Pós-considerações sobre SOPA [Parte 1]

Abaixo da superfície

Era final do ano passado e eu estava começando a matutar umas ideias para meu segundo artigo para o B9 sobre compartilhamento-download de conteúdo, mudanças de lógica e novos comportamentos quando, muito coincidentemente, ao navegar por certos sites gringos dignos de credibilidade, conteúdo e atenção deparei-me pela primeira vez com algumas notícias sobre o Stop Online Piracy Act e Protect IP Act. Os olhos arregalaram-se, os pêlos da nuca eriçaram, e desde então continuei apreensivamente acompanhando o desenrolar da trama, e discutindo e repassando informações nos twitterfacebooks da vida.

E aí, chegando mais perto dos momentos decisivos, pôs-se em ação o já conhecido e estabelecido modus-operandi de disseminação de informação, principalmente as de teor polêmico acima da média, e de mobilização da web: sites de informação jornalística começam a tocar no assunto (atrasado, com média de uma semana antes do evento), blogs replicam em tom alarmista, usuários começam a prestar atenção, sites e blogs criam be-á-bás e F.A.Q.’s sobre a questão seguido em um crescendo até alcançar os níveis de mini-histeria-redes-socialísticas e criação de rebanhos de usuários engajados de testa franzida, preocupados com SOPA desde pequeninhos.

E todos, olhando pra um só lado e, como sempre, esquecendo e/ou incapazes de enxergar que o quadro, sempre, sempre é maior e mais complexo do que a imagem chapada na largura e altura no monitor. Suas implicações e consequências se refletem em 3D, no eixo Z do volume e profundidade.

O efeito mais pernicioso de SOPAs e PIPAs não é só a arbitrariedade de sumariamente fechar sites em nome de detonar pirataria, o brabo mesmo é o objetivo a médio-longo prazo, maliciosamente entranhado nessas ações. Esse efeito seria, num futuro bem próximo, a pavimentação da involução, do caminho regresso a velha mídia de mão única.

A volta ao controle total de conteúdo e mídia (agora digital e virtual) pelas corporações, sem lugar nem para o usuário ativo nem para a livre produção de conteúdo independente. É a insistente tentativa de levar o usuário de volta para o estado primitivo de mero espectador-receptador e transformar a web do século XXI na televisão do século XX, no que há de pior neste conceito de passividade: veículo de puro consumo.

SOPAs, PIPAs e similares que ainda estão por vir, são censura e/ou caça-pirataria apenas na superfície. O quadro é maior, mais feio e mais profundo. É pior, é controle e moldagem de comportamento. Estes projetos de lei e mecanismos de controle são o reflexo direto, mas escamoteado, das corporações dominando completamente a produção de conteúdo e ditando o que e como você consumirá, deixando apenas o quando como alternativa verdadeira de sua escolha. Ah, mas é claro que sua voz será ouvida sim: em pesquisa de opinião…

E voltaremos ao status quo que as corporações são loucas para recuperar: eles emissores, você receptor (pagante, é claro) e a web o meio. O bom dessa involução , de emissor-receptor-meio, é que velhos livros de teoria da comunicação poderão voltar a serem usados.

1. Porque relevância é um termo que já perdeu qualquer resquício de sentido no território virtual nacional.
2. E também criador de conteúdo.
3. Fator que pode substituído por qualquer outra questão controversa e/ou intimidadora.
4. A serem comentados na parte 2 dessas pós-considerações, daqui a alguns dias.

PS: As ilustrações deste texto estão disponíveis para download GRATUITO e uso sob licença Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.5). Ilustrações – A3 – cmyk (700 KB). A imagem no formato vetorial “EPS” (Encapsulated Post Script) pode ser aberta na maioria dos programas gráficos e redimensionada para o tamanho desejado sem perda de resolução.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Quando a lei entra em conflito com a criatividade [Everything is a Remix, Pt. 4]

O quarto episódio da série “Everything is a Remix” fala de lei e criatividade.

Quando nosso sistema judiciário desconhece a natureza derivativa da criação, os limites entre propriedade, referência e transformação, todo o sistema começa a falhar.

É uma reflexão imperdível sobre propriedade intelectual e a maneira equivocada – SOPA, PIPA, etc – como a justiça trata do assunto em tempos de liberdade digital.

“Quando copiamos, nós justificamos. Quando nos copiam, vilanizamos.”

O vídeo não tem legendas, mas se ajudar você pode ver a transcrição do texto no site do projeto criado por Kirby Ferguson.

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Social Media Week NY: Long live Twitter!

Definitivamente, refiz os votos de casamento com o Twitter, esta ferramenta que só comecei a usar por causa de muita insistência do Merigo e de outros amigos e que, hoje, eu não consigo viver sem.

Mas gosto pessoal não é o único motivo para se adorar o Twitter.

Reunidos em um painel sobre a Censura ao Twitter por parte de diversos governos no mundo com insights levantados por Paul Smalera, da Reuters, Bianca Bosker, do Huffington Post e pelo mediador Anthony de Rosa, admirou-me que esta rede social que não vale tanto ou possui os mesmos usuários do Facebook e tem limitações de mensagens que nenhuma outra rede tem seja o alvo preferido de ações judiciais ou autoritárias de presidências, déspotas e quem está no meio-termo.

É claro que não é possível afirmar que podemos depender apenas do Twitter para uma comunicação global eficaz de informação. Empresas invariavelmente variam. Mudam rumos, políticas, formas de ganhar dinheiro. Duvido os dois então jovens rapazes do Google, ao chegar a um algoritmo revolucionário, imaginaram-se discutindo política chinesa como parte de sua estratégia de ganhar o pão nosso de cada dia. Possivelmente devem estar calculando o algoritmo de negociação com o Partido Comunista…

Mas o passarinho, ah, o passarinho. Você soube em primeira mão sobre a morte do Michael Jackson, do Steve Jobs e da Whitney Houston por ele. Mas soube mais: o que estava acontecendo no Irã no exato momento em que Mamoud Ahmadinejad se reelegeu (escrevi o nome dele com certo medo de receber “visitas” por aqui) pelo olhar de iranianos, que a Lei Ficha Limpa ia ser engavetada, que o que aconteceu na Primavera Árabe teve enorme contribuição das redes sociais, que as Acampadas espanholas foram um grito de uma juventude enfrentando quase 50% de desemprego em sua faixa etária, que a revolta em Londres não era só algazarra de arruaceiros, que o Occupy Wall Street organizou-se solidamente pela web e aqueles 200 gatos pingados acampados transformaram-se em milhares pelo mundo, incluindo SP.

Esta maravilha está sob ameaça, e clara: tanto leis de controle da pirataria e de outros crimes na Internet, bem como processos de quebra de sigilo e fechamento de contas abrem precedentes para esta relação única de seus usuários possa ser prejudicada.

A conclusão da mesa e deste autor, em certo ponto sombria, é a de que o cenário de Mídias Sociais e a livre disseminação da informação não é consistente. Não será como “1984″, não será uma Era de Aquário. Possivelmente, pode até não ser por uma rede social existente hoje.

E veja que não falamos de marketing ou de como as redes estão ganhando dinheiro ou angariando investidores. Você, caro planejador de Mídias Sociais, está olhando para o futuro e pensando pelo menos um pouco nisso? Ou aposta na eterna liderança do Facebook, que tem a política de privacidade mais estranha de todos os seus concorrentes?

Acompanhe também outros relatos meus, quase em real time, em http://smw.ag2.com.br

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Paulo Coelho no The Pirate Bay: “Façam download dos meus livros”

Paulo Coelho, ao falar sobre o SOPA em seu blog, encorajou o download de seus livros. Segundo ele, a venda física de diversas de suas obras aumentou depois que elas apareceram “ilegalmente” em sites P2P.

Sendo assim, o escritor decidiu participar de um projeto do The Pirate Bay que divulga artistas interessados em promover o download de seus trabalhos. O site de torrents mais famoso troca o logo na página inicial e linka para a página do escritor, músico, cineasta ou qualquer que seja a sua área de criação.

Paulo Coelho, que faz tempo já pegou o espírito da coisa quando se fala em tecnologia e direitos autorais, acerta mais uma vez. Sendo assim, nós lhe perdoamos pelos seus livros.

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SOPA 101


See video

“Shoot first, think later.”
Watch and learn about the proposed Stop Online Piracy Act (SOPA) being debated in Washington, legislation that will give big companies and government agencies the power to shut down any website they please.

Find out more at http://http://americancensorship.org

Internet censurada contra o SOPA/PIPA

Um monte de gente descobriu o que é o SOPA/PIPA hoje, ao tentar copiar pesquisar algo na Wikipedia e dar de cara com uma página preta. Já tratamos do tema aqui e aqui, assim como a grande maioria dos blogs de respeito, porém, apenas com a onda de protestos do dia é que o tema se tornou mainstream.

Além da Wikipedia, outros grandes sites estão protestando. O Google colocou uma faixa preta no logo na versão US, o Flickr criou uma ferramenta que permite deixar a foto apagada com apenas um clique, o reddit também está fora, e esses são apenas alguns exemplos.

Mas o protesto mais criativo até agora foi da Wired, que continua no ar, mas censurou os textos e imagens com um layer preto por cima.

Outra ação legal vem da Engine Advocacy, que ao invés de ficar reclamando muito no Twitter criou uma ferramenta para facilitar que as pessoas entrem em contato com o senador do seu estado. É a stopthewall.us.

Existia o rumor de que o Facebook também protestaria hoje, mas tirar a rede social do ar por 24 horas representaria uma perda de 11.7 milhões de dólares, levando em consideração a receita de 4.27 bilhões em 2011.

Você pode argumentar que não faz sentido protestar contra uma lei que vai tirar os sites do ar simplesmente tirando os sites do ar – algo como cortar o galho da árvore estando sentado nele – mas os congressistas americanos já estão amarelando, e apesar de essa não ser uma proposta brasileira, não se engane, vai afetar a sua vida também caso seja aprovada.

/dica do vídeo: Marcelo Plioplis

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SOPA: Começou a briga do século

Os tempos mudam depressa, as leis não. Agora parece que as indústrias da música e do cinema resolveram movimentar sua máquina de lobby na tentativa de nadar para a praia e não morrer afogadas. E você pensa: finalmente vão adaptar seu modelo de negócio para as demandas atuais. Não é bem assim.

Você já deve ter ouvido falar do SOPA (Stop Online Piracy Act – lei de combate à pirataria) que está em discussão nos EUA. As águas andam turbulentas para a indústria da criatividade há mais de 10 anos.

Sem entrar no mérito polêmico da propriedade intelectual, assunto muito mais complexo, vou me limitar a dizer que as empresas fortemente ancoradas na propriedade intelectual talvez tenham que levar em conta a mudança cultural que está se formando há um tempo considerável. Basta lembrar que a regulação da propriedade intelectual está fortemente ligada à propriedade industrial (no Brasil, feita pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Ou seja, são leis da época da Revolução Industrial, para proteger propriedade das indústrias.

É aí que se desenha o cenário inusitado. Antes, a movimentação era unilateral, as técnicas mercadológicas empurravam a demanda e forçavam benefícios da legislação com uma força incomparável – e restava aos cidadãos contestarem na mesma moeda, se quisessem, a Justiça. Agora, meu amigo, você pode entrar na jogada de várias novas maneiras, seja fazendo e vendendo seu produto, seja financiando seu desejo ou ajudando a criar uma onda para equilibrar o mercado.

A evolução da rede proporciona cada vez mais ferramentas para contrapor a movimentação de mercado das grandes empresas. E o mais interessante é que até algumas delas sentem a corrente mudar e tomam partido. A coisa começou a ficar séria.

Se as novas ferramentas usam a multidão, que usa o que está disponível na internet, seria o SOPA o primeiro golpe por parte das empresas no ganho de força dos consumidores?

No caso do SOPA, surgiu um contramovimento muito forte de usuários que não concordam com a lei, junto de várias empresas de peso, como Google, Paypal e Aol. E não é brincadeira não, segundo o The Next Web, o Go Daddy viu milhares de usuários questionarem a posição da empresa sobre legislação. Como app é pop, não demorou a surgir um que escaneia códigos de barras e lista os produtos de empresas que são a favor da lei, o Boycott SOPA.

Como os consumidores e as marcas vão lidar com essa transferência de poder? A briga vai ser boa.

Mas que fique claro: dizer que o mar não tá para peixe pra indústria da música e do cinema é muito diferente de dizer o mesmo da música e do cinema. Navegar é preciso.

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