AntiCast 131 – O Jornalismo no tempo da Internet

Olá, antidesigners e brainstormers!
Neste programa, Ivan Mizanzuk, Rafael Ancara, Luiz Yassuda e Álvaro Borba discutem sobre as dificuldades pelas quais o jornalismo passa em tempos de internet – ou seja, redes sociais, informações instantâneas, falta de dinheiro e por aí vai. Abordamos temas como necessidade de apuração, financiamento, espetacularização do cotidiano e muitos causos.

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>> 0h13min16seg Pauta principal
>> 1h53min45seg Leitura de comentários
>> 2h03min39seg Música de encerramento: “The Artist in the Ambulance”, da banda Thrice

Links
Debate sobre a Regulamentação, com Marcos Beccari e Túlio Filho, dia 25 de Maio (sexta) às 12h15

Workshops História da Arte para Criativos do Ivan
São Paulo – 22 de Junho
Curitiba – 19 de Julho
Belo Horizonte – 26 de Julho

Hangouts
03 de Agosto
10 de Agosto

Curso Introdução à Filosofia Contemporânea – Módulo 1 – com Marcos Beccari.
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Data/horário: aulas semanais aos sábados, de 07 a 28 de junho de 2014, das 15h00 às 17h00. Carga horária: 8 horas.
Investimento: R$ 160,00 ou duas parcelas de R$ 80,00.
Escopo e programa de aulas: disponível, em breve, na página de cursos do FdD: http://filosofiadodesign.com/cursos/.
Local: Mímesis Conexões Artísticas – Rua João Manuel, 74, São Francisco (entre o Largo da Ordem e a Cinemateca de Curitiba).
Informações e inscrições: contato@filosofiadodesign.com.

Conto “Arcano XV”, do Ivan

O relatório do NY Times que vazou

Mupoca (Podcast do Yassuda)

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Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Selfie e Hashtag ganham verbetes no dicionário Merriam-Webster

A linguagem é algo que evolui com o tempo, e dicionários não podem deixar que novas palavras passem despercebidas e mal explicadas. Na atualização deste ano do Merriam-Webster, entre os 150 novos verbetes adicionados estão as palavras Selfie e Hashtag, que segundo a própria publicação, refletem a crescente influência da tecnologia no nosso cotidiano.

Selfie: uma imagem de alguém, feita por ela mesma, usando uma câmera digital, feita espeficicamente para postar em redes sociais”

Outras expressões, como crowdfunding (traduzida como ‘financiamento coletivo’), big data, gamification, hot spot, paywall e unfriend também irão estrear no dicionário norte-americano neste ano. “Selfie e hashtag referem-se aos modos como nós nos comunicamos e compartilhamos informações como indivíduos. Palavras como crowdfunding, gamification e big data mostram como a internet já alterou o mundo dos negócios de forma muito profunda”, comenta Peter Sokolowski, editor do Merriam-Webster.

A dicionarização de palavras desse tipo também facilita a vida dos repórteres, que podem aos poucos deixar de colocar apostos que explicam os termos. Grosso modo, podemos dizer que algumas buzzwords acabaram se ‘graduando’ e se transformaram em expressões moderninhas e dicionarizadas.

Quem se interessar pode conferir algumas das outras palavras adicionadas ao Merriam-Webster em matéria na Time.

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Bits Blog: Amazon vs. Hachette: When Does Discouragement Become Misrepresentation?

After Amazon’s aggressive stance against a major book publisher became public last week, criticism and complaints mounted. But Amazon seems confident it will get what it wants.



Braincast 107 – Marco Civil da Internet

O que é? Pra que serve? O que muda? É bom pra quem? Essas e outras questões sobre o Marco Civil da Internet, que passa a valer a partir de junho, são debatidas no Braincast 107.

Carlos Merigo, Saulo Mileti, Luiz Yassuda, Guga Mafra e Pedro Burgos discutem sobre a chamada Constituição da Internet e seus principais pontos, incluindo as polêmicas da neutralidade da rede, guarda de logs e remoção de conteúdo.

Faça o download ou dê o play abaixo:

> 01m35 Comentando os Comentários?
> 18m25 Pauta principal
> 1h18m15 Qual é a Boa? – qualeaboadobraincast.tumblr.com

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No Porto Seguro Auto Jovem você é reconhecido!

Pensando em estar ao lado do jovem e apoiá-lo em seu início como motorista, a Porto Seguro lança o Programa de Relacionamento Auto Jovem, um inovador seguro de automóvel desenvolvido exclusivamente para quem tem entre 18 e 24 anos, que valoriza o jeito como você dirige, concedendo descontos no seu seguro.

O Programa (disponível para clientes na região metropolitana de São Paulo) possibilita que você acompanhe a forma que dirige, dando dicas de como melhorar o seu desempenho e o reconhecendo por isso. Tudo isso de forma simples: via hotsite, redes sociais ou aplicativo.

Para começar bem, você ganha 30% de desconto no seguro e na franquia no primeiro ano de vigência. Para participar do Programa, um dispositivo da Porto Seguro é instalado em seu carro para que você possa acompanhar durante o ano dois itens ligados à sua dirigibilidade: tempo rodado de madrugada e tempo rodado com velocidade acima de 90Km/h. Além disso, você faz dois cursos rápidos: o Direção Segura (em Interlagos) e o Direção Emocional. Na renovação do seguro, de acordo com o seu desempenho, você pode garantir os mesmos 30% de desconto!

Porto Seguro

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Como seria sua vida com um lag de 3 segundos

Quando se comenta sobre a irritação causada por um lag na rede, muita gente pode dizer que estamos reclamando à toa. Afinal são míseros segundos de atraso, nada que vá mudar nossas vidas, não é mesmo?

Para provar que um lag realmente é algo que atrapalha a nossa experiência na web, o provedor de internet sueco Umea Enegi criou um experimento curioso: montou uma estrutura em um Oculus Rift, com ajuda de uma webcam e de um Raspberry Pi, que trazia o lag para a vida real de 4 voluntários. Usando a engenhoca, a visão deles ficava poucos segundos atrasada em relação à realidade. Parece pouco, mas as situações do cotidiano se tornaram muito mais complicadas.

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Além de se perderem em atividades simples como uma partida de ping pong ou uma aula de dança, eles se sentiam ‘deslocados’. A irritação chega a ser evidente em alguns casos, como o da moça que não conseguiu acompanhar os passos na aula de dança. Esse vídeo mostra a visão em primeira pessoa, e é ainda mais desesperador (e pode causar enjoos).

O resultado virou uma campanha, com um slogan matador: “Se você não aceita lag na vida offline, por que aceitaria no online?”

Um jeito divertido de mostrar a importância das experiências em tempo real, sem atraso por conta da conexão mambembe.

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Marco Civil é publicado no Diário Oficial e passa a valer a partir de junho

Em uma atitude bastante emblemática, a presidente Dilma Rousseff sancionou na última quarta-feira o Marco Civil da Internet durante o NETmundial, evento internacional que debate a governança da internet.

O projeto, que ficou conhecido como a ‘Constituição da Internet’, passou anos tramitando na Câmara, mas demorou pouco menos de um mês para ser aprovado pelo Senado. A versão, autorizada em março pelos deputados, não sofreu alteração nenhuma, dada a pressa pela sua aprovação, e foi publicada na quinta-feira no Diário Oficial da União.

Com isso, o Marco Civil vira lei – referida pela numeração de 12.965/2014 – e entra em vigor a partir de junho, 60 dias depois da sua sanção pela presidente. Entre os mais importantes princípios fixados pela Lei do Marco Civil estão a garantia da liberdade de expressão, a proteção da privacidade dos dados pessoais, a neutralidade da rede e a liberdade dos modelos de negócio do setor.

No mesmo dia da publicação da lei no Diário Oficial, a presidente se dispôs a conversar com o público através da página do Palácio do Planalto no Facebook, respondendo a perguntas e até mesmo fazendo um ‘high five’ com os participantes, em cena que virou meme na rede.

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Apesar de ainda trazer alguns pontos questionáveis – trechos que não ficaram muito claros, além de itens que prejudicam a privacidade dos usuários, como o ‘grampo compulsório’ da navegação de todos os usuários por seis meses – a nova legislação coloca o Brasil como pioneiro na definição dos ‘direitos e deveres’ na web.
O Marco Civil foi assunto também no noticiário internacional, que ainda vê com bastante ceticismo a velocidade com que a lei foi aprovada – teria sido apenas para aproveitar o ‘timing’ do NETmundial?

Quem se interessar pode conferir os detalhes da lei no documento abaixo.

 

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Investimento em propaganda para o digital ultrapassa verba da TV aberta pela primeira vez

A TV aberta ficou para trás dos meios digitais em investimentos publicitários nos EUA. Dados do Internet Advertising Bureau (IAB) revelam que os gastos com anúncios para plataformas digitais bateram a marca dos 42,8 bilhões de dólares, mais do que os 40,1 bilhões de dólares investidos em propaganda televisiva.

Entre os formatos digitais mais utilizados estão a busca (com 43% do total em 2013), os banners (19%), as iniciativas para plataformas móveis (17%) e os anúncios em vídeo (7%), estes dois últimos sendo as grandes estrelas atuais, com elevada taxa de crescimento – 110% para os anúncios em dispositivos móveis e 300% para a publicidade em vídeos online.

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A supremacia do digital sobre a TV, contudo, só é válida se não forem considerados os canais de TV à cabo – só o investimento em canais pagos soma mais de 34 bilhões de dólares, bem próximo dos valores de investimento em TV aberta e internet.

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O relatório completo da IAB, acerca do mercado americano no ano de 2013, pode ser conferido neste link.

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Sua vida nunca mais será a mesma graças à revolucionária nova funcionalidade do Reddit

O blog do Reddit anunciou ontem uma nova e revolucionária funcionalidade do site, que permitirá que os usuários controlem a navegação sem usar as mãos, apenas por meio de expressões faciais. Há indícios de que nossas vidas nunca mais serão as mesmas graças ao Headdit – ou simplesmente hand equivalent action detection -, que deixa nossas mãos livres para fazermos coisas mais importantes enquanto estivermos online.

Abaixo, algumas das expressões e suas funções correspondentes:reddit1

E se você tiver um gatinho, melhor ainda, já que existe um “cat mode”.

Para acionar o Headdit, acesse o Reddit e clique no botão no canto inferior direito e aproveite. Há boatos de que o Cigano Igor não teria aprovado a ferramenta.

Ah, e caso você não tenha notado ainda, hoje é 1º de abril…

[O título deste post está em conformidade com a nossa nova política editorial. Saiba mais.]

Drones, balões, satélites – tudo para fazer a internet atingir o mundo todo

Tornar a internet um serviço tão básico quanto água encanada e energia elétrica parece ser o novo ‘nobre’ objetivo das gigantes de tecnologia. O Google se dispôs a usar balões. O Facebook não quis deixar por menos, citando o uso de ‘drones, satélites e lasers’ como meios de levar a conexão à web para todo o mundo.

Mark Zuckerberg também conseguiu reunir algumas outras empresas interessadas no assunto, como a Qualcomm, Nokia, Samsung, Eriksson e Opera, formando uma espécie de ‘liga da internet para todos’, chamada de Connectivity Lab. Essa parceria colocará nos ares drones que funcionam a partir de energia solar, se posicionando fora do espaço aéreo comercial, que vão emitir feixes de laser capazes de transmitir dados para oferecer acesso à web até para os locais mais remotos do planeta. Em lugares onde os drones não forem viáveis, serão posicionados satélites de baixa órbita para fornecer conectividade àquela região.

 

De um ponto de vista mais raso, a atitude é apenas parte da estratégia ‘em três níveis’ do Facebook, que quer conseguir, durante a próxima década, conectar as pessoas, entender o mundo e fomentar uma ‘economia do conhecimento’.

São empresas que funcionam na web e que já alcançaram um número tão grande de usuários que sua expansão agora parece apenas limitada por… (wait for it…) falta de acesso à internet 

Com um tanto mais de ceticismo, contudo, não é difícil ligar dois pontos mais simples: são empresas que funcionam na web, e que já alcançaram um número tão grande de usuários que sua expansão agora parece apenas limitada por… (wait for it…) falta de acesso à internet. Pode ser por falta de dispositivos, claro, mas o mais comum é que os aparelhos estejam disponíveis (já que ficaram baratos ao longo dos anos), mas que não haja (boas) formas de se conectar à rede mundial de computadores.

Enquanto o Google trabalha com a ideia de colocar balões que surfam nos ventos dos céus de diversas regiões do mundo para criar uma rede de dados alternativa aos cabos e Wi-Fis do solo, o Facebook aposta em parcerias com as melhores mentes da aeronáutica e da tecnologia de comunicação para fazer basicamente o mesmo. A equipe do Connectivity Lab conta com profissionais da NASA e da Ascenta, esta última responsável pelo Zephyr, os drones que funcionam com luz do sol. São diferentes métodos, mas um objetivo único: expandir o número de pessoas que podem se conectar à web.

 

Óbvio que isso é bacana. Até um vídeo do próprio Facebook provoca dizendo que se com apenas uma parte do mundo conectado já conseguimos tantas coisas legais, imagine com mais gente nessa rede. Mas em longo prazo, isso também significa mais potenciais usuários para os serviços dessas empresas, mais audiência para os seus anunciantes, ou seja, basicamente uma grande possibilidade de expansão. Se considerarmos os números usados tanto pelo Google quanto pelo Facebook, existem cerca de 5 bilhões de pessoas ‘desconectadas’ no mundo todo, o que é mais ou menos 5 vezes o total de usuários do Facebook hoje.

Vai dizer que, além de um objetivo ‘nobre’, não é uma oportunidade comercial incrível para os titãs da web?

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Bits Blog: Tech’s Favorite Cartoonist Enters Mainstream Publishing

The online cartoonist Randall Munroe is about to explore a strange new world — mainstream publishing — and seek out an audience that doesn’t know its Linux from its Lexus.

    



pCell, a tecnologia wireless que vai fazer o seu 4G parecer obsoleto

Basta estar em um local movimentado para a rede de dados do celular começar a baleiar. Cada operadora é um caso, mas o fato é que quanto mais pessoas acessando a internet via dispositivos móveis em um mesmo local, maior a chance de você não conseguir nem mesmo abrir o Google. Isso acontece porque o modelo de transmissão de dados fica sobrecarregado, e não ‘sobra espaço’ para a sua conexão. E é exatamente o desafio de resolver esse problema que foi abraçado pela startup Artemis, que quer criar um novo modelo de transmissão de dados wireless: o pCell.

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A premissa básica é fazer quase o oposto do que a rede de celular atual faz. Na rede que utilizamos hoje em dia, é como se estivéssemos todos debaixo de um guarda-chuva de sinal. Quando nos deslocamos pelas ruas, basicamente estamos passando de um guarda-chuva de dados para outro. É por isso que às vezes quando você está viajando e falando ao telefone, a ligação de repente cai: você provavelmente estava passando por um ‘buraco negro’ no sinal, um ponto cego do sistema onde não há cobertura. Pouco depois o seu sinal retorna, evidenciando que você voltou a ficar ‘embaixo’ de um novo guarda-chuva de dados. Esse modelo pressupõe que as coberturas não podem esbarrar umas nas outras, sob o risco de interferência.

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A pCell quer fazer exatamente o contrário: sobrecarregar uma região de sinal, usando caixinhas do tamanho de roteadores, chamadas de ‘pWaves’, que emitem ondas que podem colidir entre si e, dessa forma, reforçar a qualidade da conexão naquela região. É como se, ao ficar no centro da colisão do sinal de pCell, você tivesse a melhor conexão, como se estivesse usando sozinho todas as barrinhas do seu 4G.

Segundo a Artemis, uma conexão pCell com um ‘bom’ sinal seria cerca de 1000 vezes mais veloz do que as conexões que usamos hoje em dia. Já imaginou?

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E isso seria obtido sem a necessidade de sair instalando antenas parrudas no telhado de prédios cidade afora. Seriam, na verdade, instaladas diversas pWaves, que podem também ser afixadas em paredes.

Não seria nem mesmo preciso atualizar os aparelhos celulares ou tablets. A pCell foi desenvolvida para ser compatível com dispositivos 4G, e funcionaria sem o menor problema em iPhones, Android e dispositivos compatíveis com a rede LTE.

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O jornalista Lucas Braga, especializado em telecomunicações, explica ainda que as redes pCell poderiam ser distribuídas juntamente com o atual 4G, desde que ocupassem espectros diferentes, para evitar interferência. Seria como sair do 3G para o Edge, e vice-versa, de acordo com a disponibilidade do sinal. O único porém é o interesse (ou não) das operadoras em instalar os equipamentos da pCell. “Seria preciso trocar parte da estrutura wireless pré-existente, e esses equipamentos são bem caros”, pondera ele.

A estreia das redes pCell deve acontecer na cidade de São Francisco, nos EUA, a partir do finalzinho desse ano. As pWaves serão instaladas em cerca de 350 edifícios, oferecendo uma cobertura razoável do sinal, mas que será disponibilizado apenas para um seleto grupo de beta testers. A partir de então, a intenção é buscar parcerias com operadoras para expandir a pCell. O CEO da Artemis, Steve Perlman, garante que a tecnologia poderia ser implantada com sucesso nos principais mercados até o final de 2015, mas considerando o custo do upgrade, pode ser que demore mais para que possamos ter uma rede móvel mais veloz.

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Um bebê nascido para a internet

Se você tem contato com crianças nascidas na era digital, provavelmente não se surpreende quando elas começam a mexer em gadgets com toda a naturalidade do mundo, como se já nascessem preparadas para isso. E, a se julgar pelo novo comercial da indiana MTS para seu serviço de 3G, nascem mesmo.

Em Born For The Internet, a revolução digital chega também à sala de parto, mas não na tecnologia dos instrumentos utilizados pela equipe médica e sim no próprio bebê, que já nasce acessando o Google para cortar o cordão umbilical, tirando uma selfie com uma das enfermeiras para postar no Instagram e fazendo transmissões ao vivo via stream. Tudo possibilitado pela ótima qualidade do 3G da MTS, claro.

A criação é da agência Creativeland e a produção é da Smuggler.

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Braincast 99 – Um vício chamado internet

Um mundo em que vivemos sempre conectados traz, sem dúvida alguma, muitas vantagens. Porém, nem sempre percebemos como a tecnologia pode ser viciante, causando ansiedade e prejudicando nossas interações de carne e osso.

No Braincast 99, convidamos Pedro Burgos – autor do livro “Conecte-se ao que importa – Um manual para a vida digital sauda?vel” – para um papo sobre o uso problemático da internet.

Debatemos sobre aplicativos gordurosos, que oferecem minirecompensas mentais para nos manter entretidos, e ainda sobre o medo de ficar sem celular, o narcisismo online, os riscos do oversharing, do excesso de informação e da pirataria.

Faça o download ou dê o play abaixo:

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Protestos pelo mundo: Como o excesso de informação tem nos deixado mais confusos

É complicado emitirmos qualquer opinião sobre o que estamos vendo no mundo nos últimos 4 anos. Protestos afloram por todo o lugar, desde a Primavera Árabe até as recentes atividades na Ucrânia, Venezuela e, obviamente, no Brasil.

A internet, sem dúvida, tem sido uma grande ferramenta de articulação acerca de tais movimentações sociais – e tem sido, para muitos, a única forma de saber o que está acontecendo nas últimas manifestações na Venezuela e Ucrânia. Muito pouco tem chegado para nós através das mídias tradicionais. Isso só aumenta o desafio (e o perigo) em se emitir qualquer opinião: muito provavelmente, no momento em que você estiver lendo este texto, os quadros sociais nos países citados pode já ter se alterado radicalmente. Portanto, peço desculpas por qualquer nova informação que não foi levada em consideração.

No caso da Primavera Árabe, foi bem documentado que grandes redes de comunicação foram montadas graças às redes sociais. Um fenômeno novo: começou na internet e por ela se espalhou. Somente depois de um tempo é que entrou na “grande mídia”. Quem acompanhou as manifestações de junho do ano passado também pôde sentir, na ponta dos dedos, o poder político das redes sociais – alguns mais, outros menos conscientes do que se postava.

As manifestações nos fazem sentir na ponta dos dedos o poder político das redes sociais

Este texto não busca ser uma resposta a tudo isso. Que fique claro: é apenas uma breve análise, baseada em algumas das impressões que tive após acompanhar várias das relações estabelecidas entre essas novas movimentações sociais, que partiram da internet, e o exercício democrático. Com certeza, esta análise será incompleta, pois é impossível falar de todos os ângulos.

Contudo, espero que, ao final do texto, alguns apontamentos relevantes sejam levantados ao leitor que está interessado em entender como a internet está sendo utilizada como ferramenta política por nós atualmente e os desafios que os defensores de um sistema democrático (me incluo neles) terão no futuro.

Egito

The Square

Egito: um exercício da relação entre democracia e ativismo

Assisti recentemente ao documentário “The Square”, indicado ao Oscar 2014, que lida em explanar algumas das questões que estavam por trás dos protestos que aconteceram no Egito, entre 2011 e 2013. O caso lá retratado parece ser uma boa ilustração da relação entre os conflitos dos modelos de discussão virtuais e as possibilidades de ações efetivas no campo prático.

Em um primeiro momento, diversos grupos egípcios, insatisfeitos com o regime do então presidente Hosni Mubarak, no cargo já há 30 anos (eleito, em todas as ocasiões, sem oposição), uniram-se em prol da derrubada do seu líder, levantando velhas acusações sobre a falta de espaço democrático em seu governo. As manifestações, que se concentravam na Praça Tahir, no Cairo, após uma série de enfrentamentos com o exército, acabaram por ser bem-sucedidas. O presidente foi deposto e uma eleição foi marcada.

Contudo, o fator icônico do caso egípcio não foi, ao meu ver, o sucesso na derrubada do presidente, mas sim o que ocorreu nas eleições. Como é mostrado no documentário, um dos grupos de grande presença nas manifestações, a Irmandade Muçulmana, acabou por criar alianças com o exército e, através de acordos políticos, viu-se capaz de lançar um candidato à presidência nas eleições vindouras.

“The Square” ilustra a relação entre os conflitos de discussões virtuais e as possibilidades de ações efetivas

Em “The Square”, é mostrado um descontentamento por boa parte da população pelo fato de que as eleições, no segundo turno, seriam disputadas entre duas frentes: uma representada por Ahmed Shafiq, ex-primeiro ministro do regime de Mubarak, e outra pela Irmandade Muçulmana, representada por Mohamed Morsi. A discordância por parte dos manifestantes é bem retratada no filme. Nenhum dos dois candidatos parecia atender às demandas que pediam pela formulação de uma nova Constituição.

The Square

Egito

O resultado é conhecido: Morsi foi deposto pelos militares em 2013, um ano após seu mandato, tendo em vista que não foi capaz de controlar novas manifestações (cada vez mais violentas) e agora o Egito prepara-se para, pela segunda vez na história, ter novas eleições livres, que deverão ocorrer até abril.

O que nos chama a atenção no caso egípcio é que após forte atuação política, de grande repercussão mundial, e com importantes avanços na direção de uma ampliação dos poderes de participação popular, o cenário montado no momento das eleições foi insatisfatório para muitos por causa do próprio sistema. Devia-se exercer o voto, pois foi um direito adquirido com luta, mas a escolha resumia-se em dois personagens que chegaram ao topo muito devido a alianças políticas, e não necessariamente por representarem as demandas populares dos manifestantes.

Ainda assim, mesmo com alto grau de insatisfação pelo resultado das eleições, é necessário questionarmos acerca da possibilidade de que boa parte da população poderia estar satisfeita com Morsi como presidente – ou, até mesmo, com o regime de Mubarak. Coloco este questionamento em prol de uma pergunta que acredito ser central neste texto: até que ponto um regime democrático deve levar em consideração manifestações de caráter popular, por mais barulhentas que sejam, se elas não representarem a maioria da população?

Não posso dizer que esse foi o caso do Egito. Pelo que pesquisei, acredito que a insatisfação era geral, tanto no caso de Mubarak quanto com Morsi. Colocando meu questionamento anterior de outra forma então, a pergunta que desejo fazer realmente é:

Quem fala mais alto tem maior voz?

kiev11

Kiev

Ucrânia e Venezuela: Exposição x Democracia

Não sei quanto a vocês, mas meu Twitter e Facebook estão inundados diariamente com imagens acerca das manifestações que estão ocorrendo nesses países recentemente. É difícil não se sentir perdido. Corre-se atrás de informações e há muito pouco em português. Quase nenhum da Ucrânia. Tem sorte quem entende inglês e pode ver o que alguns jornais europeus falam sobre o assunto. Mas as imagens proliferam. Algumas parecem ter sido tiradas de um filme de terror pós-apocalíptico.

No caso da Venezuela, pipocam, aqui e ali, relatos de conhecidos nossos que residem lá. Nos últimos dias, ouvi de um espectro a outro: desde pessoas que dizem que está ocorrendo uma tentativa de um golpe de elite da direita (e a prova disso seria que as manifestações estariam ocorrendo nas regiões ricas de Caracas) até pessoas que dizem que há grande insatisfação com o governo de Maduro, que seria marcado por uma restrição das liberdades políticas dos cidadãos venezuelanos.

Comentários sobre possível financiamento dos EUA para os grupos de manifestantes também surgem por vários lados. O interesse dos EUA nesse caso seria o petróleo.

No caso da Ucrânia, vejo que há uma grande insatisfação crescente desde novembro do ano passado, quando o então presidente Yanukovich decidiu estreitar relações comerciais com a Rússia ao invés de aproximar-se da União Européia. Relatos de corrupção de seu governo são frequentes, desde 2004, quando ganhou as eleições presidenciais mas foi impedido de assumir o posto, dada a quantidade exorbitante de denúncias.

A aproximação com a Rússia fez surgir um sentimento de regresso aos tempos de União Soviética e grande parte da população decidiu demonstrar sua insatisfação. Contudo, aqui vem um fator curioso: a maioria da população estava inclinada para o acordo russo, sendo que os que prezavam pela aproximação com a UE representava cerca de 43% do país. Bastante gente, mas não a maioria.

Kiev

Kiev

Isso é compreensível, tendo em vista que a Ucrânia é um país com uma formação geopolítica muito complexa. As fronteiras se alteraram muito nos últimos 300 anos e grande parte da população fala russo. Ou seja, há maior identificação com a Europa Oriental do que com a face Ocidental. Para saber mais sobre isso, recomendo este texto do Washington Post (em inglês) que tiram algumas dúvidas sobre as configurações sócio-políticas ucranianas e como elas são determinantes nas atuais manifestações.

De qualquer forma, em um regime democrático, a decisão de aproximação à Rússia, tomada por Yanukovich, não seria errada, sendo que a maioria da população aceitava sua decisão. Ao menos teoricamente, esse princípio funciona.

O erro fatal de Yanukovich, segundo alguns especialistas, daria-se em 16 de Janeiro deste ano, quando já em clima de diminuição das manifestações, em sua grande maioria pacíficas até então, o presidente assinou uma lei “anti-protesto”, que restringia os poderes de liberdade de expressão da população e da mídia – especialmente quando a pauta visava critica ao governo. Ao atacar a liberdade de expressão de um povo, aliado às acusações de corrupção, um sentimento de vingança surgiu, e a arena armou-se.

Notem: nos dois casos – Venezuela e Ucrânia – a internet foi essencial. Primeiro pela divulgação de imagens de violência, depois pela disseminação de notícias. Em especial, um vídeo de uma ativista ucraniana, no qual ela falava sobre a situação do país e os motivos pelos quais eles estavam indo para as ruas, viralizou, e o mundo passou a olhar com mais atenção o que estava acontecendo.

Na última quinta-feira, dia 20 de fevereiro de 2014, fotos mostrando os últimos desfechos dos conflitos em Kiev, capital da Ucrânia, chocaram muitos internautas brasileiros.

Ao atacar a liberdade de expressão de um povo, aliado às acusações de corrupção, um sentimento de vingança surgiu

Para engrossar ainda mais esse caldo, obviamente começaram a surgir as teorias da conspiração. Assim como no caso da Venezuela, em que alguns dizem que os EUA está financiando manifestantes por interesses econômicos próprios, o mesmo tem ocorrido no caso da Ucrânia.

Teorias de que os manifestantes são representantes de grupos de interesse comercial do bloco ocidental, que buscam uma desestabilização calculada do cenário político ucraniano para que possam ter uma maior entrada, começaram a surgir recentemente, e ficamos em uma balança confusa: seria isso um jogo de interesses calculados de países investidores, que veem na Ucrânia e na Venezuela algum potencial lucrativo, ou seria isso uma manobra de outros grupos de interesses que visam deslegitimizar um genuíno interesse por mudanças sociais nestes locais? A resposta é um grande ponto de interrogação. Nenhuma resposta é 100% garantida. E isso também ocorre por aqui.

Praça da Independência em Kiev: Antes e Depois

Praça da Independência em Kiev: Antes e Depois

Manifestações no Brasil – Democracia como estética

Nos casos da Ucrânia e do Egito, chama a atenção o fato de que boa parte dos manifestantes reclamam que não se veem representados nas altas esferas do poder. Ao organizarem-se através de redes sociais, unem suas indignações à retomada da consciência de que seu poder nas ruas é gigantesco. Um cenário único surge na combinação desses elementos: politiza-se ao máximo o campo virtual e percebe-se uma crise no modelo de democracia representativa.

Fruição estética: Parecia ser mais importante estar nas ruas, e postar fotos e vídeos de se estar lá, do que necessariamente ter reivindicações aos governantes

Interessante perceber que se há algum tempo a crença geral era de que a internet deixaria-nos mais acomodados ou submissos, naquele velho chavão de “estou em contato com o mundo, ao mesmo tempo em que estou isolado em meu quarto”, o cenário claramente se tornou outro. Acredito que nem mesmo os mais entusiastas do poder político que a internet oferecia nos anos 90, como o teórico Pierre Levy, conseguiram imaginar as proporções que a combinação entre “ativismo virtual” e “insatisfação política” tomariam nesta segunda década do século XXI. Contudo, uma pergunta é necessária neste momento: que tipo de atitude política essas manifestações estão representando?

Para poder falar com alguma segurança (ainda que pouca, pois, novamente, é difícil generalizar nesses casos), vou tratar um pouco do caso brasileiro. Uma desconfiança que tenho a respeito das manifestações que ocorreram ano passado aqui no país é a de que os atos eram políticos, mas com alto grau de fruição estética. Explico: parecia ser mais importante estar nas ruas, e postar fotos e vídeos de se estar lá, com uma curiosa sensação de “estou fazendo história”, do que necessariamente ter reivindicações aos governantes.

Brasil

FIFA

O resultado foi o que vários especialistas na época já apontavam: diluição dos interesses, agendas conflitantes por vários grupos, confusões sobre o que estava sendo exigido e, por fim, nivelamento ao mínimo denominador comum de todos que lá atuavam. Tornaram-se então recorrentes lugares-comuns como “fim da corrupção”, “segurança, educação e saúde”, “fora Fifa” e por aí vai. Muitos “o que”, poucos “como”.

Concordo que a falta de líderes foi um agravante. Contudo, a presença de um (ou alguns) poderia ter um efeito reverso: provavelmente, no caso de uma figura central (e houve tentativas de formar-se algumas), agendas políticas de outros grupos não se sentiriam representadas e as manifestações acabariam mais rapidamente. O efeito foi o mesmo – as grandes manifestações cessaram –, mas de forma mais vagarosa.

Por outro lado, os grupos que tinham suas agendas e líderes melhor definidos acabaram por persistir até hoje, em manifestações muito menores mas, ainda assim, de relevante impacto. O lamentável caso da morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, ocorreu justamente em uma manifestação cuja agenda é uma das originárias das revoltas de junho: o aumento do preço da tarifa de ônibus. Dessa vez, não em São Paulo, mas sim no Rio de Janeiro.

Lugares-comuns como “fim da corrupção” e “fora Fifa”. Muitos “o que”, poucos “como”.

Apesar de concordar que a falta de líderes foi um agravante para que algumas das demandas do ano passado não tomassem formas mais sólidas (uma que tinha grande potencial, ao meu ver, foi a necessidade de uma reforma política – assunto que, infelizmente, não foi para frente), acredito que o quadro geral é ainda mais complexo.

Rio de Janeiro

Brasil

O conceito da necessidade de um líder que represente as demandas de um grupo de insatisfeitos é um dependente do modelo de democracia representativa – que, como podemos ver atualmente em casos como o do Egito e da Ucrânia, parece não ser suficiente para atingir as demandas do povo. Parece-me, neste caso, que há um descompasso entre dois fatores: a sensação de vertigem que temos com os rápidos meios de consumo e comunicação entram em conflito com a lentidão da máquina burocrática estatal.

Ao não ver-se representado lá em cima, uma parte da população se revolta e vai à desforra, organizando-se de maneira rápida nos meios virtuais, mas vendo suas agendas (mesmo as definidas) diluírem-se nos complicados trâmites burocráticos dos lugares onde vivem. A pergunta que fica, nesse breve levantamento, poderia ser “é possível um Estado satisfazer, em tempo hábil, as demandas de toda uma geração que está acostumada a receber mensagens instantâneas, baixar filmes recém-lançados no cinema e ter produtos entregues em até 24 horas na sua casa?”.

A possibilidade do modelo de democracia representativa parecer dar seus sinais de crise não significa, de maneira alguma, que a democracia como um todo estaria vendo seus dias finais. Não acredito que seja esse o caso. Contudo, há de se repensar o modelo de participação democrática.

Sobre isso, recomendo a entrevista que sociólogo polonês Zygmunt Bauman, cuja extensa obra é bem conhecida no Brasil, concedeu ao Fronteiras do Pensamento em 2011. Nela, Bauman levanta a necessidade de repensarmos o que entendemos por Democracia nos dias de hoje, tendo em vista que seu conceito, originário dos gregos antigos, altera-se à medida que os anos passam.

Como ela deverá ser daqui pra frente? Não acredito que o modelo islandês, reformulado recentemente para um sistema de democracia direta, em que todo cidadão, através da internet, participa diretamente das decisões do governo, seja possível num país de dimensões continentais como o Brasil.

Posso estar enganado (e espero estar), mas quero deixar claro que acredito ser importante não nos deixarmos seduzir por aparentes soluções “fáceis”, do tipo que vemos em alguns grupos que vivem uma estranha nostalgia dos tempos da Ditadura Militar brasileira (mesmo sem terem vivido aquela época). Aliás, importante mencionar que tenho plena consciência de que o período militar brasileiro não é dos mais simples de se entender, seja pelo lado dos que são contra, seja pelo lado dos que são a favor.

Descompasso: os rápidos meios de comunicação entram em conflito com a lentidão da máquina burocrática estatal

Acima de tudo, acredito que apostar que as coisas “serão melhores” se nosso poder de decisão for retirado, deixando o poder na mão “de quem (supostamente) entende”, é uma ideia perigosa. Por mais complicado que seja, a participação popular é um direito adquirido valiosíssimo. Resta sabermos qual a maneira “menos pior” de pô-la em prática, especialmente frente os desafios deste novo mundo.

Mesmo com todas essas considerações, o terreno de formações de opiniões seguras sobre todos os ocorridos por aqui é ainda pantanoso. E muito disso, acredito, deu-se por um movimento duplo que a internet possibilitou: se por um lado aumentou-se o debate político, por outro lado aumentou-se as paranoias e as teorias conspiratórias.

Brasil

Kiev

Conspirações por todos os lados!

Já citei sobre a questão das conspirações (ou “fatos”, dependendo do que você acredita) nos recentes casos da Venezuela e Ucrânia, e cheguei a mencionar que aqui não estamos longe disso. No caso do cinegrafista morto, não faltaram as explicações e desconfianças acerca de como a polícia solucionou rápido o crime. Supostas ligações dos grupos Black Blocs com partidos políticos também foram mencionados. Debates interessantíssimos sobre a diferença entre violência policial e urbana têm surgido. E, com todos esses fatores, o buraco tem ficado cada vez mais fundo. Aliás, os buracos. Sei lá em qual você prefere se enfiar.

No caso das revoltas de junho do 2013, tenho uma clara lembrança das minhas impressões de motivos pelos quais elas aparentemente não foram tão efetivas quanto prometiam ser. Primeiro: quando as revoltas estavam estourando ainda apenas em São Paulo, houve o momento em que os principais veículos de informação do país referiam-se aos manifestantes como “vândalos”. Isso mudou, aparentemente, após a fotógrafa da Folha de São Paulo levar uma bala de borracha na cara. Isso fez a classe de jornalistas se mexer e, do dia para a noite, os “vândalos” se tornaram “manifestantes”.

Quando uma jornalista foi atingida por uma bola de borracha, a abordagem mudou: Os “vândalos” se tornaram “manifestantes”.

Em seguida, as manifestações cresceram exponencialmente e o lema “não é só pelos 20 centavos” ganhou dimensões nacionais. O Arnaldo Jabor se desculpou por uma declaração que havia feito criticando os manifestantes no Jornal da Globo. É curioso que ele o tenha feito na sua coluna da CBN, onde seu poder de persuasão parece ser mais contido, mas vamos considerar isso como válido, pelo menos por enquanto.

Com o crescimento das manifestações, aumentaram os atos de vandalismo. E uma coisa chamou a atenção de muitos que acompanhavam as notícias: o fato de que os grandes meios de comunicação tratavam de enfatizar que os atos de violência eram de “pequenos grupos localizados”, e não de todos os manifestantes – que seriam, segundo as notícias da época, em sua maioria pacíficos. Para muitos, teriam sido esses atos de vandalismo que acabaram por enfraquecer o caráter político e o potencial das manifestações. Mas eu tenho outra impressão.

Black Blocs

Para quem está tentando se informar sobre o assunto, não há lado seguro para correr. Medo e dúvida são sensações frequentes.

Enquanto a grande mídia se preocupava em tentar “higienizar” as manifestações, deixando claro que os “mal-elementos” não eram a maioria, movimentos que só posso caracterizar como paranóicos passaram a crescer mais e mais nas discussões virtuais. Eu li/ouvi relatos, tanto da esquerda quanto da direita, de que estariam se instalando estratégias para um golpe de Estado.

Do lado da esquerda, li/ouvi que grupos fascistas passaram a integrar as manifestações e causar vandalismo para tentar legitimizar um novo golpe militar em um cenário que beiraria uma guerra civil, dando espaço, nestas configurações, para que o exército atuasse livremente. O termo “P2”, referente ao policial infiltrado no meio dos civis, tornou-se jargão (e muitas vezes coerentes, como pudemos ver em vários vídeos da época).

PM

Do lado da direita, li/ouvi que grupos anti-capilistas (como os Black Blocs) estavam tentando instaurar um golpe comunista, e que o cidadão deveria ter cuidado para que isso não ocorresse. Nas recentes manifestações, ainda ouço bastante isso.

Quero deixar claro que, sim, estou generalizando ambos os lados. Houve outras versões, ora mais brandas, oras mais radicais, mas a palavra “golpe” era (e ainda é) recorrente nas duas vertentes. Para aquele que estava tentando informar-se sobre o assunto, não havia lado seguro para correr. Medo e dúvida eram as sensações frequentes da época. No meio de tudo isso, alguém proferiu a frase “quem não está confuso não está bem informado”, que acredito que resumiu bem o espírito do período final das manifestações de Junho de 2013. Honestamente, não sei em quem acreditar até hoje. Acho muito difícil que houvesse tais tentativas golpistas, mas também não descarto a possibilidade. De todos os lados.

Uma questão que levantei há pouco, e que acredito ser relevante para amadurecermos na discussão do cyberativismo aliado à presença nas ruas, é a seguinte: até que ponto o ato de violência na manifestação é válido num país democrático? Aliás, é válido? Se sim, contra o quê? Contra quem? Não iria ele contra o próprio conceito de democracia? Imaginem o seguinte: um grande grupo de pessoas está insatisfeito com medida X do governo. É um grupo grande, mas não é a maioria. Digamos que, nessa situação hipotética, seja 30% da população – o que já é o suficiente para causar algum estrago. Se esses grupos começam a causar muito barulho nas ruas, o governo deve ceder aos seus interesses?

Kiev

E se a minoria fosse mais barulhenta em suas ações? Tanto nas ruas quanto online, divulgando para o mundo vídeos, fotos e textos que provassem seus pontos de vista?

Pensemos, por um momento, no caso do Egito e da Ucrânia. E se, hipoteticamente, 60% da população egípcia estivesse satisfeita com o governo de Mubarak, mas os outros 40% fossem mais barulhentos em suas ações – tanto nas ruas quanto online, divulgando para o mundo vídeos, fotos e textos que provassem seus pontos de vista. O que fazer nesse caso? Quem está certo? Como deve o governo agir?

O mesmo vale para a Ucrânia: dada sua complexidade cultural, lembremos que, ao menos em primeiro momento, a maioria da população (57%) era a favor do acordo comercial com a Rússia. Contudo, a parcela que era contra (43%) era mais assertiva e foi para as ruas. Ou seja, “mostraram-se” mais e fizeram suas vozes serem ouvidas. Depois dos desastres políticos do presidente com as medidas anti-protestos, obviamente o cenário se alterou.

O resultado foi uma inundação de imagens e vídeos que mostram Kiev como um campo de batalha. E de que lado ficamos? Como escolher um lado? Como se dá o exercício democrático em um mundo no qual as pressões internacionais podem passar a surgir devido a imagens compartilhadas no twitter por um celular, eventualmente viralizando? E se lermos as teorias da conspiração? Devemos desacreditar todas? Ou apenas algumas?

Neste cenário de manifestações acontecendo a todo momento, em todo o mundo, exigindo movimentos políticos mais rápidos do que a máquina estatal é capaz de produzir, aliado à proliferação de teorias da conspiração que surgem para todos os lados, é impossível não sentirmos, em algum momento, uma desesperadora sensação de não saber mais o que pensar.

É aí que reside minha hipótese de porquê muitas dessas manifestações parecem não sair do lugar: por mais bizarro que isso soe, parece-me que há um excesso de informação que engessa qualquer possibilidade de posicionamento construtivo acerca dessas difíceis questões. A cada nova informação, dez novas dúvidas surgem.

Kiev

Um paradoxo marca nossa geração de maneira tragicômica: nunca estivemos tão informados e perdidos ao mesmo tempo

Se eu quisesse arriscar um pouco mais, diria que as teorias da conspiração parecem denotar duas coisas sintomáticas de nossos tempos. Em primeiro lugar, o velho chavão de que temos, hoje, a necessidade de termos opinião formada sobre tudo, por mais rasa que ela seja. Em segundo lugar, de que há uma estranha sensação de que, no caso dos conspirólogos de plantão, há uma necessidade de mostrar-se mais “consciente” do mundo.

Ao formular-se uma teoria de interesses ocultos por trás dos movimentos sociais, o dono de tal discurso destaca-se da “massa”, reivindicando para si mesmo um suposto título de “esclarecido”. Para os que se encaixam neste último caso, gosto de lembrar do documentário “The Mindscape of Alan Moore”, no qual o autor supramencionado diz que os conspiradores falham em entender que o mundo é caótico e sem sentido. Por não aguentarem o peso da complexidade do mundo, acabam por formular explicações para tudo, sempre referenciando grupos de interesses malignos.

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Não quero dizer com isso que não existem grupos de interesse que formulam estratégias e ações assertivas contra padrões sociais estabelecidos. A história está cheia de exemplos em que isso foi o caso. Contudo, ao ver que há tantas conspirações para todos os lados, não consigo deixar de pensar que há muitos equívocos aparecendo por ai. E essas hipóteses, que supostamente deveriam tornar-nos mais conscientes, acabam jogando mais ruído do que se esperava.

Sendo assim, um paradoxo marca nossa geração de maneira tragicômica: nunca estivemos tão informados e perdidos ao mesmo tempo. Tempos desafiadores para aqueles que se arriscam a pensar criticamente sobre o mundo – tanto o seu quanto o do outro. E podem esperar: a tendência é complicar cada vez mais. Resta adaptarmo-nos a este confuso novo mundo e sabermos lidar com seus novos desafios.

Se há algo positivo nisso tudo é que estamos, talvez pela primeira vez na história, experimentando em larga escala a complexidade do tecido social – que sempre foi complicado, mas nunca dava chance às vozes periféricas serem ouvidas. Não é mais necessário ser um acadêmico ou político para entendermos essa colcha de retalhos que parece ser o mundo. Basta abrir sua rede social de preferência. E ainda bem que estamos assim.

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Créditos Fotos: Mohamed Elsayyed/Shutterstock.com; Jorge Silva/REUTERS; Hassan Ammar/AP; AlexandCo Studio/Shutterstock.com; Antonio Scorza/Shutterstock.com; Sergei Supinsky/AFP; S-F/Shutterstock.com; Roman Mikhailiuk/Shutterstock.com

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Internet a cabo deixa heróis do PS4 exaustos

O que seria capaz de deixar os personagens dos games completamente exaustos? A resposta está em Exhausted Heroes, novo filme da Grey Espanha para a SonyONO. O comercial mostra, em câmera lenta, os heróis de três jogos para PS4 caindo de cansaço, ao tentarem acompanhar a velocidade da internet via fibra ótica oferecida pela operadora.

A produção é da La Joya Producciones, com direção de Alex de la Iglesia e pós-produção da We Work.

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Squarespace reúne o que há de pior na internet em filme para o Super Bowl

Minha primeira reação ao assistir ao teaser de A Better Web Awaits foi algo do do tipo: “tá, e daí?” Em sua estreia no intervalo do Super Bowl, a empresa de design de sites Squarespace resolveu juntar um monte de memes, vírus e lixos virtuais que tornam a internet um péssimo lugar, em um filme criado in-house, com direção de  Malcolm Venville.

A situação melhorou um pouco com o filme completo, que já pode ser visto no YouTube, apesar de o comercial ter sido classificado de “deprimente” pela Adweek. Levando-se em conta que é apenas uma representação do que rola na internet, então poderíamos dizer que a internet é deprimente? Ou será que deprimente seria a maneira como a utilizamos?

É daí que a mensagem final acaba sendo algo bacana: “Nós não podemos mudar o que a web se tornou, mas podemos mudar o que irá se tornar.” É claro que um site bacana, como diz a mensagem, pode ajudar. Mas fundamental, mesmo, seria uma mudança no comportamento dos usuários de forma geral. Algo bem mais complicado de se conseguir.

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Site “multa” obcecados por selfies

Parece que alguém finalmente pensou em alguma coisa bacana a partir da onda de selfies que toma conta das redes sociais – e muito provavelmente de todo o resto. Selfie Police é o nome de um site que se propõe a levantar dinheiro para obras de caridade ao “multar” aquelas pessoas que adoram ficar tirando fotos de si mesmas. O valor da penalidade? US$ 1.

O site permite que os usuários “denunciem” aquelas pessoas que têm exagerado no egocentrismo, dando a elas a oportunidade de se redimir ajudando outras pessoas. O pagamento é feito diretamente às entidades, via PayPal.

O Selfie Police ainda conta com um mural dos “mais procurados” e, acredite se quiser, nem mesmo o ator Jimmy Fallon escapou.

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Autor de “Steve Jobs” usa crowdsourcing para escrever biografia

O autor da biografia de Steve Jobs, Walter Isaacson, contou que, no momento, está escrevendo sobre as origens e a emergência da nova era digital. Para isso, tem usado a colaboração online para obter os mais sinceros resultados.

“Colaboração online é o motivo original por trás da construção da internet. Estou interessado em todos os comentários e correções que os leitores possam apontar antes de eu publicar o livro.” – Isaacson, em uma de suas publicações nas redes

Como apontado pela CapitalNewYork e pelo TechCrunch, Isaacson postou partes do seu texto por diferentes plataformas online como Medium, Scribd e LiveJournal, dando abertura para que os usuários lessem, comentassem e contribuíssem com comentários, anotações e correções nas passagens.

O experimento do autor é notável não somente como postura e forma de trabalho, mas porque o assunto é extremamente importante como discussão. Afinal, as pessoas sobre as quais Isaacson está escrevendo são parte deste movimento.

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Medium

Medium

Medium

Scribd

Scribd

 

“Eu estou tentando formas que permitam as pessoas colaborarem com suas ideias, reafirmando os propósitos da internet e sua era.” – Isaacson, para CapitalNewYork

Stewart Brand, editor do Whole Earth Catalog e criador do The WELL, por examplo, é uma das personalidades citadas no livro e ele mesmo, como leitor, já levantou suas correções.

O livro Steve Jobs irá contar a história da inovação digital, trabalhando com pessoas de todos os tipos e backgrounds. Como resultado, Isaacson espera captar o espírito de colaboração que o tema incorpora.

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Cinco nativos digitais tentam sobreviver a uma semana sem internet

Precisar usar mapas de papel ou até mesmo pedir informações para estranhos. Fazer um telefonema para os seus amigos. Enviar algo por correio. Ligar a TV ou comprar um jornal para saber as últimas notícias. Escrever com uma caneta ou lápis. Um absurdo! Como é possível viver dessa maneira?

Cinco nativos digitais tentam sobreviver a uma semana sem internet nesse curta-documentário, acima, criado pela Mother London. A agência acompanha como os viciados online conseguem sobreviver no mundo real.

No Internet

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Você até pode ter milhares de amigos…

Quantos amigos você tem no seu Facebook? Quantos seguidores no Twitter, Instagram, Pinterest ou em qualquer outra rede social da qual você faz parte? Quantos contatos estão listados em sua agenda ou integram seu network no LinkedIn? É muito capaz que, somando tudo, você perceba que são centenas, até milhares de pessoas. Agora responda: quantas delas você conhece bem de verdade, tem um contato frequente – de preferência pessoalmente -, e pode dizer que realmente são próximas a você?

Se você já terminou de fazer as contas, há grandes chances deste número ter caído drasticamente, com poucos casos em que ele ultrapasse uma ou duas dezenas. É neste momento que percebemos um dos grandes paradoxos da nossa época: temos milhares de “amigos”, mas nunca estivemos tão solitários.

A forma como a tecnologia está presente em nossas vidas não chega a ser um assunto novo – aqui mesmo no B9, ele aparece com certa constância, especialmente no Braincast -, mas será que realmente há razões para a gente se preocupar?

A ideia deste texto não é falar mal da internet, tecnologia e afins, nem tampouco criar um mi-mi-mi saudosista

Não tem muito tempo que começamos um papo sobre o que a internet está fazendo com os nossos cérebros, influenciando a maneira como criamos, aprendemos e raciocinamos. Mas se você parar para pensar um pouco, irá notar como a tecnologia de uma forma geral também está transformando a maneira como nos relacionamos uns com os outros.

Antes de mais nada, o nosso tradicional aviso: a ideia deste texto não é falar mal da internet, tecnologia e afins, nem tampouco criar um mi-mi-mi saudosista para dizer que antigamente as coisas eram melhores. É mais uma proposta de reflexão sobre como utilizamos essas coisas em nosso dia a dia e quais os efeitos colaterais envolvidos neste processo.

Recentemente, o designer Shimi Cohen, de Tel Aviv, resolveu combinar as informações do livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other, de Sherry Turkle, e do artigo The Invention of Being Lonely, de Yair Amichai-Hamburger, em seu projeto de conclusão de curso na Shenkar College of Engineering and Design. O vídeo The Innovation of Loneliness mostra como a tecnologia está influenciando a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras e com elas mesmas, os reflexos psicológicos disso e porque precisamos ficar atentos.

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Social por natureza, o ser humano pode até ir à loucura por conta da solidão. Por outro lado, passamos tanto tempo focados na carreira, em ganhar dinheiro, consumir e criar uma auto-imagem, que as redes sociais parecem ser a solução perfeita para “gerenciarmos” nossos relacionamentos de uma maneira muito mais eficiente.

É claro que a primeira coisa que a gente pensa é: mas afinal, o que há de errado com a eficiência? Todo mundo tem aqueles amigos que não vê com tanta frequência, parentes distantes, etc, mas ao menos pelas redes sociais consegue saber como é que estão, mandar uma mensagem no aniversário (que se não fosse pelo Facebook, ia acabar passando em branco), saber quem está solteiro, casado, separado…Mas será que isso é real ou estamos apenas substituindo relações por conexões?

“Estamos colecionando amigos como se fossem selos, não distinguindo a quantidade da qualidade, convertendo o significado profundo e a intimidade da amizade em trocas de fotos e conversas em chats”.

Enquanto uma conversa que acontece cara a cara e em tempo real é regida pelo inesperado, quando muitas vezes você acaba falando demais e sem pensar, um chat, e-mail, post ou SMS cria uma falsa sensação de segurança, de que estamos no controle da situação e podemos nos apresentar como queremos ser, em vez de como realmente somos.

É a história da auto-promoção, com pessoas cada vez mais obcecadas com a edição de perfis, escolha de fotos perfeitas e a obrigação de parecerem felizes o tempo inteiro, como se de fato isso fosse possível. “As redes sociais não estão mudando apenas o que fazemos, mas também quem somos”, destaca a narração de Cohen no vídeo.

As redes sociais não estão mudando apenas o que fazemos, mas também quem somos

Só que, ao meu ver, faltou dizer algo muito importante aí: que não importa o quanto alguém tente controlar ou editar uma ideia por meio de um post ou SMS, é impossível controlar o que o outro vai entender daquilo. Qualquer tipo de comunicação está sujeita à interpretações, que estão diretamente ligadas à formação e experiências do interlocutor. Isso tudo sem contar a possibilidade de ruídos. Em resumo, ninguém está realmente livre de confusões.

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Fantasias gratificantes

Segundo The Innovation of Loneliness, as redes sociais nos oferecem três fantasias gratificantes: que podemos desviar a atenção para onde quiseremos, que sempre seremos ouvidos, e que nunca teremos de ficar sozinhos. É exatamente esta última que está formatando uma nova forma de ser, descrita como:

“Eu compartilho, logo existo.”

A tecnologia passa a ser uma ferramenta essencial para definir quem nós somos. E nós só podemos ser alguém se compartilhamos nossas ideias e sentimentos exatamente no momento em que os elaboramos. Isso significa que se eu não der um check-in naquele lugar incrível, postar uma foto daquela comida deliciosa ou tuítar o que achei do último filme do Woody Allen, é como se nenhuma daquelas experiências realmente tivessem existido.

Tudo isso me fez pensar em uma das experiências mais incríveis que já tive. Em uma peregrinação à Terra Santa – no meu caso, Liverpool – tive a oportunidade de fazer um tour que permite que os participantes entrem nas casas onde John Lennon e Paul McCartney passaram a infância. Só que, por questões de direitos de uso de imagem, é proibido fotografar o interior delas. Para garantir que ninguém vai tentar burlar a regra, temos de entregar máquinas fotográficas e celulares na entrada, que são trancados em um quartinho. Feito isso, você fica livre para circular pelos ambientes, por alguns minutos.

Talvez se ainda estivesse vivo nos dias de hoje, Lennon diria que a vida é o que acontece enquanto estamos ocupados compartilhando

Agora, imagine você andar livremente pelas casas onde viveram seus ídolos, sem se preocupar em dar check-in, fotografar ou tuítar (que é claro que eu fiz tudo isso, só que do lado de fora), e poder simplesmente curtir o momento. Ouvir histórias, descobrir algo que você não sabia, absorver detalhes e vivenciar uma experiência que vai te marcar pela vida, mas que ficará apenas na sua memória.

Isso me fez refletir sobre como sentimos uma urgência em registrar tudo artificialmente, como se nossas lembranças não fossem o suficiente, como se uma fotografia fosse capaz de realmente captar a emoção de um momento e olhar para ela fizesse a gente revivê-lo. Mas, qual a emoção que você cultiva quando você está distraído demais fazendo uma foto, dando uma check-in ou postando algo?

Em Beautiful Boy, música que John Lennon compôs para o filho Sean, há um verso em que ele diz que a “vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”. Talvez se ainda estivesse vivo nos dias de hoje, Lennon diria que a vida é o que acontece enquanto estamos ocupados compartilhando. Pois é, a existência é feita de muito mais coisas do que somente aquilo que podemos compartilhar online.

Ainda assim, há até quem finja experiências apenas para ter o que compartilhar e, desta forma, se sentir vivo. E tem vários “serviços” que exploram isso, como um site que “aluga” namoradas, ficantes e afins para o seu perfil no Facebook. Tem, também, o caso do fotógrafo japonês Keisuke Jinushi, que ensina como criar uma namorada fake em fotos para as redes sociais.

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Caso você esteja curioso, um texto no site Oddity Central descreve o passo a passo de Keisuke para conseguir o efeito desejado nas imagens. A começar pela maquiagem: ele aplica bastante base clara na mão direita e esmalte vermelho nas unhas, para conseguir um look mais feminino. Para evitar confusões, ele também coloca um elástico para cabelos no pulso. A “mágica” fica completa com um filtro retrô no Instagram – para o genuíno efeito “girlfriend photo” – e um sorriso bobo, elementos que ajudam a tornar a foto mais verossímil. Nos anos 1980, o filme Namorada de Aluguel mostrou uma ideia parecida, de um cara que queria conquistar o respeito dos colegas e se tornar popular com a ajuda de uma namorada falsa. A diferença é que, pelo menos naquela época, a garota era de verdade.

Da conexão ao isolamento

Sherry Turkle é psicóloga clínica, pesquisadora e professora de estudos sociais da ciência e tecnologia do MIT. Em meados da década de 1990, ela ficou bastante conhecida por defender as oportunidades que a internet oferecia para que as pessoas pudessem explorar suas identidades no livro Life on Screen. A continuidade de suas pesquisas, entretanto, a levou a perceber que as novas tecnologias – emails, redes sociais, Skype e robôs sociáveis – tornaram o controle e a conveniência prioridades, enquanto as expectativas que temos em relação a outros seres humanos – e até com nós mesmos – está cada vez menor.

Em uma palestra no TED, na época do lançamento de Alone Together, Sherry explica que a forma como nos comunicamos hoje em dia, com posts, SMS e afins, servem sim para nos conectar uns aos outros, mas apenas superficialmente. Este tipo de interação é falha se o objetivo é conhecer melhor e entender o outro e, por consequência, compreender a nós mesmos. (clique aqui para assistir à versão com legendas)

Mas como a conexão pode nos levar ao isolamento? Enquanto eu pesquisava e escrevia este texto, passei a prestar muito mais atenção tanto no meu comportamento, quanto nos hábitos das pessoas que convivem comigo. E o que eu percebi me incomodou bastante: eu realmente tenho o costume de sacar o meu celular do bolso mais vezes do que eu gostaria ou deveria. Mais para tentar acompanhar o que está acontecendo pelo mundo – aquele desejo de absorver o máximo de conteúdo possível – do que para compartilhar alguma coisa.

Estamos tão acostumados com isso que dar uma olhadinha, por mais rápida ou demorada que seja, é algo que fazemos automaticamente. Em uma roda de amigos, não sou a única. Há momentos em que, por mais interessados que estejamos em uma conversa, acabamos nos distanciando em algum momento com o celular. O que antes era exceção, há muito já se tornou a regra, como mostra o curta I Forgot My Phone.

Não importa se é por uma questão de segundos ou se por algumas horas, se estamos sozinhos ou acompanhados, mas aquele momento em que nos conectamos virtualmente é também o momento em que nos isolamos e paramos de prestar atenção no que acontece no mundo real.

No raciocínio de Sherry, as pessoas se isolam quando não cultivam a habilidade de estar sozinhas e passam a encarar isso como um problema a ser resolvido, preenchendo o vazio com conexões que amenizem sua ansiedade.

A tecnologia, então, mira onde somos mais vulneráveis: na solidão. Essa incapacidade que muitos seres humanos têm de ficar sozinhos, combinada à necessidade de intimidade, é solucionada graças às plataformas capazes de fazer com que a gente se sinta automaticamente ouvidos. Dispositivos que nos dão a ilusão de que temos alguém, mas sem as exigências de um relacionamento real.

avatares

Nessa história toda, o que eu percebo é que vale a pena ouvir todos os argumentos e refletir a respeito. Cada pessoa certamente chegará à uma conclusão diferente. A minha é que o problema não está na tecnologia, mas na forma como a utilizamos. E vou um pouco além: o que pode ser ruim para alguns, também pode ser bom para outros.

Eu sou da geração pré-internet, sim, e realmente há momentos em que me sinto incomodada com os excessos cometidos graças aos avanços tecnológicos e a internet. Mas quem comete os excessos são as pessoas. Celulares e computadores são apenas ferramentas operadas por seres humanos com diferentes referências ou níveis de filtro – e isso não tem nada a ver com o Earlybird ou afins.

Nessa história toda, o que eu percebo é que vale a pena ouvir todos os argumentos e refletir a respeito. Cada pessoa certamente chegará à uma conclusão diferente

Não posso falar, por exemplo, pela geração pós-internet. Seus cérebros estão preparados para lidar com a tecnologia de hoje, pois desconhecem o mundo sem ela. O ser humano está em constante processo evolutivo, e por mais que às vezes custe aceitar isso, as referências e até mesmo as necessidades são outras. Será que daqui a alguns anos as pessoas realmente vão sentir falta das conversas olho no olho ou nem mais se lembrarão disso?

Por outro lado, não há nada que impeça as tais conexões virtuais de também evoluírem, mas para um relacionamento real, como também já vi acontecer diversas vezes.

A tecnologia faz parte das nossas vidas, e vai continuar fazendo. Por enquanto, tudo o que podemos fazer é tentar nos relacionarmos com ela de uma maneira mais consciente, sabendo diferenciar conexões de relacionamentos e qual a importância de cada um deles em nossas vidas.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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