The Body Shop mostra que mulheres podem ser mais do que bonitas

Sierra tem 4 anos e imagina que, quando crescer, para que as pessoas gostem dela, ela terá de ser educada e obedecer os outros. Ela acredita que nunca poderá dizer não, questionar a autoridade e, se testemunhar algum ato de injustiça, ela permanecerá em silêncio, mesmo sabendo lá no fundo que isso é errado. Sierra, assim como muitas outras meninas pelo mundo, correm o risco de se tornar este tipo de mulher, porque ninguém a ensinou a ser forte, decidida e ter suas próprias opiniões. Ninguém a ensinou a ser mais do que um rostinho bonito, como mostra a nova campanha do The Body Shop.

More Than Beautiful conta com três filmes e, além de Sierra, participam também Sophie e Keiri, de 4 e 5 anos, respectivamente. Criada pela Grey de Kuala Lumpur, com produção da Reservoir Films, a campanha nos lembra que ser mulher é muito mais do que ser bonita, e que cabe aos adultos ensinarem às crianças – especialmente as meninas – sobre o que realmente importa.


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Beyoncé estrela campanha de Sheryl Sandberg para acabar com o estereótipo da ‘mandona’

Desde o lançamento de ‘Faça Acontecer’ (Lean In, no original em inglês), Sheryl Sandberg tem se posicionado contra o estereotipo que mulheres que são mais determinadas costumam receber no ambiente de trabalho, ao serem taxadas de mandonas, teimosas e/ou insistentes. Agora, a COO do Facebook arrebanhou outras moças bem sucedidas para apoiar a causa, na campanha ‘Ban Bossy’ (‘Acabe com o ‘mandona’’, em tradução livre).

Personalidades como Beyoncé, Jennifer Garner, Jane Lynch, Diane von Fürstenberg  e Condoleezza Rice participam de um vídeo em que endossam a campanha, com direito até a Beyoncé esclarecendo que não é ‘mandona’- na verdade, ela é a chefe mesmo, pronto e acabou.

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A intenção é evitar que as meninas sejam desencorajadas desde cedo a pensar por si mesmas, ter voz e dar suas opiniões em público. Isso porque com essa série de rótulos em circulação desde a idade escolar, as garotas se sentem menos propensas a serem líderes, compartilharem ideias boas ou opiniões fortes, cedendo à pressão social que quer que elas ajam com sutileza e delicadeza, quando na verdade elas são diretas, ambiciosas e ousadas.

O detalhe parece pequeno para que se precise de uma campanha, mas o que mais se tem por aí é moço sendo elogiado pela sua ‘liderança’ e ‘rigidez’, enquanto mulheres que agem da mesma forma levam a fama de ‘mandonas’ e ‘exigentes’.  E, pode apostar, logo mais tem alguém por aí dizendo que ‘fulana não podia fazer parte dessa campanha’, porque ela é mesmo uma pessoa terrível de se trabalhar, nem um pouco ‘delicada’ ou ‘gentil’. Vai vendo.

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Campanha imita capas de revistas e chama a atenção para questões sobre direitos das mulheres

O site de financiamento coletivo Catapult, focado em ações que beneficiam meninas e mulheres do mundo todo, provocou ao criar capas de revistas fictícias, que ironizam algumas das mazelas que muitas moças sofrem em diversas partes do planeta.  Cada capa traz um bom punhado de manchetes sarcásticas como “o casamento que você jamais vai esquecer, mas que gostaria de não lembrar”, ou “as chocantes histórias reais que você não vai acreditar, e a polícia também não”, que incomodam ao banalizar algo tão cruel.

É sempre importante lembrar que estupros, casamentos forçados, tráfico, escravidão e prostituição de mulheres não são assim tão fora da nossa realidade. Além disso, 20% das  instituições focadas no bem estar e direitos das mulheres estão a um passo de fecharem por falta de verba.

ChildBride

A ação, apelidada de ‘Cover Stories’, acontece pouco antes do dia internacional das mulheres, celebrado em 8 de março, e pode ajudar a desencadear uma importante reflexão sobre o quanto ainda é preciso conquistar em termos de igualdade de gêneros. No site da Catapult, ao lado de cada ‘capa de revista’ existe um dado alarmante e um convite a fazer doações para causas beneficentes. O site oferece a garantia de permitir que o doador acompanhe como o dinheiro tem sido gasto, o que dá mais idoneidade aos projetos.

Thirteen

E se ao invés de dar flores e chocolates, esse ano você desse às mulheres que você ama uma doação em nome delas para causas que realmente importam? Muita gente reclama das moças ‘recalcadas’ que não aceitam presentes de dia das mulheres,  mas não pensa na reflexão que elas propõem. Como bem disse Bianca Santana no Brasil Post, flores e chocolates são bem vindos, desde que venham acompanhados de uma série de outros ‘presentes’, como a justa divisão das tarefas domésticas, o fim da violência física e simbólica, da liberdade, da valorização das conquistas históricas das moças, entre outros.

Fica a provocação.

GoodSlavekeeping

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E se houvesse uma inversão nos papéis sociais de homens e mulheres?

Não é um filme novo. Majorité Opprimée foi lançado oficialmente em outubro de 2010, mas foi só agora, ao ser disponibilizado no YouTube com legendas em inglês, que o curta-metragem de Eléonore Pourriat começou a chamar a atenção do mundo. Desde o começo do mês, foram mais de 7 milhões de visualizações de Opressed Majority (ou Maioria Oprimida), título que coloca o sexismo sob uma nova perspectiva ao inverter os papéis sociais de homens e mulheres.

A diretora Eléonore Porriat imagina uma sociedade dominada pelas mulheres para mostrar um dia na vida de Pierre e como ele é obrigado a lidar com o constante assédio sexual em espaços públicos. O que começa com investidas verbais acaba evoluindo para uma violência física – com o protagonista sendo atacado por um grupo – e psicológica – com a descrença primeiro da polícia, depois de sua esposa, Marion.

Aliás, a completa ausência de empatia de Marion chega a ser um pouco chocante. Após contar sobre o ataque, Pierre ouve dela que não veio antes porque estava em uma reunião, mas que ao menos conseguiu acabar com eles.

“Eu queria que ela não imaginasse, não simpatizasse, não fosse capaz de sentir o que ele sente”, disse a diretora ao jornal The Guardian. “Frequentemente, quando as mulheres são atacadas, as pessoas dizem que é culpa delas. Até mesmo pessoas próximas. Era isso o que eu queria dizer com esta personagem”.

É claro que Opressed Majority concentra em pouco mais de 10 minutos eventos que podem acontecer ao longo de uma vida inteira, e provavelmente há quem duvide de que situações como estas aconteçam, fazendo parte do tradicional mi-mi-mi feminino/feminista. De qualquer maneira, vale uma reflexão: e se fosse com você?

O curta-metragem está em francês, com legendas em inglês.

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AntiCast 116 – Feminismos e Gêneros na Mídia

Olá, antidesigners e brainstormers!

Neste programa, Ivan Mizanzuk se reúne com os convidados Liber Paz, Poderoso Porco (do Melhores do Mundo), Cris Peter e a Ana Luiza Koehler para conversar sobre Feminismo(s) e discussões de Gêneros na mídia, especialmente nos quadrinhos.

Aliás, foi isso que nós gostaríamos de ter feito, mas o papo correu mais para explorarmos as possibilidades, diferenças e importâncias das discussões nessas áreas. Debatemos sobre a representação midiática da mulher, negros, transgêneros, qual o limite do humor quando abordam-se tais temas e por aí vai. Se você acha que “feminismo” é tudo igual e/ou exagero, este programa é altamente recomendável.

Faça download do episódio aqui
>> 0h07min31seg Pauta Principal
>> 2h16min10seg Música de encerramento: “Every You Every Me”, da banda Placebo

Links
Texto do Ivan no B9: Coca-Cola e Racismo
Feminist Frequency – Vlog com análises feministas em video-games (e tem legendas em português!)

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A jornada de uma feminista que se importa com videogames

A retratação de mulheres nos videogames foi alvo dos estudos de Anita Sarkeesian, uma moça adepta do feminismo que busca explorar os clichês e deslizes dos criadores de universos fictícios. Em 2012, Sarkeesian lançou uma campanha de crowdfunding via Kickstarter, pedindo por US$ 6 mil para sua pesquisa – ao final da campanha, o que acharam a proposta interessante e válida apoiaram o projeto, o fazendo atingir US$ 159 mil.

Uma mulher levantando a voz perante a preguiça dos arquétipos das personagens fictícias é de extrema importância. Vivemos em mundo no qual dados como “45% das mulheres jogam” (segundo a The Entertainment Software Association) não podem mais ser ignorados em prol do soldado carequinha que nasceu para salvar o mundo. O plano de Sarkeesian era gastar as quantias arrecadadas com a campanha e criar séries de vídeos que exploram essa temática – a produção, o catálogo de jogos originais utilizados como fonte, tudo, segundo Anita, minuciosamente planejado.

 

Sarkeesian não levanta a voz em nenhum momento acerca da qualidade dos jogos, apenas sobre a assustadora frequência do uso de donzelas em perigo, garotas sexualizadas e até mulheres na geladeira (termo cunhado pela artista de quadrinhos Gail Simone ao expressar seu desgosto a uma cena de uma história de Lanterna Verde, em que Kyle Rayner topa com sua namorada mutilada dentro de um refrigerador).

Nilin, protagonista de Remember Me

Nilin, protagonista de Remember Me

Na prática

A luta de Sarkeesian não é contra os homens

Uma maneira prática de testar o viés relacionado ao gênero é aplicar o teste Bechdel. Desta vez, a responsável pelo termo é a cartunista Alison Bechdel, que criou um método bem simples de avaliação: caso duas garotas mantenham um diálogo que não envolve uma figura masculina, o filme, game, livro, quadrinho ou qualquer outro tipo de mídia, passou. Existe uma biblioteca com os aprovados no bechdeltest.com, mas vale lembrar que existem limitações óbvias atreladas ao teste. O que vale para jogos também se aplica a outras produções: podem não haver papéis relevantes para mulheres, mas a constatação não desqualifica a qualidade das obras.

The Last of Us

A resposta do mercado

Existem contra argumentações, claro. A maioria mora no âmbito financeiro. Há quem diga, na cara de um desenvolvedor, que não tem cabimento fazer um jogo protagonizado por uma mulher que possui interesses amorosos. Seria complexo para os jogadores homens e heterossexuais se sentirem “na pele” da personagem, como foi o recente caso de “Remember Me”, que traz Nilin como heroína. Jean-Max Morris, diretor do jogo, contou ao site PennyArcade que a história de Nilin foi rejeitada por diversas distribuidoras, que se negaram a publicar um jogo encabeçado por uma mulher – ainda mais uma que se atreve a ter relações afetivas. A entrevista de Morris comprova a necessidade de maturidade dentro da indústria: “Se você pensa assim, os jogos nunca vão poder evoluir”.

 

Outro dos casos recentes é relativo a Naughty Dog e seu blockbuster “The Last of Us”, lançado há pouco tempo para PlayStation 3. O enredo tem como grande foco a interação entre os personagens e o diálogo dessa história com o restante do mundo pós-apocalíptico que dá pano de fundo ao título. Em grande parte, o foco é Joel, um cinquentão que está sobrevivendo a sua própria maneira, até que Ellie, uma garota de 14 anos, entra na sua vida. A capa é ilustrada por ambos personagens, mas, de acordo com Neil Druckman, diretor criativo da obra, houve muita pressão para forçar Ellie em um segundo plano, sem tanto destaque.

Anita Sarkeesian

Anita Sarkeesian e os jogos via Kickstarter

Reação inesperada

É raro ver uma garota não ser tratada apenas como ferramenta de enredo

Antes mesmo de seu primeiro vídeo sobre o tema ser lançado, em março de 2013, Sarkeesian foi alvo de quem não ficou contente com as mudanças propostas. As duas citações acima, retiradas do Twitter, são direcionadas a feminista e expressam parte da reação do público. Os exemplos expressam que a argumentação, de maneira muito paradoxal, deixou de ser sobre videogames e se tornou algo pessoal contra Sarkeesian, que teve seus dados expostos, edições em sua página da Wikipédia e, de brinde, um jogo em flash que disponibilizava uma versão digital da feminista que poderia apanhar de diversas maneiras.

A ironia é como a discussão sobre misoginia e sexismo na internet logo se torna uma demonstração sem proporções do próprio assunto posto em pauta. É quase como ver as palavras do sociólogo Allan G. Johson, em seu livro “The Gender Knot”, se tornando realidade.

“É inaceitável [uma mulher levantar a voz] porque isso força os homens a confrontar a realidade do privilégio masculino e da opressão das mulheres”.

A luta de Sarkeesian não é contra os homens. A agressividade perante os motivos dos vídeos é quase uma comprovação dos efeitos pedagógicos da cultura pop na mente dos que consomem os produtos – como se, de fato, uma história sobre uma princesa que salva a si mesma fosse absurdo demais. As empresas criam universos fictícios gigantescos, com suas próprias sociedades, economias e personagens únicos, mas é raro ver uma garota não ser tratada como ferramenta de enredo.

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