” se formava puramente baseado nos sustos gratuitos, a onda de filmes inspirados por esse momento começou.

Terror

Terror

Sam Raimi foi o primeiro a apanhar da crítica com o corajoso “Arraste-me Para O Inferno” (Drag me to Hell). O filme em si era uma execução da mesma fórmula de “Evil Dead”, com alterações, mas dentro do princípio: há uma entidade maléfica vinda dos quintos dos infernos, precisamos derrota-la! Nada fantástico, cumpriu tabela. Claro que fiquei feliz, afinal, por causa disso, bati um longo papo com Sam Raimi, Justin Long e Alison Lohman.

Gente boníssima o Raimi, diga-se de passagem. Vestindo o terno característico e extremamente devotado ao que faz. Foi bacana. Já o Justin foi divertido, pois falamos mais sobre “Galaxy Quest” que do terror em questão. Enfim, o filme foi “ok”, certo? Adivinhem o faturamento: $90 milhões no mundo todo, contra $30 milhões de orçamento. Ou seja, US$ 60 milhões de lucro! Curiosamente, o nome internacional de Raimi fez valer na hora do sucesso e 53% do valor foi arrecadado fora dos Estados Unidos.

O filme mais caro dessa leva de 2009 foi o remake de “A Nightmare on Elm Street”, estrelado por Jackie Earle Haley, de “Watchmen”. Custou $35 milhões. Filme sem graça, dependente do saudosismo de uma série que marcou a adolescência de muita gente e que, aposto, já foi esquecido. Nada de cenas marcantes. Nada de inovação no estilo de Freddy Krueger. Apenas mais uma versão do velho ícone. No máximo, outro “ok”. Foi um desbunde financeiro, garantindo aos cofres da Warner $115 milhões no mundo todo.

Terror

Evil

Para os produtores a coisa caminhou bem, afinal, o objetivo é o faturamento. Se o filme funcionar, ótimo! Se não, o próximo já está em produção mesmo. Depois de bons resultados, veio a primeira porrada: “Don’t Be Afraid of The Dark” não conseguiu nem se segurar com o nome de Guillermo del Toro no roteiro e Katie Holmes no elenco.

Produzido pela FilmDistrict e distribuído pela Disney, o terror psicológico deixou de lado as facadas e as presepadas dos filmes anteriormente mencionados e se lascou nas bilheterias. Filme inexplicavelmente fraco (ou incompreendido?) custou $25 milhões e só se salvou por causa da bilheteria internacional, chegando a um total de $36 milhões. Faturou só $24 milhões nos Estados Unidos.

Aí veio o grande teste de fogo para se saber se há alguma demanda por roteiro diferente, e minimamente inteligente, ou se o importante são as lacerações, desmembramentos e o sangue. “O Massacre da Serra Elétrica 3D” é uma das maiores porcarias já feitas em Hollywood e merece a alcunha de ofensivo perante os filmes originais.

Digno de ficar restrito ao mercado de home entertainment, a Lionsgate resolve apostar no cinema e os executivos devem estar sorrindo até agora. Partindo da média de orçamento do gênero ($16 milhões), esse caça-níqueis faturou $34 milhões só nos Estados Unidos e se pagou. Isso sem contar nos trocados que ainda está fazendo no exterior. Entrou em cartaz a pouco no Brasil, aliás.

Terror

Para fechar a listinha, precisamos falar de “A Morte do Demônio” (Evil Dead), dirigido por Fede Alvarez, aquele diretor uruguaio que fez “Ataque de Pânico!”, o curta-metragem alucinante dos robozões em Montevidéu. Custou $17 milhões e, mesmo sendo um festival de sustos previsíveis, “A Morte do Demônio” arrecadou $92 milhões no mundo todo.

Como prequel, traz novas informações e merece destaque por um dos personagens mais sinceros que já vi no gênero. O sujeito faz a besteira que inicia a trama e é pé no chão o suficiente para ir contra as bobagens sempre ditas em filmes desse tipo. “Está tudo bem!”, diz o mocinho. “Não, não está! Só está piorando”, devolve o realista.

Essa talvez seja a melhor ideia desse longa. “Qualquer manifestação cinematográfica tem que ser baseada em boas ideias; se você pensa em algo que vai gerar interesse na tela, você vai obter um resultado”, comenta o diretor uruguaio, em entrevista ao B9.

“O importante é fazer um filme pelo que ele é, não como meio para alcançar esse resultado. Sempre filmei por paixão, não para conseguir um emprego ou ser visto. Fazer as coisas como catapultas não funciona para mim” – Fede Alvarez

Ele pode dizer isso, mas foi exatamente o que aconteceu. Entrando pelo terror, como tantos outros jovens talentos, Alvarez já começou a fazer nome por aqui. Ele é um dos maiores casos pessoais de sucesso gerado pelo YouTube, no cinema.

Terror

Curiosamente, outro bom resultado direto do YouTube foi o longa-metragem “Mama”, nascido a partir de um dos curtas mais assustadores que já vi! Ainda não fui assistir ao filme pelo desespero causado pelo vídeo espanhol. De qualquer forma, “Mama” não convenceu a crítica, mas os US$ 145 milhões arrecadados nas bilheterias mundiais contam sua história.

Ver tantos filmes e milhões resultantes de um gênero, até segunda ordem, desinteressado em trazer algo além das características obrigatórias é algo, inicialmente, difícil de entender, afinal, produzir lixo deveria gerar resultado similar. Mas aí você tira o idealismo de lado, lembra de novela, Big Brother, revistas de fofoca, e daquele monte de filme de artes marciais que ninguém nunca ouve falar, e tudo fez sentido.

Não tenho absolutamente nada contra o cinema, ou a literatura, de gênero. Sempre apoiei ao longo da carreira. Vivo disso como escritor e me especializei no “fantástico” no jornalismo. Mesmo sem envolver as franquias como “Atividade Paranormal”, “Premonição” e “Jogos Mortais”, por exemplo, estamos diante de um mercado prolífico e eficaz. A Asylum herdou o legado de Roger Corman e continua produzindo em grande escala, fazendo as vezes de maior “escola prática” de Hollywood. O importante lá é filmar e abastecer o mercado de DVDs e Blu-Ray. Funciona e, de fato, é um dos poucos lugares onde o antigo sistema de estúdios ainda funciona. Tanto por influencia de Corman quanto dos resultados, o maior gênero, surpresa!, é o terror.

A preocupação com o nicho deixou de existir e, pelo que diretores e produtores falam em Los Angeles, o alvo do “filme de medo” agora é gerar a experiência; ou seja, recriar aquela sensação da galera que encarou o cinema para ver Michael Myers, Jason Vorhees e Freddy Krueger pela primeira vez. Há algo especial nessa resposta tão positiva a mortes e sangue. Alívio social? Diversão? Desejo de ver algo do qual fugimos na vida real? Parece um grande teste de força de vontade. Assistir, e encarar até o final, é questão de honra. E isso me lembra de um outro clássico. No fim das contas, gostamos da experiência do “Pague para Entrar, Reze para Sair”. ?

N.E.: Confira no nosso Letterboxd a lista dos filmes de terror citados nesse artigo.

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor do romance de ficção “Filhos do Fim do Mundo”

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