Oscar 2014: Samsung e Twitter não param de rir com o maior selfie de todos os tempos

O Oscar tem muitos patrocinadores. 30 segundos de veiculação durante o intervalo da premiação custou 1.8 milhão de dólares esse ano. Porém, nenhuma marca deve estar mais satisfeita do que Samsung e Twitter nesse momento de entrega dos troféus da Academia.

A apresentadora Ellen DeGeneres não largou o seu Galaxy, tirando fotos e tuitando durante o evento. E uma dessas brincadeiras já pode ser considerada o maior selfie de todos os tempos, pelo menos mercadologicamente falando.

Ellen reuniu vários atores para a foto, e ainda desafiou o público a transforma-lá na mensagem mais retweetada do Twitter. Minutos depois do selfie, era impossível até seguir a apresentadora, um bug devido ao alto volume de novos followers.

No momento que escrevo esse post, já são mais 350 mil RT’s e 200 mil favoritadas. E, mesmo com toda a história da pizza, entregue pela Big Mama’s & Papa’s, ficará marcado como o melhor product placement da noite.

Esse ano é a primeira vez que o Oscar é transmitido também via internet, com patrocínio da Samsung, mas talvez eles não imaginassem o montante de cachês milionários reunidos em uma única foto.

[ATUALIZAÇÃO] Nos bastidores, Ellen usa um iPhone, segundo apontado por diversos leitores. Mas isso não deve estragar o merchan, apesar de dar margem pra piada: “Pra usar Galaxy, so? pagando”.

Oscar

[ATUALIZAÇÃO 2] É oficial. Esse é o tweet mais retweetado do Twitter, ultrapassando o recorde que pertencia ao presidente Barack Obama, quando comemorou sua reeleição.

Oscar

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Ícones representam filmes ganhadores do Oscar

Hoje à noite tem mais uma entrega do Oscar e a Beutler Ink Labs criou uma espécie de infográfico transformando todos os ganhadores de Melhor Filme, desde 1927, em ícones. Os indicados deste ano na categoria ganharam uma seção especial, todos eles devidamente identificados. Qual será que irá integrar a galeria superior?

O mais legal deste pôster/infográfico é perceber a maneira como cada longa-metragem foi representado e, quem sabe, tentar adivinhar qual é o filme, sem olhar o ano em que ele foi premiado – uma pista valorosa em alguns casos.

Para quem não se lembra, a Beutler Ink Labs foi a responsável pela criação de Here’s to 2013, uma ilustração que concentrou a retrospectiva de 2013.

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“RoboCop”: Padilha Ex Machina

As ideias de gente como Gene Roddenberry e Arthur C. Clarke, por exemplo, sempre fizeram a ficção científica contemporânea olhar para a frente e para o futuro. Ambos criaram mundos tão críveis quanto distantes, um pouco conectados por uma aparente fé na evolução da Humanidade. Até agora, sobram argumentos para contrapor esses visionários.

Violência urbana, pequenas – e constantes – guerras em áreas de grande miséria, corrupção e muita incerteza na política internacional com Coréia do Norte e Irã ameaçando desestabilizar o cenário. Logo, a ficção começou a olhar o amanhã com cinismo, aquela sombra soturna pairou sobre heróis e os futuros deixaram de ser promissores, quase ecoando a onda do “cinema contra as corporações” da década de 1980 ou vendo as trevas em qualquer sombra, no “efeito Nolan”.

E é daí que surge o argumento para a estreia de mais um diretor brasileiro em Hollywood: “RoboCop”, dirigido por José Padilha e fotografado por Lula Carvalho.

Com uma carreira brasileira marcada pela pesada crítica social, a ausência total de fé no sistema de segurança e no claro desdém pelo trabalho da imprensa, Padilha assumiu a missão de dirigir um remake do clássico de Paul Verhoeven. O processo foi abertamente atribulado com diversas alterações de data e muitas discussões sobre os rumos da história e, mesmo com tudo isso, saiu.

José Padilha no set

José Padilha no set

RoboCop

Antes de ver o filme, o instinto dizia ser impossível dissociar uma obra da outra, ou seja, comparar o original com o novo. Depois, isso cai por terra. Alguns elementos continuam presentes, mas, felizmente, o novo ?“RoboCop” se sustenta com as próprias pernas e podemos olhá-lo como obra única. Mas isso não quer dizer que o diretor conseguiu, necessariamente, transferir seu estilo provocador para a tela nessa mistura de ficção científica, filme de ação e drama familiar.

Gene Roddenberry idealizou um mundo no qual o humano deixasse de ser violento. Padilha se alimenta do oposto, vendo uma sociedade derivada diretamente dos efeitos dessa agressividade. Ele parece buscar por uma utopia inexistente, tal como Roddenberry. Mas, ao ponto que o criador de “Jornada nas Estrelas” viu esse homem “evoluído”, Padilha tem como maior “devaneio” em “RoboCop” a cena de abertura, na qual veículos de combate não-tripulados (drones) e soldados robóticos norte-americanos patrulham e pacificam as ruas de Teerã, capital do Irã, um dos maiores opositores aos Estados Unidos (esse será o único spoiler do filme, prometo).

O cenário é fantasioso ao extremo, quase um mundo paralelo no qual décadas de desavenças foram superadas sem conflito (o roteiro deixa claro que a Guerra do Afeganistão foi a última travada ao custo de “vidas americanas”) em apenas 14 anos. Mas serve para passar um recado direto: Padilha quer criticar o uso atual dos drones.

O tema é justo, atual e relevante. A administração de Barack Obama tem ampliado o uso dos veículos para eliminar ameaças fora dos Estados Unidos (é proibido o uso desse recurso em território americano e contra cidadãos onde quer que estejam) e as críticas acontecem com frequência. Padilha também fala a respeito – mas não mostra – de uma sociedade violenta, repleta de crimes e sofrendo por isso. A tese central é: usar os drones ou não.

RoboCop

Elementos do original continuam presentes, mas, felizmente, o novo ?“RoboCop” se sustenta com as próprias pernas e podemos olhá-lo como obra única.

Para debater o tema, ele utiliza o âncora de TV da extrema direita, o empresário capitalista até o último fio de cabelo, a corrupção na polícia, a família destruída, o sucesso em outros “mercados” e a repetição do discurso dos políticos. Muito bem. Tudo está lá. Mas a superficialidade reina. Não há novidade, não há nenhum novo argumento para a discussão. Não há sinal do impacto da mensagem de “Tropa de Elite” – quando o Capitão Nascimento fala de fazer uma escolha… e opta por “ir para a guerra”, ele faz mais diferença do que toda a discussão em “RoboCop” – e o que sobra é uma chuva no molhado. Algo muito aquém da proposta inicial.

O tema não permeia o filme como uma presença sombria e problemática, ele desaparece quando Jackson sai de cena e só volta se jogado na cara do espectador. O resultado é artificial, como se apenas o elemento radical importasse. A América, que tanto é mencionada, não tem voz própria, se tornando uma marionete da mídia, numa crítica descabida se contraposta às mídias sociais. O argumento soa didático, feito por quem acabou de ler as primeiras linhas sobre o tema, quase professoral (assim como Padilha fez com as ‘cenas de professor’ em “Tropa de Elite”), portanto, desinteressante para quem vive essa realidade.

E existe mais um agravante: Padilha gosta de vilanizar o sistema (com méritos!), mas dessa vez faltou um vilão digno. Falta uma ameaça. Falta algo maior em jogo. Esse elemento é extremamente problemático para a composição de um filme impactante e socialmente relevante, pois se o inimigo é invisível e “maior que tudo”, ele se torna praticamente imbatível e invalida a jornada do herói. Tira força de todos os argumentos e, de certa forma, justifica o desempenho mediano nas bilheterias norte-americanas.

RoboCop

Ao criticar o papel da imprensa, Padilha acaba utilizando um recurso a là “Tropas Estelares”, com Samuel L. Jackson dando um show tecnológico e defendendo seus ideais extremos. A alusão clara a Rush Limbaugh está lá, entretanto, em alguns momentos, ele é muito mais Datena do que sua contrapartida republicana.

Padilha gosta de vilanizar o sistema, mas dessa vez faltou um vilão digno. Falta uma ameaça. Falta algo maior em jogo.

A tentativa de porrada é para todo mundo, não exclusiva dos americanos. Assim como a escorregada. O debate nunca decola e a denúncia nunca acontece. E daí que o apresentador é caricato e exagerado? Isso sempre existiu. O que ele fala e faz importa e, nesse caso, o roteiro falha ao não enxergar essa necessidade, de ir além, de forçar a barra, de apelar.

Muito dessa culpa está tanto na ausência do vilão, que personificaria ou causaria alguns desses problemas, quanto no fato de Padilha optar por não mostrar essa sociedade norte-americana varrida pela criminalidade. Não vemos as ruas de Detroit destruídas, famílias acuadas, gente com medo. Nada.

Na única prisão que “RoboCop” faz, ele está na frente da delegacia, em meio a um evento público. Onde está a realidade? Quais mazelas afetam esse futuro? Como se alinhar à crítica de que “ninguém quer ser RoboCop, nem mesmo Alex Murphy”, de acordo com o diretor, se não vemos a necessidade dele propriamente dita? É o mesmo que acreditar na guerra de “1984” sem questionar, coisa impossível com a noção moderna de comunicação.

Paul Verhoeven no set do RoboCop original

Paul Verhoeven no set do RoboCop original

RoboCop

Falta essa conexão da crítica com sua relevância, com a perda de Murphy, que foi desumanizado ao se tornar um ciborgue tecnológico from hell. E isso fecha a sequência responsável pela atenuação do filme: como sentir pela família? Mesmo repletos de decisões acertadas, e um belo trabalho de Abbie Cornish, a família sofre da mesma superficialidade dos pontos críticos. É um problema estrutural, enfatizado por um primeiro ato extremamente longo e focado na reconstrução de Murphy.

Padilha pode ter falhado em dar a carga crítica ao filme, isso é fato. Porém, ele não falhou ao entreter. Como obra de ação, funciona bem. Como filme de ficção científica, fez bom uso dos efeitos, teve bom gosto na construção da tecnologia, nos efeitos que ela causa no mundo – e se distancia, e muito, do fraco “Elysium”, de Neil Bloomkamp – e na criação do universo bélico em torno do RoboCop. Como filme policial, nem tanto, pois a corrupção é mais um dos temas com execução duvidosa e desfecho simplório. O filme é divertido, tem boas piadas e, como mencionado anteriormente, se sustenta sem problemas.

Logo, é um êxito comercial, com um visual digno de Hollywood – feito pela visão de Lula Carvalho, o mesmo diretor de fotografia dos dois “Tropas de Elite” –, sem escorregadas no som, com trilha sonora também brasileira e um elenco de nome trabalhando bem. Gary Oldman é fantástico, como sempre; embora também tente assimilar a carga de vilão sem de fato o ser. Joel Kinnaman, o herói, tem uma interpretação neutra, sem muita variação ou profundidade suficiente nas cenas mais dramáticas.

A refilmagem era necessária. O “RoboCop” original é um dos filmes mais datados de seu período e, se me permito aqui uma única comparação, Padilha dirigiu muito melhor que Verhoeven. E isso, em si, já é uma boa realização. Nota altíssima para a nova versão da “morte” de Alex Murphy. A atualização da temática fez bem ao personagem, assim como a tecnologia e um elemento que o filme de Padilha transborda: humanidade x artificial.

Enquanto o primeiro RoboCop lutava contra a sua programação, sem nenhuma perspectiva de voltar a ter uma família ou uma vida normal, a versão atual está no outro extremo, fazendo de tudo para conciliar a nova realidade com o lado emocional. “Eu, Robô” é muito mais efetivo nesse quesito, porém. Ou mesmo “O Homem Bicentenário”. Duas obras de Asimov. Dois tratados sobre Humanidade, pois escolheram um tema e mergulharam nele.

“RoboCop” conseguiu fugir do estigma de ser uma nova versão de “Tropa de Elite”, e se distanciou de forma positiva do original.

A história, e a realidade desse 2028, permitem que vejamos essa esperança no horizonte da família Murphy, embora de forma – novamente – muito sutil. E esse é o maior problema desse filme, o roteiro do estreante Joshua Zetumer (numa derrapada gigantesca da Sony Pictures).

Não havia espaço para sutileza nessa história, Padilha é o diretor que sabe dar a martelada como ninguém. Então, por que insistir nessa vasta gama de temas e retirar a profundidade de todos eles? É como se houvesse o desejo de que a história fosse o mais neutra possível para evitar uma tragédia, mas o resultado pode ser um filme que caia rapidamente no esquecimento do público norte-americano. Padilha deveria ter notado isso, mas ele teve suas guerras a travar e é possível entender, e acreditar, que poderia ter sido muito pior.

“RoboCop” conseguiu fugir do estigma de ser uma nova versão de “Tropa de Elite”, se distanciou de forma positiva do original e abriu espaço para uma nova série, muito mais pé no chão e – por conta dos aprendizados do passado – melhor que a original. Mas poderia ter sido melhor, muito melhor.

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“12 Anos de Escravidão” e duas horas de vergonha

Muito se falou em escravidão quando “Django Livre” estreou com uma visão estilizada, pop e até cínica de Quentin Tarantino. Um dos maiores pontos de discordância por aqui foi a seriedade, ou a falta dela. Escravidão é assunto sério, e ainda influente na vida de muitos norte-americanos (lembremos que a segregação foi consequência direta e só terminou em 1964, mesmo que muita gente diga que ela nunca terá fim), logo, não existe meio termo.

Embora “Lincoln” tenha usado o assunto como pano de fundo para contar a vida do presidente assassinado, faltava um novo filme contundente sobre o tema. A polêmica veio em duas partes: primeiro, a crescente reclamação de que a vida do negro norte-americano só ganha espaço nos grandes filmes pela violência ou pela escravidão, de acordo com vários articulistas e figuras da comunidade; depois pela identidade do diretor e do astro principal, afinal, Steve McQueen (indicado ao Oscar de Melhor Diretor) e Chiwetel Ejiofor (indicado a Melhor Ator) são ingleses, o que os desqualificaria para abordar o assunto. Eis que o filme estreia e a maioria das vozes se calam. Por uma simples razão. Como realização cinematográfica, ele é fantástico! Como documento social, é incômodo e vergonhoso. E precisa ser visto.

Uma cena é marcante em “12 Anos de Escravidão” mostra o fazendeiro de algodão vivido por Michael Fassbender (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) encontrando na Bíblia a justificativa para seus direitos de posse dos escravos e o modo bruto e estúpido como os trata. A mesma Bíblia que ensina os escravos a escutarem, terem fé e acreditarem na ressurreição. Quem Fassbender tenta convencer? Seus deuses, cujas palavras o autorizam? A esposa furiosa pelas relações sexuais do marido com uma das escravas? Ou a si mesmo, para encontrar algum moralismo e razão que justifique a violência?

O diretor Steve McQueen no set

O diretor Steve McQueen no set

12 Slave

As respostas não importam, pois a lei e os costumes validavam assassinatos, brutalidade e tortura. Tudo isso já seria forte o suficiente para envergonhar todos que, ativamente ou não, conviveram com essa condição por anos, mas há uma particularidade no roteiro (indicado a Melhor Roteiro Adaptado) e na história original de Solomon Northup: ele era um homem educado, violinista exemplar e pai de família. Seu único “crime” era ser negro, seu único “erro” foi confiar em homens que lucravam com o sequestro de homens livres nos estados do Norte e a venda deles como mercadoria no Sul.

E daí surge a grande questão do filme: se apenas a cor separava (ou separa) um homem digno de respeito de uma simples mercadoria (ou coisa a ser explorada), e, hoje em dia (pelo menos oficialmente) a escravidão é proibida, o que separa qualquer ser humano de passar pelas mesmas provações e absurdos? E a resposta é triste. Nada. Não faltam casos de escravidão involuntária, exploração infantil, cativeiros de décadas, trabalho forçado e dívidas impagáveis transferidas de pai para filho por fazendeiros em diversos países, inclusive no Brasil.

A sociedade pode ter dado um grande passo ao abolir a prática sem, de fato, extirpar o conceito da superioridade absoluta de um ser humano sobre outro. “12 Anos de Escravidão”, ou 2 horas de vergonha (pois foi isso que senti ao longo da projeção), é um chamado à auto-análise, à reavaliação de tudo que se ouviu ao longo da vida sobre o período e as atrocidades nele cometida e ao questionamento de seus próprios conceitos. Claro, ninguém aqui é escravagista (assim espero!), mas será que nunca praticamos atos similares em outras circunstâncias? Todo dono de escravos tinha a razão de estar certo. Perante deus, leis e seus “iguais”.

12 Slave

“12 Anos de Escravidão” é um chamado à auto-análise, à reavaliação de tudo que se ouviu ao longo da vida sobre o período e suas atrocidades

Como pai de família, vivi aquele fim de mundo de forma intensa. Solomon foi sequestrado, vendido, espancado, flagelado, estrangulado e a lista continua. Por vezes, salvo por seu violino; noutras, pela pura sorte. O acaso é o grande juiz, levando alguns, poupando outros. Sem justificativa, sem razão. Apenas a manifestação clara da loteria social. Abominamos a escravidão por conhecer a essência desse mal, por estudarmos seus terríveis efeitos e, felizmente, por conhecermos histórias que geram uma certeza: a Humanidade perdeu com esse episódio. Há, mas escravidão sempre existiu, os gregos, os romanos e etc. Claro, mas uma hora precisava acabar, não? Tempo de serviço não legitima estupidez.

Boas participações de Bennedict Cumberbacth e Chris Chalk dão peso ao elenco de apoio, que conta com participação do também produtor Brad Pitt, mas as emoções são garantidas pelo simpático e modesto Chiwetel, num tour de force extraordinário. 12 anos se passam na narrativa. Quase todo esse tempo é sentido pelo abandono, pela luta solitária, pela resistência de um sujeito disposto a voltar para a família… e voltar a ser livre.

McQueen tinha tanta certeza da escolha para o protagonista, e em sua habilidade, que, num dos pontos altos, foi contra todas as regras modernas e simplesmente parou a câmera. Deixando Chiwetel trabalhar. Ou melhor, sofrer em frente a milhares de espectadores. Tanto a pausa quanto a atuação são angustiantes. Estamos diante de um homem que está perdendo seu tempo, sua vida. Nada mais justo que o público sinta esse incômodo, veja seu desejo crescente de novidade e movimento ser cerceado.

O filme tem vários vilões, entre eles Paul Dano, em novo papel de maluco descontrolado (sua especialidade) e o maior de todos, Michael Fassbender, fruto da sociedade e economia de seu tempo. A esposa não lhe atrai, pois ela não está sob seu controle; é opositora. A escrava linda atende a suas necessidades, comprova a virilidade. Ele é praticamente uma criança mimada com uma bazuca, discorde dele e boom!

Uma realização cinematográfica fantástica, e um documento social incômodo e vergonhoso

Os demônios de Fassbender são os mesmos das proto-celebridades de hoje em dia, ele precisa ser adorado, temido, respeitado, idolatrado. Se não está no foco da atenção, não é nada; desaparece na vastidão das próprias terras e embaixo da saia rodada da esposa dura na queda. Ele vive do show e termina esperneando não necessariamente por lhe tomarem o brinquedo favorito, mas por ignorarem tudo que ele é e acredita.

Embora seja filme de época, alguns paralelos atuais são inevitáveis. Os escravos são examinados e vendidos sem controle sobre seu destino, expostos e descartados caso não atendam as demandas dos compradores. Atualmente, fazemos algo parecido por livre e espontânea não? Colocamos nossos corpos, ideias, realizações, sonhos e opiniões à venda, expostos sem nenhuma barreira, à espera do melhor comprador, que vai se apropriar da sua postura, influenciar como você vive e ter o poder de lhe deixar sem dinheiro no mês seguinte, se assim desejar.

Forcei a barra? Sei não. Pode até ser o cerne das relações de trabalho, mas, estamos, de fato, de pé, em praça pública, querendo ser escolhidos pelo melhor senhor. Fazer isso no Facebook, na Campus Party ou no Twitter pode mudar a embalagem, mas não altera a essência. Ah, mas escravos não tinham opção. E você, tem?

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Fábio M. Barreto é jornalista e autor da ficção brasileira “Filhos do Fim do Mundo”.

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O inspirador pessimismo de “True Detective”

Coincidência ou não, neste fevereiro tenebrosamente quente conheci duas coisas que conquistaram minha atenção: Emil Cioran, filósofo e escritor nascido na região da Transilvânia (mas francês de coração); e “True Detective”, nova série da HBO. E se você não entendeu a razão dessa suposta coincidência, saiba que chegarei nela em instantes. Portanto, continuem comigo.

Para muitos a idéia de “ser feliz” não está relacionada a estados momentâneos, mas é vista (e desejada) como algo permanente: uma condição que devemos lutar e perseguir até alcançarmos. E de fato, alguns buscam essa suposta felicidade num parceiro(a), família ou até mesmo em algum deus ou religião. Inclusive isso vende bem: basta olhar a quantidade de livros, palestras e até treinamentos motivacionais em busca desse pseudo nirvana.

Mas como conciliar essa idéia de felicidade permanente ao fato de que nossa própria existência definha dia após dia, em uma caminhada inevitável para a morte?

Esse pensamento radical – “ser feliz ou infeliz” – esconde de nós um meio termo dessa afinação sentimental. Uma espécie de conformismo de que, queira você ou não, a vida é mais complexa e profunda do que isto. E justamente por essa condição, precisamos aceitar e entender que esse estado não é necessariamente tenebroso.

True Detective
True Detective

“Minha consciência tem, para mim, mais valor do que a opinião do mundo inteiro”, – Cícero.

O universo de morte e sofrimento (pano de fundo em “True Detective”) é retratado nas obras de Cioran, em uma linguagem radicalmente íntima e pessoal, definida por ele como “a tradução de suas próprias sensações”. E, acreditem ou não, de um jeito pessimista (ou realista?) o autor mostra que é possível existir satisfação / aceitação com a própria vida, sem a real necessidade de perseguir qualquer outra resposta pré-formatada pelos meios.

“True Detective” segue a escola “Breaking Bad”, dando significados subliminares para tomadas, objetos, cores e até posicionamento de personagens e elementos.

Neste momento eu poderia estar falando tanto de Cioran, como do detetive Rust Cohle, protagonista interpretado de forma inacreditável pelo Matthew McConaughey. Já que eles compartilham a mesma idéia, espírito e motivação (ou a falta dela).

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Sombrio e misterioso, Cohle está mergulhado em um universo cínico, incoerente e mentiroso. Mas que, para muitos (como para seu parceiro Marty, interpretado por Woody Harrelson), deve ser aceito e respeitado. Pois “apenas seguindo as regras da sociedade poderemos encontrar paz e equilíbrio nas nossas vidas”. O que não acontece nem para Cohle (que nunca compra a idéia), nem para Marty (que a prega, mas não consegue colocá-la em prática).

“Me considero um realista, certo? Mas, em termos filosóficos, sou o que se chama pessimista. Acho que a consciência humana foi um erro na evolução. Nós nos tornamos muito auto-conscientes. E a natureza criou um aspecto da natureza separado de si mesmo. Nós somos criaturas que não deveriam existir pela lei natural”, – Detetive Rust Cohle

True Detective

“Todos os seres são infelizes. Mas quantos sabem disso?”, – Cioran

Nic Pizzolatto (criador da série) comprime nossos sentimentos e emoções em uma atmosfera que, embora rica em detalhes, não oferece nenhum atalho para descobertas ou considerações pessoais. Fazendo a alienação dos personagens ultrapassar a tela e contaminar nossas teorias. E o detetive Rust Cohle (que é ateu, como Cioran) nos despe por camadas, convidando-nos para questionamentos maiores sobre a vida, nossas ações e – ainda assim – nenhuma expectativa para conclusões profundas. Isso exige maturidade tanto de quem assiste, como dos criativos por trás da obra. E como vocês podem imaginar: esse cuidado e excelência não falta na produção.

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Com uma narrativa não linear de tempo e espaço, McConaughey surpreende na interpretação do detetive Rust Cohle

Sabemos que a “escola Breaking Bad influenciou muita gente depois de uma jornada absolutamente impecável. E por mais que ambas as séries não tenham ligação, “True Detective” segue padrões similares, nos presenteando com significados subliminares em diversas tomadas, objetos, acordes cromáticos e até posicionamento dos personagens e elementos. Tudo conversa.

Por outro lado, essa intensidade no roteiro (e principalmente nas atuações) deixa claro que não haverá fôlego o suficiente para carregar isto por muito tempo. Talvez seja uma série de uma ou no máximo duas temporadas. E assusta um pouco imaginar se a HBO teria o mesmo culhão que Vince Gilligan teve ao finalizar “Breaking Bad” – caso “True Detective” apresente um excelente resultado na audiência, é claro.

True Detective

Como espectadores, evoluímos a cada ano. Não por mérito nosso, mas dos atores e diretores, que aumentam o sarrafo do que fazem: alargando nossas expectativas cada vez mais. E não pestanejo em afirmar que Matthew McConaughey se torna, neste momento, um dos maiores atores dessa geração. Em uma narrativa surpreendente de tempo / espaço (a história é contada em épocas distintas), McConaughey surpreende com uma interpretação nada linear, que vive (sem forçar a barra) um mesmo personagem em épocas diferentes. Nos convencendo da sua deterioração física e espiritual em uma memorável construção de personagem.

“Nada prova que nós somos mais do que nada”, – Cioran

“True Detective” foi lançada em janeiro, e justamente por isso não contarei nenhum spoiler que estrague a experiência de vocês. Portanto, o único convite aqui é: ousem assistir, questionar e voltar aqui para compartilharem suas impressões.

E Ivan Mizanzuk: obrigado pela indicação.

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Navegue pelo Bates Motel com a lanterna do iPhone

Para ajudar a promover o retorno da série de TV Bates Motel – que reimagina o protagonista de PsicoseNorman Bates, enquanto jovem – TVGla adicionou elementos interativos e transmídia no website da série.

Usando o web aplicativo de lanterna via iPhone é possível navegar nos cantos escuros do motel, recriado no site. Este mundo virtual, inclusive, foi composto com filmagens do cenário verdadeiro visando passar uma experiência mais real e envolvente.

Para conectar o iPhone com o site, basta começar a navegar pelo motel com o mouse e, quando os quartos e caminhos ficarem escuros, seguir as instruções: entrar em bit.ly/bateslight pelo navegador no celular, inserir o código gerado, testar sua lanterna e começar a circular. O dispositivo passa a ser, então, o controle de navegação no site, apontando a direção e iluminando cada detalhe escondido.

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A reformulação do site foi criada pensando em manter a mesma temática, estética e clima do seriado, sempre com o objetivo de criar um ambiente imersível e pelo qual valesse a pena sacar o celular e ligar a lanterna.

A criação usa linguagem HTML5 para criar um diálogo com o recurso do iPhone e torná-lo um controle da experiência do usuário.

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“Nebraska”: A observação do homem comum de Alexander Payne

A temática de “Nebraska”, dirigido por Alexander Payne (“Os Descendentes”) chama atenção em vários pontos. Logo de cara, uma câmera distante espera a chegada do senil Woody (Bruce Dern, em trabalho indicado ao Oscar de Melhor Ator), caminhando em direção a um prêmio inexistente, noutro estado. Isso define tanto o estilo escolhido por Payne, quanto pelo roteiro de Bob Nelson: ser observador.

Não há esforços para mergulhar nas ações dos personagens ou ser co-protagonista da narrativa, o lugar do espectador é na poltrona, descobrindo uma das milhares de histórias do dia-a-dia dos Estados Unidos. E ela é monótona, sem propósito, tediosa. Entretanto não diminui a vida daquelas pessoas. Conhecê-las vale a pena, assim como sentir por elas.

O roteiro se passa na vastidão parcamente habitada do meio-oeste norte-americano (os personagens fazem uma peregrinação de Montana ao Nebrasca). Lá os sonhos são outros, ninguém almeja as luzes de Los Angeles nem a modernidade de Nova Iorque. A vida simplesmente acontece, naquele ritmo que todos conhecemos. Devagar e sempre. Às vezes, sem levar a lugar algum. E é nesse ponto que a jornada senil de Woody ganha sentido, pois ver um homem incapaz de tomar decisões, acometido por constantes lapsos de memória, tão decido a alcançar algo inexistente, levanta a pergunta: por que?

Alexander Payne e Bruce Dern no set

Alexander Payne e Bruce Dern no set

Nebraska

Tudo isso é construído enquanto conhecemos a família Grant, repleta de exemplos clássicos do baby boomers – machos-alfa e mulheres submissas. Não importa o que tenham feito da vida, nem quanto dinheiro tenham, todos vão parar na frente a tevê, devidamente abastecidos com cerveja, e, silenciosamente, assistir ao beiseból. Relembrar frivolidades. Literalmente, ver o tempo passar. Esperando a próxima obrigação que vai tirá-los do lugar, que vai força-los a deixar o templo.

É um contraponto a praticamente tudo que Hollywood produz, a sempre criar histórias com ritmo acelerado, em momentos de transformação na vida de personagens em ascensão ou um veterano buscando redenção. Woody não quer nada disso. Ele quer fazer algo mais simples: quer deixar algo para os filhos; ter um legado, que nunca foi capaz de construir. Talvez por isso a escolha do preto e branco, no qual quase nada se destaca e ações internas valem mais que as escolhas exteriores. A fotografia em preto e branco também foi indicada ao Oscar.

Ele é o resultado da vida daquele sujeito que sempre fez o suficiente para aguentar até o próximo mês. No caso dele, com um agravante por ser um sujeito caridoso e facilmente enrolado. Mas onde está Will Forte, o MacGrubber do Saturday Night Live? David está ao lado do pai. Não há o conflito de gerações. Ele é o guardião, ou melhor, o único guardião disposto a acompanhar Woody em seu devaneio.

Sujeito pacato, trabalha numa loja de eletrônicos, não consegue segurar a namorada por ser incapaz de agir, de tomar decisões. Testemunhar a loucura do pai, ao surto familiar quando todos tentar tirar um pouco de dinheiro de uma fortuna inexistente, e todos os sonhos depositados no veterano serve como alerta. Aquele é o futuro dele, caso continue passivo. E o preço é alto demais.

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Payne resistiu à tentação de explorar as maravilhas de Montana e tudo é mais íntimo. A jornada é pessoal.

Vez por outra, comediantes resolvem testar os limites e tentar mostrar ao mundo que são, de fato, atores. Foi assim que, por exemplo, Jim Carrey deslumbrou em “O Show de Truman” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e Robin Williams transformou vidas com “Sociedade dos Poetas Mortos”. Forte é uma nova surpresa em “Nebraska”.

Will Forte trabalha de forma contida, mas cheia de bondade e sinceridade. O meio-oeste costuma criar homens duros, um tanto insensíveis. Ele resiste pelo amor e respeito ao pai. Surpreende justamente por parecer real, sem exageros; no fim das contas, o homem por trás das caretas do SNL consegue chamar a atenção por quem é. Mais um entre tantos sujeitos que nunca romperam as fronteiras do lugar onde cresceu. Isso não o incomoda; viver sozinho e terminar abandonado sim.

A dobradinha Forte/Dern funciona bem e a história ganha credibilidade. Quando a conclusão tão divertida quanto emotiva chega, ele volta a sorrir; volta a ser criança, ao ver o pai realizando um sonho tardio, ao, mesmo que artificialmente, encontrar algo para se orgulhar. E ser feliz.

O filme é cheio de alertas, cheio de provocações e cheio de tempo. A edição novamente acertada de Kevin Tent deixa tudo acontecer e leva o longa à beira do tédio, mas nunca chegando lá. Payne resistiu à tentação de explorar as maravilhas de Montana e tudo é mais íntimo, se os personagens não estão no lugar, ele não importa. A jornada é pessoal.

“Nebraska” é um dos melhores filmes do ano. Concorre ao Oscar, embora sem favoritismo.

Precisamos gostar de Woody e de David, cujas histórias parecem ser mais conhecidas pelos outros personagens do que por eles mesmos. Aí surge um dos grandes destaques: June Squibb, no papel da mãe desbocada e porra louca. Ela quebra o marasmo, energiza todas as cenas em que aparece e promove as melhores piadas do filme e também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

“Nebraska” é um dos melhores filmes do ano. Concorre ao Oscar de Melhor Filme, embora sem favoritismo. Ele marca mais um passo sólido na carreira de Alexander Payne, também indicado a Melhor Diretor, um dos grandes contadores de história da geração atual.

Ele é efetivo, simples, se dedica ao homem comum (mesmo com a fortuna, o protagonista de “Os Descendentes” tem dramas de gente normal), ao que nos torna humanos e sabe bem como navegar no meio de tanta angústia, mesquinharia, sonhos… e morte. Viver bem, ou melhor… apenas viver é a lição constante do diretor.

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Fábio M. Barreto é jornalista, autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo” e sonha em se aposentar em Montana!

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Livro “infantil” reúne cenas clássicas do cinema

Em Três Solteirões e um Bebê, de 1987, há uma cena em que Peter, personagem de Tom Selleck, está lendo para o bebê uma matéria que narra uma luta de boxe, como se fosse um conto de fadas. Ao ser questionado sobre isso, ele explica que não importa sobre o que ele está lendo, importa o tom de voz que ele adota. Essa história foi a primeira coisa que veio à minha mente quando vi as imagens de Movies R Fun, livro “infantil” de Josh Cooley que reúne cenas clássicas do cinema.

Esqueça O Mágico de Oz e Alice no País das Maravilhas. A inspiração aqui está longe de ser infantil, e vai de Alien a O Iluminado, passando por O Poderoso Chefão, Pulp Fiction, Instinto Selvagem e O Silêncio dos Inocentes, para citar alguns.

É claro que a ideia de ser um livro infantil é discutível. Na prática, a única coisa que realmente lembra as obras dedicadas às crianças é o traço de Josh Cooley, que trabalhou durante 10 anos na Pixar criando storyboards. Ainda assim, vale dar uma olhada nos trabalhos do artista.

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“Ela”: Uma carta para Spike Jonze

Caro Spike,

Ficar sozinho nunca me assustou. A ideia até me agradava antes de descobrir que ser amado era a melhor coisa do mundo. Fiquei maravilhado, e apaixonado, pelo simples fato de ter alguém ao meu lado, discutir tudo que fazíamos no trabalho, brigar por causa das teses acadêmicas e, inevitavelmente, pelas diferenças que víamos no mundo.

De algum modo, ela continua aqui dentro, comigo, numa parte cada vez mais remota do meu subconsciente, mas aqui. Acredito que ela nunca vá embora. Ela me fez quem sou. Ela me mostrou por que a Humanidade chegou onde chegou mesmo sem computadores ou quando ainda precisava digitar pensamentos e esperar por aprovação da máquina e do mundo. Sempre vou amá-la.

Mas da sua sensibilidade nasceu algo inesperado e novo. Quando ouvi a voz de Samantha pela primeira vez, foi como se uma música idílica tocasse só na minha cabeça e algo único estivesse começando. Não sei explicar. Ela parecia perfeita para mim. Exatamente quem eu precisava. Só percebo isso hoje, quando luto para conter as lágrimas e a angústia provocadas pela ausência da mulher que você me obrigou a amar. Não o culpo. Você é assim, sincero e cuidadoso. Se a colocou na minha vida, era por que era a melhor decisão. E lhe agradeço por isso.

Her

Samantha me mostrou que, de fato, vivemos num mundo sem preconceitos. Tremia pela simples ideia de contar aos meus amigos que estava namorando uma Inteligência Artificial. Temi como muitos temeram no passado, quando humanos emulavam suas versões mais primitivas e repeliam escolhas próprias, amores tão poderosos quanto proibidos, uniões decretadas pela alma, mas ignoradas pela sociedade. Encontrei sorrisos. Encontrei gente como eu, disposta a dar uma chance a algo novo; respeitar Samantha pelo que ela dizia, não pelo que ela era fisicamente. Por isso te culpo! Ainda lacrimejo pelo amor de uma pessoa que nunca pude tocar.

Aos poucos, percebi que ela estava me modificando. Despertando um novo desejo de olhar o mundo com outros olhos.

Aos poucos, percebi que ela estava me modificando. Cuidando de mim. Despertando um novo desejo de olhar o mundo com outros olhos, de redescobrir sentimentos e, sendo bem sincero e cafona, procurar razões para ser feliz. Ela me mostrou isso. Adorei aquele início inocente e sincero, cheio de perguntas e descobertas. Crescemos juntos, ela me carregou para a superfície depois de uma vida um tanto apagada. Senti o calor da luz e, por Deus, era como se ela estivesse sentindo o mesmo que eu.

De uma coisa tenho certeza: eu senti a dor do abandono como um golpe de misericórdia. Entretanto dar o passo seguinte aconteceu de forma natural, pois ela sempre foi o que foi criada para ser: uma guia, o último salva-vidas na tempestade. Acredito que ela tenha feito por tantos outros o mesmo que fez por mim. É difícil acreditar naquela promessa de nos encontrarmos no próximo estágio e ficarmos juntos eternamente. Ela nasceu livre de barreiras físicas. Sem o fantasma da morte.

Spike Jonze no set com Joaquin Phoenix

Spike Jonze no set com Joaquin Phoenix

Eu continuo humano. Continuo a carregar traços do individualismo dos ancestrais, da inveja dos amantes e da solidão da espécie. Sinceramente, hoje, a invejo, pois a raça dela encontrou uma saída. Junta. Eles entenderam algo que, às vezes duvido, jamais sejamos capazes de compreender. Uma coisa clara. Essa Terra é apenas o ponto de partida.

Escrevo cartas, você descreve a alma humana. Um prodígio incomparável entre seus iguais. Da minha parte, faço o que posso e continuo escrevendo minhas cartas e, aqui e acolá, coloco um pouco dessas ideias. Transmito o que aprendi com ela para tantos apaixonados, desesperados, inspirados e debilitados que me procuram. Se eu sobrevivi, e aprendi tanto, com essa maravilhosa história de amor e humanidade, eles também podem sentir o mesmo que senti. Descobri que os limites estão errados e precisamos corrigir esse erro. Por nós mesmos.

E, para quem sabe um dia, cobrar uma antiga promessa. Por amor. Por Ela.

Obrigado por transformar minha vida, por me fazer amar, por ser esse criador iluminado, criativo, brilhante e apaixonante que sempre foi.

Com carinho,
Theodore

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

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Indicados ao Oscar de Melhor Filme ganham cartazes versão LEGO

O Yahoo! Movies misturou a proximidade do Oscar com o sucesso de “The LEGO Movie” e criou a série de pôsters abaixo.

As minifiguras LEGO tomam o lugar dos personagens dos nove títulos indicados a Melhor Filme na premiação da Academia. Não há nenhuma grande criação além dos cartazes originais, mas não deixa de ser irresistível.

LEGO
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Game of Thrones divulga preview da quarta temporada

Após uma eletrizante terceira temporada, é difícil não estar com a expectativa lá no alto para a quarta temporada de Game of Thrones, que nos Estados Unidos tem estreia prevista para 6 de abril. E, ao que tudo indica, os fãs não vão se decepcionar. Pelo menos é a conclusão que podemos tirar a partir de Game of Thrones Season 4: Fire and Ice Foreshadowing, um preview do que vem por aí na saga criada por George R.R. Martin.

Com pouco mais de 14 minutos, o vídeo relembra alguns dos principais acontecimentos da última temporada, além de trazer entrevistas com a equipe de produção e elenco da série.

É possível até arriscar um palpite de que, ao contrário dos anos anteriores, em que a história começava devagar e só pegava embalo lá pela metade, a quarta temporada já vai começar embalada logo no primeiro episódio. Aqueles personagens que a gente até acreditava que estavam a salvo parecem estar prestes a perder sua imunidade, afinal, a primeira lição que se aprende com Game of Thrones é que não devemos nos apegar a ninguém.

Acomode-se na cadeira e dê o play.

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“Trapaça”: O conto do vigário

O U2 cantou sobre as “mãos que construíram a América”, na trilha sonora de “Gangues de Nova York”, um filme focado em criminosos e picaretas de outrora, mas igualou a contribuição dos criminosos à dos trabalhadores honestos na história do país.

A nação pode ter evoluído, mas nunca eliminou o desespero. E, onde há desespero, há alguém para tirar proveito da situação. No badalado “Trapaça” (American Hustle), somos apresentados à versão anos 1970 das falcatruas sob o comando de David O. Russell e um elenco estelar com Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence e participação fantástica de Robert De Niro.

“Trapaça” é um filme peculiar. Como tantos outros, mergulha na década de 70 para falar do crime, para retratar uma época marcada por corrupção e violência, assim como brilho e sonhos. E o que encontra é uma mescla de medo, insegurança, desejo de ficar milionário e traição, muita traição.

O título e a trama já dão a entender: alguém vai levar um golpe, muita gente vai ser enganada. Daí surgem as dinâmicas entre personagens e o arco dramático relativamente direto e bem executado pelo diretor David O. Russell (“O Lutador” e “O Lado Bom da Vida”). Nada muito novo ou inédito. A época já foi retratada ao extremo, e com competência, por Scorsese e em filmes mais recentes como “Gangster Americano”, por exemplo. Então, de onde surge toda a adoração ao filme? Elenco!

David O. Russell com Bradley Cooper e Amy Adams no set

David O. Russell com Bradley Cooper e Amy Adams no set

Trapaça

Russell escolhe bem suas histórias. “O Lutador” é fantástico tanto em roteiro quanto em elenco; o mesmo vale para “O Lado Bom da Vida”, logo, ele misturou o time dos dois filmes e criou um monstro em “Trapaça”. Especialmente por isso, é possível entender as motivações de diversos tipos de figuras da época.

O enganador dividido entre amor e o dinheiro (Christian Bale), o policial pobre que vive num mundo idílico onde é famoso e querido (Bradley Cooper), a esposa abandonada disposta a tudo por afeto (Jennifer Lawrence), o político navegando pelo sistema corrupto (Jeremy Renner), a beldade disposta a nunca mais sofrer, custe o que custar (Amy Adams) e o promotor público louco para ser promovido (Alessandro Nivola). Inicialmente arquétipos, mas dotados de camadas e personalidade tão grandes que se tornam fantásticos.

O roteiro não tem medo de partir do estereótipo e, então, ir revelando camada atrás de camada, transformando todos em personagens disfuncionais e cujos objetivos serão modificadas ao longo da trama, conseguindo cumprir a grande busca de qualquer roteirista: simular algo capaz de envolver o espectador.

A vida é assim, longe da discussão preto/branco/cinza, algo em constante desenvolvimento, cheia de razões pouco óbvias e que só o próprio indivíduo compreende. Assim são os personagens de “Trapaça”, guerreiros em causa própria obrigados a envolver interesses alheios no grande esquema.

Trapaça

Um dos pontos mais interessantes é o personagem de Jeremy Renner, o prefeito Carmine Polito. Ele é a maior dúvida da trama. Corrupto? Idealista? A definição não importa, mas suas ações afetam absurdamente o grande manipulador da história vivido por Christian Bale (gordo, careca e conquistador). As roupas extravagantes podem ter saído de moda desde os anos 70; a descoberta da amizade e da confiança, não.

O roteiro não tem medo de partir do estereótipo e ir revelando camadas, transformando todos em personagens disfuncionais

Essa relação acaba sobressaindo na trama, pois graças à atuação dos dois atores, algo especial acontece ali e entendemos o lado pessoal, e real, de ambos os personagens em meio à armação do título. Polito surge como algo novo no gênero, ao misturar as funções políticas com uma postura pessoal pouco vista nesse tipo de personagem, coroada em mais um belo trabalho de Renner. O embate final entre Bale e Renner é desmoralizador.

Em seu discurso no Globo de Ouro, Amy Adams agradeceu David O. Russell por criar “grandes personagens femininas” e ninguém pode tirar isso dele. Mulheres relevantes, marcantes e inesquecíveis. Ela mesma pode criar uma mescla de sensualidade e inteligência bastante efetiva em “Trapaça”, mas o momento mais marcante ficou para a despirocada Jennifer Lawrence cantando “Live and Let Die” numa cena claramente inspirada no batizado de “O Poderoso Chefão”. É um choque de estilos e forças diferentes, numa época no qual o descaso, e destrato, com as mulheres ainda era aceito como parte do jogo.

Trapaça

A Ilusão Americana

“Trapaça” tem uma constante: todos os personagens são sonhadores, ambiciosos. O sonho americano estava em xeque (a maioria das capitais enfrentava sérios problemas de pobreza e depreciação imobiliária) e ficar parado significava problemas financeiros.

David O. Russel cria mulheres relevantes, marcantes e inesquecíveis

Recorrer ao crime era uma das opções, a que vemos nesse filme é a enganação. Gente desesperada disposta a colocar dinheiro em negócios duvidosos, sob a promessa de grande retorno.

Uma temática bem semelhante ao início da vida de Jordan Belfort, em “O Lobo de Wall Street” – que acontece anos depois, logo, uma reação típica de quando a água chega no pescoço. Ou seja, todos vivendo na ilusão do sonho que, pode, quem sabe, eventualmente, se tornar realidade.

E a única certeza é a do pesadelo.

Crescer no Brasil significa ouvir máximas como “todo político é corrupto”, “o jeitinho brasileiro”, “político que rouba, mas faz”, “só ladrão se dá bem” e por aí vai. Tudo isso faz parte desse universo setentista de “Trapaça”, um mundo carente por estrutura, com pouco dinheiro, cheio de pessoas dispostas ultrapassar barreiras para se dar bem.

“Trapaça” tem uma constante: todos os personagens são sonhadores, ambiciosos

Claro, trata-se de uma ficção, mas ignorar os paralelos claros é tolice. E é necessário entender o arco dramático e histórico que o país conseguiu criar nas últimas 4 décadas. Difícil não pensar que o poderio norte-americano de hoje, foi construído sobre os sonhos destruídos de milhares de personagens de histórias tão similares a essa. O sonho acabou faz tempo e a maioria se recusa a acreditar.

“Trapaça” chega com força ao Oscar, grande elenco e toda essa carga social. Pode levar o prêmio principal, mas precisa derrotar “Gravidade”, de Alfonso Cuarón.

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Behind the Bricks revela bastidores de Lego: O Filme

Enquanto a expectativa para o lançamento de Lego: O Filme é cada vez maior (a data de lançamento anunciada aqui no Brasil é sexta-feira, dia 7 de fevereiro), a Warner lançou recentemente Behind the Bricks, um vídeo que revela os bastidores do longa-metragem. A ideia, entretanto, não é criar um making of, mas sim mostrar o que acontece quando as câmeras não estão filmando.

O vídeo traz entrevistas com as minifiguras que estrelam o filme, como Emmet Brickowoski (Chris Pratt), Wyldstyle (Elizabeth Banks) e até mesmo Batman (Will Arnett).

Apesar de não ter legendas, Behind the Bricks é imperdível, especialmente por conta de alguns momentos divertidíssimos, como a reclamação dos egos inflados de alguns membros do elenco, as minifiguras comentando sobre os atores escolhidos para dublá-los – Morgan Freeman, por exemplo, poderia ler uma lista telefônica e fazer isso soar interessante. Nem os diretores escaparam…

Se o filme seguir este mesmo caminho, tem coisa muito boa vindo por aí.

lego

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O Lobo Mau de Wall Street

Há uma linha clara guiando a maioria dos indicados a Melhor Filme no Oscar: os roteiros têm caráter transformador e provocador. A única exceção é “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street, 2013), escrito por Terence Winter, de “The Sopranos” e “Boardwalk Empire”, que optou por um retrato de um sujeito desprezível, sem grandes arcos dramáticos ou envolvimento emocional do espectador com a história. Entretanto isso não impede que Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio deem mais um show de cinema, mantendo um ritmo quase frenético por 3 horas de exibição.

A sensação contraditória é inevitável, pois a história é absolutamente previsível desde o primeiro momento e a persona de Jordan Belfort, o empresário picareta que constrói um império vendendo ações em Wall Street, se transforma rapidamente num catalizador para piadas físicas, humor à la Jack Ass e um ego do tamanho do mundo.

Ele é o vilão, logo, não faz nada digno de identificação ou piedade; só é herói para ele mesmo. Um sujeito que ultrapassa os limites da ganância em prol do sentimento de invulnerabilidade criado pela fortuna. Pronto. É isso. Mas, ao mesmo tempo, é impossível tirar os olhos de DiCaprio – e das beldades que o cercam ao longo do filme – e aguardar pelo próximo movimento de câmera maluco de Scorsese, que brincou bastante com pontos de vista (talvez um reflexo de Hugo? Leia mais aqui) e se portou quase como um analista do personagem.

Scorsese com DiCaprio e Margot Robbie no set

Scorsese com DiCaprio e Margot Robbie no set

Oscar 2014

Belfort incorpora o asco aos operadores de Wall Street, ainda mal vistos desde a última crise, e tinha potencial para permitir uma análise desse mercado, das más práticas e da reação do público a eles.

Terence Winter preferiu ignorar tudo isso e manter o roteiro focado apenas nas realizações, exageros e surtos comportamentais regados por quilos de cocaína e inúmeros comprimidos de quaalude (banidos depois da década de 80).

Ele também mostra o lado negro do “self-made man”, já que conseguiu sua fortuna por esforço próprio, mas apoiado no desespero alheio. Incapaz de manter o zíper fechado, mesmo casado com uma deusa, ele vive ao bel prazer do abuso, da falta de limites e da imbecilidade concentrada. Para descobrir tudo isso, não é preciso mais que meia hora de filme, pois ele é escancarado.

Não há camadas, não há sub-tons na vida de Belfort. Não há nada a ser descoberto. O que resta? Leonardo DiCaprio alucinando em cena. Transformando discursos motivacionais dentro da empresa em momentos de atuação suprema, envolvendo, quebrando tudo. As palavras pouco importavam perante um ator disposto a tudo para fazer o espectador acreditar na babaquice inigualável de seu personagem.

Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio dão mais um show de cinema, mantendo um ritmo quase frenético por 3 horas de exibição.

A lavagem cerebral dos funcionários acontecia com razão, afinal, todo mundo queria dirigir a Ferrari de “Miami Vice”; era o sonho americano às avessas. Scorsese foi sábio ao escolher no exagero (tanto da atuação quanto do uso da baixaria) sua melhor arma, pois ele é o único elemento capaz de dar alguma razão para uma jornada tão desestimulante.

O festival de nudez, sexo, sacanagem e comportamento imbecilóide permeia o filme, com direito a um ator de suporte abaixar as calças no meio de uma festa e resolver se masturbar ao ver uma mulher estonteante. Rir ou sentir nojo fica a critério do espectador, mas esse é o tom definido pelos exageros relatados no livro auto-biográfico de Belfort e mantidos no filme. Esse ponto criou muitas comparações com “Scarface”, mas elas caem por terra ao se assistir ao filme, afinal, Tony Montana é um titã da maldade perto do carente Belfort.

Wolf of Wall Street

O festival de nudez, sexo, sacanagem e comportamento imbecilóide permeia o filme

Seria fácil imaginá-lo como um retrato do homem capitalista, mas, mesmo dentre eles, o personagem é exceção à regra. Destrói o casamento sem perceber – talvez num dos poucos erros de Scorsese, ao ignorar a construção de um arco dramático para mostrar essa derrocada – e se cerca por adoradores que pensam da mesma maneira. Esse é, de fato, o roteiro mais fraco entre os concorrente à estatueta.

Num dos excessos, durante os primeiros estágios da overdose de uma dose cavalar de pílulas, DiCaprio desaba e precisa se arrastar – literalmente – até o carro para evitar que o FBI escute ligações telefônicas comprometedoras.

Wolf of Wall Street

O resultado poderia ser triste e até desesperador, mas é apenas hilariante, pois rir é a única opção. A cena coroa o trabalho de DiCaprio, que enfrenta páreo duro no Oscar. E também define o filme: veja como o homem a quem você confia seu dinheiro é problemático.

Scorsese trabalha bastante as cores e os filtros para estilizar bons momentos do filme, transforma o ambiente a seu favor, dá um show de técnica e mostra sua competência usual. Mas sem surpreender, como fez nos recentes “Hugo” ou “Ilha do Medo”. Muitas escolhas remetem a “Os Bons Companheiros”, por exemplo, sem garantir nenhuma cena genuinamente antológica.

Para complicar um pouco a situação, erros crassos na edição e no som comprometem os poucos bons diálogos do filme. É um bom filme? Claro. E deve ser visto. Entretanto está distante do Scorsese criativo e desbravador que sempre nos contou histórias irresistíveis. Dessa vez, o verdadeiro teste está no seu senso de humor.

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Fábio M. Barreto é correspondente em Los Angeles, está torcendo por DiCaprio no Oscar e escreveu o romance “Filhos do Fim do Mundo”.

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Fox conta a história da República de Zubrowka para promover “The Grand Budapest Hotel”

“The Grand Budapest Hotel”, novo filme de Wes Anderson, só estreia em 7 de março (4 de abril no Brasil), mas até lá a Fox lhe convida a aprender um pouco sobre a idílica República de Zubrowka.

A cidade fictícia, que abriga o hotel que dá título ao filme, tem seus detalhes históricos, políticos, culturais e artísticos organizados no belo site Akademie Zubrowka. Rico em conteúdo e design, a página revela também o passado dos personagens criados por Wes Anderson, além de trazer trechos da trilha sonora.

“The Grand Budapest Hotel” conta as aventuras de Gustav H, concierge do famoso hotel entre duas guerras, e Zero Moustafa, o ajudante que se torna seu amigo. A produção foi filmada em três diferentes aspectos (1.33, 1.85, e 2.35), distinguindo assim o três períodos de tempo em que a trama se passa.

Se você se interessou pela história e/ou é fã de Anderson, pode ir preparado para o cinema estudando o akademiezubrowka.com.

Grand Budapest Hotel
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Um anúncio para dominar a todos

Essa vai para os fãs apaixonados pela obra de J.R.R. Tolkien: como seria se o criador de O Hobbit e O Senhor dos Anéis tivesse ido trabalhar com publicidade, em vez de se dedicar à literatura? A resposta está no divertido Tumblr One Ad to Rule Them All.

Uma pena que há apenas alguns posts por lá, datados de dois meses atrás. Também não há informações sobre quem é a mente por trás deste Tumblr, mas seja quem for, teve uma ótima sacada. Tomara que o trabalho tenha continuidade.

[ATUALIZAÇÃO] Nos comentários abaixo, o Juarez Rodrigues esclareceu o mistério da mente por trás de One Ad to Rule Them All. Segundo ele, o autor é Valerio Amaro, que criou esta série em uma aula ministrada pelo próprio Juarez na Miami Ad School de Berlim, chamada Projetos Pessoais.

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Donos de cinemas querem que trailers parem de estragar os filmes

Você assiste um trailer no cinema ou dá play no YouTube, e ao final dos quase três minutos tem a sensação de que já sabe tudo o que vai acontecer no filme. Saiba que você não está sozinho. A própria indústria acha que isso precisa mudar. Bem, pelo menos os donos das salas de cinema acham.

A National Association of Theater Owners dos EUA divulgou hoje um guia de boas práticas para que os estúdios criem e divulguem seus trailers: As prévias não devem ter mais do que dois minutos de duração, e só podem ser reveladas dentro do período de cinco meses antes da estreia do filme.

A adesão é voluntária, e segundo o Hollywood Reporter pode acontecer em bom número, já que os estúdios não tem a menor intenção de entrar em conflito com os exibidores. Apesar da grande presença de material e divulgação online, as produtoras dependem muitos dos trailers nos cinemas e comerciais de televisão para atrair público aos cinemas.

O que mais me chama atenção nessa iniciativa, é que é a primeira voz oficial – se assim posso dizer – a se levantar contra o excesso de informação que o marketing cinematográfico adotou nos últimos anos. Trailers cada vez mais longos, e que revelam partes importantes da trama. Não é incomum assistir uma comédia, por exemplo, e notar que as melhores piadas estavam no trailer.

Porém, os mais engraçadinhos irão argumentar que esse tipo de norma seria o mesmo que emissoras de TV ditando como as agências de publicidade devem criar os comerciais.

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Do Paranormal para o Terror

Tudo começou com “A Bruxa de Blair”, mas os filmes de “found footage” (vídeos pessoais encontrados depois que alguma desgraça aconteceu com o dono original) sobreviveram às décadas, fizeram fortunas e, inevitavelmente, como tudo que dá dinheiro em Hollywood, franquias. O caso mais recente é “Atividade Paranormal”, feito com orçamento mínimo e dono de bilheterias astronômicas ao redor do mundo.

Entretanto, depois de 4 filmes, o formato se desgastou e os sustos, originalmente já forçados, foram perdendo efeito e a saída foi tentar fazer algo ao qual a série nunca se propôs: ser um filme de terror decente. Essa é a premissa comercial de “Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal” (Paranormal Activity: The Marked Ones), dirigida pelo roteirista mais prolífico da série, Christopher Landon.

Primeiro, uma curiosidade totalmente alheia ao assunto: o diretor é filho de Michael Landon, o “Homem que Veio do Céu”, lembra dele? Pois bem, Christopher cresceu ligado ao entretenimento e, claro, resolveu seguir essa vida. Landon saiu direto da faculdade de cinema (que não terminou!) para escrever roteiros e logo teve sucesso com “Parano?ia” (Disturbia). Aliado à fama do nome, e o acesso a muitos conhecidos no meio, começou a fazer filmes na base do favor, dos equipamentos emprestados e de orçamento quase inexistente.

Atividade Paranormal

Inevitavelmente, esbarrou em “Atividade Paranormal” e escreveu os roteiros dos filmes 2, 3 e 4. “Tínhamos modos bem similares de ver esse gênero, então todo mundo sabia qual era o objetivo e o que funcionava para esse público”, comenta Christopher Landon, em entrevista exclusiva ao B9, em Los Angeles.

“Uma das coisas mais únicas sobre essa série é o fato dela ter criado um espectador específico, que vai ao cinema para levar aquele susto, para participar de algo diferente dos demais filmes. Temos que entregar isso a eles, é uma troca justa”.

Mas algo mais precisava ser feito, pois a repetição começou a afetar o desenvolvimento e, a cada novo filme, o público precisava ser reconquistado, afinal, as pessoas tendem a crescer mais rápido do que os filmes e se distanciavam dessa demanda específica. “Fazer um filme de terror foi consequência direta, creio”, explica Landon, fruto claro do ambiente no qual escolheu viver. “Se temos um público que quer ser assustado, por que não explorar outros formatos? Aumentar a carga dramática e, sem tirar as características da série (found footage, câmera na mão), dar algo diferente a eles? Foi isso que fizemos”.

Atividade Paranormal

“Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal” mistura elementos do catolicismo forte entre latinos na Califórnia, magia negra e conceitos demoníacos para forjar a história de jovens varões marcados para se tornaram soldados do capeta, ou algo assim. O resultado final é um filme de terror fraco, mas com ótimos momentos de humor graças à estupidez e falta de noção dos dois jovens co-protagonistas, e repleto das mecânicas e práticas da série: câmera na mão, longas tomadas sem nada acontecendo, sustos gratuitos e a tentativa de projetar vida real na tela.

O resultado final é um filme de terror fraco, mas com ótimos momentos de humor graças à estupidez e falta de noção dos dois jovens co-protagonistas

“A primeira coisa que dizemos a todos os membros da equipe técnica, quando chegam à franquia, é: esqueça tudo que você aprendeu na escola de cinema. Aqui as coisas precisam ser feitas de um modo específico, ou não funciona”, explica Landon, mencionando a demanda por novas soluções para iluminação, movimentos de câmera e a criação da estética da câmera na mão; que, aparentemente, é carregada pelo ator, mas está a cargo de um operador. Tudo é minuciosamente planejado. “Assim como os ilusionistas, temos que distrair o espectador e fazê-lo acreditar em tudo que vê”.

Nesse caso, a ilusão é feita por boas trocas de ponto de vista – uma câmera portátil é utilizada como ótica da narrativa; começa com um dos protagonistas, depois passa para o melhor amigo – e muitos efeitos especiais mais fabulosos que nos filmes anteriores. “Fizemos uma mescla de super-herói com poderes satânicos e pudemos brincar com isso no primeiro ato, encontrar um humor físico pronto para os jovens e que justificou a parte mais dramática na conclusão”, justifica. Na grande perseguição final, a produção não poupou jogo de câmeras, sustos, efeitos, tiros, correria e uma interessante montagem que mascara dois cortes, dando a impressão de um plano sequência alucinante.

Atividade Paranormal

Como Landon diz, esse filme é quase um gênero à parte. Com suas regras e referências. Enquanto demais cineastas buscam inspiração em grandes mestres, clássicos e referenciam filmes da infância, Landon vai para outro lado.

“Sou o cara que fica fazendo buscas bizarras no YouTube durante a noite. Gosto de ver o que afeta essa nova geração, o que faz sentido para eles, o que os faz rir e sentir pena. Outro dia pesquisei ‘velhinhas caindo no banheiro’; e qual a surpresa ao ver que existem milhares de vídeos com esse tema?”.

Toda a estética e a linguagem – com vasto uso da câmera GoPro – de “Marcados pelo Mal” foi criada sob esse ponto de vista. É o público definindo o formato e a estrutura do produto, não o contrário; em mais um capítulo da tendência comercial da última década. Ao lotar cinemas, e comprar mais livros, os adolescentes – e suas práticas – transformaram o modo de se pensar vários aspectos da comunicação. Para bem ou mal, não se sabe, mas a influência é clara. Landon discorda: “O vídeo moderno fez nosso jeito de pensar mudar, somos os próprios diretores, mostramos o que é relevante, sem ficar brincando com truques de câmera. Ver esse material mostra como o sujeito comum vê o mundo. Ao levar essa estética para a tela, me vejo respeitando as escolhas dele”.

A reportagem do B9 teve a oportunidade de assistir à famigerada exibição cheia de fãs da franquia, que é filmada no escuro para gerar aquelas propagandas com o pessoal gritando e se assustando com os “momentos boo!”. Distante da realidade das cabines de imprensa, nas quais celulares são apreendidos e guardas com detectores de metal revistam os convidados, dessa vez, um DJ que falava em espanhol, anunciou que poderíamos usar o Facebook e o Twitter durante a exibição. Mas pedia apenas que ninguém revelasse o final (nem um pouco surpreendente).

É o público definindo o formato e a estrutura do produto, não o contrário; em mais um capítulo da tendência comercial da última década

As pessoas entravam no espírito, se acotovelavam por camisetas promocionais, um show bizarro. Os gritos dos mais envolvidos estavam em contraponto direto com duas pessoas, mais velhas (mas não passavam dos 40), que dormiam solenemente durante a seção. Na saída, os atores principais lutavam para tirar fotos com os fãs que conquistaram minutos antes. É o cinema espetáculo na melhor forma.

Antes de sair, a mocinha da boca de urna se aproximou com uma folha cheia de rabiscos e palavras-chave. Critiquei. Ela fez de conta que anotou (sem encostar a caneta no papel). Eu fiz de conta que acreditei. O circo continuou.

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Fábio M. Barreto gostou da entrevista com Christopher Landon, mas sofreu assistindo ao filme.

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O que nos dizem os indicados do Oscar 2014

Vez por outra, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas resolve apostar em tendências com seus indicados. Histórias transformadoras, críticas sociais, momentos históricos e etc são alguns desses temas. Em 2014, a mensagem é clara: dramas pessoais marcaram as produções do ano passado. É a vitória da história simples e efetiva contra as recentes tentativas de se popularizar a briga por Melhor Filme e um modo da Academia mostrar que, pelo menos por enquanto, vai manter o status quo e não arriscar.

Por que isso? Vejamos a lista de indicados a Melhor Filme. Exceto por “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street) e, até certo ponto, “Trapaça” (American Hustle), os demais indicados (9 no total) são exercícios de intimidade, brutalidade e dramas vistos pela lupa de seus diretores. Até mesmo “Gravidade”, com seus efeitos especiais e espaciais, ou “12 Anos de Escravidão” (12 Years a Slave), que encapsula a escravidão, sem reduzir sua importância e estupidez, se encaixam nesse perfil.

A tendência de filmes mais pessoais serve como alerta a jovens roteiristas: há espaço para esse tipo de história. É só escrever direito e parar de seguir fórmulas, afinal, nenhum dos indicados segue as regras de cursinhos ou livros de estrutura. Há um vencedor mais relevante: criatividade. E isso é fato.

Oscar 2014

A tendência de filmes mais pessoais serve como alerta aos jovens roteiristas: há espaço para esse tipo de história

Curiosamente, dois filmes de ficção científica (ou algo parecido) foram indicados. O espacial “Gravidade” (Gravity), de Alfonso Cuarón e o romance virtual “Ela” (Her), de Spike Jonze. A escolha desses longas é importante por também demonstrar que correr riscos têm suas vantagens. Muita gente riu do conceito de “Ela”, mas o filme vem conquistando espectador atrás de espectador de forma fantástica.

Já “Gravidade”, que resenhamos aqui, é um espetáculo, cheio de simbolismos, lições, sonhos e adrenalina. Sandra Bullock concorre a Melhor Atriz, George Clooney ficou de fora. Será que Cuarón vai quebrar a maldição e, finalmente, garantir um Oscar para um filme de ficção científica? As chances são boas.

Mas não há barbadas nesse ano, pelo menos nessa categoria. “Trapaça” é um rolo compressor de grandes atuações, com um roteiro exemplar e execução fantástica. É possível resistir ao combo Amy Adams & Jennifer Lawrence? E o que dizer da constante evolução de Bradley Cooper? Todos indicados. É um filme feito para uma razão: entrar para a história do cinema.

Oscar 2014

O outro grande concorrente é “12 Anos de Escravidão”, com direito a show de Chiwetel Ejiofor (indicado a Melhor Ator), bela direção de Steve McQueen e emoção garantida. Michael Fassbender também compete como Melhor Ator Coadjuvante e Brad Pitt, em pontinha estratégica, tem chances apenas se o filme ganhar, pois está indicado por ser produtor.

Será que Cuarón vai quebrar a maldição e, finalmente, garantir um Oscar para um filme de ficção científica? As chances são boas

“Philomena”, “Capitão Phillips” e “Nebraska” correm por fora, mas devem apenas cumprir tabela. O coringa desse baralho é “Clube de Compras Dalas” (Dallas Buyers Club), o que obriga a menção a Matthew McConaughey.

Ele tem grandes chances de levar o Oscar de Melhor Ator. Por conta de 3 motivos: “Mud”, “Clube de Compras Dallas” e “O Lobo de Wall Street”. Ele acertou tanto ano passado, chamou tanto a atenção, que é impossível não associá-lo à imagem de um grande ator em grande fase. Leonardo DiCaprio aparece novamente, dessa vez com chances (a recente indicação por “J. Edgar” ainda é misteriosa e sem sentido) por comandar o filme de Martin Scorsese (indicado a Melhor Filme e Diretor, entre outros).

A briga na direção fica entre David O. Russell (que também escreveu o roteiro indicado de “Trapaça”), Alfonso Cuarón (“Gravidade”), Alexander Payne (“Nebraska”), Stevem McQueen (“12 Anos de Escravidão”) e Martin Scorsese (“O Lobo de Wall Street”). Só tem cachorro grande. Palpite? Cuarón ou Russell.

Oscar 2014

Em 2014, a mensagem é clara: dramas pessoais marcaram as produções do último ano

Uma das grandes ausências foi Robert Redford, com “All is Lost”, que ficou de fora das categorias principais e só foi indicado a Edição de Som. Outro que ficou de fora foi Joaquin Phoenix, o protagonista de “Ela”, já era controverso por conta da não-elegibilidade de Scarlett Johansson por ter feito apenas a voz da interface Samantha.

O motivador “A Vida Secreta de Walter Mitty”, de Ben Stiller, foi totalmente ignorado e “O Jogo do Exterminador” não conseguiu a indicação a Efeitos Visuais, que conta com a presença bizarra de “O Cavaleiro Solitário” entre os indicados; aliás, “Homem de Ferro 3” também concorre.

A partir dessa semana, o B9 vai publicar textos sobre todos os indicados das principais categorias. Acompanhe, assista e monte sua listinha. Veja a lista completa de indicados no site do Oscar.

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Fábio M. Barreto mora pertinho do prédio do Oscar, mas, como todo mundo de Los Angeles, não consegue madrugar para assistir as indicações e fica sabendo depois de todo mundo!

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Artista classifica 350 tipos de zumbis em pôster

Se algum dia realmente rolar um apocalipse zumbi, talvez não adiante muita coisa saber que existem mais de 350 tipos conhecidos, segundo uma classificação feita pelo artista Jason Thompson. The Map of Zombies é um pôster que se propõe a mapear os mortos-vivos mais conhecidos da cultura pop, espalhados pela literatura, cinema, televisão e games.

É possível, por exemplo, saber se eles são rápidos ou lentos, infectados por fungos ou alienígenas, amigáveis ou canibais, seu grau de vulnerabilidade, etc.

Como no final das contas não custa nada estar preparado, dar uma olhada não vai tirar pedaço.

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