Personagens de filmes ficam maravilhados com nova TV da Samsung

O que seria capaz de deixar tantos personagens inesquecíveis do cinema boquiabertos, sem fôlego, maravilhados com tanta perfeição? A Samsung parece ter esta resposta, que faz questão de revelar em The Curve Changes Everything: uma televisão com a tela curva, capaz de mudar completamente a forma como assistimos filmes e programas, oferecendo uma experiência completamente nova.

O comercial leva a assinatura da 72andSunny, que se encarregou de escolher filmes divertidos e personagens marcantes para nos contar esta história.

samsung

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Twitter anuncia parceria com Ibope e segmentação por idioma para anúncios

Se esforçando em agradar os anunciantes, seja com métricas ou novas opções de segmentação, o Twitter fez dois comunicados importantes nesta semana: em parceria com o Ibope, vai medir a audiência da TV na plataforma, e também permitirá que os anunciantes segmentem a audiência de seus tuítes patrocinados através do idioma falado pelos usuários.

A medição de dados relacionados à repercussão da programação televisiva no Twitter, chamada de ITTR (Ibope Twitter TV Ratings), contará com um algoritmo que vai identificar palavras-chave e hashtags, e oferecerá os dados em tempo real para as emissoras interessadas. “Vamos poder dizer, minuto a minuto, o que está acontecendo com o total de pessoas que estão assistindo àquele programa e o nível de engajamento que eles estão tendo no Twitter”, explica o presidente-executivo do Ibope Media, Orlando Lopes, em entrevista à Folha.

Esse tipo de métrica já existe em outros países, como os EUA (lá a parceria é com a Nielsen), mas a oferta de tais dados no Brasil vai ajudar tanto TVs quanto agências a definirem melhor suas estratégias de conteúdo e de marketing.

Quase simultaneamente, o Twitter também passou a oferecer aos anunciantes a opção de selecionar a audiência a ser impactada também por idioma falado. A plataforma vai identificar diferentes ‘pistas’ da língua usada pelos usuários em seus tuítes (e não apenas aquela que os usuários avisam ser o seu idioma principal), o que pode ajudar na hora de escolher que público deve ser impactado por um determinado tuíte promovido.

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Segundo o comunicado da empresa, a segmentação será oferecida para até 20 idiomas, entre eles o espanhol e o inglês. Combinada com outras opções como interesses, palavras chave, gênero, localização, entre outras, as ações no Twitter poderão ficar ainda melhor direcionadas.

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Braincast 108 – A inovação, a queda e o retorno de “24 Horas”

Parecia a pior decisão do mundo exibir uma série desse tipo logo depois do 11 de setembro, mas “24 Horas” se provou a história certa na hora certa, tornando-se um fenômeno da cultura pop ao longo de 8 temporadas.

Com o retorno de Jack Bauer nessa semana, discutimos no Braincast #108 o conceito inovador da série, as polêmicas sobre tortura e estereótipos, a preconização de vários temas importantes, o binge viewing, e a estrutura narrativa do primeiro super herói do século 21.

Carlos Merigo, Alexandre Maron, Cris Dias e Guga Mafra ainda se perguntam: em um mundo de “Breaking Bad”, “Game of Thrones”, “True Detective” e “Homeland”, ainda há espaço para Jack Bauer e seus absurdos?

Faça o download ou dê o play abaixo:

> 02m52 Comentando os Comentários?
> 12m00 Pauta principal
> 1h26m Qual é a Boa? – qualeaboadobraincast.tumblr.com

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No Porto Seguro Auto Jovem você é reconhecido!

Pensando em estar ao lado do jovem e apoiá-lo em seu início como motorista, a Porto Seguro lança o Programa de Relacionamento Auto Jovem, um inovador seguro de automóvel desenvolvido exclusivamente para quem tem entre 18 e 24 anos, que valoriza o jeito como você dirige, concedendo descontos no seu seguro.

O Programa (disponível para clientes na região metropolitana de São Paulo) possibilita que você acompanhe a forma que dirige, dando dicas de como melhorar o seu desempenho e o reconhecendo por isso. Tudo isso de forma simples: via hotsite, redes sociais ou aplicativo.

Para começar bem, você ganha 30% de desconto no seguro e na franquia no primeiro ano de vigência. Para participar do Programa, um dispositivo da Porto Seguro é instalado em seu carro para que você possa acompanhar durante o ano dois itens ligados à sua dirigibilidade: tempo rodado de madrugada e tempo rodado com velocidade acima de 90Km/h. Além disso, você faz dois cursos rápidos: o Direção Segura (em Interlagos) e o Direção Emocional. Na renovação do seguro, de acordo com o seu desempenho, você pode garantir os mesmos 30% de desconto!

Porto Seguro

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Críticas, elogios, sugestões para braincast@brainstorm9.com.br ou no facebook.com/brainstorm9.
Feed: feeds.feedburner.com/braincastmp3 / Adicione no iTunes

Quer ouvir no seu smartphone via stream? Baixe o app do Soundcloud.

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97% dos usuários brasileiros do Twitter assistem TV todos os dias

Apesar da grande variedade de dados e pesquisas internacionais, costuma ser raro encontrar estatísticas focadas no uso brasileiro das redes sociais. Por isso que o infográfico ‘#QuemUsaOTwitter’ é interessante – ele analisa apenas a porção brazuca dos tuiteiros, e traz alguns dados curiosos.

Por exemplo, 97% dos usuários do Twitter no Brasil assistem TV todos os dias, e enquanto estão na frente dessa primeira tela, usam uma segunda telinha (o celular, em 50% dos casos) para buscar produtos para comprar (44%) ou procuram informações relacionadas ao que estão assistindo (32%).

#QuemUsaOTwitter-alta

É uma audiência bastante mobile – 4 em cada 5 acessam a web através de seus celulares, onde usam redes sociais (82%), postam fotos (79%), procuram produtos ou serviços (76%) e procuram informações sobre entretenimento (73%).

É interessante comparar dados do infográfico sobre o público no Brasil com as informações internacionais, em especial quando é relativo à publicidade digital. Desde o finalzinho do ano passado, o Twitter tem promovido o seu serviço de ‘TV Ad Targeting’, que ajuda a identificar as conversas relativas a um programa de TV e melhor posicionar tuítes patrocinados em meio a essas discussões. O serviço estreou nos EUA e Reino Unido, e tinha como públicos alvos futuros o Brasil, Canadá, França e Espanha.

A divulgação de dados tão segmentados para a nossa região pode ser um indicativo de que o TV Ad Targeting para o Brasil está em vias de estrear – o Brainstorm#9 questionou o Twitter sobre isso, e a assessoria da rede social esclareceu que, por enquanto, a plataforma ainda não está oficialmente disponível no país. Mas, quem sabe em breve, né?

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Ted Mosby merecia mais: um final alternativo para HIMYM [SPOILERS!]

Nem todos os fãs ficaram felizes com a conclusão da história de como Ted Mosby havia conhecido a mãe dos seus filhos. O último episódio de “How I Met Your Mother”, exibido na segunda-feira, não agradou Ricardo J. Dylan, que decidiu então compilar o seu próprio final alternativo.

Na descrição do vídeo no YouTube, Ricardo afirma que esse seria “o final que merecíamos, depois de termos aguardado por tanto tempo” a conclusão da história.

A principal indignação dos fãs da série que não gostaram do final proposto pelos roteiristas é que ele não seria ‘verossímil’, tendo sido (supostamente) influenciado pelo carisma de alguns dos personagens com o passar da trama.

No entanto, entre as duas possibilidades, eu ainda prefiro o final oficial – ele mantém a mesma verossimilhança que a vida costuma ter. Talvez não seja tão reconfortante quanto o final de uma comédia romântica, mas é bem mais emocionante e surpreendente.

HIMYM

Smartphone ultrapassa a TV e se torna a ‘primeira tela’

Esqueça essa história de que os celulares e tablets são a ‘segunda tela’ de quem está assistindo TV. O público já rebaixou as televisões para a segunda divisão, dando mais atenção aos gadgets mobile do que à tela compartilhada na sala de casa.

De acordo com o estudo AdReaction, da Millward Brown, nos EUA as pessoas gastam em média 151 minutos diários nos seus smartphones, contra 147 minutos em frente à TVs. Na China, a situação é ainda mais drástica: são 170 minutos nas telinhas, contra apenas 89 na frente da televisão. No Brasil, os gadgets mobile também já fazem parte da ‘série A’ da nossa atenção.

Os brasileiros passam 149 minutos por dia em seus smartphones e em média 113 minutos na TV.

Os horários de uso da TV também têm picos definidos, enquanto o uso de celulares, tablets e até do laptop é bem mais estável.

Dados do Brasil

Dados do Brasil

Horários de uso no Brasil

Horários de uso no Brasil

A pesquisa, que entrevistou mais de 12 mil usuários entre 16 e 44 anos, em 30 países, também revela que apenas 35% das pessoas tem o costume de usar dois dispositivos ao mesmo tempo. Durante esse consumo simultâneo de duas telas, 62% dos entrevistados globais alegaram estar acompanhando coisas diferentes e não relacionadas, em um comportamento definido como ‘staking’, um empilhamento de atividades.

Em relação a anúncios, os usuários mobile globais estão bastante receptivos com vídeos curtos, de cerca de 5 ou 10 segundos. “Os vídeos mobile estão prontos para explodir”, reforça Joline McGoldrick, diretora de pesquisa da Millward Brown em entrevista ao AdAge.

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Fica a sugestão de também conferir o site do estudo em millwardbrown.com/adreaction, que traz bons gráficos que mostram a situação global e também regional, com o Brasil entre os principais países estudados.

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Como o Oscar e os Talk Shows norte-americanos estão resolvendo o maior problema que já enfrentaram

Há poucas semanas, Jimmy Fallon substituiu Jay Leno no Tonight Show e transformou o programa num desfile de pesos pesados, cheio de participação ativa do apresentador e extremamente ágil. Adoro Leno e estranhei um pouco, mas esperei. Então chega o Academy Awards apresentado por Ellen DeGeneres, “a moça da selfie épica”, repleto de contato com o público, live tweet, pizza e tom leve. Entendi a ligação entre as duas coisas enquanto conversava com uma colega inglesa: é reposicionamento a longo prazo. E faz todo o sentido, afinal de contas, quem vai alavancar a audiência desse pessoal nas próximas décadas?

A primeira dica foi dada por Jerry Seinfeld no sofá do Tonight Show, ele e Fallon conversavam sobre algum momento do passado deles e, enquanto imitava Seinfeld, o apresentador mencionou o conselho que recebeu do amigo: “esse trabalho [como host] é quase eterno” e o escolhido vai passar entre 20 e 30 anos naquela cadeira, tocando um programa diário.

A audiência tradicional dos talk shows já está garantida, mas vive uma redução – assim como quase tudo na TV tradicional – por conta do sucesso dos programas online. Jimmy Kimmel tem martelado esse nicho há anos e Fallon entendeu o recado. Ele tem uma missão: construir uma nova base de fãs, que, assim como Sienfeld disse, ficará com ele ao longo das próximas 3 décadas.

Então, por trás de todo aquele envolvimento, de torneios de lip synch, palhaçadas e stand up comedy, há um objetivo maior. A renovação. Exatamente a mesma mentalidade que alimentou o Oscar 2014, com Ellen. Ela interagiu com o público, fez de tudo para se transformar na representante da audiência no palco (embora seja tão famosa e rica quanto as pessoas sentadas no Dolby Theatre na noite do Oscar) e quebrar a parede que sempre separou os apresentadores do público nas grandes premiações.

A audiência tradicional dos talk shows vive uma redução – assim como quase tudo na TV – por conta do sucesso dos programas online

Resultado? 47.3 milhões de espectadores (8% melhor que 2013), o maior número desde 2000, com apresentação de Billy Crystal. De quebra, Jimmy Kimmel apostou em remakes de vídeos do YouTube e bateu seu próprio recorde com o programa especial subindo 22% em relação ao ano passado.

A velha guarda desceu a lenha tanto em Fallon “um exibido que briga por atenção com seus entrevistados, em vez de falar com eles” quanto em Ellen “que, em certo ponto, desistiu de apresentar e só se preocupava com a internet”. É um choque de realidades e o recorde da selfie (que se aproximou de 4 milhões de RTs), aliada à movimentação nas mídias sociais – devidamente reconhecidas durante a apresentação – deixam claro a disposição dos produtores em aceitar as mudanças e jogar no mesmo time.

O caminho ainda será longo, claro. Ano que vem tudo pode mudar no Oscar? Sim. Mas os resultados e a presença online devem ser o suficiente para evitar qualquer mudança no rumo. Esse foi o Oscar descontraído e jovial que prometeram com Anne Hathaway e James “Locão” Franco, sem a pompa solene ou aquele puxa-saquismo infinito. Há quem goste. Há quem critique. Sempre vai ser assim.

Fallon, por outro lado, segue firme e forte, fazendo um strike atrás do outro e se consolidando. Ele é versátil, pode agregar como atração secundária e tem história com muitas das grandes celebridades por ter convivido com elas por muito tempo, logo, é uma mistura promissora. Resta a ele encontrar esse público logo, antes que as grandes cartas sejam queimadas e ele seja obrigado e gerenciar o que construir nesse início triunfante.

É hora de renovação. E todo mundo sabe. Você gostou dessa nova linha de raciocínio tanto do Oscar quanto do Tonight Show?

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Designer homenageia Breaking Bad em série de pôsteres

Dizer que Breaking Bad é uma das melhores coisas que apareceu na televisão nos últimos tempos é chover no molhado. Mas é interessante observar a forma como a trama criada por Vince Gilligan tem estimulado a criatividade dos fãs mundo afora, como é o caso do designer húngaro Zsolt Molnár, que resolveu criar uma série de pôsteres para cada um dos 62 episódios.

As ilustrações trazem alguma cena/frase marcantes do episódio retratado, e o projeto completo está disponível no Tumblr Posterology. Para quem ainda não assistiu a série, cabe um alerta de spoiler, especialmente para o último pôster.

Os pôsteres também estão à venda no Society6.

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O inspirador pessimismo de “True Detective”

Coincidência ou não, neste fevereiro tenebrosamente quente conheci duas coisas que conquistaram minha atenção: Emil Cioran, filósofo e escritor nascido na região da Transilvânia (mas francês de coração); e “True Detective”, nova série da HBO. E se você não entendeu a razão dessa suposta coincidência, saiba que chegarei nela em instantes. Portanto, continuem comigo.

Para muitos a idéia de “ser feliz” não está relacionada a estados momentâneos, mas é vista (e desejada) como algo permanente: uma condição que devemos lutar e perseguir até alcançarmos. E de fato, alguns buscam essa suposta felicidade num parceiro(a), família ou até mesmo em algum deus ou religião. Inclusive isso vende bem: basta olhar a quantidade de livros, palestras e até treinamentos motivacionais em busca desse pseudo nirvana.

Mas como conciliar essa idéia de felicidade permanente ao fato de que nossa própria existência definha dia após dia, em uma caminhada inevitável para a morte?

Esse pensamento radical – “ser feliz ou infeliz” – esconde de nós um meio termo dessa afinação sentimental. Uma espécie de conformismo de que, queira você ou não, a vida é mais complexa e profunda do que isto. E justamente por essa condição, precisamos aceitar e entender que esse estado não é necessariamente tenebroso.

True Detective
True Detective

“Minha consciência tem, para mim, mais valor do que a opinião do mundo inteiro”, – Cícero.

O universo de morte e sofrimento (pano de fundo em “True Detective”) é retratado nas obras de Cioran, em uma linguagem radicalmente íntima e pessoal, definida por ele como “a tradução de suas próprias sensações”. E, acreditem ou não, de um jeito pessimista (ou realista?) o autor mostra que é possível existir satisfação / aceitação com a própria vida, sem a real necessidade de perseguir qualquer outra resposta pré-formatada pelos meios.

“True Detective” segue a escola “Breaking Bad”, dando significados subliminares para tomadas, objetos, cores e até posicionamento de personagens e elementos.

Neste momento eu poderia estar falando tanto de Cioran, como do detetive Rust Cohle, protagonista interpretado de forma inacreditável pelo Matthew McConaughey. Já que eles compartilham a mesma idéia, espírito e motivação (ou a falta dela).

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Sombrio e misterioso, Cohle está mergulhado em um universo cínico, incoerente e mentiroso. Mas que, para muitos (como para seu parceiro Marty, interpretado por Woody Harrelson), deve ser aceito e respeitado. Pois “apenas seguindo as regras da sociedade poderemos encontrar paz e equilíbrio nas nossas vidas”. O que não acontece nem para Cohle (que nunca compra a idéia), nem para Marty (que a prega, mas não consegue colocá-la em prática).

“Me considero um realista, certo? Mas, em termos filosóficos, sou o que se chama pessimista. Acho que a consciência humana foi um erro na evolução. Nós nos tornamos muito auto-conscientes. E a natureza criou um aspecto da natureza separado de si mesmo. Nós somos criaturas que não deveriam existir pela lei natural”, – Detetive Rust Cohle

True Detective

“Todos os seres são infelizes. Mas quantos sabem disso?”, – Cioran

Nic Pizzolatto (criador da série) comprime nossos sentimentos e emoções em uma atmosfera que, embora rica em detalhes, não oferece nenhum atalho para descobertas ou considerações pessoais. Fazendo a alienação dos personagens ultrapassar a tela e contaminar nossas teorias. E o detetive Rust Cohle (que é ateu, como Cioran) nos despe por camadas, convidando-nos para questionamentos maiores sobre a vida, nossas ações e – ainda assim – nenhuma expectativa para conclusões profundas. Isso exige maturidade tanto de quem assiste, como dos criativos por trás da obra. E como vocês podem imaginar: esse cuidado e excelência não falta na produção.

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Com uma narrativa não linear de tempo e espaço, McConaughey surpreende na interpretação do detetive Rust Cohle

Sabemos que a “escola Breaking Bad influenciou muita gente depois de uma jornada absolutamente impecável. E por mais que ambas as séries não tenham ligação, “True Detective” segue padrões similares, nos presenteando com significados subliminares em diversas tomadas, objetos, acordes cromáticos e até posicionamento dos personagens e elementos. Tudo conversa.

Por outro lado, essa intensidade no roteiro (e principalmente nas atuações) deixa claro que não haverá fôlego o suficiente para carregar isto por muito tempo. Talvez seja uma série de uma ou no máximo duas temporadas. E assusta um pouco imaginar se a HBO teria o mesmo culhão que Vince Gilligan teve ao finalizar “Breaking Bad” – caso “True Detective” apresente um excelente resultado na audiência, é claro.

True Detective

Como espectadores, evoluímos a cada ano. Não por mérito nosso, mas dos atores e diretores, que aumentam o sarrafo do que fazem: alargando nossas expectativas cada vez mais. E não pestanejo em afirmar que Matthew McConaughey se torna, neste momento, um dos maiores atores dessa geração. Em uma narrativa surpreendente de tempo / espaço (a história é contada em épocas distintas), McConaughey surpreende com uma interpretação nada linear, que vive (sem forçar a barra) um mesmo personagem em épocas diferentes. Nos convencendo da sua deterioração física e espiritual em uma memorável construção de personagem.

“Nada prova que nós somos mais do que nada”, – Cioran

“True Detective” foi lançada em janeiro, e justamente por isso não contarei nenhum spoiler que estrague a experiência de vocês. Portanto, o único convite aqui é: ousem assistir, questionar e voltar aqui para compartilharem suas impressões.

E Ivan Mizanzuk: obrigado pela indicação.

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A parcialidade incontestável dos documentários da CNN

O segundo semestre foi movimentado na programação de documentários originais da rede CNN. Depois de grande estardalhaço e uma campanha agressiva, o canal iniciou a transmissão de uma série de filmes – de acordo com a promessa – polêmicos e transformadores sobre temas como energia atômica, as Orcas do SeaWorld e o assassinato do Presidente John F. Kennedy. Todos eles, repletos de informação e com boa produção, mas, em dois deles, algo em comum: visão unilateral.

Documentários, idealmente, tem o objetivo de informar o espectador sobre um determinado assunto. Em muitos casos, o documentarista engajado utiliza o formato para contar uma história verídica por meio de depoimentos e informações, defender uma causa e promover a denúncia. Esse estilo é normalmente adotado pelo cineasta independente, cujo objetivo é vencer uma batalha, mostrar uma verdade assustadora, criticar algo ou alguém.

Entretanto, quando a marca CNN está envolvida, com o selo CNN Films, esperasse a pluralidade de ideias e a influência jornalística do canal no resultado final. O primeiro dos filmes da temporada foi “Blackfish”, um documentário agressivo e revelador sobre o tratamento dado às Orcas no SeaWorld e demais parques aquáticos da companhia por causa das diversas mortes de tratadores e treinadores.

Repletos de informação e com boa produção, mas algo em comum: visão unilateral

Vários ex-funcionários do SeaWorld, familiares de vítimas e especialistas no tratamento de baleias foram entrevistados e defenderam as acusações de maus tratos, perigo para os treinadores, distúrbios comportamentais detectados nos animais por conta dos anos de cativeiro e o acobertamento dos casos fatais. O conteúdo é forte e vai direto ao ponto. Entretanto, não há um representante sequer defendendo a empresa ou, de maneira mais ampla, falando sobre os eventuais aspectos positivos do trabalho da companhia.

CNN

Nesse caso, será que o outro lado não existe? O SeaWorld só se manifestou por meio de comunicado à empresa acusando o documentário de ser unilateral. Bom, nesse aspecto, eles estão certos. É fácil comprar uma versão emocionante e assustadora; mas, uma vez passado o susto, a imagem pode perder força e relevância. É acusador, júri e carrasco num pacote só. Se o espectador tem a opção de tirar suas próprias conclusões, a mensagem nunca é esquecida e o efeito permanece.

O mesmo acontece em “Pandora’s Promisse”, vendido como um debate sobre Energia Nuclear, mas que não passa de uma defesa obstinada em favor da tecnologia. Para isso, o diretor utilizou especialistas, ativistas ambientais anti-nuclear nos anos 70 que se converteram depois de aprender e descobrir as verdades sobre as usinas atômicas e os problemas das outras fontes de “energia limpa”. Há muita coisa boa ali.

Um exemplo: sabia que a areia da praia de Guarapari é mais radioativa do que os prédios vizinhos a Chernobil hoje em dia? O documentário é bastante educativo e revela muitas informações sobre os novos reatores e a efetividade da energia nuclear contra eólica ou solar, que são mais baratas, mas dependentes de condições climáticas.

Enfim, é um documentário interessante, mas é tudo tão lindo e fantástico? Não acabamos de enfrentar o desastre em Fukushima? Se é tão seguro, por que o único país descrito como “esperto o suficiente para perceber tudo isso e adotar usinas nucleares como principal fonte de energia” é a França?

A defesa é clara: o monopólio do petróleo não quer que ninguém saiba. Muito disso é verdade, com certeza. Mas aí coloco a pergunta: é mesmo papel do documentarista pensar pelo espectador e tentar empurrar sua visão sobre os fatos?

CNN

Tom Hanks tentou fazer isso no terceiro documentário da temporada “The Assassination of President Kennedy”, uma análise dos fatos, teorias da conspiração e efeitos causados pelo assassinato de John F. Kennedy. Esse foi o único dos três filmes a colocar opiniões contrárias em confronto direto. Ex-policiais, jornalistas, médicos, escritores e políticos que estiveram ligados ao caso de alguma maneira foram ouvidos e deixaram seu recado.

No meio desse tiroteio de opiniões, uma linha editorial sólida e bem direcionada vai mostrando reportagens de época, fotografias, vídeos, faz uso de vozes de peso como Walter Kronkite e muitos depoimentos de arquivo para alimentar ambos os lados. Foi um tiro só? Jim Grissom, protagonista do filme “JFK” foi apenas um aproveitador atraindo a atenção pública? Qual a importância do Warren Report? Por que Jack Ruby matou Lee Oswald? Tudo isso é abordado tanto pela visão da época quanto pela ótica, e perspectiva, atual.

Pensando em termos lógicos, essa temporada de documentários da CNN parece ser balanceada: um agressor (“Blackfish”), um defensor (“Pandora’s Promisse”), um meio termo (“The Assassination of President Kennedy”). Visto de forma ampla, pode até fazer sentido, mas o espectador é apresentado a cada produto de uma vez, em horário nobre, com roupagem de verdade absoluta por conta da edição normalmente emotiva e envolvente.

Pessoalmente, não volto mais ao SeaWorld. O filme me provocou a pesquisar mais e, por conta da pesquisa, acabei encontrando informações mais contundentes ainda e sacramentei minha impressão (afinal, o assunto é mais “simples” e palpável), por outro lado, não comprei uma fantasia de Homer Simpson ou saí por aí pedindo mais usinas atômicas.

A CNN fica no fogo cruzado entre a “TV para Republicanos Radicais” e a “TV do Democrata Feliz”

Diferente do primeiro caso (que envolvia acusações criminais), cientistas e pesquisadores atômicos poderiam muito bem balancear os prós e contas do sistema. Não foram utilizados por opção clara do diretor. E, se ele optou por só mostrar um lado, prefiro não confiar muito nele. Ele pode estar certo e temos condições de construir novos reatores, seguros e efetivos, mas gosto de informações, não de propaganda. E, quando existe apenas um lado de uma história tão grande, que envolve vida e morte, há apenas um interesse. Ele age exatamente do mesmo modo que aqueles a quem critica.

Curiosamente, isso acontece em meio ao renascimento de um programa clássico da CNN: o “Crossfire”, cujo conceito envolve colocar defensores de dois lados de um determinado assunto e deixar o circo pegar fogo. No atual cenário de canais domésticos, a Fox News detém o título de “TV para Republicanos Radicais”, a MSNBC está no espectro oposto como a “TV do Democrata Feliz” e a CNN fica no fogo cruzado, tentando balancear sua cobertura e faz de conta ainda acreditar na neutralidade. O perfil dos documentários, e reportagens especiais, apresentadas recentemente vai contra essa imagem e, assim como seus concorrentes, o canal criado por Ted Turner parece estar extremamente interessado na tão criticada venda de opinião. E, pelo jeito, vale tudo.

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Uma coleção de “se tirar o chapéu”

Ao longo deste ano, o designer italiano Federico Mauro chamou a atenção com um projeto pessoal bastante divertido: reunir diferentes objetos famosos, que fazem parte da cultura pop, e que causam uma identificação imediata no público. Óculos, sapatos, guitarrasarmas, lâminas, comidas e bebidas até chegarmos aos chapéus.

Personagens, artistas, políticos e personalidades públicas que vão de Willy Wonka a Heisenberg, passando pelo Papa, Jimi Hendrix, Frank Sinatra, Jackie Kennedy e até mesmo Papai Noel, fazem parte desta coleção.

São 30 chapéus que estão marcados em nossas memórias, seja por fazerem parte de grandes momentos, histórias inesquecíveis ou simplesmente porque quem os usava era um ícone.

Particularmente, senti falta da inseparável cartola de Slash, marca registrada do guitarrista. Mas, no final das contas, não importa o quanto estas coleções tentem ser completas. A gente sempre fica achando que algo ficou de fora…

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Enfeite de Natal narra festas de família em comercial da Netflix

Se você já assistiu à Família Soprano ou Os Bons Companheiros (talvez Rizzoli & Isles) no original, sem dublagem, provavelmente vai reconhecer de imediato a voz rouca de Lorraine Bracco, a narradora de Holiday Tree Topper, o simpático filme de Natal da Netflix. Em 60 segundos, somos apresentados à família McDermont e passeamos por alguns momentos dos 34 natais vivenciados pela ponteira da árvore e toda a loucura, brincadeiras, bagunça e peças pregadas pelos donos da casa.

Mas no final das contas, é claro que tudo acaba compensando – até mesmo quase ser esmagada por uma bola de boliche, que as crianças encontraram no sótão, ou ainda sufocar com a fumaça do inhame queimado da tia Ruth -, porque em algum momento, a família se une para compartilhar a programação do Netflix (o que lembra um pouco a proposta do Canal+). É isso que faz o enfeite sorrir – apesar de o sorriso já estar pintado em sua cara.

A criação é da Deutsch de Los Angeles.

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Canal+ cria nova versão para a Natividade

O que é o Natal, para você? Para cada pessoa, assim como para cada marca, a festa tem um significado diferente. No caso do Canal+, Natal é a época de se ficar com a família, de preferência em frente à televisão, compartilhando a “irresistível programação de fim de ano” do canal. Pelo menos é a mensagem proposta por The Wise Man, filme criado pela BETC Paris que traz uma nova versão para a Natividade.

Com produção da The Glue Society/Wanda e direção de Gary Freedman, o comercial mostra um dos reis magos perdido no deserto, tentando encontrar o caminho para Belém. Ao anoitecer, entretanto, a Estrela de Belém finalmente aparece no céu e ele consegue se localizar. Ao chegar ao estábulo, entretanto, a história é um pouco diferente daquela contada tradicionalmente.

O filme entrou no ar hoje, mas é difícil prever como ele será recebido pelo público. Pode ser que algumas pessoas se sintam ofendidas com o tratamento dado ao assunto, enquanto outras encarem tudo com humor. Uma coisa é certa: tanto o cliente quanto a agência não tiveram medo de se arriscar com uma ideia. É esperar para ver.

canal

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A narrativa de “Breaking Bad” explicada pela música “El Paso” [SPOILERS!]

O episódio derradeiro de “Breaking Bad” se chama “Felina”, e todo fã ouviu aquela teoria de que – além de um anagrama para “Finale” – o título também representa as siglas dos elementos Ferro (Fe), Lítio (Li) e Sódio (Na). Dessa forma, significaria um final com sangue, metanfetamina e lágrimas.

É uma interpretação interessante, e até apropriada, mas não oficial. O “Felina”, confirmado por Vince Gilligan, saiu da música “El Paso”, do cantor Marty Robbins. A balada country de 1959 é parte inerente do final da série, com a aparição de uma fita K7 (!) e até assobiada por Walter White no deserto.

Na canção, Felina é uma garota mexicana da qual um atirador é apaixonado. Já em “Breaking Bad”, Felina seria a droga azul feita por W.W. Visto dessa forma, a letra “El Paso” não apenas pode ser encaixada com o episódio final, mas contextualizada com toda a série.

Com um vídeo no Vimeo, Bonnie Rose fez isso. Editou o início de “Felina” com diversas outras cenas de temporadas anteriores, combinando com a história contada pela música. O resultado é bem divertido.

Breaking Bad

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MTV Brasil: Tem, mas acabou

“É a sua cara, sabia que um dia você ia acabar trabalhando lá.”

“Você sempre foi criativo, não poderia trabalhar em um lugar melhor.”

“Doidão assim, onde mais você ia arrumar um emprego?”

Quem lá esteve, diariamente, seja por um mês ou 20 e poucos anos, sabe que pertencia àquele lugar, que a sensação de “ir procurar sua turma” tinha terminado. Ali, fora da casinha, era a nossa casa. Alfonso Bovero 52, Sumaré, São Paulo. MTV Brasil.

MTV

A MTV criou um estilo de fazer entretenimento que chamou atenção dos canais abertos, ávidos por renovação

Foi lá que, no dia 20 de outubro de 1990, a Astrid abriu os trabalhos que durariam pouco menos de 23 anos. Começou naquele lugar (do lado de casa) a maior transformação do mercado audiovisual brasileiro desde a ascensão da Globo. Óbvio que a TV carioca teve uma aparição mais pujante, pontual, mas a Music Television foi gradativamente mexendo com o pensamento de criação e execução relacionados a som e imagem que abundava nestas terras.

A partir dali, todo mundo teve oportunidade de virar “especialista” em novidades musicais. O conceito de “eclético”, que você responde quando é perguntado sobre o tipo de som que curte, ganhou esse patamar, em parte, pela programação da MTV. E hoje, se você tem milhares de discos no seu HD, iPod, malucofone ou seja lá como você ouve música, suas escolhas passam por todo acervo que foi exibido no canal nessas duas décadas.

Quem não lembra carinhosamente e tem a mente inundada por clipes e sons favoritos quando ouve nomes como Lado B, Yo!, Fúria Metal, Gás Total, Videoclash, Top Top, Supernova, Gordo Freak Show, Disk MTV, Top 20 e Jornal da MTV, entre outras pérolas inesquecíveis?

“Eu quero a minha MTV”, o slogan mais emblemático da história da emissora

E não para por aí. Se alguns programas, de Domingão do Faustão a Agora É Tarde, vêem como imprescindível, hoje, os artistas e bandas tocarem ao vivo, a MTV abriu esse precedente. Não existia playback nos musicais do canal. Os VMBs, os Acústicos, todas as edições do Verão e os programas de música que rolaram no saudoso e histórico Estúdio S, impreterivelmente, foram ao vivo. Fora o show.

A forma diferente de abordar o universo musical, aliás, cada vez mais experimental e variada, aos poucos se transformou num estilo de fazer entretenimento que chamou atenção dos canais abertos, ávidos por renovação, e teve início, assim, a “escola” MTV de apresentadores e formatos. A MTV não era mais vista como um canal com um bando de programas malucos e gente estranha tagarelando. Havia uma nova visão do mercado sobre um jeito diferente de fazer conteúdo.

Enquanto diretores e roteiristas batem cabeça sobre o primeiro beijo gay em novelas, a MTV não exibiu apenas o primeiro da TV aberta, como também centenas de outros beijos

Se nos anos 90 talentos tão peculiares como Zeca Camargo e Thunderbird (O THUNDER!!!) chegaram a ser contratados pela Globo (NA GLOBO!!!), no começo dos anos 2000, Cazé, a mente por trás do Teleguiado, foi pro canal do Jardim Botânico, e Marcos Mion, que ainda era o moleque do Piores Clipes do Mundo, chegou à Band como um pospstar, com a missão de fazer um reboot do horário nobre. A ideia em si era boa, mas o projeto não deu tão certo quanto se esperava, em boa parte por indefinição do próprio canal. Esse momento, no entanto, marcou uma guinada na relação entre TV aberta e VJs.

O próprio Mion voltou pra MTV, anos depois, e emplacou hits como o Covernation e o Descarga. Em 2008, ele recebeu a companhia de Marcelo Adnet e seu revolucionário 15 Minutos. No ano seguinte, veio o Furo MTV e a aparição da dupla mais legal e inesperada da história do canal: Bento Ribeiro e Dani Calabresa. Daí pra frente a coisa degringolou e veio o Quinta Categoria, com os Barbixas, que marcou época e abriu caminho para a chegada de Paulinho Serra, Rodrigo Capella e uma tal de Tatá Werneck (?) no ano seguinte. Isso, fora os spin offs Furfles, Comédia MTV e Comédia MTV Ao Vivo.

Se hoje as duplas de âncoras dos jornais vespertinos fazem brincadeiras e citações pessoais sobre notícias, isso passa pelo Furo. Se (quase todos) os programas dominicais exibem atrações de improviso, o Quinta é referência. Se a gente SABE que o Zorra Total e A Praça É Nossa são peças de museu, em termos de linguagem, o Comédia esfregou na nossa cara.

E tem muito mais de onde veio isso. Difícil imaginar o Tiago Leifert falando de esporte no formato desenvolvido por ele próprio (louvável, inclusive), sem o Rockgol mostrando anos antes que dava pra fazer desse jeito, ou mesmo o CQC, que deu fôlego novo à TV aberta, chegando ao Brasil sem o caminho aberto pelo Buzzina MTV do Cazé.

Aliás, dá pra pensar no Pânico na TV, que revigorou o humor sem noção, chegando à TV sem antes Hermes & Renato e o João Gordo mostrarem que dá pra zoar sem limites e ainda assim ser querido por QUASE todo mundo? E até o Ratinho, que passa trotes e diz que está TROLANDO a audiência, faria isso antes do Trolalá ter dado as caras na telinha?

Digo mais: enquanto diretores e roteiristas batem cabeça sobre o primeiro beijo gay em novelas, o Fica Comigo, da Fernanda Lima, e o Beija Sapo, da Daniela Cicarelli, exibiram não apenas o primeiro da TV aberta como centenas de beijos entre meninos e meninos ou meninas e meninas.

E a publicidade? O peso dos videoclipes na narrativa e formato de cada peça a partir dos anos 90 foi tremendo. Michel Gondry, Spike Jonze, David Fincher, David LaChapelle e mais uma leva brilhante de craques reconstruíram a linguagem dos vídeos curtos e o mercado brasileiro consumiu isso sentadinho no camarote.

Daí pra frente, foram surgindo nossos diretores de clipe, que exibiam seu trabalho na MTV e dali partiram pras grandes produtoras e até pro cinema. Johnny Araújo, Maurício Eça, Fred Ouro Preto, Rodrigo Pesavento, Mariana Jorge, Vera Egito e Toddy Ivon são alguns exemplos de três gerações de camisas 10 que brilharam (e ainda brilham) na direção de videoclipes.

A MTV Brasil, aquela da Alfonso Bovero 52, Sumaré, São Paulo, está marcada na história de uma geração

“A alma da MTV não era isso”, xingam as turmas que passaram a adolescência e parte da juventude estatelados no sofá, comendo bolacha recheada, como eu, e que ainda nem sonhavam com a existência de espertofones ou banda larga (pelo menos não tão larga e popular assim).

Então tá, vamos falar de música. Chico Science, Marisa Monte, Charlie Brown Jr, Racionais MCs, Emicida, Raimundos, Mundo Livre SA, Bonde do Rolê, Autoramas, Pitty, Planet Hemp, Skank, CPM 22, Otto, Pato Fu, Gabriel, O Pensador, Karnak, a carreira solo do Nando Reis, Cansei de Ser Sexy, Pavilhão 9, Los Hermanos, O Rappa, Xis, MV Bill, a carreira solo do Frejat, Comunidade Ninjitsu, Wander Wildner, Cachorro Grande, Seu Jorge, Dead Fish, Jota Quest, NX Zero, Cine, Gloria, Restart, Fresno, Criolo, Banda Uó e mais uma multidão de gente boa, cada qual com seu cada qual, existiriam sem a MTV. Mas tocaram, falaram e foram ouvidos antes por lá. Era a casa deles também, a porta estava sempre aberta. Pode perguntar a cada um. E essa é uma história muito legal.

Mas nada disso era o melhor da MTV, véio…

O que tinha de mais radiante ali eram as pessoas. Era quando tinha cinco, oito, dez, quinze negos fumando seus cigarros no corredor e batendo papo. Era a escada de incêndio. Era o chope caro da Real, que rendeu milhares de novas amizades, centenas de ideias e centenas de milhares de romances, todos bonitos, quase todos mais rápidos do que mereciam, tudo de verdade. Era a hora do almoço. Era quando você tava na casa de alguém que só tinha avistado uma ou duas vezes no corredor e se perguntava como tinha ido parar ali. Era quando você acordava na sua casa, dez da manhã, e ainda tinha gente conversando na sala, sobras da festa de ontem.

A MTV Brasil como a conhecemos sai do ar, mas deixa sua linguagem e estética como legado

Era o final de semana com gente que você viu a semana inteira. Era trabalhar um turno a mais pra fazer a premiação mais legal do nosso mundo, sorrindo enquanto fazia e chorando no final a alegria pura de fazer parte daquilo. Era a festa da firma, quando todo mundo se encontrava, todo mundo alucinava, todo mundo ia até o chão e não existia a menor possibilidade de vergonha no dia seguinte. Era amar e ser amado. Era ter arqui-inimigos imaginários, que na verdade sempre quiseram a mesma coisa que você, e essa coisa era fazer coisas muito legais. É ter os melhores amigos que a vida podia me dar. É ter conhecido meu grande amor.

O slogan mais emblemático da história da MTV dizia: “Eu quero a minha MTV”. A gente, que tava ali diariamente, por um mês ou 20 e poucos anos, mas que agora tá espalhado por esse mercadão maluco, realizou isso. A MTV Brasil, aquela da Alfonso Bovero 52, Sumaré, São Paulo, e suas histórias serão para sempre nossas. E de quem viu.

Roda o bumper.
Sobe os créditos.

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Nícolas Vargas assiste à MTV desde 1995, começou como estagiário do canal em 2002, foi editor-chefe do Portal MTV, dirigiu o Furo MTV, o Talk Show do Bento e o Trolalá MTV, foi roteirsta de três VMBs (2008, 2009 e 2012) e hoje em dia é criativo/roteirista freelancer. Conheça mais do trabalho dele em tramposdevargas.tumblr.com

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CANAL+ mostra o poder de uma boa série

Sabe quando você assiste uma série e quase não é capaz de aguentar esperar mais uma semana inteira para ver outro episódio? Ou então um ano para o começo de outra temporada? (Não vou falar de novo de “Breaking Bad”, prometo.)

Pois é essa a metáfora do novo comercial do CANAL+. Um homem começa a contar uma história para um grupo de palhaços anões, quando é interrompido pelo celular. O que se segue é o que a emissora chama de “o poder de uma boa série”.

A campanhaserve para divulgar o lançamento do CANAL+ Series, dedicado só a produções televisivas. Só não sei se a emissora está nos chamando de palhaços, mas tudo bem.

A criação é da BETC Euro RSCG.

The Clowns

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“Breaking Bad” e as novas regras da televisão

Todo mundo tem um amigo que um dia (ou todos os dias) repetiu exaustivamente que você deve assistir “Breaking Bad”. E não é uma simples recomendação, inclua aí doses de histeria: “assista logo!”, “é a melhor série!”, “quem não vê está por fora!”, “se você não assistir sua vida não terá sentido!”, e outras alegações do tipo. Um comportamento talvez, só talvez, um pouco exagerado, e que virou motivo de piada, tipo fã do Iron Maiden, mas que tem fundamento. Eu mesmo fui influenciado assim, e passei os últimos anos recomendando de forma pouco controlada para quem ainda não assistia/assiste, sem vergonha de ser chato. Peço desculpas se fui irritante, mas me dê licença para ampliar o discurso a partir de agora.

O fato é: Quando o último episódio da série for exibido, em 29 de setembro de 2013, não importa se você acompanhou ou não a saga de Walter White e sua família – e nem qual seja o aguardado destino dos personagens – o sarrafo das produções televisivas terá atingido o seu ápice. Pode-se até argumentar que muitos outros programas ainda estão em andamento, e tantos ainda virão, mas o ciclo narrativo e técnico do show da AMC terá impactado as indústrias criativas de forma indelével.

“Breaking Bad” é um exemplo impecável da televisão como forma de arte, competindo em um terreno antes exclusivo do cinema. A mídia televisiva, que por muito tempo foi demonizada como um viciante e alienador antro de programação popular e vulgar, se tornou na última década também sinônimo de cultura e entretenimento adulto de qualidade. Bem, é verdade que a maior parte da TV ainda é recheada de realitys e programas de auditório de gosto duvidoso, mas, quando se fala em dramaturgia, estamos testemunhando uma inversão de papéis entre as emissoras e os estúdios de Hollywood.

Uma revolução criativa que permitiu à TV ter o impacto cultural, o conteúdo autoral e os investimentos antes exclusivos do cinema

Breaking Bad

Dois livros recentes – “The Revolution Was Televised” de Alan Sepinwall, e “Difficult Men” de Brett Martin – falam dessa revolução criativa e mercadológica que permitiu à TV ter o impacto cultural, o conteúdo autoral e os investimentos que antes eram dominados pelo cinema. Enquanto Hollywood tornou-se conservadora, tentando ser a prova de falhas com uma obsessão crescente por franquias e blockbusters, os canais de televisão assumiram um comportamento rebelde e arriscado. Claro que números importam, mas as emissoras pagas decidiram que, muitas vezes, o buzz e a influência valem mais do que métricas quantitativas de audiência.

Breaking Bad

Uma das consequências disso como marca é que, em uma época de fragmentação do público, os canais de TV estão conseguindo estabelecer conexão e fidelidade com o espectador, algo que os grandes estúdios de cinema – exceto a Disney/Pixar – não tem. Ninguém espera ansiosamente para ver o próximo filme da Warner Bros. ou da Paramount, por exemplo, esse sentimento depende muito mais do elenco e profissionais envolvidos, mas certamente tem muita gente na expectativa pelo que a HBO, AMC ou Showtime farão a seguir.

Outro ponto que também era tido como exclusivo de Hollywood, e que agora migra para a televisão, é a força dos criadores. Os diretores de cinema sempre foram vistos como as estrelas do show, mas na TV os responsáveis por séries também tem conquistado o status de celebridade, contando com liberdade para controlar todo o processo de produção e sendo reconhecidos por isso.

Cresce também o intercâmbio entre meios, com diretores e atores de filmes atuando na televisão, antes considerada lugar de profissionais de segundo escalão. Aliás, os estúdios é que estão atrás dos ícones das séries para trabalharem em seus filmes. Bryan Cranston ter sido escolhido para viver o novo Lex Luthor, por exemplo, não foi apenas pela careca brilhante.

“Breaking Bad” é prova cabal de todo esse cenário, definindo o ponto mais alto da mídia até o momento e culminando no que Brett Martin chama de “a terceira Era de Ouro da TV”. Porém, não custa lembrar que tudo começou antes. 14 anos antes, para ser exato, com um rechonchudo (quase careca) de roupão e que se encantou com patos na piscina de sua casa.

The Sopranos

The Sopranos e HBO: “Isso não é TV”

Apesar de “Oz”, o drama prisional da HBO, ter ido ao ar quase dois anos antes, marcando a entrada em conteúdo original da emissora, a estreia de “The Sopranos” em 1999 é notoriamente tida como a pedra fundamental dessa revolução, onde novos tipos de estórias e estrutura formal permitiria que dezenas de outras séries fossem possíveis no futuro. Vince Gilligan, criador de “Breaking Bad”, afirmou que Walter White não existiria sem Tony Soprano.

David Chase e sua equipe de roteiristas modificaram a arquitetura de storytelling comumente praticada. Nada mais é garantia de final feliz.

Quando David Chase criou um mafioso no divã, que se dividia entre uma rotina de crimes e dedicação familiar, deu vazão ao surgimento de muitos outros anti-heróis. Quebrando convenções, “The Sopranos” mostrava que nada mais era garantia de final feliz. A morte de personagens regulares passou a ser comum, algo antes impensável na TV. Tony Soprano é um protagonista que causa empatia, mas ainda assim violento e assassino, um tipo de personagem que as pessoas viam e gostavam no cinema, mas não aceitavam “dentro de suas casas”.

Além disso, sem a obrigação de saciar o apetite das emissoras de TV aberta por mais e mais episódios, e no menor tempo possível, Chase e sua equipe de produtores e roteiristas modificaram a arquitetura de storytelling comumente praticada. Cada episódio de “The Sopranos” é sólido por si só, mas também faz parte de um arco maior de temporada, e se conectam de forma coerente uns aos outros. Não funciona como uma sitcom, em que você pode ligar a TV e assistir o que estiver passando fora de ordem.

Ao contrário das séries procedurais, que apresentam uma premissa no piloto e dependem da mesma fórmula nos episódios subsequentes – inclua aí os sucessos “E.R”, “Greys Anatomy”, “West Wing”, “CSI”, “House”, e tantas outras – a produção da HBO apostava principalmente na construção paulatina de personagens. Cliffhangers não tinham tanta importância, os espectadores eram fisgados pelas personas da história, com dezenas de capítulos que acabavam no mais absoluto silêncio.

James Gandolfini e David Chase

James Gandolfini e David Chase

Agressivamente artístico e violento, “The Sopranos” foi recusado por diversas empresas. CBS, NBC, ABC e Fox, naturalmente, julgaram muito pesado para uma emissora aberta. E ainda bem. Um grande trunfo da HBO, que por muito tempo trabalhou o slogan “It’s Not TV”, era a não existência de uma grade de programação fixa, de um horário nobre. Ninguém estava esperando pela estreia de “The Sopranos”.

Recorde de audiência na TV paga, “The Sopranos” foi um acontecimento televisivo que permitiu e influenciou a origem de outras tantas séries dos anos 2000

Isso permitiu que David Chase tivesse o luxo de escrever, filmar e editar todos os 13 episódios da primeira temporada da série antes que uma única chamada fosse ao ar. A HBO, por sua vez, não tinha anunciantes com os quais se preocupar. Não importava se o programa seria considerado violento, denso e pouco acessível. Ao contrário do canais abertos, a quantidade de executivos a se agradar era bem menor.

Os planos da HBO passavam muito além de satisfazer as massas e as marcas, e sim estava focado na importância do buzz que citei no começo desse texto. O canal investia em produções originais com pretensões artísticas pois queria criar uma poderosa percepção no público: A de que uma pessoa aculturada não poderia viver sem ter a assinatura da HBO. Mesmo que essa pessoa só assista uma hora por semana, ela precisa acompanhar o que o canal faz ou estará perdendo conteúdo de qualidade superior, estará por fora das conversas com os amigos.

The Sopranos

Na outra ponta dessa mudança está o papel da tecnologia. As vendas de DVD’s com temporadas inteiras permitiu que a série ganhasse fãs continuamente, e estes passassem então a acompanhar os novos episódios pela TV. Atualmente isso é ainda mais crucial, considerando os variados serviços de streaming e a pirataria, a ponto da própria HBO se dizer feliz e satisfeita com os milhões de downloads ilegais de “Game of Thrones”, por exemplo.

Mudou-se também a maneira de se fazer críticas de séries. Sempre foi padrão das publicações especializadas escrever reviews baseadas em um ou alguns episódios apenas. Os produtores de “The Wire, que foi ao ar três anos depois da estreia de “The Sopranos”, enviavam temporadas completas para os críticos, adotando uma nova estratégia de divulgação. O pensamento é de que, assim como você precisa ler pelo menos umas 100 páginas de um livro para ser agarrado pela história, também precisa assistir quatro ou cinco horas de um seriado, no mínimo, para “se viciar”. Com a internet, virou comum a prática do “recap”: Centenas de sites e blogs analisando episódio por episódio, assim que vão ao ar, repercutindo a série por um longo período e gerando conversação entre os fãs.

Com tudo a favor, “The Sopranos” se tornou canônico da história da televisão, alcançando 14.4 milhões de espectadores em média por episódio, um número assombroso para um canal pago, e o recorde da HBO até hoje (nem o hype de “Game of Thrones” ainda supera essa estatística). Foi um acontecimento televisivo que definiu e permitiu a origem de outras tantas séries, entre elas: “24 Horas”, “Lost”, “Six Feet Under”, “Dexter”, “The Wire”, “Deadwood”, “The Shield”, “Weeds”, “Rome”, “Boardwalk Empire”, “Homeland”, “Mad Men”, “The Walking Dead” e, claro, “Breaking Bad”.

Breaking Bad

Breaking Bad

“I am the one who knocks”

Assim como o protagonista de “The Sopranos”, David Chase nunca fez cara de bons amigos para a maior parte das pessoas que trabalharam com ele. Sua relação com a indústria é descrita como temperamental. Talvez o motivo esteja no fato de que sempre quis trabalhar com cinema, e revelou em entrevistas que por várias vezes pensou se não deveria ter se dedicado a produzir filmes nos anos em que fez a série. Mas a pergunta de um jornalista o deixou sem resposta: “Que filmes?”

Vince Gilligan também era um desses que sonhava em trabalhar em Hollywood. Chegou a escrever alguns roteiros, um deles foi produzido com Drew Barrymore e Luke Wilson no elenco, e também co-roteirizou “Hancock”, mas tantos outros foram reprovados. Porém, logo encontrou seu lugar na série “Arquivo X”, um totem da cultura nerd, onde escreveu um total de 27 episódios e co-produziu outros tantos.

Um de seus companheiros na sala de roteiristas era Thomas Schnauz. Um dia, numa conversa telefônica, ambos se queixavam da indústria do cinema, de como a burocracia e a politicagem travam o processo criativo. Gilligan, com um pé no desemprego, disse: “Talvez a saída seja virarmos funcionários do Walmart”. Thomas respondeu:

“Ou podemos comprar uma van e transformar num laboratório de metanfetamina”.

A sugestão absurda foi o ponto de partida para Vince Gilligan, no mesmo dia, anotar dezenas de outras ideias e pensar em arcos que deram origem a “Breaking Bad”. Schnauz, claro, entrou no bonde, ou melhor, na van, e nesses seis anos de existência da série não apenas co-roteirizou diversos episódios, como também é creditado como co-produtor executivo.

Vince Gilligan

Vince Gilligan

A essência – Mr. Chips que vira Scarface – estava lá desde o início, assim como a metáfora sobre a crise de meia idade, os questionamentos morais, parceiros e prováveis adversários que Walter White enfrentaria em sua jornada. Porém, Gilligan se perguntava se essa história deveria ser um filme ou uma série de televisão. Anos antes, seria um filme sem dúvida, mas em 2005 (quando botou as ideias no papel) só podia ser TV.

Com as ideias no papel, Gilligan se perguntava se essa história deveria ser um filme ou uma série de televisão

Começou então a via crúcis por possíveis emissoras interessadas. Executivos da TNT adoraram a ideia, mas questionaram: “Precisa mesmo ter metanfetamina? Se comprarmos sua ideia, seremos demitidos”. Showtime acabara de estrear outra série sobre drogas, “Weeds”. FX só produzia uma série por ano, e já tinham se comprometido com “Dirt”, de Courtney Cox, cancelada pouco tempo depois. A HBO nunca retornou após uma primeira reunião. Será que arrependimento mata?

Se tem algo que um canal de TV detesta, aliás, é ver uma ideia rejeitada virar série de sucesso na concorrência. O FX até se propôs a comprar os direitos de “Breaking Bad” e filmar o piloto, mas deixariam numa gaveta, sem previsão de produzir uma temporada. Vince Gilligan, obviamente, não topou a proposta, e restava a AMC, onde o primeiro episódio de “Mad Men” tinha acabado de ser filmado.

Breaking Bad

Breaking Bad

O abismo criativo das histórias serializadas

A televisão é uma mídia que, desde sua origem, necessita de uma narrativa que possa se estender indefinidamente. Faz parte do negócio. Uma empresa investe milhões, emprega milhares de pessoas, abre divisões corporativas e coloca sua reputação em risco confiando apenas em uma hora de vídeo ou num novo quadro de programa. O criador, por sua vez, mergulha num abismo criativo, se comprometendo de que a história vai continuar pelo maior tempo possível.

A quebra dessa estrutura formal é um dos grandes trunfos de “Breaking Bad”. Concebida desde o início como uma trama com começo, meio e fim, menor quantidade de episódios, mais tempo dedicado ao roteiro e produção e, principalmente, mais risco criativo na tela. Uma série com essa proposta pode fazer sempre a história caminhar pra frente, com grandes acontecimentos e mudanças entre os personagens, sem a necessidade de passar anos andando de lado pois a emissora não tolera desagradar a audiência. Alguém lembrou de “Dexter” e seu declínio criativo nos últimos anos?

Assim como “The Sopranos”, cada episódio de “Breaking Bad” é um trabalho de arte em si. David Chase, em 1999, fez o que era normal: Tinha todo o arco de uma temporada descrito em uma lousa, mas precisava montar uma sala de roteiristas para desenvolver cada episódio. Essa linha de produção é comum na televisão. Episódios saem como carros em uma fábrica. Enquanto um está sendo filmado, outro já está sendo escrito e produzido por diferentes equipes. Chase quebrou esse padrão, decidindo que queria manter o controle de todo o processo e colocar suas ideias em todos os capítulos.

Vince Gilligan repetiu o formato, com a diferença de ser considerado um cara mais afável para se trabalhar. Mesmo autocrático, acredita na colaboração, equilibrando sua visão e gerenciamento microscópico de cada detalhe da série com atuação em equipe. Em entrevistas, já disse que todos são iguais em sua sala de roteiristas.

Cada episódio é um trabalho de arte por si só. Benefício de uma trama com começo, meio e fim pensados desde o início.

Toda discussão de Gilligan com seu grupo de escritores – sete no total – passa por duas perguntas: 1. Para onde os personagens estão indo?; e 2. O que acontece depois?; É como um jogo de xadrez: “Se movermos esse personagem daqui para lá, quais serão os movimentos das outras peças?”, disse Gilligan num recente Writer’s Panel.

Toda ideia supõe uma ação, assim como suas consequências. Lembra do que eu falei sobre andar pra frente e não de lado? O modo como “Breaking Bad” lida com o ritmo da trama é um dos elementos chave da genialidade da série. Corta caminhos quando você acha que ainda tem muito pra acontecer, deixando para o espectador juntar as peças; ou segura a onda quando parece que o confronto é inevitável, introduzindo flashbacks ou flashforwards de maneira intrigante.

Breaking Bad

Storytelling visual e o papel do Novo México

“Breaking Bad” é, de longe, a série de TV mais estilizada visualmente. Antigamente, a falta de verba fazia personagens descreverem acontecimentos, falando muito mais do que mostrando. Já a atração da AMC se beneficia dessa migração de dinheiro, e investe em produção e truques de camera, com os famosos takes com GoPro em objetos, ponto de vista em primeira pessoa, e outras maneiras criativas de se capturar uma cena.

Escolhida por causa de incentivos fiscais, a cidade de Albuquerque ficou enraizada visualmente na tela, permitindo um novo cenário dramático para os roteiristas

O roteiro padrão de um episódio de “Breaking Bad” pode conter diversas páginas sem um único diálogo, com acontecimentos mostrados em silêncio ou apenas com ruídos diegéticos. Claro que o impacto da história é o principal, mas não seria igual sem o storytelling visual trabalhado por Vince Gilligan, bem como o excelente design de som que colabora de forma essencial para a crescente tensão de determinados momentos.

As locações contribuem muito nesse sentido, e são consideradas pelo próprio criador como um personagem a parte. Originalmente, Walter White e sua família morariam na California, como tantas outras figuras do entretenimento, mas questões financeiras – leia-se: incentivos fiscais – transferiram a trama para a cidade de Albuquerque, no estado do Novo México.

Com média de 310 dias ensolarados por ano, a região está para “Breaking Bad” assim como New Jersey está para “The Sopranos”. Não dá pra imaginar a série sem esse palco, que teve a geografia e topografia enraizada visualmente na tela, permitindo um novo cenário dramático para os roteiristas. As conversas (e ameaças) no deserto, que transformam “Breaking Bad” praticamente num faroeste, são icônicas. Impossível pensar nisso tudo acontecendo com uma praia ao fundo.

A próxima década do audiovisual terá “Breaking Bad” no seu encalço

Também é notório o jogo de cores da série, que brinca com o figurino dos personagens para criar simbolismos. O design de produção e de som fazem de cada episódio uma experiência cinemática. Rimas visuais conectam cenas e dão pistas do que está por vir, composições retratam sentimentos e situações em segundos, a fotografia frequentemente mergulha os personagens em luz ou sombras. Outro destaque é o uso do princípio narrativo do dramaturgo Anton ChekhovChekhov’s gun – de que todo objeto da trama deve ser essencial e insubstituível, com a série resgatando elementos que, se inicialmente pareciam banais, reaparecem em momentos críticos.

Isso tudo fez “Breaking Bad” ter sua porção de “Lost”, aliás, com fãs interagindo com a série e desconstruindo meticulosamente cada episódio na tentativa de desvendar possíveis pistas. Mais uma prova da televisão que deixou de ser mídia passiva, tendo, praticamente em tempo real, elementos como cores, locais, números, placas, e etc, discutidos pelos espectadores nas redes sociais. Provavelmente, muito disso não passa de mera especulação, mas inspira os criativos na busca pela TV social.

Breaking Bad

O fim é difícil, mas inevitável

No mundo ideal da televisão, nada acaba. Todo o modelo financeiro da TV depende de longevidade, e são raras as produções que reconhecem que tem data de validade. “Breaking Bad” sairá de cena como uma produção cultural com o carimbo de “essencial” justamente por saber que boas histórias terminam.

Restam apenas cinco episódios para o fim – e estes três últimos exibidos foram particularmente brilhantes – um momento difícil para criadores e fãs, mas ainda assim inevitável, nas palavras do próprio Vince Gilligan. Não é exagero dizer que ele deixará um legado no mesmo nível, ou ainda maior, do que David Chase fez com “The Sopranos”. A próxima década do audiovisual terá “Breaking Bad” no seu encalço, com comparações e lembranças, para o bem ou para o mal. Caberá aos estúdios, emissoras e criativos seguirem essa trilha, onde a ousadia é premiada com sucesso e a certeza de que os espectadores estão preparados para ela.

Lá no primeiro parágrafo, eu disse que encheria um pouco mais o saco de quem ainda não assiste a série. Mas não quero fazer através dos argumentos desse longo texto. Eu poderia até dizer que é obrigação de quem trabalha com comunicação e nas indústrias criativas em geral e ponto final, mas não, não assista porque é rotulado de canônico, de fundamental ou de o melhor drama da TV.

Assista porque é divertido. Muito, mas muito divertido. Assista pelos momentos (vários deles) em que você levará a a mão à boca pois não consegue acreditar no que está acontecendo. Assista pelas cenas que farão você gritar com a TV, sentar na ponta do sofá, xingar um personagem, e torcer como se fosse um jogo de futebol. Veja também pelos momentos de humor e de questionamento moral, onde você chega a conclusão de que faria a mesma coisa – “é tudo pela família!” – só para no minuto seguinte dizer que chega, não dá pra confiar em mais ninguém. E claro, assista também para chamar Vince Gilligan de sádico, pois esse filho da p* sabe como terminar um episódio como ninguém. Um dos poucos que, atualmente, faz 50 minutos passarem como se fossem 10. Sentirei saudade.

Breaking Bad

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Mentos Fresh News cria um telejornal só sobre você

Um telejornal em que você é a única notícia. Essa é proposta narcisista de Mentos em um novo site da campanha “Stay Fresh”

Conectando com o Facebook e integrando dados do usuário, Mentos Fresh News cria um vídeo-paródia em que os apresentadores noticiam sua vida. Tem fofocas sobre seus supostos interesses amorosos e piadas sobre seus gostos, baseado nas suas opções “Curtir”, por exemplo.

O site utiliza não só as informações nativas do Facebook, como também as de aplicativos conectados a ele, como o Foursquare. Se for o seu caso, os “jornalista” comentam também suas últimas viagens.

A criação da BBH London não é exatamente inovadora, mas aposta no humor e contexto jornalístico para viralizar. Testa lá: mentosfreshnews.com

Mentos News Fresh

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Netflix e o fim da TV como conhecemos

Há alguns meses, enquanto assistia “House of Cards”, me perguntei em determinado momento se a excelente série seria passível de indicação a prêmios e celebração pela indústria de televisão. Afinal, não era precisamente TV, na forma que estávamos acostumados, e sim conteúdo de um serviço online que tem seus detratores e é visto como ameaça por grande parcela do mercado. Mas como ignorar uma produção em alto nível, com nomes como David Fincher e Kevin Spacey envolvidos?

A resposta veio na sexta-feira passada, no anúncio da Academia Nacional de Artes & Ciências Televisivas, com “House of Cards” acumulando nove indicações – mais três para “Arrested Development”, e duas para “Hemlock Grove” – ao Emmy 2013. Isso é histórico. São 14 indicações no total para a Netflix, que agora compete de igual pra igual com todas as outras tradicionais emissoras de televisão, na panelinha que dominavam, incluindo a toda-poderosa HBO e sua mastodôntica “Game of Thrones”.

Esse reconhecimento reacendeu os discursos de revolução no consumo da mídia, 15 anos após “The Sopranos” ter sido a primeira produção de TV paga reconhecida pelo mesmo Emmy. Não precisa ser nenhum entusiasta – ou cair na batida discussão velhas mídias contra novas mídias – para perceber que estamos testemunhando uma reviravolta na indústria e, principalmente, a concretização de uma ideia que tinha tudo para falhar. E ainda tem.

Reed Hastings, CEO

Reed Hastings, CEO

O sonho digital

Reed Hastings sempre foi considerado um empreendedor silencioso, um caso raro de faz primeiro para depois falar (e mandar press release), ciente de seu lugar frente aos gigantes conglomerados que dominam um negócio bilionário há décadas. Hastings nunca comprou brigas públicas ou fez discursos inflamados. Desde que fundou a Netflix em 1997, entregando DVD via correio, foi chamado inúmeras vezes de gênio, mas também de lunático idealista.

Com 30 milhões de assinantes, a Netflix é responsável por 1/3 do consumo de toda a banda na América do Norte nos fins de semana

Em 2011, já considerado “culpado” pelo fim da Blockbuster e acumulando 15 milhões de assinantes que “alugavam” DVD’s, Hastings decidiu separar seus modelos de negócio. Criou o Qwikster para lidar com os discos de plástico, deixando a Netflix exclusiva como serviço de streaming online, fazendo jus, finalmente, ao seu nome: Netflix, e não “DVD em casa”.

A reação foi a pior possível, tanto por parte dos consumidores, que debandaram em número alarmante (mais de 800 mil), como de Wall Street. As ações da empresa despencaram 60%, o que fez Hastings pedir desculpas e voltar atrás na decisão. Visto como um jogador de xadrez paciente até então, o CEO admitia que estava indo rápido demais em busca do sonho 100% digital.

Posso estar sendo romântico demais, mas é justamente esse idealismo que vejo como fundamental na estratégia vencedora da Netflix. Reed Hastings permaneceu estoico, sempre apostando na mudança do consumo de TV, com vídeo na nuvem, sendo distríbuido online sob demanda em qualquer dispostivo. Poucos tem estômago para arriscar sistematicamente, ainda mais depois de um fiasco como o Qwikster, e é nesse momento que vemos muitas startups alterarem sua filosofia para se encaixarem numa imposição de mercado. Falar em revolução depois que ela já está em curso é fácil.

A justificativa do CEO para dividir a companhia em duas era a necessidade de dar foco ao streaming online, imaginando o futuro não tão distante no qual acreditava. Atualmente com 30 milhões de assinantes, a Netflix é responsável por 1/3 do consumo de toda a banda na América do Norte nos fins de semana, superando YouTube, Hulu, Amazon, HBO Go, iTunes, e BitTorrent combinados. É, acho que ele tinha alguma razão.

Netflix

Com ajuda do YouTube e Xbox

Em 2000, uma equipe de engenheiros da Netflix criou o primeiro sistema próprio de streaming. Eram necessárias 16 horas para fazer download de um filme. Inviável, óbvio. Em 2003, Reed Hastings insistiu, dessa vez montando um PC com Linux de 300 dólares, que levava duas horas para baixar um filme.

Esse tipo de equipamento, aliás, foi a origem de centrais multimídia como Roku, Boxee, e similares, mas na Netflix o projeto foi engavetado até 2006. Foram os três anos necessários para o mundo digital já estar diferente. A banda larga tinha atingido velocidade e alcance bem maior, e algo recente começava a mudar o comportamento das pessoas: o YouTube.

O YouTube mudou a maneira como nos relacionamos com vídeos. Não precisamos mais ser donos de discos ou arquivos.

Hoje notoriamente a maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube foi o grande responsável por perdermos a noção de que precisamos ser donos dos vídeos. Você entra no site, busca e assiste o que procura, em vez de comprar discos prateados ou baixar arquivos para guardar no computador.

Já existia streaming bem antes do YouTube, claro – quem não se lembra do nada saudoso RealPlayer? – mas jamais na qualidade e velocidade apresentadas pela tecnologia criada por Chad Hurley e Steve Chen em 2005. O YouTube alterou nossa relação com vídeo online, abrindo caminho também para o tão desejado plano da Netflix.

Outra mudança essencial na história da empresa foi a decisão de Hastings de que não estavam no negócio de hardware, e sim no de prestação de serviço. A Netflix deveria estar presente nos dispositivos que as pessoas já tinham. TV’s, PC’s, consoles, player’s de DVD/Blu-ray, iPod’s, smartphones, tablet’s, e no que mais fosse possível instalar um aplicativo. Números do primeiro trimestre de 2013 indicam que mais de 4 bilhões de horas de vídeo foram assistidas em cerca de 1000 modelos diferentes de eletrônicos.

Netflix

O acordo com a Microsoft para incluir o app de Netflix no Xbox foi crucial, num momento, aliás, em que a gigante de Redmond já planejava transformar seu console em mais do que um videogame. Atualmente é comum falar no Xbox ou PlayStation como centros de entretenimento na sala de estar, mas até então eram vistos apenas como equipamentos relegados ao quarto da criança/adolescente, ou do pai que domina a sala para jogar FPS nas horas vagas (ou não).

Em três meses disponível na Xbox Live, a Netflix conquistou 1 milhão de novos assinantes. Grande parte desse público jamais tinha tocado num videogame antes: as mulheres. Mais tarde, acordos com Samsung e Sony ampliaram a oferta de eletrônicos com o aplicativo pré-instalado. As chamadas Smart TV’s e players DVD/Blu-ray saem de fábrica com Netflix em destaque.

Hackeando Hollywood

Após garantir presença no dia a dia das pessoas, a Netflix precisava de mais do que filmes antigos e velhos seriados para atrair a atenção de novos assinantes. Reed Hastings queria os blockbusters, e assim enfrentaria suas duas maiores barreiras: Hollywood e as emissoras de TV.

O pulo do gato da Netflix foi explorar uma brecha contratual, que colocou o serviço online no mesmo patamar das emissoras de TV a cabo

Comprar e alugar DVD’s era um negócio que não exigia nenhuma barganha, e alterar o sistema “tudo o que você puder consumir por um preço fixo” no streaming – se transformando num pay-per-view comum – também não estava nos planos da empresa. Ou seja, as negociações à lá Steve Jobs com as gravadoras, que fizeram a iTunes Store ser possível, não serviriam.

Primeiro a Netflix utilizou o que é hoje seu maior ativo – as estatísticas de consumo dos usuários – para mostrar aos estúdios de Hollywood que seria capaz de transformar filmes menores e obscuros em sucessos no streaming. Os acordos com canais de TV tradicionais, que compram em pacotes, exigem o comprometimento dos estúdios por uma determinada quantidade de blockbusters, com atores famosos incluídos, já o serviço sob demanda trabalharia com o conceito de cauda longa.

Em segundo lugar, a companhia encontrou uma maneira de hackear o velho sistema de janela da indústria de filmes. Para quem não está familiarizado, explico: a janela é uma engrenagem que há muito tempo regula o lançamento de um filme, em diferentes meios e formatos, através de intervalos de tempo.

Depois que a produção é exibida nos cinemas, leva alguns meses para ser lançada em home video e pay-per-view. Mais algum tempo depois, canais premium de TV paga – com contratos de exclusividade que podem somar 2 bilhões de dólares ao ano – ganham o direito de exibir o título. Depois de mais alguns meses, é que o filme chega em outras emissoras de TV a cabo, e leva anos para ser exibido em TV aberta.

David Fincher, Kevin Spacey e Kate Mara no set

Fincher, Spacey e Kate Mara no set

O sistema de janela pode “prender” um filme por quase uma década. É verdade que os intervalos tem sido cada vez menores, muito para aproveitar as milionárias campanhas de marketing, mas ainda assim as exclusividades de lançamento são para as redes que conseguem barganhar o melhor acordo. Filmes da Warner Bros, por exemplo, estreiam primeiro na HBO.

O pulo do gato da Netflix foi explorar uma brecha contratual, que colocou o serviço online no mesmo patamar das emissoras de TV a cabo. Em 2008, uma negociação com o canal premium Starz adicionou de imediato 2500 novos títulos na biblioteca do serviço de streaming. É óbvio que viria pressão de Hollywood e das provedoras de TV, desencorajando a iniciativa, mas com mais filmes vieram mais assinantes, e quanto mais assinantes, mais dinheiro. Como disse Hastings em entrevista:

“Se gerarmos dinheiro suficiente para os estúdios, poderemos conseguir o conteúdo que quisermos.”

Dessa forma, a Netflix passou a costurar seus contratos diretamente com os estúdios, aumentando a oferta de conteúdo na nuvem e com presença maciça nos dispositivos mais populares em diversos países. Existe uma previsão de que a empresa vá gastar pelo menos 5 bilhões de dólares nos próximos anos em licenciamento de filmes e séries.

Big Data

Netflix

O surgimento de concorrentes é constante, seja das próprias emissoras, provedoras de TV ou até de estúdios, sem contar a iminente entrada da Amazon, Google e Apple no mesmo modelo de negócio, mas a Netflix parece ciente do seu verdadeiro trunfo.

Reed Hastings e sua equipe – hoje com mais de 2000 funcionários – aperfeiçoaram o que hoje é moda chamar de big data com seu sistema de recomendação. O grande segredo da Netflix é seu algoritmo, que busca adivinhar o que as pessoas querem assistir a seguir. A empresa acredita que quando um assinante gosta de um filme que viu através do serviço, mais ele estará conectado emocionalmente com a marca.

Em média, a cada três filmes assistidos, o usuário gosta realmente de um. Se a proporção aumentar de dois pra três, mais a Netflix será relevante na vida do consumidor. Sendo assim, existe um grande investimento para melhorar a taxa de acertos do sistema. Isso é feito não apenas com os ratings registrados pelos usuários, mas também com as informações de quando o espectador pausa, avança ou retrocede um vídeo, bem como dias e horários preferidos de cada um. Toda essa massa de dados reunidos rege os próximos negócios do serviço.

As estatísticas servem, inclusive, para melhorar a performance dos 20 mil servidores Amazon com 3.14 petabytes de vídeo que a Netflix faz uso. Toda noite, uma análise gera um relatório que mostra os filmes e séries mais vistos do dia. Se determinado título se populariza em uma cidade, ele é automaticamente transferido para memórias flash de alta velocidade, garantindo o streaming mais rápido naquela região. O mesmo é feito com os diferentes formatos de arquivo, com o sistema buscando rapidamente o vídeo compatível para o gadget do usuário.

Conteúdo original

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Com investimento em produções próprias, a Netflix derrubou o último bastião que a separava de ser tratada como um canal de TV. E nesse quesito podemos considerar duas grandes revoluções de abordagem.

A primeira é com os próprios criadores. Muitos se perguntam como a Netflix conseguiu atrair David Fincher e Kevin Spacey para “House of Cards”, e a resposta é bem simples: liberdade. Diferentemente das imposições dos canais de TV na obsessiva busca por mais audiência, a Netflix deu carta branca aos produtores e roteiristas da série. É assim que você, sem verba ilimitada, faz um dos diretores mais requisitados de Hollywood apostar na sua ideia

Depois vem a mudança na relação com os próprios espectadores. Não mais um episódio por semana, que é o modelo que a televisão usa para maximizar os lucros com muita publicidade no meio, e sim todo o pacote entregue de uma vez. A Netflix lança todos os episódios das suas séries originais ao mesmo tempo, apostando no chamado “binge view”, a maratona em frente a TV.

A decisão foi condenada por diversos especialistas do mercado, mas Reed Hastings continua acreditando na mesma filosofia desde o início: tudo o que você puder consumir, quando e onde quiser.

Quando conversei com Gabriel Rodrigues-Nava, Community Manager da Netflix na América Latina, perguntei se existiam planos de inserir publicidade antes, durante ou depois dos episódios, e a resposta foi taxativa: “Fora de questão”. Isso não impede, claro, a propaganda através de product placement. PlayStation e Pizza Hut são duas das marcas que aparecem inseridas na trama de “House of Cards”, por exemplo.

Netflix

Novas regras (ou o fim delas)

A conta da Netflix ainda não fecha como Wall Street gostaria. Do 1 bilhão de dólares em receita, foram 57 milhões de lucro. A pequena margem é explicada pelos caros contratos de licenciamento, cada vez mais excruciantes, e pelo inédito investimento em produções originais. Os 13 episódios de “House of Cards” custaram aproximadamente 100 milhões de dólares.

Netflix

Analistas dizem que, para ser sustentável, a Netflix deveria manter uma base de 40 milhões de assinantes somente nos EUA. Mas Reed Hastings sonha mais alto. Ele quer 90 milhões de usuários americanos, considerando até que esses desistam de pagar TV a cabo, 90 dólares/mensais em média.

A empresa não revela números no Brasil, mas diz que continua crescendo sua base mesmo com o recente aumento no valor da mensalidade, de R$ 14,90 para R$ 16,90. De qualquer maneira, por aqui já incomoda faz tempo, até com propostas da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) de regulamentar (leia-se, blindar) o segmento.

As probabilidades de tudo dar errado ainda existem. O investimento em conteúdo original pode fazer os estúdios, com os quais existe acordo, enxergarem a Netflix como concorrente. A dependência dos servidores Amazon, em vez de possuir infraestrutura própria, também é vista como ameaça. A entrada da Apple e da própria Amazon no negócio pode alterar completamente o panorama atual. Sem contar o catálogo ainda fraco em diversos países, incluindo o Brasil.

Porém, como eu disse no começo, correndo o risco de ser leviano, afinal, “money talks”, as suposições e os números da Netflix são detalhe – pelo menos nesse momento – perto do impacto incalculável que a empresa está causando na indústria de entretenimento. É um pioneirismo que mudou o mercado, que corre para se adaptar, e que mudou nossa relação com a televisão. É só experimentar Netflix por algum tempo, ou algum concorrente que seja – nacionais temos o NET NOW, Telecine On e Vivo Play, por exemplo – para perceber como a tal “grade de programação” é arcaica, e como é cada vez mais ridículo precisar marcar hora para assistir algo na TV convencional. É também questão de tempo para as transmissões ao vivo se democratizarem para outras telas e formatos.

Em carta aberta publicada em abril passado, Reed Hastings cita Francis Underwood de “House of Cards” e revela sua visão para o futuro da TV. A internet vai substituir a programação linear, aplicativos substituirão canais, controles remotos irão desaparecer, e telas irão proliferar.

Isso deixa claro como a internet nunca vai matar a televisão, como um dia se afirmou, mas vai alterando completamente, em um ritmo mais acelerado do que os conservadores gostariam, o seu modo de existir e se relacionar com os espectadores. E lembre-se, ainda nem estamos considerando a força e infinidade do conteúdo em vídeo gerado diariamente pelas pessoas na web. Não deve demorar mais 15 anos até uma websérie no YouTube ser indicada ao Emmy.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Sony compara TV’s 4K a experiência de tomar sorvete ou ver o mar pela primeira vez

Com as resoluções usuais de atualmente, eu já acho que no passado vivíamos em um mundo televisivo borrado. E olha que um dia chegamos a pensar que os 480p do DVD era uma grande revolução. Depois da popularização dos Full HD, propagandeados na última década, entraremos agora numa fase de uma nova sigla: 4K.

Porém, como convencer o consumidor de que o que parece perfeito hoje, pode ser ainda melhor? Quando surgiu a resolução 1080p muitos olharam com desconfiança, e certamente isso ainda acontece, acreditando que é só mais uma bobagem pra vender eletrônicos. Com 4K o problema se repete. Eu mesmo nunca vi uma TV dessas e me pergunto que diferença essa resolução poderia fazer.

Para convencer as pessoas, a Sony utilizou o velho conceito de “como você nunca experimentou antes”, mas contando três histórias bem identificáveis: uma menina que nunca tomou sorvete, um fazendeiro que nunca viu o mar, e um rapaz que nunca foi em um estádio de futebol.

Uma ideia que funciona em qualquer lugar, e capaz de exemplificar em experiências marcantes uma tecnologia impossível de ser demonstrada diretamente na campanha.

Sony 4K

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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