A internet transformou todo mundo em detetive?

Você já deve ter lido ou visto muitos filmes sobre detetives e investigações criminais, e aposto que já pensou em ser, pelo menos por um dia, um Sherlock Holmes, Tintim ou agente do CSI. Acontece que, ultimamente, a imaginação vem tomando formas reais, e muitas pessoas acabam se transformando em investigadores amadores com a ajuda da internet. Evidências desse fenômeno nos rodeiam diariamente e as consequências podem ser graves.

Mesmo que a escala de vigilância online seja pequena em nosso cotidiano, ao stalkear um ex-namorado ou a vida de um ídolo, por exemplo, muitas pessoas extrapolam padrões aceitáveis pela sociedade, e acabam, com a ajuda dos dispositivos e informações encontradas na web, ultrapassando limites legais. Suposições generalizadas levam civis a investigar outros civis até em busca de supostos criminosos.

Com essas investigações de sofá nascem vários questionamentos: Por que nos achamos no direito de vigiar outra pessoa? O preconceito e a discriminação não seriam altamente alimentados com esses atos? Existe um lado positivo nos detetives crowdsourcing? O que move essas pessoas?

findbostonbombers

Find Boston Bombers

Recentemente o tema atingiu seu auge por causa dos atentados em Boston. Depois que ninguém assumiu a responsabilidade do ataque, o FBI saiu à procura dos culpados e pediu para que as pessoas que tivessem tirado alguma foto ou filmado a maratona contribuíssem enviando material para investigação de possíveis suspeitos.

Fotos publicadas no 4chan e Reddit transformaram-se em supostas evidências, iniciando uma investigação crowdsourcing

É improvável que apenas uma imagem oriunda de um iPhone iria desvendar o caso, é claro. É necessário combinar vários materiais digitais para obter uma possível resposta eficiente. Eles usariam ferramentas biométricas – como reconhecimento facial -, softwares avançados e analíticos que ajudam a medir, minuciosamente, as características físicas de rosto e corpo à distância para rastrear algumas pistas através dessa junção de dados.
 
Ou seja, não seriam apenas fotos e vídeos de pessoas presentes na maratona que conseguiriam desvendar o crime. Também não seria simples olhada no material recolhido pela agência governamental nos arredores do local do atentado que revelaria o culpado. O trabalho é árduo e delicado. Ao pedir ajuda da população apenas para tentar acelerar o processo, o FBI perdeu o controle da situação.

Boston

As fotos enviadas para o FBI foram parar nas redes sociais e nos mais variados sites e fóruns de discussão. Começou então uma caçada virtual e uma especulação gigantesca. Inúmeras pessoas ligaram seu modo investigador e inciaram suas pesquisas por conta própria, numa espécie de CSI crowdsourcing.

Detetives amadores online representam perigo ao apontar culpados e convencer outras pessoas a acreditarem

Fotos publicadas no Instagram e no Facebook transformaram-se em supostas evidências das cenas de um crime, e principal matéria prima para os investigadores amadores. Também no Twitter4chan e Reddit uma grande quantidade de usuários comentavam as fotos e alegavam ter encontrado provas.

Com a hashtag findbostonbombers – e um diretório dedicado no Reddit, fechado posteriormente – eles apontavam suspeitos e identificavam pessoas através de roupas ou gestos, compartilhando as informações até que, mesmo sem certeza, uma dessas fotos foi parar na capa do New York Post acusando dois homens.

NY Post

Caça às bruxas online

Boston

Não estamos discutindo aqui como o FBI encontrou os suspeitos e realizou as perseguições e prisões que se desenrolaram depois. O ponto é, como pessoas bem ou mal intencionadas, juntamente com o poder das redes sociais, conseguiram levar uma foto “investigativa” de um atentado para a primeira página de um grande jornal americano, menos de 48 horas depois do acontecimento.

A chamada de capa “Bag man”, do New York Post, foi um dos maiores exemplos de como a a internet está pautando os meios de comunicação nos últimos anos, com falta de apuração e, principalmente, sem citar o perigo que os detetives amadores representam ao apontar culpados e convencer outras pessoas a acreditarem nisso.

Publicar foi um erro terrível, uma vez que a foto não foi divulgada por nenhum órgão oficial e sim um trabalho feito por vigilantes da internet. Sempre há potencial dessas imagens serem manipuladas com Photoshop, sem contar os “detetives” com alguma coisa causa ou ativismo, que podem tentar empurrar as investigações em uma determinada direção. Tratando, dessa forma, um caso de extrema delicadeza com viés a favor de alguma motivação ou preconceito.

A imagem publicada era de dois homens em roupas de trilha – um com uma mochila preta – ambos pareciam ser de descendência árabe, destacados por usuários do 4chan e Reddit como potenciais suspeitos. Representantes do Reddit mais tarde pediram desculpas pela caça às bruxas on-line, solicitando aos usuários serem sensíveis com o poder que tem nas redes sociais. Mas nem o NY Post nem qualquer meio de comunicação que compartilharam a foto se desculparam oficialmente por publicarem falsas notícias e espalharem desinformação.

Boston

De onde vem?

Segundo o mestre em filosofia e estudioso do assunto, Thiago Borges, essas investigações amadoras são oriundas da década de 1990, onde com poucos usuários comparados aos dias atuais, a internet ainda era um lugar dos aficionados por computadores. Os mecanismos de busca contavam com códigos de busca rudimentares e o acesso ao conteúdo era na maioria das vezes restrito.
 
“Naquele momento de poucos vídeos e imagens, não era raro se deparar com sites sobre ‘teorias da conspiração’ e seus propagadores. Fóruns de discussão que agregavam as notícias da mídia e seus relacionamentos com grupos. Toda ‘comprovação’ era realizada a partir de evidencias como elementos gráficos da cédula do dólar até interpretações de discursos de autoridades em busca de mensagens subliminares. Era possível rastrear estas improváveis ligações nestes sites e acompanhar as atualizações do movimento conspiratório ao redor do globo a partir da mídia convencional”, lembra Thiago.
 
Neste primeiro momento a internet era o lugar de detetives que varriam a rede em busca de novas provas que endossassem estas teorias. O mercado ainda não enxergava o público da internet como alvo, não havia marketing voltado para estes fãs de computador e programação. Era possível encontrar “hackers” nas salas de IRC, fazer novas amizades para conversar sobre estas teorias, aprender novas tecnologias para avançar em busca da verdade, e, em poucos cliques depois, trocar impressões sobre episódios de “Star Trek” que ainda não tinham sido exibidos no Brasil.

Hoje em dia, pessoas interessadas em desvendar mistérios e supostas conspirações estão aproveitando das ferramentas atuais –  smartphones com GPS, câmeras de alta definição, conexão em tempo integral, excesso de exposição online, etc –  para se transformarem em verdadeiros detetives. Muitas não percebem o que está em jogo e como inocentes podem sofrer consequências com isso. Nós não somos heróis.

Boston

Casos como o de Boston retrocedem as conquistas que prometem democratizar a informação e distribuir conhecimento para todos

A internet, de forma geral, é exemplo de diversos movimentos sociais interessantes – como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Sreet – e desafiadores para o bem. Casos como o de Boston retrocedem as conquistas que prometem  democratizar a informação e distribuir conhecimento para todos.

Se muitas pessoas tem tempo e vontade de investigar casos criminais, elas deveriam dedicar esse mesmo tempo e energia para não alimentar mais especulações que geram uma bola de neve de informações falsas. Os meios de comunicação e os órgãos oficiais podem incentivar a ética e a regulamentação a partir de exemplos próprios.

É hora da grande maioria desses detetives amadores online e de toda a sociedade canalizarem suas energias para pensar como vamos viver ao lado dessas ferramentas atuais, utilizando-as para os fins corretos, já que hoje em dia é inevitável controlar a força da internet diante de casos de comoção popular.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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The New York Times Defends Putting Ad With Bloodied Man Next to Bombing Coverage

The New York Times took some heat from readers on Monday for allowing an online ad showing a bloodied man lying on the ground to appear next to coverage of the bombings in Boston. The ad, for the Sundance Channel show Rectify, received enough criticism that the paper's public editor, Margaret Sullivan, weighed in with a piece Wednesday—giving some background and confirming that the paper did indeed approve the juxtaposition, and that it wasn't just some oversight. "This did not feel like it crossed the threshold," the Times's ranking advertising executive, Todd R. Haskell, tells Sullivan. Haskell says that by Monday, it had been a full week since the bombings, which made the ad more acceptable. "We try to be as respectful as we can but these are subjective calls that we make in real time," he adds. (The show premiered Monday, which also made it more difficult to move it to a later date.) Sullivan ends up agreeing with Haskell and with Richard J. Meislin, a former associate managing editor who now is a liaison between the newsroom and the ad department, who said he thought the juxtaposition was "unfortunate, but it did not cross the line to the point where we would ask that the ad be taken down." What do you think?

    

NYC’s 5 Boro Bike Tour Pulls Ads Showing Pyrotechnics at Starting Line

Following the bombings in Boston on Monday, New York City's 5 Boro Bike Tour is swiftly pulling all posters advertising its own May 5 race—because of now-inappropriate imagery showing pyrotechnics going off at the starting line. "We had these ads all over the city, and beginning today, the MTA is removing all of them," the group's CEO, Ken Podziba, told Gothamist on Wednesday. "We were getting phone calls and emails from people who thought the ads were inappropriate, and we agreed. The last thing in the world we want to do is offend anybody in a time of tragedy." Podziba said the ad space will probably be left blank—"which I guess is a message in and of itself," he said. "Our hearts go out to the victims and their families. We're in solidarity with them."

    

Media Decoder Blog: Boston Phoenix to Cease Publication

The weekly newspaper failed to attract sufficient advertising to continue publishing.

Grafite de Os Gêmeos causa polêmica em Boston

A dupla brasileira Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, tem pela primeira vez uma exibição de arte nos Estados Unidos. A exposição abriu na semana passada no Institute of Contemporary Art em Boston.

Além dos trabalhos dentro da galeria, o duo pintou também dois murais na cidade, como esse da imagem acima. O problema é que nem todo mundo gostou, em uma polêmica levantada principalmente pela Fox News local.

Questionando em sua página no Facebook e em reportagens na TV (vídeo abaixo), a emissora mostra que muitos estão associando o grafite ao terrorismo, com discurso de que tal imagem não deveria estar em um espaço público.

O curador do projeto, Pedro Alonzo, declarou que não acredita que é isso que a maioria das pessoas pensam sobre a obra de arte. Segundo ele, o personagem é apenas um garotinho de pijamas com uma camiseta em volta da cabeça. Alonzo já levou para Boston outro artista controverso, com uma retrospectiva de Shepard Fairey.

Se nada atrapalhar, os murais devem continuar na cidade até novembro de 2013.

/via BostInno

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Um dia dentro do MIT Media Lab

Falei durante a semana passada sobre alguns eventos que acompanhei no Social Media Week de Nova Iorque, mas a parte mais especial da viagem, sem dúvidas, ficaria para a pacata Boston e o seu impressionante Media Lab dentro do Massachusetts Institute of Technology ou MIT.

É até difícil de escolher por onde começar a comentar.

Talvez pelo seu belo prédio, espaço ocupado pelos diversos grupos do Media Lab, e que dá uma dimensão da grandeza de um dos maiores e mais conceituados laboratórios de pesquisa em tecnologia do planeta. Aliás, o último andar reserva uma grande vista da cidade.

Mas é nas salas que a mágica acontece. Ao chegar, fui recebido por uma equipe que trabalha em um grupo bastante focado em projetos de mobilidade (Mobile Experience Laboratory). Minha guia pelo dia por lá, Zoe Schladow, assistente de pesquisa, me contou que eles têm um amor bem grande pelo Locast, um projeto de mobilidade e compartilhamento ou consumo de informações concebido para funcionar inclusive sem GPS, conexões 3G e afins.

Uma boa novidade sobre o projeto? Ele virou opensource. Portanto, com um pouco de trabalho (eles prometem melhorar a documentação em breve), este funcionamento low cost do Locast poderia ser integrado, por exemplo, aos recursos de API de um Foursquare. Aliás, o próprio Foursquare poderia usufruir um bocado disso em seus apps proprietários. Vale lembrar que o Locast começou a ser concebido quando Symbian era o sinônimo de smartphone…

O Locast hoje é utilizado, por exemplo, pela UNICEF no Rio de Janeiro. Em diversas comunidades carentes, os jovens podem relatar através do sistema os problemas de infraestrutura que enfrentam diariamente e, assim, apontar prioridades de trabalho por parte do estado.

Outros setores do Media Lab chamaram-me a atenção. Há um grupo de pesquisa focado no que eles chamam de Tangible Media, ou seja, como a experiência homem-tela se aplica ao mundo físico.

Outro grupo, High Low Tech, pesquisa tecnologia e interações que somente com tecnologias de custo acessível, melhorando a experiência de pessoas que não possuem grandes recursos. Um dos projetos, chamado de Opensource Consumer Electronics, como o nome já diz, trata de tornar acessível a fabricação e montagem de eletrodomésticos e eletrônicos. Como já disse neste blog anteriormente, não é o caso de que todas as pessoas vão começar a fabricar suas próprias TVs, celulares, equipamentos de automação e afins. O caso é que há uma indústria inteira que sentiria, para o bem ou para o mal, os efeitos da produção ser extremamente barateada.

Há, claro, muito mais para se falar. E, no meu caso, muito mais para se conhecer. Um dia apenas num universo desses não mostraria tampouco faria justiça sobre tudo o que acontece por lá.

Se você está interessado em conhecer mais sobre o Media Lab e seus projetos, separei uma lista de links abaixo. E saiba de outra coisa bacana: eles estão abertos ao público em horário comercial, ainda que não se possa entrar em qualquer sala ou que a simpática Zoe não seja a sua guia, mas sim um eficiente sistema de totens eletrônicos.

http://media.mit.edu/
http://mobile.mit.edu/
http://hlt.media.mit.edu/
http://tangible.media.mit.edu/
http://locast.mit.edu/

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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National Geographic 2009

Une sélection réalisée par Big Picture du site Boston, autour de l’édition 2009 du concours International Photography organisé par le célèbre magazine National Geographic. Près de 25 clichés représentatifs des animaux et de la nature. A découvrir en galerie dans la suite.



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