Popcorn Time está de volta e funciona até em aparelhos Android

Tão rápido quanto ele surgiu, ele desapareceu. O Popcorn Time, apelidado por muita gente de ‘Netflix Pirata’, teve vida curtinha, mas deixou no ar a vontade de fazer algo melhor do que as grandes corporações têm feito, e tudo de graça e aberto a quem se interesse.

Era apenas uma questão de tempo.

O Popcorn Time então ressurgiu das cinzas, e dessa vez ainda mais forte. Além de filmes, agora o serviço também ajuda a acompanhar programas de TV e permite acesso a partir de dispositivos móveis com Android. Um sistema pirata com funcionamento tão fácil não poderia ser aceito pelo Google, portanto não vai ser na Google Play que você vai encontrar a versão móvel do Popcorn Time – o programa está disponível no GitHub e no site oficial.

É interessante notar que o aplicativo para desktop tem uma equipe de desenvolvimento separada daquela que fez o app para Android. São profissionais diferentes, mas com um objetivo comum: permitir o acesso fácil e agradável à conteúdos disponibilizados (ilegalmente) na rede.

Como se essa facilidade e a velocidade com que ela foi desenvolvida não fossem surpreendentes o suficiente, ainda tem um filminho que conta a história ‘heroica’ de um serviço revolucionário, estrelado pelo mascote do serviço, o Pochoclín.

Discussões sobre propriedade intelectual à parte, iniciativas voluntárias e bem coordenadas como essa me fazem pensar que com a motivação certa, bons profissionais nem precisam de grandes indústrias (e gerências, e chefias) para incentivá-los a concluir projetos com rapidez e eficiência.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Cover de “Space Oddity” feito pelo astronauta Chris Hadfield agora é ilegal

Após alcançar mais de 22 milhões de visualizações, o vídeo do cover de “Space Oddity” feito pelo astronauta Chris Hadfield foi removido do canal oficial dele no YouTube.

Isso aconteceu porque a permissão para uso da canção, concedida por David Bowie depois de um esforço coletivo da NASA, da agência espacial russa ROSCOSMOS e da agência espacial canadense, venceu ontem, e apesar dos apelos dos fãs do astronauta, não foi possível renovar a autorização do cover.

“Estamos tentando renovar a licença, mas não existem garantias para vídeos gravados no espaço”, brincou Hadfield no Reddit, esclarecendo a situação aos seus admiradores e citando um artigo da Economist que detalhava a complexa questão do copyright ‘espacial’.

Pessoalmente, acho curioso que um vídeo de tamanho sucesso não tenha recebido a autorização de Bowie para continuar no ar oficialmente. Com a suspensão do clipe no canal oficial de Hadfield, o que acontece é a intensa proliferação de cópias, que agora estão disponíveis em canais não oficiais do astronauta.

Hadfield foi o mais politicamente correto possível, e acionou sua base de fãs avisando que ontem era o último dia para apreciar a canção gravada por ele no espaço, mas a verdade é que isso não existe na internet. Depois de publicado, um item dificilmente consegue ser completamente removido da rede. Não teria sido mais proveitoso se os representantes de Bowie e Hadfield tivessem chegado a um acordo, quem sabe oferecendo um link direto para a compra da música na versão do astronauta, revertendo parte do valor para Bowie?

 Hadfield fez um favor para Bowie, recuperando e de certa forma modernizando a canção para as novas gerações.

Arrisco até a dizer que Hadfield fez um favor para Bowie, recuperando e de certa forma modernizando a canção para as novas gerações (que talvez nem saibam que a canção é de David Bowie, mas tenham apreciado o timing e a sinergia entre o momento do astronauta e a profundidade da letra). Além disso, quando é que Bowie poderia ter um clipe de Space Oddity gravado do espaço?

Fica aqui o embed do vídeo oficial de Chris Hadfield, na esperança de que a equipe de Bowie reconsidere a questão, ouça o apelo dos fãs da versão espacial de Space Oddity e autorize novamente a divulgação do vídeo.

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Conheça o Popcorn Time, o Netflix dos torrents de filmes

Kim Dotcom, criador do Megaupload, definiu em meados do ano passado quais seriam as 5 regras para evitar pirataria: 1) criar bom conteúdo; 2) fazê-lo ser fácil de adquirir; 3) liberar globalmente na mesma data; 4) ser compatível com qualquer dispositivo; e 5) preço justo.

 

Mas o que acontece se você tiver tudo isso, e… ainda for de graça?

Enquanto Hollywood achava que estava encontrando uma saída com os serviços como o Netflix, surge o Popcorn Time, um streaming de torrents. Para quem está acostumado a acessar os feiosos sites de indexação de conteúdos pirata, o Popcorn Time é uma agradável surpresa – um visual bacana, simples e sem anúncios, o que te deixa livre da trabalheira de ficar desviando dos banners que fingem ser botões de download e de outros anúncios femininos do ramo.

Criado por um grupo de geeks argentinos, o Popcorn Time chamou a atenção de desenvolvedores do mundo todo, que se uniram em uma força-tarefa que em 24 horas traduziu o aplicativo para seis idiomas. A interface permite escolher o filme desejado, a qualidade da imagem (!) e até inserir legendas.

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“Não hospedamos nada, e nenhum dos desenvolvedores recebeu dinheiro por esse trabalho. Não existem anúncios, nem contas premium, não há assinaturas e nada desse tipo. É um experimento para aprender e compartilhar”, explicou Sebastian, um designer de Buenos Aires que está envolvido no projeto, em entrevista ao TorrentFreak.

Disponibilizando títulos recentíssimos, como “Clube de Compras de Dallas” e “12 anos de Escravida?o”, o Popcorn Time deixa o Netflix no chinelo – é como se você pudesse ter a programação do cinema na sua casa. Pelo jeito, Kim Dotcom vai precisar reescrever a 5ª regra do fim da pirataria: preço mais barato possível, preferencialmente de graça.

Quem se interessar pode baixar oPopcorn Time para Mac, Windows ou Linux, mas fique avisado que em alguns países o download de conteúdo pirata é crime.

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Instagram, música e direitos autorais

De tempos em tempos, a discussão em torno da propriedade intelectual na internet se intensifica, como aconteceu esta semana em função das novas regras do Instagram. Se na segunda-feira a rede social dizia que poderia utilizar comercialmente as imagens ali publicadas, sem notificar, creditar ou pagar seus autores, após pressão popular e uma debandada geral o discurso já evoluiu para um “fomos mal interpretados”. E se você está presente em alguma rede social, provavelmente leu alguma variação da frase “Baixa MP3 mas quer os direitos autorais das fotos no Instagram”.

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Pronto, agora chegamos onde eu queria: música.

Se você é da era pré-internet, como eu, deve se lembrar do tempo que levava para se conseguir o novo disco da banda que você curtia. Isso quando era lançado no Brasil. A MTV, apesar de diminuir um pouco as distâncias, também deixava a gente ainda mais atiçado por alguns artistas que eram considerados comercialmente inviáveis no país. Para os artistas, também era complicado: conseguir um contrato com uma gravadora poderia ser o fator determinante para se fazer sucesso ou ser condenado ao eterno anonimato. Só que no final dos anos 1990, as coisas começaram a mudar graças à popularização da internet e, junto com ela, a criação dos programas de compartilhamento de música, como o Napster.

A partir daí, ter um contrato com uma grande gravadora já não parecia tão importante. Isso era bom para artistas independentes, que poderiam divulgar sua música sem precisar do apoio de um grande selo, mas era ruim para as gravadoras e seus artistas consagrados, que começaram a perder dinheiro por conta da pirataria. Afinal, quem iria comprar discos?

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Essa nova era trouxe também uma busca constante por modelos de negócio que beneficiassem (e satisfizessem) artistas, gravadoras e consumidores.

Steve Jobs era um grande fã de música, mas foi a possibilidade de usar a abrangência do mercado musical para vender hardware o principal motivo por trás da criação da iTunes Store em 2003. O grande sucesso deste empreendimento foi uma consequência, já que a música puxou o hardware, que puxou a música, criando uma espécie de looping infinito. Com isso, o consumidor não precisava mais comprar um disco inteiro, apenas as músicas que quisesse. Gravadoras e artistas receberiam por isso e pronto: novas lojas e serviços seguindo esta mesma linha começaram a aparecer, como o MySpace, OiRdio, eMusic, Spotify e Amazon, para citar algumas.

É claro que tudo isso acabou gerando novas questões a serem resolvidas. Artistas e selos independentes são cada vez mais comuns. É o caso de músicos de renome como Chitãozinho & Xororó, Emicida, Gabriel O Pensador e Erasmo Carlos, para citar alguns. Só que para quem está começando, ou não tem ligação alguma com gravadoras grandes ou pequenas, surge o primeiro obstáculo: as lojas online não aceitam cadastros diretos de artistas, o que tornam necessários os serviços de distribuição digital, ou agregadores, como a ONErpm e o Tunecore.

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A questão é: que vantagem Maria leva em se livrar das gravadoras, mas utilizar um serviço de distribuição? A resposta está na divisão da receita gerada pelo trabalho dos artistas. Na época das majors, artistas recebiam algo em torno de 9 a 12% dos royalties de vendas, sem discussão. Para piorar, grande parte dos compositores não tinha nenhum controle sobre sua obra, salvo aqueles que conseguiam incluir isso em contrato. Os Beatles, por exemplo, enfrentaram diversos problemas neste sentido. E, acredite, eles também tiveram dificuldades ao entrar no mercado americano, já que as editoras musicais costumam fazer acordos territoriais. Ou seja: o que vale em um país não vale no outro.

Uma distribuidora, então, atua como uma facilitadora para que os músicos possam se inserir em diferentes mercados, seguindo as regras de cada um deles, sem precisar ter uma gravadora. Em resumo, aquela relação major-artista se inverte completamente. “Aqui os artistas ficam com 85% da receita gerada por sua música, em um acordo 100% não-exclusivo, que os deixam ter completo controle sobre sua obra – o que significa escolher onde, quando, como e por quanto ela será comercializada”, foi o que me disse Emmanuel Zunz, CEO da ONErpm.

Pois agora nos aproximamos da esquina do Instagram com o YouTube, ambos serviços gratuitos que hospedam conteúdo gerado/criado pelos usuários (e também músicos, fotógrafos, artistas). A quem pertence esse conteúdo? Ao serviço que o hospeda e que de certa forma possibilitou os meios e ferramentas para sua criação e circulação ou ao usuário que o gerou? E mais: quem pode ganhar dinheiro com essas fotos, músicas, textos? Talvez a reposta correta seja: os dois.

Temos exemplos disso. A ONErpm anunciou esta semana uma parceria com o YouTube e Grooveshark para dividir as receitas entre os serviços e os criadores. No caso específico do YouTube, a distribuidora passará a enviar todo seu acervo de áudio para que o serviço de vídeo faça a identificação automática do conteúdo que circula no site, seja ele gerado pelo próprio artista ou pelos usuários (tipo o cara que faz aquele videozinho no PowerPoint e usa o som do Bad Brains na trilha sonora). Com isso, os artistas serão informados da utilização de sua obra e aí poderão decidir o que fazer: retirar o conteúdo do ar ou permitir a utilização gratuita ou paga. Isso fará com que os músicos recebam sua parte dos royalties de sincronização musical gerados pelos anúncios que circulam no YouTube. Igualzinho ao que o Instagram está propondo, só que não.

instagram

A discussão em torno da propriedade intelectual – seja ela na forma de fotos, música ou qualquer outro tipo de conteúdo – está longe de acabar. Uma vez que você cria algo e compartilha na internet, é difícil manter o rastro sem ajuda e infelizmente a gente acaba se sujeitando às consequências. O mais importante é manter a discussão acesa, buscando soluções que beneficiem tanto quem cria quanto quem consome conteúdo, e não esperar a água bater na bunda para pensar a respeito, usando dois pesos e duas medidas.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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SOPA: Começou a briga do século

Os tempos mudam depressa, as leis não. Agora parece que as indústrias da música e do cinema resolveram movimentar sua máquina de lobby na tentativa de nadar para a praia e não morrer afogadas. E você pensa: finalmente vão adaptar seu modelo de negócio para as demandas atuais. Não é bem assim.

Você já deve ter ouvido falar do SOPA (Stop Online Piracy Act – lei de combate à pirataria) que está em discussão nos EUA. As águas andam turbulentas para a indústria da criatividade há mais de 10 anos.

Sem entrar no mérito polêmico da propriedade intelectual, assunto muito mais complexo, vou me limitar a dizer que as empresas fortemente ancoradas na propriedade intelectual talvez tenham que levar em conta a mudança cultural que está se formando há um tempo considerável. Basta lembrar que a regulação da propriedade intelectual está fortemente ligada à propriedade industrial (no Brasil, feita pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Ou seja, são leis da época da Revolução Industrial, para proteger propriedade das indústrias.

É aí que se desenha o cenário inusitado. Antes, a movimentação era unilateral, as técnicas mercadológicas empurravam a demanda e forçavam benefícios da legislação com uma força incomparável – e restava aos cidadãos contestarem na mesma moeda, se quisessem, a Justiça. Agora, meu amigo, você pode entrar na jogada de várias novas maneiras, seja fazendo e vendendo seu produto, seja financiando seu desejo ou ajudando a criar uma onda para equilibrar o mercado.

A evolução da rede proporciona cada vez mais ferramentas para contrapor a movimentação de mercado das grandes empresas. E o mais interessante é que até algumas delas sentem a corrente mudar e tomam partido. A coisa começou a ficar séria.

Se as novas ferramentas usam a multidão, que usa o que está disponível na internet, seria o SOPA o primeiro golpe por parte das empresas no ganho de força dos consumidores?

No caso do SOPA, surgiu um contramovimento muito forte de usuários que não concordam com a lei, junto de várias empresas de peso, como Google, Paypal e Aol. E não é brincadeira não, segundo o The Next Web, o Go Daddy viu milhares de usuários questionarem a posição da empresa sobre legislação. Como app é pop, não demorou a surgir um que escaneia códigos de barras e lista os produtos de empresas que são a favor da lei, o Boycott SOPA.

Como os consumidores e as marcas vão lidar com essa transferência de poder? A briga vai ser boa.

Mas que fique claro: dizer que o mar não tá para peixe pra indústria da música e do cinema é muito diferente de dizer o mesmo da música e do cinema. Navegar é preciso.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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