Monstros & Monstruosidades

Aconteceu algo curioso em 2009. Depois de muito tempo, uma franquia tradicionalmente sanguinária e focada num nicho bem específico rompeu as barreiras mais importantes: fez sucesso nas bilheterias e conquistou moderadamente a crítica.

O autor da façanha foi “Sexta-Feira 13”, mais recente aparição de Jason Vorhees aos cinemas. Público e imprensa precisavam de um bom motivo para voltar a se divertir com o gênero e ele veio. Pelo ponto de vista estratégico, esse longa-metragem havia aberto a porteira para um revival de qualidade. Os estúdios entenderam o recado e os remakes começaram a invadir os cinemas em toque de caixa concorrendo com algumas histórias originais. A qualidade foi passear. O dinheiro veio aos montes. Acredite, por pior que pareça o filme, a maioria deles deu resultado com média de 2x o valor do investimento inicial.

O nível de diversão gerado por “Sexta-Feira 13” deixou muita gente empolgada, afinal, era possível misturar o bom e velho slasher movie com o cinema moderno e dar boas risadas. Pelo aspecto da produção, ele foi um divisor de águas pois com os US$ 19 milhões de investimento, faturou mais de US$ 90 milhões no mundo todo. 29% desse valor foi arrecadado nos mercados internacionais. Foi um bom indicativo, mas alguns vícios são difíceis de serem deixados para trás, então, enquanto o fenômeno “Atividade Paranormal” se formava puramente baseado nos sustos gratuitos, a onda de filmes inspirados por esse momento começou.

Terror

Terror

Sam Raimi foi o primeiro a apanhar da crítica com o corajoso “Arraste-me Para O Inferno” (Drag me to Hell). O filme em si era uma execução da mesma fórmula de “Evil Dead”, com alterações, mas dentro do princípio: há uma entidade maléfica vinda dos quintos dos infernos, precisamos derrota-la! Nada fantástico, cumpriu tabela. Claro que fiquei feliz, afinal, por causa disso, bati um longo papo com Sam Raimi, Justin Long e Alison Lohman.

Gente boníssima o Raimi, diga-se de passagem. Vestindo o terno característico e extremamente devotado ao que faz. Foi bacana. Já o Justin foi divertido, pois falamos mais sobre “Galaxy Quest” que do terror em questão. Enfim, o filme foi “ok”, certo? Adivinhem o faturamento: $90 milhões no mundo todo, contra $30 milhões de orçamento. Ou seja, US$ 60 milhões de lucro! Curiosamente, o nome internacional de Raimi fez valer na hora do sucesso e 53% do valor foi arrecadado fora dos Estados Unidos.

O filme mais caro dessa leva de 2009 foi o remake de “A Nightmare on Elm Street”, estrelado por Jackie Earle Haley, de “Watchmen”. Custou $35 milhões. Filme sem graça, dependente do saudosismo de uma série que marcou a adolescência de muita gente e que, aposto, já foi esquecido. Nada de cenas marcantes. Nada de inovação no estilo de Freddy Krueger. Apenas mais uma versão do velho ícone. No máximo, outro “ok”. Foi um desbunde financeiro, garantindo aos cofres da Warner $115 milhões no mundo todo.

Terror

Evil

Para os produtores a coisa caminhou bem, afinal, o objetivo é o faturamento. Se o filme funcionar, ótimo! Se não, o próximo já está em produção mesmo. Depois de bons resultados, veio a primeira porrada: “Don’t Be Afraid of The Dark” não conseguiu nem se segurar com o nome de Guillermo del Toro no roteiro e Katie Holmes no elenco.

Produzido pela FilmDistrict e distribuído pela Disney, o terror psicológico deixou de lado as facadas e as presepadas dos filmes anteriormente mencionados e se lascou nas bilheterias. Filme inexplicavelmente fraco (ou incompreendido?) custou $25 milhões e só se salvou por causa da bilheteria internacional, chegando a um total de $36 milhões. Faturou só $24 milhões nos Estados Unidos.

Aí veio o grande teste de fogo para se saber se há alguma demanda por roteiro diferente, e minimamente inteligente, ou se o importante são as lacerações, desmembramentos e o sangue. “O Massacre da Serra Elétrica 3D” é uma das maiores porcarias já feitas em Hollywood e merece a alcunha de ofensivo perante os filmes originais.

Digno de ficar restrito ao mercado de home entertainment, a Lionsgate resolve apostar no cinema e os executivos devem estar sorrindo até agora. Partindo da média de orçamento do gênero ($16 milhões), esse caça-níqueis faturou $34 milhões só nos Estados Unidos e se pagou. Isso sem contar nos trocados que ainda está fazendo no exterior. Entrou em cartaz a pouco no Brasil, aliás.

Terror

Para fechar a listinha, precisamos falar de “A Morte do Demônio” (Evil Dead), dirigido por Fede Alvarez, aquele diretor uruguaio que fez “Ataque de Pânico!”, o curta-metragem alucinante dos robozões em Montevidéu. Custou $17 milhões e, mesmo sendo um festival de sustos previsíveis, “A Morte do Demônio” arrecadou $92 milhões no mundo todo.

Como prequel, traz novas informações e merece destaque por um dos personagens mais sinceros que já vi no gênero. O sujeito faz a besteira que inicia a trama e é pé no chão o suficiente para ir contra as bobagens sempre ditas em filmes desse tipo. “Está tudo bem!”, diz o mocinho. “Não, não está! Só está piorando”, devolve o realista.

Essa talvez seja a melhor ideia desse longa. “Qualquer manifestação cinematográfica tem que ser baseada em boas ideias; se você pensa em algo que vai gerar interesse na tela, você vai obter um resultado”, comenta o diretor uruguaio, em entrevista ao B9.

“O importante é fazer um filme pelo que ele é, não como meio para alcançar esse resultado. Sempre filmei por paixão, não para conseguir um emprego ou ser visto. Fazer as coisas como catapultas não funciona para mim” – Fede Alvarez

Ele pode dizer isso, mas foi exatamente o que aconteceu. Entrando pelo terror, como tantos outros jovens talentos, Alvarez já começou a fazer nome por aqui. Ele é um dos maiores casos pessoais de sucesso gerado pelo YouTube, no cinema.

Terror

Curiosamente, outro bom resultado direto do YouTube foi o longa-metragem “Mama”, nascido a partir de um dos curtas mais assustadores que já vi! Ainda não fui assistir ao filme pelo desespero causado pelo vídeo espanhol. De qualquer forma, “Mama” não convenceu a crítica, mas os US$ 145 milhões arrecadados nas bilheterias mundiais contam sua história.

Ver tantos filmes e milhões resultantes de um gênero, até segunda ordem, desinteressado em trazer algo além das características obrigatórias é algo, inicialmente, difícil de entender, afinal, produzir lixo deveria gerar resultado similar. Mas aí você tira o idealismo de lado, lembra de novela, Big Brother, revistas de fofoca, e daquele monte de filme de artes marciais que ninguém nunca ouve falar, e tudo fez sentido.

Não tenho absolutamente nada contra o cinema, ou a literatura, de gênero. Sempre apoiei ao longo da carreira. Vivo disso como escritor e me especializei no “fantástico” no jornalismo. Mesmo sem envolver as franquias como “Atividade Paranormal”, “Premonição” e “Jogos Mortais”, por exemplo, estamos diante de um mercado prolífico e eficaz. A Asylum herdou o legado de Roger Corman e continua produzindo em grande escala, fazendo as vezes de maior “escola prática” de Hollywood. O importante lá é filmar e abastecer o mercado de DVDs e Blu-Ray. Funciona e, de fato, é um dos poucos lugares onde o antigo sistema de estúdios ainda funciona. Tanto por influencia de Corman quanto dos resultados, o maior gênero, surpresa!, é o terror.

A preocupação com o nicho deixou de existir e, pelo que diretores e produtores falam em Los Angeles, o alvo do “filme de medo” agora é gerar a experiência; ou seja, recriar aquela sensação da galera que encarou o cinema para ver Michael Myers, Jason Vorhees e Freddy Krueger pela primeira vez. Há algo especial nessa resposta tão positiva a mortes e sangue. Alívio social? Diversão? Desejo de ver algo do qual fugimos na vida real? Parece um grande teste de força de vontade. Assistir, e encarar até o final, é questão de honra. E isso me lembra de um outro clássico. No fim das contas, gostamos da experiência do “Pague para Entrar, Reze para Sair”. ?

N.E.: Confira no nosso Letterboxd a lista dos filmes de terror citados nesse artigo.

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor do romance de ficção “Filhos do Fim do Mundo”

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“Os Vingadores”: Quando a criatividade e a imaginação viram produção em massa

Pensando em processos criativos e exigências comerciais – que é, afinal, a essência do que esse blog trata diariamente – posso concluir dois pontos: 1. “Os Vingadores” é um pastel de vento (roubei a definição do Diego Maia). 2. Não poderia ser muito diferente disso.

Criatividade e dinheiro: Essa sim é uma verdadeira união heróica não alcançada por “The Avengers”

Aliás, com poucas exceções, é o que a Marvel tem feito com as suas franquias desde que iniciou a onda de filmes de super-heróis com o despretensioso “Blade” em 1998. Eu excluiria poucos do julgamento de espectador que farei nos próximos parágrafos, são eles: “X-Men 2″, o “Hulk” do Ang Lee, “Homem-Aranha 2″, “Homem de Ferro” e, com alguma boa vontade, o recente “X-Men: Primeira Classe”.

De resto, é a companhia buscando o máximo de bilheteria possível sem arriscar o legado de seus personagens com diretores metidos a artista. Deu certo com Sam Raimi, mas a maioria considera o excelente “Hulk” do Ang Lee – citado acima – um desastre. Então porque insistir no “erro”?

Não conheço o ambiente interno dessas super produções, mas consigo imaginar que muitas delas são geradas mais em salas de reunião cheias de executivos, do que nas mãos de um roteirista/diretor talentoso. E é exatamente esse cenário que enxerguei em praticamente toda a preguiçosa projeção de “Os Vingadores”.

Resumo: Um diretor com pouco poder criativo, que precisa colocar um monte de personagens na tela sem gerar uma confusão, atender a demanda de “blockbuster família” com violência tolerável sem sangue, e garantir sucesso de bilheteria para as continuações já agendadas.

Não há nada de errado em ser apenas divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de ousadia não faz mal

Mas é aqui que chego na minha segunda conclusão: 2. Não poderia ser muito diferente disso. Tento imaginar – caso fosse dono de dezenas de personagens de quadrinhos multi-milionários – se teria coragem de arriscar e fazer de outra forma. Provavelmente não, e nada existe de errado nisso.

A Marvel já sabe a fórmula, e continua repetindo-a ano após ano. Que a empresa queira aproveitar ao máximo seus heróis com filmes rentáveis, eu posso entender, só não é possível dizer que “Os Vingadores” é a melhor adaptação de quadrinhos já feita. O mesmo se pode dizer da franquia “Transformers” de Michael Bay, por exemplo, passatempos rentáveis, mas nenhuma obra que valha a pena revisitar no futuro.

Quem conhece as HQ’s diz que “Os Vingadores” foi muito fiel ao crossover original – eu só lia “Wolverine” e “Super-Homem” na adolescência, portanto não posso opinar – mas como obra cinematográfica a adaptação acaba pasteurizando os personagens e a trama. Um resultado muito parecido com o que vemos diariamente nos ambientes de criação atrelados a altas performances comerciais (leia-se, publicidade).

Eu sei que o filme é divertido e funciona muito bem como passatempo descompromissado – não precisa dizer que tenho um pão embolorado batendo no peito – mas é realmente só isso o que se esperava de “Os Vingadores”? Eu nunca exigiria um “Batman: O Cavaleiro das Trevas” do Joss Whedon – a essência é completamente outra – mas um pouco mais de ousadia não faria mal ao longa.

Eu engulo todas as vezes a velha história de fim do mundo, do artefato alienígena com poder incomensurável, e do vilão que decide roubá-lo com ambições pouco convincentes – estamos falando de quadrinhos, afinal – mas estou cansado da ação repetitiva só para mostrar mais efeitos e barulho na tela.

É possível unir sequências de puro entretenimento com dramaticidade capaz de realmente nos fazer importar com o destino dos personagens… e do mundo. Para tanto, não estou falando de ser dark e tenso como os Batman’s de Nolan, mas esperto e sagaz como o segundo “Homem-Aranha” do Sam Raimi, o segundo “X-Men” de Bryan Singer, e o primeiro “Homem-de-Ferro” Jon Favreau.

Também entendo que Hollywood se assegure nas fórmulas de sucesso para a maioria dos filmes de verão (norte-americano), só acho uma pena desperdiçar tantos personagens do nosso imaginário, desde criança, com adaptações bobas e descartáveis. Não há nada de errado em ser simplesmente divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de provocação poderia me fazer ter vontade de assistir o filme novamente, ao contrário dos bocejos a partir do momento em que o porta-aviões sai do lugar.

O Nolan também deve ter suas brigas com a Warner e a DC Comics, mas não precisa ter mais de um olho funcionando para perceber que, com a carreira que ele desenvolveu, a liberdade é bem maior. O cara trata o personagem com respeito, gera blockbusters milionários e ao mesmo tempo nos faz sair do cinema levando aquilo na cabeça pelos próximos dias.

Também entendo que a Marvel não queira arriscar suas principais propriedades intelectuais, e seu universo seja muito mais leve e bem humorado do que a concorrência. Porém, fico ainda mais decepcionado ao ter certeza de que eles acertam em cheio quando as amarras são mais soltas. Todos os outros filmes da empresa que citei acima se encaixam nisso, mas a maior prova disso responde hoje pelo nome de “Kick-Ass”.

Não tem Capitão América, nem Homem de Ferro, nem Viúva Negra, nem Thor ou Hulk, mas criativamente falando é memorável. Acontece que, na hora do vamo-ver da bilhteria gerou muito pouco para a Marvel, e aí voltamos novamente para a luta no globo da morte entre criatividade e dinheiro. Essa sim é uma verdadeira união heróica para os poucos Nick Fury da vida real que a alcançam.

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O efeito Oscar na bilheteria dos filmes indicados

O gráfico abaixo, realizado pelo Hollywood.com, mostra como as indicações ao Oscar influenciou na bilheteria dos ganhadores da estatueta de Melhor Filme, durante os últimos 10 anos.

Em alguns casos, a ajuda é pequena, como em 2004 com “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” ou “Os Infiltrados” em 2007. Em outros, como “Menina de Ouro” e “Quem Quer Ser Um Milionário?”, a arrecadação pós-Oscar chega a representar 90% do total.

“Titanic”, a segunda maior bilheteria do cinema (sem a correção inflacionária), teve quase metade de seus ganhos após as 14 indicações ao Oscar em 1998.

É a prova de que além de prestígio e o nome marcado na história do cinema, o Oscar rende dinheiro. Milhões de dólares que passariam longe se o filme tivesse sido esnobado pela Academia.

No próximo domingo, dia 7, acontece a 82º cerimônia do Oscar. Eu torço por uma vitória bastante improvável de “Distrito 9″, “Up” ou “Um Homem Sério”.

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