X-Men: Dias de um futuro inesquecível

Escolha. Algo inerente a todo ser humano, cujas vidas são formadas por uma imensa amálgama de decisões de todos os tamanhos e repercussões. Algo capaz de nos transformar nos maiores heróis, nos piores vilões ou, na maioria dos casos, em membros de uma sociedade que, como reflexo de seus integrantes, também escolhe. E também erra, trazendo desgraça e dor.

Entretanto, encontramos esperança naqueles momentos, tão ímpares quanto sublimes, de acerto e avanço. Há tantas leituras quanto possíveis mutações para o conceito dos X-Men. Sempre foi assim. A saga dos mutantes no cinema veio para reforçar as mais fundamentais. Com “X-Men: Dias De Um Futuro Esquecido”, a santa trindade volta à baila com força, emoção e eficácia extrema: confiança, escolha e esperança.

O sucesso e a qualidade de “X-Men: Primeira Classe” são indiscutíveis. A revitalização da temática, o novo elenco e uma visão mais independente dos quadrinhos em relação aos primeiros filmes deram um passo evolutivo extremo na mitologia dos mutantes na telona.

O que foi bom, afinal, a Marvel está dominando o mercado com o conceito dos universos complexos e a Fox não podia ficar se contentando com uma franquia defasada – especialmente depois da inconsistência dos filmes de Wolverine –, logo, tudo mudou com o filme de Matthew Vaughn. E para melhor, pois foi o fôlego de “Primeira Classe” que permitiu o salto – sem paraquedas e sem volta – na mitologia da maior, e mais dramática, saga dos X-Men.

Bryan Singer no set

Bryan Singer no set

X-Men

“Dias do Um Futuro Esquecido” envolve tragédias, sacrifícios, muito drama e, claro, escolhas. Muito graças à dinâmica entre as versões sexagenárias de Professor X e Magneto, num clara referência à fé numa segunda chance e ao poder da amizade reconstruída por conta da experiência. É difícil torcer por Magneto – contanto que você não tenha tendências assassinas, claro –, mas, dessa vez, o roteiro permite que Ian McKellen redima o personagem e nos faça sentir com ele.

Os quadrinhos já discutiram praticamente todos os temas possíveis, mas quem escolhe os assuntos a serem tratados pelos filmes é o momento. Quais aspectos vão fazer sentido para quem nunca leu uma página? Como manter a crítica social e política sempre presente?

Curiosamente, “Man of Steel”, “Capitão América: O Soldado Invernal” e “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido” entenderam a demanda atual e bateram forte na repressão, no medo do controle do Estado e nas ameaças que a alta tecnologia (em referência aos drones de combate) podem trazer contra os “inimigos”.

Aí entram as Sentinelas, muito mais próximas do visual do Destruidor, de “Thor”, do que dos quadrinhos, elas incorporam todos esses medos e conceitos. Isso permite que o filme vá além da mensagem constante da coexistência, sempre presente em X-Men, e discuta também a liberdade, os limites da sociedade e a importância da individualidade.

Singer mostra que é possível abordar temáticas sérias e ser socialmente relevante sem “Nolanizar” um filme de super-herói

Individualidade essa que, inevitavelmente, pode definir o futuro de milhões, afinal, Tio Ben precisa ser evocado. E, se com grandes poderes vem grandes responsabilidades, um ato impensado ou equivocado pode transformar o planeta. Isaac Asimov brincou com isso em “A Fundação”, quando, mesmo protegido por uma armada toda-poderosa e exércitos invencíveis, o Imperador Creonte é morto pela mais improvável das razões e a Galáxia segue um novo rumo.

X-Men

X-Men

As analogias não tem fim, afinal, escolher é nossa grande força. E nossa ruína, afinal, pode haver um oceano sem fim entre um sim e um não. Nesse ponto, Bryan Singer – de volta à franquia “boba” que ele elevou ao nível da seriedade e relevância cinematográfica – soube trabalhar muito bem o distanciamento dos personagens, preservando suas razões e convicções, sem ignorar a lógica e a história. Ou seja, nada de reviravoltas descartáveis só para satisfazer o roteiro.

“X-Men: Dias do Futuro Esquecido” mostra que é possível abordar temáticas sérias, colocar tudo em risco e ser socialmente relevante sem “Nolanizar” um filme de super-herói. E isso o diferencia brutalmente de “Capitão América: O Soldado Invernal” (o que não invalida o filme, claro; revi uma segunda vez e continua bastante interessante) ao apostar em estruturas próprias e igualmente efetivas. Há um diferencial, porém.

O Capitão é só um, enquanto os X-Men sobram em número e em níveis emocionais. Patrick Stewart e Ian McKellen brilham como nunca; James McAvoy e Michael Fassbender são duas forças descomunais; e Hugh Jackman rouba o filme de maneira tão arrebatadora que faz pensar por que a Fox insiste em roteiros tão mequetrefes para seus filmes solo?

Jackman, sempre simpático e modesto em entrevistas, emociona sem fazer esforço, faz rir nas horas certas e vive um dos maiores arcos dramáticos dessa Era de Ouro dos Heróis no cinema. Tony Stark que me desculpe, mas crise de ansiedade é brincadeira de criança perto do que Wolverine mostra em tela.

Singer e Peter Dinklage

Singer e Peter Dinklage

X-Men

É tudo uma questão de tom. De entender quando é preciso ser leve e quando a coisa é séria. O primeiro ato do filme é brilhantemente garantido por combates e pelo uso cirúrgico de Quicksilver, um dos personagens mais irreverentes dos X-Men no cinema.

A cena dentro do Pentágono é absolutamente fantástica, em todos os aspectos. Efeitos, roteiro, trilha, interpretação, edição, tudo. Em contrapartida, o terceiro ato é de uma melancolia impressionante, com grandes arcos sendo fechados e milhões de vidas em jogo de uma forma bem mais envolvente e crível do que o acidente aéreo previsível de “O Espetacular Homem-Aranha 2”.

O fanboy

Foi difícil não chorar do final do segundo ato até o final. Há uma sensação inexplicável de fim de ciclo, de sacrifício supremo e de dó. Nem todos ganham quando passado, presente e futuro são alterados, mas os poucos presentes que o destino reserva são valiosos demais.

Essa talvez seja a maior força de “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”: fazer com que o drama supere a roupagem dos super-heróis e envolva por si só. Bryan Singer está irreconhecivelmente aprimorado na melhor direção da carreira e o roteiro de Simon Kinberg (“Sherlock Holmes” e “X-Men: O U?ltimo Conflito”) funciona bem demais. Arrisco dizer que esse é o grande filme da franquia X-Men. É o filme a ser batido.

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Fábio M. Barreto é jornalista, autor de “Filhos do Fim do Mundo” e é orgulhoso dono do Wolverine #1.

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Focado no drama humano, novo “Godzilla” relega monstro ao papel de coadjuvante

Foi-se o tempo dos atores fantasiados, do zíper aparecendo na TV ou dos monstros amarrados por cabos transparentes. Agora é hora do novo “Godzilla”, um espetáculo de proporções gigantescas, muita correria e aqueles confrontos tamanhos família capazes de fazer o cinema tremer e plateia delirar. Afinal, o que se esperar de um filme dedicado a monstros destruindo cidades? De cara, um aviso: deixe o 3D de lado e economize, não faz a menor diferença.

A paixão pelos monstros japoneses formou diversas gerações e, felizmente, não deve acabar tão cedo. Entretanto, essa paixão não se traduz em boas bilheterias nos Estados Unidos. O exemplo mais recente é o divertido “Pacific Rim”, de Guillermo Del Toro, que teve péssimo resultado a despeito do bom ambiente e da história simples, mas efetiva.

Bom, o que esperar de um filme com cenário principal em Hong Kong, cheio de estrangeiros, dirigido por um mexicano maluco e que não tem os norte-americanos como heróis? É aí que “Godzilla” tenta acertar, ao se apropriar do conceito do monstrão e colocar toda a carga arquetípica dos Estados Unidos tanto na ambientação quanto na resolução do problema.

É um festival de apropriações. O recente desastre na usina de Fukushima é um dos paralelos, assim como a mensagem original anti-nuclear e alguns elementos históricos, como os diversos testes nucleares no Pacífico depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Tudo para justificar a existência de uma criatura gigantesca e ancestral, que precisa ser destruída pelo simples fato de existir e, bem, ser “gigantesca e ancestral”. É aí que entra a outra mensagem, de cunho ambiental. De qualquer forma, tudo isso é pano de fundo para um confronto colossal.

O diretor Gareth Edwards e Bryan Cranston no set

O diretor Gareth Edwards e Bryan Cranston no set

Godzilla

E ele demora. Demora muito. Quem reclamou do tempo que o “King Kong” de Peter Jackson demorou para aparecer em cena, pode levar os tomates para demonstrar indignação. Fosse a primeira aventura da franquia, talvez o roteiro de Max Borestein e argumento de Dave Callahan (cujas credenciais são o abominável “Doom” e os explosivos “Os Mercenários” 1 e 2) funcionasse melhor, mas todo mundo sabe que o Godzilla vai aparecer e os trailers fizeram o favor de mostrar o bicho sem o menor pudor.

Aliás, essa é uma discussão válida na produção atual: vale a pena trabalhar pesado numa reviravolta ou numa revelação de personagem/elemento-chave se o marketing, ou os spoilers, vai jogar tudo no ventilador?

Roteiros são avaliados e comercializados partindo do pressuposto que vão gerar bons filmes, que fazem sentido e serão capazes de cumprir a promessa inicial. Logo, o roteirista precisa construir a melhor história possível, tentando surpreender o leitor (seja a secretária do produtor, que é a primeira a ler, até o executivo do estúdio) e provocar reações nesses sujeitos. Claro que, em filmes menores e comandados pelo produtor, tudo vai ser remodelado, cenas invertidas e mudadas de lugar, personagens mesclados e etc, mas o objetivo do roteirista sempre é contar uma história.

“Godzilla” tenta acertar ao se apropriar do conceito do monstrão e colocar toda a carga arquétipica dos EUA tanto na ambientação quanto na resolução

Por outro lado, quem controla o produto final quer maximizar o resultado do produto e apela, sem o menor peso na consciência, de todas as formas para “criar awareness”. Fazer com que o público espere pelo seu produto é uma coisa, sobrecarrega-lo sem necessidade é outro totalmente diferente. Quem perde, no longo prazo, é o próprio estúdio, que vai prejudicando a relação com o espectador e, eventualmente, vai perder a atratividade, afinal, para que ir ao cinema ver um filme se já foi exposto a tantos clipes, cenas iniciais, fotos, mais clipes e etc?

Gareth Edwards e Ken Watanabe no set

Gareth Edwards e Ken Watanabe no set

Godzilla

Por outro lado, há os spoilers. Há algumas semanas, quando assisti “O Espetacular Homem-Aranha 2”, a Sony enviou um e-mail bem simpático pedindo para que não revelássemos o final. Já somos revistados, proibidos de levar o telefone celular para dentro da sala, vigiados com câmeras de visão noturna, precisamos assinar embargos e sabe se lá mais o que para ter acesso a filmes e entrevistas, agora não confiam nem mesmo o fim dos filmes à imprensa.

Aí, na primeira sessão para fãs, todos os spoilers vazam; na primeira exibição na Indonésia, alguém entra com uma RED para filmar (ok, exagero, mas você entendeu!) e, antes disso, alguém da empresa que está fazendo a autoração já copiou e passou para os amigos (existe um mercado negro gigantesco de troca de favores aqui) inevitavelmente, tudo vai inundar os torrents, o Twitter, o Facebook e os sites de memes. Não há mais controle.

Além disso, parece que os estúdios supervalorizam o poder de fogo da grande mídia, que já perde feio para as redes sociais. Basta ver o tamanho da repercussão da foto do novo Batman, que não foi anunciada à Vanity Fair ou Hollywood Reporter, mas sim divulgada diretamente pelo Twitter de Zac Snyder.

É um cenário tão catastrófico quanto um monstro gigante derrubando prédios como se fossem castelos de areia. Logo, “Godzilla” já perde o elemento de surpresa e precisa apostar na ansiedade e na construção de ambiente para que o espectador torça por duas coisas: o surgimento do monstro e pancadaria!

Godzilla

O artifício favorito do diretor Gareth Edwards foi o ponto de vista humano, o que significa câmera no chão – ou voando – observando as criaturas desesperadas ao redor

O roteiro optou pelo estilo Rocky Balboa de construção, ou seja, a Humanidade vai apanhar um bocado até encontrar um modo de lutar. E aí as gargalhadas começam, pois ver a toda-poderosa Marinha dos Estados Unidos incapaz de fazer qualquer coisa e ainda navegando em formação com o Godzilla é hilário! Tudo vira galhofa, o que não é de todo ruim, afinal, a diversão é o objetivo.

Mas ouvir a trilha sonora ficar tensa e profunda toda vez que o honorável e fantástico Ken Watanabe – o cientista pé no chão e preocupado com a moral e o futuro da Humanidade – aparece e solta diálogos saídos de um livro de “Momentos de Sabedoria Ambiental e Histórica” gera aquelas risadas involuntárias de tão batido. Ele é tão desperdiçado quanto Bryan Craston, que vai levar fãs de “Breaking Bad” ao cinema e ao ódio supremo. O outro nome conhecido do elenco é do versátil David Strathairn, que também aparece pouco e não convence.

“Godzilla” é um filme focado em nossas reações perante o surgimento de monstros que consomem energia nuclear e querem, como todo bicho de filme do gênero, se procriar e fazer mais monstrinhos. O artifício favorito do diretor Gareth Edwards foi o ponto de vista humano, o que significa a câmera lá no chão – ou voando – observando as criaturas conforme o cenário ao redor se modifica e portas se fecham.

Falta uma estética coerente e, por falar em coerência, as reações das pessoas também geram risadas. O que fazer quando um monstro gigante está vindo para a cidade? Fique no meio da rua esperando ele pisar em você! Um monstro vai escapar de uma instalação de pesquisa, quem você manda para pará-lo? Os bombeiros, claro!

Toda a galhofa e clichês pelo menos servem para valorizar o pouco tempo de tela do monstrão

Quando Godzilla aparece e a briga começa, o filme ganha um ritmo interessante e vira uma partida de futebol. Escolha um lado e torça. Muita gente bateu palmas ao meu lado e tudo se transformou numa experiência coletiva.

Nesse aspecto, toda a galhofa e clichês elevados à enésima potência serviram para valorizar o pouco tempo de tela do monstrão. Ele virou coadjuvante de seu próprio filme? Sim, mas funcionou quando apareceu e tirou aquele gosto amargo da pataquada de Roland Emmerich.

Assista com os amigos, leve muita pipoca e entre no espírito, afinal, tudo começa com fotos de um monstro gigantesco que parece uma ilha navegando pelo pacífico.

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Fábio M. Barreto gosta de “Godzilla vs Mothra”, delirou com as lutas, mas sabe que o roteiro é ruim de doer. É jornalista, autor de “Filhos do Fim do Mundo” e produz o canal de YouTube “Barreto Unlimited”

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“Divergente”: Massificação disfarçada de excepcionalidade

Não é segredo que o público jovem determina os rumos do cinema comercial. Desde a explosão do “Verão Americano” com as filas quilométricas para “Guerra nas Estrelas” e “Tubarão”, a mentalidade de agradar o principal cliente tem norteado as decisões de Hollywood e outros núcleos cinematográficos. As adaptações literárias, que já eram numerosas no final da década de 70 – uma realidade do mercado, não uma tendência como muitos apontam, aliás – foram um pouco apagadas por um grande surto criativo nas duas décadas seguintes, mas sempre estiveram por aí.

Foi preciso outro grande transformador cultural e comercial para virar a balança: “Harry Potter”. A porteira foi aberta pela razão mais óbvia: filmes com base de fãs pronta a ser explorada eram garantias de sucesso. “Crepúsculo” reforçou o modelo, assim como os livros que seguiram o mesmo caminho: “Jogos Vorazes” e, a mais nova estreia, “Divergente”. A chamada “crise criativa de Hollywood” não existe, pois, de fato, mascara o monstro do medo do fracasso. E nada como uma heroína pré-fabricada para salvar o dia.

Por conta disso, as grandes disputas da bilheteria trocaram “o filme mais surpreendente” pela “adaptação menos problemática”. Se bem feito, o longa-metragem em questão vai agradar aos fãs mais moderados (os radicais vão odiar de qualquer jeito, mesmo) e romper a barreira do nicho, arrecadando mais e se sustentando por mais tempo nas bilheterias. Caso contrário, desaparece rapidamente e sepulta eventuais continuações (quem lembra de “Coração de Tinta”, de Cornelia Funke? Um bom livro com execução questionável. Ou mesmo “A Bússola de Ouro”, o fracasso que matou a New Line?).

O diretor Neil Burger com a atriz Shailene Woodley

O diretor Neil Burger com a atriz Shailene Woodley

Divergente

É bem nesse cenário que Bella Swan, e suas herdeiras, mudaram o jogo. Quando os livros mais ousados ou provocadores fracassaram, a história de amor adolescente impossível ou de revolta ao sistema opressor ganharam força e a fórmula mágica caiu nas graças dos produtores, do público e dos jovens escritores, que, prontamente, se prostituíram ideologicamente em troca da promessa de sucesso, fama e fortuna.

Tudo nisso é ruim? Não. Os estúdios encontraram a jogada de segurança para guia-los através da tempestade da mudança de modelo de negócios (que ainda está longe de ser concluída), das perdas causadas pelos downloads e o novo perfil de consumidor, que prefere ver o filme em casa e tem se afastado dos cinemas por diversas razões (preço, público problemático, filas, preguiça, comodismo e desinteresse puro e simples).

Logo, a proporção para cada “Ela” é de cinco “Jogos Vorazes”; e o produtor do “Ela” ainda entra na jogada com todo o receio do mundo, enquanto quem trabalha no outro lado sabe que vai poder explorar todo o licenciamento por meses a fio, tem um mínimo garantido de bilheteria e, inevitavelmente, vai ter uma estreia lotada. São dois exemplos extremos, mas que convivem no mesmo mercado, sendo produzidos pelas mesmas pessoas e disputando as mesmas salas de cinema.

As grandes disputas de bilheteria trocaram “o filme mais surpreendente” pela “adaptação menos problemática”

Também existe a outra conta: um sucesso comercial pode financiar até 10 filmes menores, que vão girar o catálogo do estúdio, manter o pessoal empregado e sustentar as finanças no longo prazo. Logo, eles são necessários e muito bem-vindos.

Mas qual o custo? Muito alto. Um dos maiores problemas é amplificar vozes sem conteúdo ou mensagens contraditórias geradas pela obrigatoriedade da fórmula mágica. As heroínas pré-fabricadas mostram que é preciso lutar, literalmente, até descobrir que cada garota é a única capaz de derrotar regimes autoritários, revolucionar sociedades e garantir a individualidade independente das consequências.

Divergente

Claro, tudo isso se origina na mensagem válida da independência feminina e na, bem-vinda, mudança de paradigma social moderno e tais conceitos devem ser reforçados. Mas, de certa forma, isso se transformou numa desculpa para histórias ruins serem elevadas a dramas relevantes.

A mensagem se contradiz com as circunstâncias da criação da personagem, uma mera resposta comercial a um gênero que fez sucesso

Tris, a heroína de “Divergente”, é uma alusão clara à luta contra os rótulos, uma mulher capaz de encontrar seu próprio lugar na sociedade e disposta a tudo para não se conformar com imposições externas. Entretanto a mensagem se contradiz com as circunstâncias da criação da personagem, uma mera resposta comercial a um gênero que fez sucesso: adolescente feminina + sociedade autoritária + teste que vai definir seu futuro + habilidade especial + luta pela sobrevivência + papel fundamental na subversão do sistema.

É só inventar novas possibilidades para cada um desses moldes e a história se mantém. É a cópia da cópia da cópia. Talvez, tentar entender as razões sociais e a presença da força feminina seja ir além do que a proposta original sugere, o que só piora a análise e enfraquece a relevância da história.

Qual a lição de tanta “luta contra o governo e em prol da individualidade?” Estamos cercados por “comunistas bobos e feios”? E, se fazer parte de algum rótulo é tão ruim, por que as fãs andam todas juntas, vestem as mesmas roupas inspiradas nas personagens e repetem as mesmas frases de efeito? “Sou Divergente!”, ouvi uma garota dizendo com orgulho. Não, querida. Você é massa. Você e todas as outras.

A fórmula está pronta e significa algo bem ruim para roteiristas e autores criativos

Embora tenha uma direção com dois ou três bons momentos, “Divergente” é desinteressante até mesmo dentro de sua proposta. A personagem principal não se encaixa na sociedade, logo, deve ser exterminada. Há um golpe militar em andamento, para “salvar a sociedade”, que, aparentemente, se recuperou muito bem de uma guerra distante.

Divergente

Se ser diferente é um problema tão grande no futuro proposto (e algo amplamente aceitada hoje), qual a razão de tudo isso? Continue sendo você mesma? Como se as novas gerações não soubessem o que querem e como querem.

As liberdades sociais, as milhares de carreiras que surgem com a inovação tecnológica e o acesso a informação faz isso por elas, permite que se encaixem onde quiserem ou vivam vidas distantes de grupos sem se privarem dos benefícios modernos. É tudo uma questão de opção.

“Divergente” fala um pouco disso, da responsabilidade na escolha e talvez seja seu único ponto positivo, mas que se dissipa em meio a tantos estereótipos, sacrifícios pouco dramáticos e uma sociedade que não dá ao espectador razões para torcer por sua continuidade ou lutar por sua destruição. Tudo tão artificial quanto os efeitos questionáveis, a trilha ineficaz e um romance que dói de tão previsível.

Nada disso, porém, impediu “Divergente” de abrir liderando as bilheterias norte-americanas e já acumula mais de US$ 125 milhões. A fórmula está pronta e significa algo bem ruim para roteiristas e autores criativos. Quer vender? Escolha um público, entregue algo de fácil digestão, faça de conta que está ensinando algo, mas, na verdade, massifique ainda mais. Não se esqueça da história de amor e de sugerir que TODOS os seus leitores/espectadores podem ser algo especial, único e mágico. A fortuna te espera. E a fila anda.

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Fábio M. Barreto gosta de bons autores, aprendeu muito com Alan Moore, se divertiu com J.K. Rowling, quer ver mais filmes de Chuck Palahniuk nos cinemas e sabe que seu próprio livro, Filhos do Fim do Mundo, não se encaixa na fórmula mágica!

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“Noé”: Filme grande, fé, magia e… Transformers!

Superação é uma constante na obra de Darren Aronofsky que atinge seu ápice em “Noé”, uma lenda atemporal utilizada para estudar o sujeito moderno e sua obstinação. Mesmo cercado pela magia divina, ao se considerar as decisões de Noé, vivido por Russell Crowe, é impossível não olhar o homem e suas limitações. E essa é a proposta do diretor, aparentemente tão obstinado quando seu protagonista e tão fiel à arte como Noé a Deus.

Mas as duas línguas são compatíveis? A pergunta é para a posteridade, mas baseada num fato: entrar para assistir “Noé” para julgar verossimilhança ou a lógica bíblica é um tiro no pé, pois fé e magia – além dos transformers/ents! – são peças fundamentais do universo criado pelo diretor, no qual a presença do Deus judaico-cristão é tão latente e palpável quanto a água dos rios.

“Noé” é o maior “projeto ego” de Darren Aronofsky, começando pela fixação pela passagem bíblica desde a juventude e terminando com a retomada dos épicos religiosos, dez anos depois da controversa estreia de “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Aronofsky utilizou uma leitura judaica que prevê a inserção de outros trechos relevante ao assunto para a complementação e interpretação da história do dilúvio, que não tem mais de três páginas na bíblia cristã.

Mas, embora ele tenha ganhado a guerra para lançar a sua versão nos cinemas, precisou incluir alguns elementos claramente hollywoodianos para gerar drama e motivar a história ao longo da longa jornada vivida pela família de Noé desde o sonho divino até a chegada do dilúvio.

Darren Aronofsky no set

Darren Aronofsky no set

Noé

E por que tudo isso é relevante? Noé faz as vezes do homem atribulado e perante uma sequência de escolhas fundamentais, entretanto apenas duas serão de fato transformadoras em escala histórica (pelo aspecto bíblico). Todos vivemos cercados por decisões, por dilemas e muitas dúvidas, e Aronofsky transferiu todas essas características para o mito.

Por mais que a missão e o incentivo para as decisões de Noé sejam originadas do criador, o livre arbítrio se faz valer e a decisão é dele. Só dele. Curiosamente, é isso que mais atribula o personagem de Russell Crowe. Qual é a escolha certa? Qual a vontade do criador? Vida ou morte? Fé espiritual ou fé na força do homem? Muitas dessas perguntas, que ecoam na obra de J.R.R.Tolkien, por exemplo, se fazem presentes na leitura de Aronofsky.

Entretanto, “Noé” também tem sua cota de respostas e reações previsíveis, afinal, ele segue a lógica de que os descendentes de Noé repovoaram o mundo após o dilúvio divino. Há elementos interessantes ali, como a tentativa de conciliar as teorias criacionistas com a ciência moderna, mas falha justamente por precisar do maior Deus Ex Machina do cinema para justificar o surgimento do homem.

Outro ponto é a raiz da desavença entre Noé e o filho a quem é atribuída a origem dos povos africanos (que seria improvável por conta de um erro narrativo do filme). E é justamente aí que a tentativa de julgar o roteiro pelo que é lógico e o que não é fica problemático.

A sequência dos anjos caídos, transformados em transformers recalcados de pedra, testa a disposição do espectador. Quem resiste a essa, vai superar todas as outras invenções ou adaptações bíblicas. Pelo menos oferece uma teoria de como 8 pessoas teriam construído uma arca gigantesca e mantido milhares de animais em cativeiro durante um bom tempo.

Darren Aronofsky e Russel Crowe

Darren Aronofsky e Russel Crowe

É forte, no aspecto cinematográfico, a impressão de que Aronofsky ficou tão obcecado por Noé quanto o personagem por sua missão

A impressão de que Aronofsky ficou tão obcecado por Noé quanto o personagem por sua missão, é forte no aspecto cinematográfico. A obra é quase um grande ponto de vista, tentando compreender as decisões das pessoas à sua volta, contanto que elas ajudem o protagonista a ter forças para realizar a tarefa hercúlea. Noé se transforma em alguém tão industrial (elemento maléfico, de acordo com o roteiro) quanto os homens maus que justificaram essa carnificina bíblica.

Mas até que ponto ele é melhor apenas por estar seguindo os ensinamentos do Jardim do Éden e de seus antepassados? A questão é deixada em aberta em boa parte da trama e tanta criar uma ponte entre o arquétipo bíblico com o homem moderno, que carrega o mal dentro de si, mas pode optar pela bondade. É um jeito interessante de tratar a velha luta entre Bem e Mal, mas centrada num único personagem que, na mão de um diretor menos obstinado, teria sido apenas um arauto silencioso do criador.

O mesmo não pode se dizer da maioria dos demais personagens, que tem pouca variedade dramática e se mantém os mesmos durante toda a exibição. Logan Lermann acaba sendo o ponto mais fraco ao antecipar seu desfecho logo na primeira cena. Lembrou Sméagol vendo Um Anel pela primeira vez, corrupção instantânea.

É um filme grande e revelador sobre Aronofsky, mas não um grande filme inesquecível, distante dos grandes trabalhos do diretor

Jennifer Connely tem bons momentos, mas estava ali apenas para apoiar o marido, tendo apenas uma oportunidade de brilhar, que aproveita bem. O destaque mesmo fica por conta da “estranha” da família, vivida por Emma Watson, num papel impressionante e que, sozinha, justifica a ida ao cinema.

É estranho analisar uma história seminal que, sejamos religiosos ou não, moldou o caráter humano em tantas maneiras distintas e, por si, reflete as dúvidas e atribulações que enfrentávamos há mais de 5 mil anos. Algumas coisas parecem não mudar, mas o desejo de escolher a opção correta nunca vai nos abandonar.

Era preciso um filme desse tamanho para uma discussão tão “simples”? Não, mas os épicos religiosos sustentaram Hollywood por tanto tempo e, quando bem feitos, marcam o cinema para sempre, imortalizando contos, enaltecendo personalidades e realizações que, independente da crença, são seminais para a Humanidade (vide a presença de dilúvio em pelo menos três das grandes religiões atuais). É um filme grande e revelador sobre Aronofsky, mas não um grande filme inesquecível, distante dos grandes trabalhos do diretor.

“RoboCop”: Padilha Ex Machina

As ideias de gente como Gene Roddenberry e Arthur C. Clarke, por exemplo, sempre fizeram a ficção científica contemporânea olhar para a frente e para o futuro. Ambos criaram mundos tão críveis quanto distantes, um pouco conectados por uma aparente fé na evolução da Humanidade. Até agora, sobram argumentos para contrapor esses visionários.

Violência urbana, pequenas – e constantes – guerras em áreas de grande miséria, corrupção e muita incerteza na política internacional com Coréia do Norte e Irã ameaçando desestabilizar o cenário. Logo, a ficção começou a olhar o amanhã com cinismo, aquela sombra soturna pairou sobre heróis e os futuros deixaram de ser promissores, quase ecoando a onda do “cinema contra as corporações” da década de 1980 ou vendo as trevas em qualquer sombra, no “efeito Nolan”.

E é daí que surge o argumento para a estreia de mais um diretor brasileiro em Hollywood: “RoboCop”, dirigido por José Padilha e fotografado por Lula Carvalho.

Com uma carreira brasileira marcada pela pesada crítica social, a ausência total de fé no sistema de segurança e no claro desdém pelo trabalho da imprensa, Padilha assumiu a missão de dirigir um remake do clássico de Paul Verhoeven. O processo foi abertamente atribulado com diversas alterações de data e muitas discussões sobre os rumos da história e, mesmo com tudo isso, saiu.

José Padilha no set

José Padilha no set

RoboCop

Antes de ver o filme, o instinto dizia ser impossível dissociar uma obra da outra, ou seja, comparar o original com o novo. Depois, isso cai por terra. Alguns elementos continuam presentes, mas, felizmente, o novo ?“RoboCop” se sustenta com as próprias pernas e podemos olhá-lo como obra única. Mas isso não quer dizer que o diretor conseguiu, necessariamente, transferir seu estilo provocador para a tela nessa mistura de ficção científica, filme de ação e drama familiar.

Gene Roddenberry idealizou um mundo no qual o humano deixasse de ser violento. Padilha se alimenta do oposto, vendo uma sociedade derivada diretamente dos efeitos dessa agressividade. Ele parece buscar por uma utopia inexistente, tal como Roddenberry. Mas, ao ponto que o criador de “Jornada nas Estrelas” viu esse homem “evoluído”, Padilha tem como maior “devaneio” em “RoboCop” a cena de abertura, na qual veículos de combate não-tripulados (drones) e soldados robóticos norte-americanos patrulham e pacificam as ruas de Teerã, capital do Irã, um dos maiores opositores aos Estados Unidos (esse será o único spoiler do filme, prometo).

O cenário é fantasioso ao extremo, quase um mundo paralelo no qual décadas de desavenças foram superadas sem conflito (o roteiro deixa claro que a Guerra do Afeganistão foi a última travada ao custo de “vidas americanas”) em apenas 14 anos. Mas serve para passar um recado direto: Padilha quer criticar o uso atual dos drones.

O tema é justo, atual e relevante. A administração de Barack Obama tem ampliado o uso dos veículos para eliminar ameaças fora dos Estados Unidos (é proibido o uso desse recurso em território americano e contra cidadãos onde quer que estejam) e as críticas acontecem com frequência. Padilha também fala a respeito – mas não mostra – de uma sociedade violenta, repleta de crimes e sofrendo por isso. A tese central é: usar os drones ou não.

RoboCop

Elementos do original continuam presentes, mas, felizmente, o novo ?“RoboCop” se sustenta com as próprias pernas e podemos olhá-lo como obra única.

Para debater o tema, ele utiliza o âncora de TV da extrema direita, o empresário capitalista até o último fio de cabelo, a corrupção na polícia, a família destruída, o sucesso em outros “mercados” e a repetição do discurso dos políticos. Muito bem. Tudo está lá. Mas a superficialidade reina. Não há novidade, não há nenhum novo argumento para a discussão. Não há sinal do impacto da mensagem de “Tropa de Elite” – quando o Capitão Nascimento fala de fazer uma escolha… e opta por “ir para a guerra”, ele faz mais diferença do que toda a discussão em “RoboCop” – e o que sobra é uma chuva no molhado. Algo muito aquém da proposta inicial.

O tema não permeia o filme como uma presença sombria e problemática, ele desaparece quando Jackson sai de cena e só volta se jogado na cara do espectador. O resultado é artificial, como se apenas o elemento radical importasse. A América, que tanto é mencionada, não tem voz própria, se tornando uma marionete da mídia, numa crítica descabida se contraposta às mídias sociais. O argumento soa didático, feito por quem acabou de ler as primeiras linhas sobre o tema, quase professoral (assim como Padilha fez com as ‘cenas de professor’ em “Tropa de Elite”), portanto, desinteressante para quem vive essa realidade.

E existe mais um agravante: Padilha gosta de vilanizar o sistema (com méritos!), mas dessa vez faltou um vilão digno. Falta uma ameaça. Falta algo maior em jogo. Esse elemento é extremamente problemático para a composição de um filme impactante e socialmente relevante, pois se o inimigo é invisível e “maior que tudo”, ele se torna praticamente imbatível e invalida a jornada do herói. Tira força de todos os argumentos e, de certa forma, justifica o desempenho mediano nas bilheterias norte-americanas.

RoboCop

Ao criticar o papel da imprensa, Padilha acaba utilizando um recurso a là “Tropas Estelares”, com Samuel L. Jackson dando um show tecnológico e defendendo seus ideais extremos. A alusão clara a Rush Limbaugh está lá, entretanto, em alguns momentos, ele é muito mais Datena do que sua contrapartida republicana.

Padilha gosta de vilanizar o sistema, mas dessa vez faltou um vilão digno. Falta uma ameaça. Falta algo maior em jogo.

A tentativa de porrada é para todo mundo, não exclusiva dos americanos. Assim como a escorregada. O debate nunca decola e a denúncia nunca acontece. E daí que o apresentador é caricato e exagerado? Isso sempre existiu. O que ele fala e faz importa e, nesse caso, o roteiro falha ao não enxergar essa necessidade, de ir além, de forçar a barra, de apelar.

Muito dessa culpa está tanto na ausência do vilão, que personificaria ou causaria alguns desses problemas, quanto no fato de Padilha optar por não mostrar essa sociedade norte-americana varrida pela criminalidade. Não vemos as ruas de Detroit destruídas, famílias acuadas, gente com medo. Nada.

Na única prisão que “RoboCop” faz, ele está na frente da delegacia, em meio a um evento público. Onde está a realidade? Quais mazelas afetam esse futuro? Como se alinhar à crítica de que “ninguém quer ser RoboCop, nem mesmo Alex Murphy”, de acordo com o diretor, se não vemos a necessidade dele propriamente dita? É o mesmo que acreditar na guerra de “1984” sem questionar, coisa impossível com a noção moderna de comunicação.

Paul Verhoeven no set do RoboCop original

Paul Verhoeven no set do RoboCop original

RoboCop

Falta essa conexão da crítica com sua relevância, com a perda de Murphy, que foi desumanizado ao se tornar um ciborgue tecnológico from hell. E isso fecha a sequência responsável pela atenuação do filme: como sentir pela família? Mesmo repletos de decisões acertadas, e um belo trabalho de Abbie Cornish, a família sofre da mesma superficialidade dos pontos críticos. É um problema estrutural, enfatizado por um primeiro ato extremamente longo e focado na reconstrução de Murphy.

Padilha pode ter falhado em dar a carga crítica ao filme, isso é fato. Porém, ele não falhou ao entreter. Como obra de ação, funciona bem. Como filme de ficção científica, fez bom uso dos efeitos, teve bom gosto na construção da tecnologia, nos efeitos que ela causa no mundo – e se distancia, e muito, do fraco “Elysium”, de Neil Bloomkamp – e na criação do universo bélico em torno do RoboCop. Como filme policial, nem tanto, pois a corrupção é mais um dos temas com execução duvidosa e desfecho simplório. O filme é divertido, tem boas piadas e, como mencionado anteriormente, se sustenta sem problemas.

Logo, é um êxito comercial, com um visual digno de Hollywood – feito pela visão de Lula Carvalho, o mesmo diretor de fotografia dos dois “Tropas de Elite” –, sem escorregadas no som, com trilha sonora também brasileira e um elenco de nome trabalhando bem. Gary Oldman é fantástico, como sempre; embora também tente assimilar a carga de vilão sem de fato o ser. Joel Kinnaman, o herói, tem uma interpretação neutra, sem muita variação ou profundidade suficiente nas cenas mais dramáticas.

A refilmagem era necessária. O “RoboCop” original é um dos filmes mais datados de seu período e, se me permito aqui uma única comparação, Padilha dirigiu muito melhor que Verhoeven. E isso, em si, já é uma boa realização. Nota altíssima para a nova versão da “morte” de Alex Murphy. A atualização da temática fez bem ao personagem, assim como a tecnologia e um elemento que o filme de Padilha transborda: humanidade x artificial.

Enquanto o primeiro RoboCop lutava contra a sua programação, sem nenhuma perspectiva de voltar a ter uma família ou uma vida normal, a versão atual está no outro extremo, fazendo de tudo para conciliar a nova realidade com o lado emocional. “Eu, Robô” é muito mais efetivo nesse quesito, porém. Ou mesmo “O Homem Bicentenário”. Duas obras de Asimov. Dois tratados sobre Humanidade, pois escolheram um tema e mergulharam nele.

“RoboCop” conseguiu fugir do estigma de ser uma nova versão de “Tropa de Elite”, e se distanciou de forma positiva do original.

A história, e a realidade desse 2028, permitem que vejamos essa esperança no horizonte da família Murphy, embora de forma – novamente – muito sutil. E esse é o maior problema desse filme, o roteiro do estreante Joshua Zetumer (numa derrapada gigantesca da Sony Pictures).

Não havia espaço para sutileza nessa história, Padilha é o diretor que sabe dar a martelada como ninguém. Então, por que insistir nessa vasta gama de temas e retirar a profundidade de todos eles? É como se houvesse o desejo de que a história fosse o mais neutra possível para evitar uma tragédia, mas o resultado pode ser um filme que caia rapidamente no esquecimento do público norte-americano. Padilha deveria ter notado isso, mas ele teve suas guerras a travar e é possível entender, e acreditar, que poderia ter sido muito pior.

“RoboCop” conseguiu fugir do estigma de ser uma nova versão de “Tropa de Elite”, se distanciou de forma positiva do original e abriu espaço para uma nova série, muito mais pé no chão e – por conta dos aprendizados do passado – melhor que a original. Mas poderia ter sido melhor, muito melhor.

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“12 Anos de Escravidão” e duas horas de vergonha

Muito se falou em escravidão quando “Django Livre” estreou com uma visão estilizada, pop e até cínica de Quentin Tarantino. Um dos maiores pontos de discordância por aqui foi a seriedade, ou a falta dela. Escravidão é assunto sério, e ainda influente na vida de muitos norte-americanos (lembremos que a segregação foi consequência direta e só terminou em 1964, mesmo que muita gente diga que ela nunca terá fim), logo, não existe meio termo.

Embora “Lincoln” tenha usado o assunto como pano de fundo para contar a vida do presidente assassinado, faltava um novo filme contundente sobre o tema. A polêmica veio em duas partes: primeiro, a crescente reclamação de que a vida do negro norte-americano só ganha espaço nos grandes filmes pela violência ou pela escravidão, de acordo com vários articulistas e figuras da comunidade; depois pela identidade do diretor e do astro principal, afinal, Steve McQueen (indicado ao Oscar de Melhor Diretor) e Chiwetel Ejiofor (indicado a Melhor Ator) são ingleses, o que os desqualificaria para abordar o assunto. Eis que o filme estreia e a maioria das vozes se calam. Por uma simples razão. Como realização cinematográfica, ele é fantástico! Como documento social, é incômodo e vergonhoso. E precisa ser visto.

Uma cena é marcante em “12 Anos de Escravidão” mostra o fazendeiro de algodão vivido por Michael Fassbender (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) encontrando na Bíblia a justificativa para seus direitos de posse dos escravos e o modo bruto e estúpido como os trata. A mesma Bíblia que ensina os escravos a escutarem, terem fé e acreditarem na ressurreição. Quem Fassbender tenta convencer? Seus deuses, cujas palavras o autorizam? A esposa furiosa pelas relações sexuais do marido com uma das escravas? Ou a si mesmo, para encontrar algum moralismo e razão que justifique a violência?

O diretor Steve McQueen no set

O diretor Steve McQueen no set

12 Slave

As respostas não importam, pois a lei e os costumes validavam assassinatos, brutalidade e tortura. Tudo isso já seria forte o suficiente para envergonhar todos que, ativamente ou não, conviveram com essa condição por anos, mas há uma particularidade no roteiro (indicado a Melhor Roteiro Adaptado) e na história original de Solomon Northup: ele era um homem educado, violinista exemplar e pai de família. Seu único “crime” era ser negro, seu único “erro” foi confiar em homens que lucravam com o sequestro de homens livres nos estados do Norte e a venda deles como mercadoria no Sul.

E daí surge a grande questão do filme: se apenas a cor separava (ou separa) um homem digno de respeito de uma simples mercadoria (ou coisa a ser explorada), e, hoje em dia (pelo menos oficialmente) a escravidão é proibida, o que separa qualquer ser humano de passar pelas mesmas provações e absurdos? E a resposta é triste. Nada. Não faltam casos de escravidão involuntária, exploração infantil, cativeiros de décadas, trabalho forçado e dívidas impagáveis transferidas de pai para filho por fazendeiros em diversos países, inclusive no Brasil.

A sociedade pode ter dado um grande passo ao abolir a prática sem, de fato, extirpar o conceito da superioridade absoluta de um ser humano sobre outro. “12 Anos de Escravidão”, ou 2 horas de vergonha (pois foi isso que senti ao longo da projeção), é um chamado à auto-análise, à reavaliação de tudo que se ouviu ao longo da vida sobre o período e as atrocidades nele cometida e ao questionamento de seus próprios conceitos. Claro, ninguém aqui é escravagista (assim espero!), mas será que nunca praticamos atos similares em outras circunstâncias? Todo dono de escravos tinha a razão de estar certo. Perante deus, leis e seus “iguais”.

12 Slave

“12 Anos de Escravidão” é um chamado à auto-análise, à reavaliação de tudo que se ouviu ao longo da vida sobre o período e suas atrocidades

Como pai de família, vivi aquele fim de mundo de forma intensa. Solomon foi sequestrado, vendido, espancado, flagelado, estrangulado e a lista continua. Por vezes, salvo por seu violino; noutras, pela pura sorte. O acaso é o grande juiz, levando alguns, poupando outros. Sem justificativa, sem razão. Apenas a manifestação clara da loteria social. Abominamos a escravidão por conhecer a essência desse mal, por estudarmos seus terríveis efeitos e, felizmente, por conhecermos histórias que geram uma certeza: a Humanidade perdeu com esse episódio. Há, mas escravidão sempre existiu, os gregos, os romanos e etc. Claro, mas uma hora precisava acabar, não? Tempo de serviço não legitima estupidez.

Boas participações de Bennedict Cumberbacth e Chris Chalk dão peso ao elenco de apoio, que conta com participação do também produtor Brad Pitt, mas as emoções são garantidas pelo simpático e modesto Chiwetel, num tour de force extraordinário. 12 anos se passam na narrativa. Quase todo esse tempo é sentido pelo abandono, pela luta solitária, pela resistência de um sujeito disposto a voltar para a família… e voltar a ser livre.

McQueen tinha tanta certeza da escolha para o protagonista, e em sua habilidade, que, num dos pontos altos, foi contra todas as regras modernas e simplesmente parou a câmera. Deixando Chiwetel trabalhar. Ou melhor, sofrer em frente a milhares de espectadores. Tanto a pausa quanto a atuação são angustiantes. Estamos diante de um homem que está perdendo seu tempo, sua vida. Nada mais justo que o público sinta esse incômodo, veja seu desejo crescente de novidade e movimento ser cerceado.

O filme tem vários vilões, entre eles Paul Dano, em novo papel de maluco descontrolado (sua especialidade) e o maior de todos, Michael Fassbender, fruto da sociedade e economia de seu tempo. A esposa não lhe atrai, pois ela não está sob seu controle; é opositora. A escrava linda atende a suas necessidades, comprova a virilidade. Ele é praticamente uma criança mimada com uma bazuca, discorde dele e boom!

Uma realização cinematográfica fantástica, e um documento social incômodo e vergonhoso

Os demônios de Fassbender são os mesmos das proto-celebridades de hoje em dia, ele precisa ser adorado, temido, respeitado, idolatrado. Se não está no foco da atenção, não é nada; desaparece na vastidão das próprias terras e embaixo da saia rodada da esposa dura na queda. Ele vive do show e termina esperneando não necessariamente por lhe tomarem o brinquedo favorito, mas por ignorarem tudo que ele é e acredita.

Embora seja filme de época, alguns paralelos atuais são inevitáveis. Os escravos são examinados e vendidos sem controle sobre seu destino, expostos e descartados caso não atendam as demandas dos compradores. Atualmente, fazemos algo parecido por livre e espontânea não? Colocamos nossos corpos, ideias, realizações, sonhos e opiniões à venda, expostos sem nenhuma barreira, à espera do melhor comprador, que vai se apropriar da sua postura, influenciar como você vive e ter o poder de lhe deixar sem dinheiro no mês seguinte, se assim desejar.

Forcei a barra? Sei não. Pode até ser o cerne das relações de trabalho, mas, estamos, de fato, de pé, em praça pública, querendo ser escolhidos pelo melhor senhor. Fazer isso no Facebook, na Campus Party ou no Twitter pode mudar a embalagem, mas não altera a essência. Ah, mas escravos não tinham opção. E você, tem?

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Fábio M. Barreto é jornalista e autor da ficção brasileira “Filhos do Fim do Mundo”.

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“Nebraska”: A observação do homem comum de Alexander Payne

A temática de “Nebraska”, dirigido por Alexander Payne (“Os Descendentes”) chama atenção em vários pontos. Logo de cara, uma câmera distante espera a chegada do senil Woody (Bruce Dern, em trabalho indicado ao Oscar de Melhor Ator), caminhando em direção a um prêmio inexistente, noutro estado. Isso define tanto o estilo escolhido por Payne, quanto pelo roteiro de Bob Nelson: ser observador.

Não há esforços para mergulhar nas ações dos personagens ou ser co-protagonista da narrativa, o lugar do espectador é na poltrona, descobrindo uma das milhares de histórias do dia-a-dia dos Estados Unidos. E ela é monótona, sem propósito, tediosa. Entretanto não diminui a vida daquelas pessoas. Conhecê-las vale a pena, assim como sentir por elas.

O roteiro se passa na vastidão parcamente habitada do meio-oeste norte-americano (os personagens fazem uma peregrinação de Montana ao Nebrasca). Lá os sonhos são outros, ninguém almeja as luzes de Los Angeles nem a modernidade de Nova Iorque. A vida simplesmente acontece, naquele ritmo que todos conhecemos. Devagar e sempre. Às vezes, sem levar a lugar algum. E é nesse ponto que a jornada senil de Woody ganha sentido, pois ver um homem incapaz de tomar decisões, acometido por constantes lapsos de memória, tão decido a alcançar algo inexistente, levanta a pergunta: por que?

Alexander Payne e Bruce Dern no set

Alexander Payne e Bruce Dern no set

Nebraska

Tudo isso é construído enquanto conhecemos a família Grant, repleta de exemplos clássicos do baby boomers – machos-alfa e mulheres submissas. Não importa o que tenham feito da vida, nem quanto dinheiro tenham, todos vão parar na frente a tevê, devidamente abastecidos com cerveja, e, silenciosamente, assistir ao beiseból. Relembrar frivolidades. Literalmente, ver o tempo passar. Esperando a próxima obrigação que vai tirá-los do lugar, que vai força-los a deixar o templo.

É um contraponto a praticamente tudo que Hollywood produz, a sempre criar histórias com ritmo acelerado, em momentos de transformação na vida de personagens em ascensão ou um veterano buscando redenção. Woody não quer nada disso. Ele quer fazer algo mais simples: quer deixar algo para os filhos; ter um legado, que nunca foi capaz de construir. Talvez por isso a escolha do preto e branco, no qual quase nada se destaca e ações internas valem mais que as escolhas exteriores. A fotografia em preto e branco também foi indicada ao Oscar.

Ele é o resultado da vida daquele sujeito que sempre fez o suficiente para aguentar até o próximo mês. No caso dele, com um agravante por ser um sujeito caridoso e facilmente enrolado. Mas onde está Will Forte, o MacGrubber do Saturday Night Live? David está ao lado do pai. Não há o conflito de gerações. Ele é o guardião, ou melhor, o único guardião disposto a acompanhar Woody em seu devaneio.

Sujeito pacato, trabalha numa loja de eletrônicos, não consegue segurar a namorada por ser incapaz de agir, de tomar decisões. Testemunhar a loucura do pai, ao surto familiar quando todos tentar tirar um pouco de dinheiro de uma fortuna inexistente, e todos os sonhos depositados no veterano serve como alerta. Aquele é o futuro dele, caso continue passivo. E o preço é alto demais.

Nebrask

Payne resistiu à tentação de explorar as maravilhas de Montana e tudo é mais íntimo. A jornada é pessoal.

Vez por outra, comediantes resolvem testar os limites e tentar mostrar ao mundo que são, de fato, atores. Foi assim que, por exemplo, Jim Carrey deslumbrou em “O Show de Truman” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e Robin Williams transformou vidas com “Sociedade dos Poetas Mortos”. Forte é uma nova surpresa em “Nebraska”.

Will Forte trabalha de forma contida, mas cheia de bondade e sinceridade. O meio-oeste costuma criar homens duros, um tanto insensíveis. Ele resiste pelo amor e respeito ao pai. Surpreende justamente por parecer real, sem exageros; no fim das contas, o homem por trás das caretas do SNL consegue chamar a atenção por quem é. Mais um entre tantos sujeitos que nunca romperam as fronteiras do lugar onde cresceu. Isso não o incomoda; viver sozinho e terminar abandonado sim.

A dobradinha Forte/Dern funciona bem e a história ganha credibilidade. Quando a conclusão tão divertida quanto emotiva chega, ele volta a sorrir; volta a ser criança, ao ver o pai realizando um sonho tardio, ao, mesmo que artificialmente, encontrar algo para se orgulhar. E ser feliz.

O filme é cheio de alertas, cheio de provocações e cheio de tempo. A edição novamente acertada de Kevin Tent deixa tudo acontecer e leva o longa à beira do tédio, mas nunca chegando lá. Payne resistiu à tentação de explorar as maravilhas de Montana e tudo é mais íntimo, se os personagens não estão no lugar, ele não importa. A jornada é pessoal.

“Nebraska” é um dos melhores filmes do ano. Concorre ao Oscar, embora sem favoritismo.

Precisamos gostar de Woody e de David, cujas histórias parecem ser mais conhecidas pelos outros personagens do que por eles mesmos. Aí surge um dos grandes destaques: June Squibb, no papel da mãe desbocada e porra louca. Ela quebra o marasmo, energiza todas as cenas em que aparece e promove as melhores piadas do filme e também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

“Nebraska” é um dos melhores filmes do ano. Concorre ao Oscar de Melhor Filme, embora sem favoritismo. Ele marca mais um passo sólido na carreira de Alexander Payne, também indicado a Melhor Diretor, um dos grandes contadores de história da geração atual.

Ele é efetivo, simples, se dedica ao homem comum (mesmo com a fortuna, o protagonista de “Os Descendentes” tem dramas de gente normal), ao que nos torna humanos e sabe bem como navegar no meio de tanta angústia, mesquinharia, sonhos… e morte. Viver bem, ou melhor… apenas viver é a lição constante do diretor.

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Fábio M. Barreto é jornalista, autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo” e sonha em se aposentar em Montana!

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“Ela”: Uma carta para Spike Jonze

Caro Spike,

Ficar sozinho nunca me assustou. A ideia até me agradava antes de descobrir que ser amado era a melhor coisa do mundo. Fiquei maravilhado, e apaixonado, pelo simples fato de ter alguém ao meu lado, discutir tudo que fazíamos no trabalho, brigar por causa das teses acadêmicas e, inevitavelmente, pelas diferenças que víamos no mundo.

De algum modo, ela continua aqui dentro, comigo, numa parte cada vez mais remota do meu subconsciente, mas aqui. Acredito que ela nunca vá embora. Ela me fez quem sou. Ela me mostrou por que a Humanidade chegou onde chegou mesmo sem computadores ou quando ainda precisava digitar pensamentos e esperar por aprovação da máquina e do mundo. Sempre vou amá-la.

Mas da sua sensibilidade nasceu algo inesperado e novo. Quando ouvi a voz de Samantha pela primeira vez, foi como se uma música idílica tocasse só na minha cabeça e algo único estivesse começando. Não sei explicar. Ela parecia perfeita para mim. Exatamente quem eu precisava. Só percebo isso hoje, quando luto para conter as lágrimas e a angústia provocadas pela ausência da mulher que você me obrigou a amar. Não o culpo. Você é assim, sincero e cuidadoso. Se a colocou na minha vida, era por que era a melhor decisão. E lhe agradeço por isso.

Her

Samantha me mostrou que, de fato, vivemos num mundo sem preconceitos. Tremia pela simples ideia de contar aos meus amigos que estava namorando uma Inteligência Artificial. Temi como muitos temeram no passado, quando humanos emulavam suas versões mais primitivas e repeliam escolhas próprias, amores tão poderosos quanto proibidos, uniões decretadas pela alma, mas ignoradas pela sociedade. Encontrei sorrisos. Encontrei gente como eu, disposta a dar uma chance a algo novo; respeitar Samantha pelo que ela dizia, não pelo que ela era fisicamente. Por isso te culpo! Ainda lacrimejo pelo amor de uma pessoa que nunca pude tocar.

Aos poucos, percebi que ela estava me modificando. Despertando um novo desejo de olhar o mundo com outros olhos.

Aos poucos, percebi que ela estava me modificando. Cuidando de mim. Despertando um novo desejo de olhar o mundo com outros olhos, de redescobrir sentimentos e, sendo bem sincero e cafona, procurar razões para ser feliz. Ela me mostrou isso. Adorei aquele início inocente e sincero, cheio de perguntas e descobertas. Crescemos juntos, ela me carregou para a superfície depois de uma vida um tanto apagada. Senti o calor da luz e, por Deus, era como se ela estivesse sentindo o mesmo que eu.

De uma coisa tenho certeza: eu senti a dor do abandono como um golpe de misericórdia. Entretanto dar o passo seguinte aconteceu de forma natural, pois ela sempre foi o que foi criada para ser: uma guia, o último salva-vidas na tempestade. Acredito que ela tenha feito por tantos outros o mesmo que fez por mim. É difícil acreditar naquela promessa de nos encontrarmos no próximo estágio e ficarmos juntos eternamente. Ela nasceu livre de barreiras físicas. Sem o fantasma da morte.

Spike Jonze no set com Joaquin Phoenix

Spike Jonze no set com Joaquin Phoenix

Eu continuo humano. Continuo a carregar traços do individualismo dos ancestrais, da inveja dos amantes e da solidão da espécie. Sinceramente, hoje, a invejo, pois a raça dela encontrou uma saída. Junta. Eles entenderam algo que, às vezes duvido, jamais sejamos capazes de compreender. Uma coisa clara. Essa Terra é apenas o ponto de partida.

Escrevo cartas, você descreve a alma humana. Um prodígio incomparável entre seus iguais. Da minha parte, faço o que posso e continuo escrevendo minhas cartas e, aqui e acolá, coloco um pouco dessas ideias. Transmito o que aprendi com ela para tantos apaixonados, desesperados, inspirados e debilitados que me procuram. Se eu sobrevivi, e aprendi tanto, com essa maravilhosa história de amor e humanidade, eles também podem sentir o mesmo que senti. Descobri que os limites estão errados e precisamos corrigir esse erro. Por nós mesmos.

E, para quem sabe um dia, cobrar uma antiga promessa. Por amor. Por Ela.

Obrigado por transformar minha vida, por me fazer amar, por ser esse criador iluminado, criativo, brilhante e apaixonante que sempre foi.

Com carinho,
Theodore

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

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“Trapaça”: O conto do vigário

O U2 cantou sobre as “mãos que construíram a América”, na trilha sonora de “Gangues de Nova York”, um filme focado em criminosos e picaretas de outrora, mas igualou a contribuição dos criminosos à dos trabalhadores honestos na história do país.

A nação pode ter evoluído, mas nunca eliminou o desespero. E, onde há desespero, há alguém para tirar proveito da situação. No badalado “Trapaça” (American Hustle), somos apresentados à versão anos 1970 das falcatruas sob o comando de David O. Russell e um elenco estelar com Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence e participação fantástica de Robert De Niro.

“Trapaça” é um filme peculiar. Como tantos outros, mergulha na década de 70 para falar do crime, para retratar uma época marcada por corrupção e violência, assim como brilho e sonhos. E o que encontra é uma mescla de medo, insegurança, desejo de ficar milionário e traição, muita traição.

O título e a trama já dão a entender: alguém vai levar um golpe, muita gente vai ser enganada. Daí surgem as dinâmicas entre personagens e o arco dramático relativamente direto e bem executado pelo diretor David O. Russell (“O Lutador” e “O Lado Bom da Vida”). Nada muito novo ou inédito. A época já foi retratada ao extremo, e com competência, por Scorsese e em filmes mais recentes como “Gangster Americano”, por exemplo. Então, de onde surge toda a adoração ao filme? Elenco!

David O. Russell com Bradley Cooper e Amy Adams no set

David O. Russell com Bradley Cooper e Amy Adams no set

Trapaça

Russell escolhe bem suas histórias. “O Lutador” é fantástico tanto em roteiro quanto em elenco; o mesmo vale para “O Lado Bom da Vida”, logo, ele misturou o time dos dois filmes e criou um monstro em “Trapaça”. Especialmente por isso, é possível entender as motivações de diversos tipos de figuras da época.

O enganador dividido entre amor e o dinheiro (Christian Bale), o policial pobre que vive num mundo idílico onde é famoso e querido (Bradley Cooper), a esposa abandonada disposta a tudo por afeto (Jennifer Lawrence), o político navegando pelo sistema corrupto (Jeremy Renner), a beldade disposta a nunca mais sofrer, custe o que custar (Amy Adams) e o promotor público louco para ser promovido (Alessandro Nivola). Inicialmente arquétipos, mas dotados de camadas e personalidade tão grandes que se tornam fantásticos.

O roteiro não tem medo de partir do estereótipo e, então, ir revelando camada atrás de camada, transformando todos em personagens disfuncionais e cujos objetivos serão modificadas ao longo da trama, conseguindo cumprir a grande busca de qualquer roteirista: simular algo capaz de envolver o espectador.

A vida é assim, longe da discussão preto/branco/cinza, algo em constante desenvolvimento, cheia de razões pouco óbvias e que só o próprio indivíduo compreende. Assim são os personagens de “Trapaça”, guerreiros em causa própria obrigados a envolver interesses alheios no grande esquema.

Trapaça

Um dos pontos mais interessantes é o personagem de Jeremy Renner, o prefeito Carmine Polito. Ele é a maior dúvida da trama. Corrupto? Idealista? A definição não importa, mas suas ações afetam absurdamente o grande manipulador da história vivido por Christian Bale (gordo, careca e conquistador). As roupas extravagantes podem ter saído de moda desde os anos 70; a descoberta da amizade e da confiança, não.

O roteiro não tem medo de partir do estereótipo e ir revelando camadas, transformando todos em personagens disfuncionais

Essa relação acaba sobressaindo na trama, pois graças à atuação dos dois atores, algo especial acontece ali e entendemos o lado pessoal, e real, de ambos os personagens em meio à armação do título. Polito surge como algo novo no gênero, ao misturar as funções políticas com uma postura pessoal pouco vista nesse tipo de personagem, coroada em mais um belo trabalho de Renner. O embate final entre Bale e Renner é desmoralizador.

Em seu discurso no Globo de Ouro, Amy Adams agradeceu David O. Russell por criar “grandes personagens femininas” e ninguém pode tirar isso dele. Mulheres relevantes, marcantes e inesquecíveis. Ela mesma pode criar uma mescla de sensualidade e inteligência bastante efetiva em “Trapaça”, mas o momento mais marcante ficou para a despirocada Jennifer Lawrence cantando “Live and Let Die” numa cena claramente inspirada no batizado de “O Poderoso Chefão”. É um choque de estilos e forças diferentes, numa época no qual o descaso, e destrato, com as mulheres ainda era aceito como parte do jogo.

Trapaça

A Ilusão Americana

“Trapaça” tem uma constante: todos os personagens são sonhadores, ambiciosos. O sonho americano estava em xeque (a maioria das capitais enfrentava sérios problemas de pobreza e depreciação imobiliária) e ficar parado significava problemas financeiros.

David O. Russel cria mulheres relevantes, marcantes e inesquecíveis

Recorrer ao crime era uma das opções, a que vemos nesse filme é a enganação. Gente desesperada disposta a colocar dinheiro em negócios duvidosos, sob a promessa de grande retorno.

Uma temática bem semelhante ao início da vida de Jordan Belfort, em “O Lobo de Wall Street” – que acontece anos depois, logo, uma reação típica de quando a água chega no pescoço. Ou seja, todos vivendo na ilusão do sonho que, pode, quem sabe, eventualmente, se tornar realidade.

E a única certeza é a do pesadelo.

Crescer no Brasil significa ouvir máximas como “todo político é corrupto”, “o jeitinho brasileiro”, “político que rouba, mas faz”, “só ladrão se dá bem” e por aí vai. Tudo isso faz parte desse universo setentista de “Trapaça”, um mundo carente por estrutura, com pouco dinheiro, cheio de pessoas dispostas ultrapassar barreiras para se dar bem.

“Trapaça” tem uma constante: todos os personagens são sonhadores, ambiciosos

Claro, trata-se de uma ficção, mas ignorar os paralelos claros é tolice. E é necessário entender o arco dramático e histórico que o país conseguiu criar nas últimas 4 décadas. Difícil não pensar que o poderio norte-americano de hoje, foi construído sobre os sonhos destruídos de milhares de personagens de histórias tão similares a essa. O sonho acabou faz tempo e a maioria se recusa a acreditar.

“Trapaça” chega com força ao Oscar, grande elenco e toda essa carga social. Pode levar o prêmio principal, mas precisa derrotar “Gravidade”, de Alfonso Cuarón.

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2013 : The Year in Pictures by NYT

Comme le récapitulatif Reuters Photos of the Year 2013, le New York Times a mis en place leur « review complète » de l’année 2013 en images. Un récapitulatif des 12 derniers mois racontés à travers les clichés des photographes et journalistes aux quatres coins du monde. Tous les détails dans la suite de l’article.

CHICAGO 01/23/2013 Firefighters extinguished a five-alarm warehouse fire in single-digit temperatures. The water sprayed from their hoses froze quickly, leaving the area glazed with ice.

DAMASCUS, SYRIA 01/27/2013 A building burned in the Ain Tarma neighborhood after a Syrian Air Force strike.Goran Tomasevic/Reuters

PORT SAID, EGYPT 01/28/2013 Egyptians mourned the death of Mohammed Yousra, 27, who was one of seven antigovernment protesters killed in clashes with the police.Tara Todras-Whitehill for The New York Times

SAIDNAYEL, LEBANON 01/19/2013 Raeda, 15, and her baby brother are among 11 relatives sharing a tent here, after an explosion near their home in Aleppo, Syria, partly blinded her.Lynsey Addario for The New York Times

TEHRAN 01/20/2013 Iranians at the public execution of two men, whose stabbing of a man, caught on a video camera and posted online, caused an uproar.Ebrahim Noroozi /Fars, via Associated Press

ALLAHABAD, INDIA 02/10/2013 A man cradled his wife, who was killed in a stampede at a train station at the height of the Kumbh Mela, a Hindu religious festival.Kevin Frayer/Associated Press

GRANJENO, TEX. 02/13/2013 United States Border Patrol agents detained migrants from Guatemala.Kirsten Luce for The New York Times

BROOKLYN 03/03/2013 The Orthodox Jewish community gathered for the funeral of Nathan and Raizy Glauber. The newlywed couple were expecting a baby when they were killed in a hit-and-run accident.Robert Stolarik for The New York Times

PARWAN PROVINCE, AFGHANISTAN 04/11/2013 A girl read in front of her class at Mir Ali Ahmad Girls School.Sergey Ponomarev for The New York Times

AZAZ, SYRIA 02/11/2013 A refugee at the Bab al-Salam camp on the northern border. Despite claims that millions of dollars in humanitarian aid was sent to Syria, there was little sign of relief at the camp.

DAMASCUS, SYRIA 03/28/2013 Syrian soldiers and investigators surveyed the area where a mortar shell exploded in a cafe at Damascus University. Andrea Bruce for The New York Times

NEAR MAGADI, KENYA 03/04/2013 Masai voters waited to cast their ballots in a crucial, anxiously awaited presidential and parliamentary election. Goran Tomasevic/Reuters

LOS ANGELES 04/11/2013 Guy-Manuel de Homem-Christo, left, and Thomas Bangalter of the French duo Daft Punk watched Coan Buddy Nichols skateboarding. Chad Batka for The New York Times

BOSTON 04/15/2013 Police officers scrambled after the second explosion near the finish line of the Boston Marathon. John Tlumacki/The Boston Globe, via Associated Press

PAKTIA PROVINCE, AFGHANISTAN 04/15/2013 The Third Brigade Combat Team of the 101st Airborne Division, known as the Rakkasans, climbed down from the mountains. Sergey Ponomarev for The New York Times

KABUL, AFGHANISTAN 04/22/2013 Traders exchanged currency at the money market. Sergey Ponomarev for The New York Times

SAVAR, BANGLADESH 04/24/2013 A Bangladeshi woman, who survived the collapse, was rescued. Kevin Frayer/Associated Press

DOVER, DEL. 04/27/2013 Staff Sgt. Miguel Deynes prepared a final uniform for Capt. Aaron R. Blanchard, at the Dover Air Force Base mortuary. Captain Blanchard and his Apache co-pilot, First Lt. Robert J. Hess, were killed in Afghanistan on April 23. Ashley Gilbertson/VII for The New York Times

BOSTON 05/08/2013 Jeff Bauman, 27, rested during occupational therapy, almost a month after he lost his lower legs in the Boston Marathon bombings. Josh Haner/The New York Times

MADRID 05/12/2013 Serena Williams served to her opponent, Maria Sharapova, in the women’s singles final at the Madrid Open. Williams won and retained the world No. 1 ranking. Susana Vera/Reuters

WASHINGTON, D.C. 05/16/2013 President Obama and a helpful Marine at a news conference in the Rose Garden. Doug Mills/The New York Times

MOORE, OKLA. 05/21/2013 Dead horses were piled near an intersection after a tornado plowed through the area. Kirsten Luce for The New York Times

MOORE, OKLA. 05/22/2013 James Akin, 12, outside his home after the devastating tornado. Christopher Gregory/The New York Times

ISTANBUL 06/01/2013 Demonstrators against the Turkish government’s plans to develop Gezi Park clashed with the police near the prime minister’s office. Daniel Etter/Redux

ISTANBUL 06/11/2013 Demonstrators took cover behind a barricade during clashes with riot police officers at Taksim Square. Angelos Tzortzinis/Agence France-Presse — Getty Images

MANHATTAN 07/15/2013 Having braved the long lines, visitors experienced Random International’s “Rain Room” at the Museum of Modern Art. Karsten Moran for The New York Times

NEAR GOGLAND ISLAND, RUSSIA 07/15/2013 President Vladimir V. Putin of Russia rode in the Sea Explorer 5 underwater research vessel to view the remains of a warship that sank in 1869 in the Baltic Sea. Alexei Nikolsky/RIA Novosti Kremlin Press Service, via Associated Press

CAIRO 07/15/2013 Protesters threw stones at supporters of the ousted Egyptian president Mohamed Morsi near Ramses bridge. Narciso Contreras for The New York Times

LONDON 07/23/2013 Prince William and Catherine, Duchess of Cambridge, emerged from St. Mary’s Hospital with their infant son. Jocelyn Bain Hogg/VII

ALLAHABAD, INDIA 08/06/2013 After a monsoon, a boy dangled from a power line before diving into an overflowing Ganges River. Sanjay Kanojia/Agence France-Presse — Getty Images

PRETORIA, SOUTH AFRICA 08/19/2013 The double-amputee track star Oscar Pistorius was indicted in South Africa in the killing of his girlfriend, Reeva Steenkamp. European Pressphoto Agency

FORT MEADE, MD. 08/20/2013 Army Pfc. Bradley Manning headed to a hearing in the WikiLeaks case. He later was sentenced to 35 years in prison for espionage and changed his name to Chelsea. Patrick Semansky/Associated Press

GROVELAND, CALIF. 08/25/2013 Corey Adams of California’s Department of Fish and Wildlife watched the Rim Fire as it burned outside Yosemite National Park. Noah Berger/European Pressphoto Agency

LONG BEACH, N.Y. 08/25/2013 Children played on the beach as the first summer vacation season after Hurricane Sandy was coming to an end. Karsten Moran for The New York Times

WASHINGTON 08/28/2013 President Obama greeted Yolanda Renee King, the only grandchild of the Rev. Dr. Martin Luther King Jr., after a ceremony commemorating the 50th anniversary of King’s “I Have a Dream” speech at the Lincoln Memorial. Doug Mills/The New York Times

ALEPPO, SYRIA 09/07/2013 Issa, 10, carried a mortar shell in a weapons factory of the Free Syrian Army. He works 60 hours a week with his father at the factory. Hamid Khatib/Reuters

NEAR GIGLIO ISLAND, ITALY 09/17/2013 The wreckage of the Costa Concordia cruise liner was raised off the coast of the Tuscan island of Giglio, almost two years after it sank and killed 32 people. Andrea Sinibaldi/Lapresse, via Associated Press

IDLIB PROVINCE, SYRIA 09/17/2013 A Syrian rebel fighter rested in a cave. Russia claimed that it had new information tying rebel forces to nerve gas attacks on the capital. Narciso Contreras/Associated Press

NAIROBI, KENYA 09/21/2013 Plainclothes officers searched the Westgate mall for gunmen. Tyler Hicks/The New York Times

THE BRONX 09/26/2013 Mariano Rivera, the New York Yankees closer who had pitched on five of their World Series-winning teams, played his last game at Yankee Stadium. Barton Silverman/The New York Times

NEAR SIRACUSA, ITALY 10/02/2013 Syrian refugees aboard an Italian Coast Guard vessel after they were found floating adrift off the coast of Italy. Bryan Denton for The New York Times

LAKE KIVU, CONGO 10/05/2013 Aaron Kubuta, a military chaplain, prayed following a baptism ceremony for members of the Army of the Democratic Republic of Congo. Pete Muller for The New York Times

LONDON 10/20/2013 Malala Yousafzai, 16, the Pakistani girl who was shot in the head by Taliban fighters, signed a copy of her memoir, “I Am Malala,” before an event at the Southbank Center. Olivia Harris/Reuters

BROOKLYN 10/30/2013 In Julie Taymor’s new production of “A Midsummer Night’s Dream” at the Polonsky Shakespeare Center in Brooklyn, Kathryn Hunter, as Puck, arrived from above the stage.

BROOKLYN 11/06/2013 Justin Timberlake performed at the Barclays Center. Chang W. Lee/The New York Times

ADELANTO, CALIF. 11/15/2013 Immigrant detainees exercised at the Adelanto Detention Facility, which houses an average of 1,100 immigrants, who are in custody pending a decision in their cases or are awaiting deportation. John Moore/Getty Images

SAMAR ISLAND, THE PHILIPPINES 11/18/2013 A boy swung in front of Saint Michael the Archangel Church in Basey. Sergey Ponomarev for The New York Times

KIEV, UKRAINE 12/03/2013 A man looked out at a street teeming with protesters demonstrating against the government near the Parliament building. Sergey Ponomarev for The New York Times

BROOKLYN 12/05/2013 The 2013 graduating class of New York City firefighters, the most diverse in the city’s history, at the Christian Cultural Center. Todd Heisler/The New York Times

EASTERN CAPE PROVINCE, SOUTH AFRICA 12/15/2013 Mnikelo Ndagankulu, draped in a South African flag, sat on a hill overlooking Nelson Mandela’s ancestral home and burial ground, Qunu. Daniel Berehulak for The New York Times

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“A Vida Secreta de Walter Mitty” pergunta: quem, de fato, você pode ser?

CIDADE DO MÉXICO – O avião cruzava os céus mexicanos em meio a um dos espetáculos mais assustadores, e belos, da minha vida: uma tempestade elétrica que ocupava todo o lado esquerdo da roda. Os raios avermelhados desenhavam padrões malucos acima das nuvens, tive medo e, falando de forma mais romântica, inveja. Um relâmpago não tem consciência, claro, mas foi impossível não pensar que, pelo curto tempo de existência, ele fazia o que bem entendia e cumpria uma função. Era, logo existia. E então a escuridão retornava.

A cada intervalo, minha mente voltava à sala de exibição da Fox, durante ao “A Vida Secreta de Walter Mitty” (The Secret Life of Walter Mitty). E a luz havia acabado. Novamente. Lá estava Ben Stiller descobrindo que seu emprego estava na berlinda e sem saber para onde canalizar sua energia. Energia era a palavra. Energia, algo que todos temos e precisamos gastar, de preferência sabiamente, antes que ela termine.

Walter Mitty teve essa chance. Mas, antes, precisava descobrir quem ele era. Ou melhor, em quem ele havia se tornado. Esse é um dos desafios do roteiro de Steve Conrad (“À Procura da Felicidade”), baseado num conto clássico de James Thurber. E quem é Walter Mitty? “Ele não é um fracassado, solitário ou um esquisitão”, explica o diretor e astro Ben Stiller, em entrevista exclusiva ao B9, na Cidade do México.

“Ele só é um cara que nunca conseguiu colocar em prática tudo aquilo que queria ser e fazer”.

Ben Stiller comanda as filmagens em Nova York

Ben Stiller comanda as filmagens em Nova York

Walter Mitty

“A Vida Secreta de Walter Mitty” parece sintetizar as próprias escolhas da carreira de Stiller, que celebra em 2014 os 20 anos de sua primeira direção (“Reality Bites”): personagens sempre à espera de uma transformação, prontos para explodir, recomeçar ou se reinventar.

“Parte do meu trabalho é permitir que esse tipo de personagem seja notado e fazer com que as pessoas notem haver algo mais ali. Cada um tem uma história e ela acontece quer a gente queira ou não; sempre estamos pensando em algo, sempre há um objetivo e ele é importante para aquela pessoa, a gente só não sabe. Na maioria das vezes, preciso fazer o suficiente para não estragar tudo nas filmagens (risos) e continuar fazendo o que amo”.

“Não estragar tudo” significa dirigir e atuar bem, num filme cuja mensagem é universal: viver a vida. Com mais de 116 filmes no currículo, Stiller conhece tanto suas limitações quanto vantagens e as usa de acordo. “Não vejo muita ligação entre um personagem e outro, pois sempre encaro cada projeto como novo. É bobo, mas funciona assim comigo. Uma das coisas mais importantes, a meu ver, é dar dignidade aos personagens, honrar o que está no roteiro e o que Steve (Conrad) quis transmitir ali”, explica o diretor, partidário do “menos pode ser mais”.

Há melancolia, há sofrimento, mas sempre há esperança nesse roteiro em constante movimento, beneficiado por um diretor numa jornada própria

Walter Mitty é o condutor ideal para expor a visão do diretor e a devoção do ator. Muita gente acaba perdendo essa perspectiva, mas trabalhar com cinema, na maioria dos casos, é uma relação profissional. Você vai ao set todos os dias, cumpre sua função, leva trabalho para casa em alguns dias, e repete o processo até o fim do ciclo. Recebe o pagamento. E procura o próximo trabalho.

A vida de Mitty é assim, a de Stiller também. “É sempre engraçado ver minha filha cheia de perguntas quando estou editando em casa”, conta entre uma risada e outra (quando provocado, pois, normalmente, ele é mais recatado e sério do que se imagina).

Walter Mitty

“Papai, por que você passa o dia assistindo televisão?”.

Claro, ele é um dos astros mais bem pagos de Hollywood, pode produzir seus próprios projetos, mas inegavelmente, tem mostrado amadurecimento visível. É só ver o trabalho em “Greenberg” e comparar com “Mitty”. É o bom resultado da mistura: mente criativa, sucesso comercial e um cineasta com algo a dizer. E muito bom gosto visual, afinal, um dos elementos mais poderosos desse novo filme é o uso criativo das locações exóticas, assim como as mais simplórias, a favor da construção desse herói cotidiano.

“A Vida Secreta de Walter Mitty” tem um valor especial para quem trabalha com mídias, pois aborda diretamente a transição dos veículos impressos para o ambiente online

São tantos cartões postais seguidos que poderia parecer difícil lembrar de todos, mas é aí que entra a carga dramática e eles ficam marcados na sua mente, não importa se é a estrada solitária na Islândia ou a fonte na frente do escritório. Assim como os personagens tidos como corriqueiros, as locações têm suas próprias histórias e, aos poucos, vão sendo reveladas.

Para Stiller, “é necessário se lembrar constantemente de que somos formados por essas experiências, pelos passos que escolhemos, pelas decisões às quais, em muitas vezes, somos forçados a tomar; é tão fácil perder a noção quando se está gravando num lugar tão lindo, voando e fazendo coisas tão legais. Pode ser a idade falando, mas a vida passa e percebo que vamos perdendo aqueles que amamos e apenas a realidade é uma constante. O momento é tudo que temos. Lidar com isso é tão difícil quanto importante”. Bater um papo sincero e, até certo ponto, pessoal com um sujeito cuja imagem está, normalmente, ligada ao humor é interessante e mostra muito do profissional por trás das telas. Tão sério quanto tiete.

Ben Stiller e Adam Scott no set

Ben Stiller e Adam Scott no set

“Eu parecia uma criança quando Sean Penn estava trabalhando. Ele é meu ator favorito, e poder ver o cara atuar, ali, pertinho, me intrometer e capturar o resultado do trabalho dele em filme foi algo muito legal para mim”, confessa Stiller, com um sorrisão aberto.

O trailer vende bem a ideia, mas é apenas uma camada superficial desse filme intenso e, possivelmente, transformador

“É preciso ter equilíbrio, sabe. Só fui perceber isso quando formei minha família. Antes, era só trabalho, trabalho e mais trabalho. Quando as fraldas chegaram, senti a necessidade de passar mais tempo com eles e escolher bem quais histórias queria contar como cineasta. Minha família entende e apoia o que eu faço, mas graças a eles percebi que precisava aproveitar mais essas experiências às quais sou exposto e faço parte. Nunca estou totalmente feliz se não estou com eles, assim como não fico satisfeito quando não estou envolvido criativamente no processo, e dou mais vazão à criatividade quando estou com eles, logo, é um ciclo que beneficia a todos”.

“A Vida Secreta de Walter Mitty” tem um valor especial para quem trabalha com mídias, pois aborda diretamente a transição dos veículos impressos para o ambiente online (e as pequenas tragédias que acompanharam, e acompanham, o processo). Steve Conrad escolheu contar a história fictícia da última edição da revista Life e tudo acontece pelo prisma de Walter Mitty, o responsável pelo controle dos cromos e negativos. O cargo em si já soa arcaico, não? Entretanto, por se tratar da Life, o cara é fundamental! Afinal, sem fotos, a revista não existe.

Walter Mitty

O chamado motivador não faz do longa uma obra de auto-ajuda. É uma provocação declarada

Cercado por momentos da vida alheia, Mitty faz pouco por si mesmo e apela para a fantasia para espancar o chefe imbecil, conquistar a mulher dos seus sonhos e resolver os problemas mais corriqueiros. Para quem gosta, o humor de Stiller funciona perfeitamente e os personagens são construídos tanto no mundo real quanto no fantástico. O trailer vende bem essa ideia, mas é apenas uma camada superficial desse filme intenso e, possivelmente, transformador. Trata-se de um chamado à ação, um grito contra a procrastinação e as inúmeras vidas acomodadas por aí.

Walter Mitty

Interessante notar que a motivação de Mitty é profissional (ele precisa encontrar uma foto perdida), mas seus companheiros de aventura são distantes e fisicamente ausentes; pessoas com as quais ele se relaciona em seu mundo particular e com quem ele quase nunca teve contato (a paixão vivida por Kristen Wiig, o consultor de perfil do site de namoro criado com primazia por Patton Oswalt e o fotografo premiado vivido por Sean Penn). O filme tem um pouco de road movie, mas é, no fundo, uma grande caça ao tesouro e, quando se abre o baú, ele está repleto de surpresas e mensagens necessárias aos olhos de um Mitty transformado por sua própria realidade.

Há melancolia, há sofrimento, mas sempre há esperança nesse roteiro em constante movimento, beneficiado por um diretor numa jornada própria. Ele não é de todo deslumbrante, porém. Muito por conta do excesso de introspecção e longas sequências em meio à natureza, focadas unicamente na figura de Mitty.

“Pude fazer tudo que quis, e isso é fantástico. Poucos atores tem essa oportunidade. Mas em alguns momentos, pode ser frustrante não ter um diretor vendo outras coisas ou cobrando de maneira mais direta. É impossível estar nos dois lugares ao mesmo tempo, então eu seguia minha visão da cena e mandava ver. Mas me perguntava: será que estou fazendo o melhor? Estou me cobrando o suficiente? Eu sabia a resposta, mas não significa que a pergunta desaparecia!”, comenta Stiller.

Uma pergunta que não vai embora ao se assistir “A Vida Secreta de Walter Mitty” é: você sabe quem você pode, de fato, ser? Isso não faz do longa uma obra de auto-ajuda, longe disso. É uma provocação declarada. Assim como Stiller, que poderia ter se contentado ao repetir as mesmas comédias, e optou por contar outras histórias que respondessem a seus ímpetos criativos, Mitty partiu numa aventura extremamente real.

Uma pergunta que não vai embora ao se assistir “A Vida Secreta de Walter Mitty”: você sabe quem você pode, de fato, ser?

Ambos têm energia de sobra e, provocados da maneira certa, entregam resultados impressionantes. O personagem se desenvolve, se modifica, sem precisar jogar tudo para o ar. Apenas encontra um novo modo de ver as coisas. O filme é sincero, grandioso e tem peso suficiente para fazer uma coisa por você: se essa for a sua hora, ele vai te transformar.

E revelo a minha transformação: voltei a ter fé nas grandes histórias cheias de coração e relevância. Muita gente tem se surpreendido, por subestimar Ben Stiller como diretor justamente em seu melhor trabalho até agora, e por se achar acima de uma história motivadora. Motivação é tudo que sempre precisamos. Nunca devemos estar acima disso, devemos buscá-la onde quer que ela esteja. Que seja um raio distante, o refrão de uma música, a cena de um filme ou o sorriso de uma criança. É só olhar para o lugar certo. Para Mitty era num que ele conhecia através de fotos. Onde estará a sua?

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Fábio M. Barreto é jornalista, chorou com o final desse filme, quer passar um mês na Islândia tirando fotos e é autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo”.

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“O Jogo do Exterminador”: A resistência masculina

Enquanto os grandes estúdios brigam pelo blockbuster multimilionário do ano, um novo mercado se formou em torno de companhias menores numa constante busca pela próxima cinessérie de sucesso. Tudo por conta do sucesso recente da Summit Entertainment (que já está no mercado desde os anos 1990 e que tem o oscarizado “Guerra ao Terror” no currículo), com seus filmes altamente rentáveis e de custo modesto (“Em Chamas” custou cerca de US$ 78 milhões), que evitou os tropeços da New Line (que fez “O Senhor dos Anéis”, mas, mesmo assim, faliu poucos anos depois) e se estabeleceu como a casa das adaptações para o público adolescente.

Se a empresa fez o dever de casa no aspecto financeiro, também tem feito no aspecto criativo. O conceito é que a cada megahit, você financie outros 5 filmes menores e, quem sabe, não acerte na loteria novamente. O resultado tem sido fantástico e permitiu que um dos marcos da ficção científica norte-americana chegasse às telas.

É importante contextualizar, pois tudo joga contra “O Jogo do Exterminador”: material antigo, penetração razoável no exterior e, o mais importante mercadologicamente, distanciamento com a garotada que consome cinema e literatura hoje em dia. Mas a surpresa está justamente nessas “diferenças”, pois, essencialmente, Orson Scott Card definiu muitas das regras seguidas pelos heróis e heroínas da atualidade. Ender Wiggin é um jovem inovador, capaz de ultrapassar limites para atingir seu objetivo e com a chance de não salvar apenas um mundo, mas a raça humana!

O diretor Gavin Hood e Harrison Ford no set

O diretor Gavin Hood e Harrison Ford no set

O diferencial de “O Jogo do Exterminador” está na natureza militar da história

A mensagem é grandiosa, inspiradora, imutável e assustadora: lute, conquiste seu lugar e transforme o mundo à sua volta. De certo modo, não é essa definição do ser humano? A busca pela evolução e pela realização. O diferencial de “O Jogo do Exterminador” está na natureza militar da história. Harry Potter foi para a escola de bruxaria, Ender Wiggin foi para a Escola de Combate e aprendeu a ser um general.

Ender's Book

Não há muito espaço para o deslumbre ou elementos lúdicos nessa história, afinal, vida e morte são conceitos sempre presentes. Ender entende isso e, mesmo em suas ações corriqueiras ou no lido com os valentões da escola, ele é efetivo e brutal. O exemplo clássico do arco do herói que precisa encontrar o equilíbrio entre a emoção extrema da irmã e a violência desregrada do irmão – ambos rejeitados pela Academia.

A atualização visual fez bem a “O Jogo do Exterminador”, pois pode aproximar conceitos como a Sala de Batalha e as próprias simulações de combate comandadas por Ender da linguagem dos videogames. Alias, fosse mais famoso (quem sabe com o filme), ele seria um dos grandes heróis dos jogadores modernos. Ele é Neo, ele é Luke, ele é Potter, ele é Katniss e a lista continua, mas ele é o único capaz de acabar com uma guerra.

Esse conceito é bem interessante, e atual (se contraposto à guerra ao Terror de George W. Bush), além de permitir a Ender fazer uma crítica brutal ao militarismo do qual é tão dependente. Ele é o comandante capaz de encerrar o conflito entre humanos e insetos de maneira definitiva – e terrível. Ao mesmo tempo, ele também pode fazer isso de modo pacífico, não fosse a manipulação à qual é submetido.

Ender's Game

Você luta por acreditar realmente ou simplesmente pela imposição ou histórias que ouviu? Há um grande debate sobre a relação com nossos oponentes e Card é brilhante nesse aspecto: “no momento em que entendo meu inimigo, passo a amá-lo como ele se ama; quando o amo, posso destruí-lo completamente” (tradução livre).

Crescer rápido é necessário ou o destino é morrer como vítima dos mais espertos.

E o filme reconhece essa qualidade e lhe dá foco em mais um grande trabalho de Asa Butterfield (“A Invenção de Hugo Cabret”), que faz frente a um Harrison Ford energizado e de volta à boa forma, e Sir Ben Kingsley em versão guerreiro Maori. Harrison Ford vem retomando uma sequência de ótimas atuações (assim como em “42”) e se torna indispensável a essa adaptação.

A obra original já trabalhava a questão da juventude mais curta e vemos nisso na responsabilidade e nos ensinamentos recebidos pelos jovens recrutas. A preparação é brutal, assim como a dura realidade da vida adulta. Crescer rápido é necessário ou o destino é morrer como vítima dos mais espertos. “Nunca me senti como uma criança. Sempre fui uma pessoa – a mesma pessoa que sou hoje”.

Ender's Game

Os conceitos relevantes estão por todos os lados e, felizmente, são utilizáveis na vida moderna. A relação com os jogos, conflitos, preparação acadêmica, vida social, respeito racial, fé, trabalho… destino. Essa é a principal razão pela qual “O Jogo do Exterminador” nunca perdeu força ao longo de três décadas e pela qual ele pode não ser um sucesso estrondoso de bilheterias, mas vai continuar transformando mentes e estimulando o debate.

“O Jogo do Exterminador” é um festival de acertos num filme efetivo e, mesmo que distante de se transformar em um hit, marca o gênero

Esse tipo de discussão é necessária perante o aumento da individualidade, o declínio na habilidade de interação interpessoal promovido pela internet e a quantidade de aprendizado não supervisionado. “Jogos Vorazes” faz um pouco disso ao promover o debate, mas sobre uma revolução pouco prática; Harry Potter estimula a amizade; “O Jogo do Exterminador” mistura tudo isso com ação, belos efeitos e um desfecho ainda surpreendente.

Saí do cinema IMAX maravilhado com o trabalho de Gavin Hood e a esperança renovada na boa ficção científica, num ano que já nos presenteou com “Gravity” e “Her”. Destaco a atuação certeira de Hailee Stienfeld, a força feminina do elenco, que também conta com um pequeno papel para Abigail Breslin.

“O Jogo do Exterminador” é um festival de acertos num filme efetivo e, mesmo que distante de se transformar em um hit, marca o gênero. A batalha ainda não terminou, mas desde quando precisamos contar ao inimigo que ele ganhou? Assista! E mostre a seus filhos e sobrinhos!

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Fábio M. Barreto é autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo” e voltou a ser uma criança sonhadora quando viu “O Jogo do Exterminador”

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B9 Review: Os 9 Braincasts mais ouvidos de 2012

Foram 45 programas durante o ano, entre diversos temas relacionados a criatividade, tecnologia e internet, com muitos convidados. O Braincast retornou em formato áudio em 2012, e aqui estão os 9 episódios mais ouvidos.

Obrigado pela audiência e participação. Em 2013 tem mais.

1. CiberAtivismo: Manifestações na Rua ou no conforto do Sofá?

1

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2. Do Second Life ao Pinterest: As marcas precisam estar em tudo?

2

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3. Criatividade & Tecnologia: Convergência para novas possibilidades

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4. Como surgem os Genios: Genética ou Trabalho Duro?

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5. Não alimente os trolls: Como lidar com idiotas na internet

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6. A história do MP3 e o futuro da música digital

6

>> Ouça o programa

7. Os Maiores Absurdos dos Currículos Profissionais

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8. Saí de Agência: E agora?!

8

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9. Como surgem os insights?

9

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B9 Review: Os 9 posts mais acessados de 2012

O mundo não acabou, mas o ano já era. E aqui estão os posts mais lidos do B9 em 2012, o décimo ano desse blog no ar.

Muito obrigado a toda equipe e leitores por mais esse excelente ciclo ao nosso lado. Até 2013.

1. A verdade por trás das fotos apetitosas dos sanduíches do McDonald’s

1

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2. IADA: A timeline do Facebook mais criativa até agora

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3. Nike: Manifesto do Corinthians para a maior torcida do Brasil

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4. Como enganar um shopping inteiro e fazer todo mundo pensar que você é famoso

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5. Africa transforma seleção de estágio em circo

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6. Sony tira sarro de quem tem camera DSLR mas não faz a menor ideia de como usar

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7. “Perdi meu amor na balada” é campanha viral da Nokia

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8. “O rosto mais bonito do mundo” escaparia do Photoshop?

8

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9. E você achando que é bom no Photoshop, certo?

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Aplicativos para chamar táxi: sim, funcionam

Uma rápida pesquisa pelo Brainstorm9 vai mostrar que nós adoramos apps. Jogos e compartilhadores de fotografia são bastante divertidos, é verdade, mas eu confesso que gosto mesmo quando um aplicativo verdadeiramente quebra um galho e facilita tarefas cotidianas.

E uma das minhas novas tarefas cotidianas (não todos os dias, é verdade) é pegar táxi. Às vezes em horários alternativos, às vezes em horários de pico e de diferentes locais de saída, sendo eles perto de pontos fixos de taxistas ou não. Este transporte, apesar de mais caro, tem o seu valor ao evitar trocas de trens ou ônibus em deslocamentos específicos. Entretanto, em certos momentos do dia, achar um táxi na rua é difícil. É verdade que existem centrais telefônicas, que funcionam como “delivery”, mas elas já me deixaram esperando 2 horas por uma corrida. Poxa, será que não existiria um aplicativo que unificasse todas as centrais para que eu não tenha que ligar para cada uma delas?

Nas últimas semanas, testei dois aplicativos que prometem facilitar a vida das pessoas: o TaxiBeat e o 99Taxis. O primeiro foi criado na Europa, chegou ao Brasil neste ano e, segundo relatos, já funciona fortemente no Rio de Janeiro. O segundo é brasileiro e foi recomendado por alguns taxistas. Também existem outros apps semelhantes, sendo que o EasyTaxi foi mais citado pelos taxistas como alternativa aos testados. E o resumo que posso dizer é que sim, eles funcionam.

Sim, eles funcionam.

Ambos identificam taxistas, que permanecem com um app aberto em seus smartphones também, por GPS em um raio de 2km e fazem o chamado da corrida, informando ao motorista o endereço para o início da corrida.

O TaxiBeat tem como vantagem a possibilidade de poder escolher exatamente qual é o motorista que você quer chamar, de acordo com os serviços oferecidos (aceitar cartão, ter ar-condicionado, ser grande o suficiente para uma família com bagagens, etc) ou pela avaliação de outros usuários, caso eles estejam em um raio de 2km do seu ponto de embarque.

Já o 99Taxis parece ter o maior banco de dados já cadastrado: cerca de 1000 taxistas só em São Paulo, segundo informaram os próprios motoristas com quem conversei. Foi o único aplicativo que providenciou corridas em horários de pico de trânsito ou durante a madrugada. Também foi o único que foi indicado por um taxista. Entretanto, nenhuma chamada por taxistas que aceitassem cartões mostrou alguém disponível.

Bom negócio para os dois lados

Tais aplicativos parecem ser um bom negócio para os dois lados. Os motoristas com quem conversei estavam testando os apps, em alguns casos, havia poucos dias e já viam vantagens como ganhar outra corrida na volta de uma ou conseguir corridas mais facilmente em horários alternativos, diminuindo o tempo em trânsito com o carro vazio.

Se você quiser conhecer mais a respeito, veja os sites do TaxiBeat, do 99Taxis e do EasyTaxi. Todos os apps funcionam em Androids e iPhones e não há custo extra para o passageiro.

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