A coragem da Vox na tentativa de um novo modelo de jornalismo ‘explicativo’

Ler jornais sempre foi uma maneira de se manter informado. Acompanhar revistas e outras publicações jornalísticas também tinha um objetivo básico bastante parecido: ficar a par das novidades, e nos artigos mais extensos, entender e analisar melhor a situação noticiada anteriormente, ou que ainda estava se desenrolando.

Esse caráter didático é uma premissa que todo jornalista costuma carregar consigo. Para um repórter, não importa se o entrevistado vai achar que ele parece um idiota fazendo uma pergunta tão básica. Lembro-me de uma professora esclarecendo que neste quesito, ‘o repórter pode parecer burro; o leitor, não’.

A Vox, nova publicação experimental da Vox Media, grupo responsável por sites conhecidos como o The Verge e Polygon, segue essa ‘vibe’ didática. Misturando o lema motivacional da empresa – “se você pegar pessoas realmente espertas, oferecer a elas ferramentas realmente muito boas, e botar fé que elas vão executar as suas ideias, elas podem fazer coisas incríveis” – e um tanto de coragem nos negócios, a Vox é quase como uma Wikipédia bonita de se ver e com autores bem definidos.

Em tempos que o Mauricio Cid consegue movimentar pessoas para alterarem a Wikipedia em prol de uma piada, não parece exatamente um esforço vão, mas ainda assim, é bastante questionável (e também questionador).

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Didatismo dos fichamentos

Quem já precisou estudar sistematicamente algum assunto, ao se preparar para um concurso, vestibular ou até no estudo de idiomas, já deve ter sido apresentado ao método das fichas de estudo. Trata-se de uma forma de organizar o material a ser estudado, facilitando a compreensão e a memorização, já que as informações são agrupadas em diferentes fichas.

A Vox utiliza esse mesmo conceito de fichamentos para explicar alguns conceitos que podem ser mais complexos. Cada assunto ganha um ‘ficheiro’, cheio de ‘fichas’ que explicam diferentes aspectos da questão. Por exemplo, o ficheiro da Vox sobre Neutralidade da Rede traz fichas que explicam separadamente o que é a neutralidade da rede, quem criou esse conceito, quais são os principais argumentos, qual a regulação que ela exige, quais são as outras alternativas a essa regulação, entre outros detalhes, explicados em um total de 14 diferentes fichas.

Grosso modo, são como se fossem verbetes da Wikipedia, com as suas seções sendo exibidas em formato de fichas, em um visual mais agradável e com um jornalista responsável pela apuração daquele conteúdo. A vantagem? Matérias mais complexas podem contar com explicações mais detalhadas em links que ganham um destaque especial no texto. Uma matéria sobre o Obamacare, por exemplo, trazia links para ficheiros que explicavam melhor o conceito de ‘insurance exchanges’ e de ‘individual mandates’, para quem não estivesse familiarizado com os termos.

A descrença e o esforço de tentar

A missão da Vox parece simples: explicar as notícias que circulam nos jornais. Para a equipe do site, não basta apenas ‘divulgar’ a novidade, mas também contextualizá-la, esclarecer eventuais dúvidas dos leitores e permitir que a notícia seja mais uma fonte de conhecimento.

“Estávamos sendo puxados para trás não apenas pela tecnologia, mas também pela cultura do jornalismo, que usa algumas convenções do impresso” – Ezra Klein 

Não é nada que já não seja feito também por outras mídias – pela própria Wikipedia, ou por sites como o About.com, como destaca o The Wire – e ainda há o perigo de perder a profundidade dos assuntos, ao tentar trata-los com excessivo didatismo, ao invés do foco na descrição da situação.

A descrença também vem dos próprios colegas de jornalismo. Personalidades do ramo, como Michael Wolff, afirmam que jornalistas não deveriam se tornar empreendedores – uma clara referência à Ezra Klein, que deixou seu posto no Washington Post (onde havia sido bem sucedido no blog Wonkblog) para se juntar à Vox Media.

Independentemente da percepção dos seus pares, a Vox segue o dito popular do ‘melhor feito que perfeito’, e ‘pôs o trabalho na rua’. O site da Vox é agradável, e usa um sistema de publicação próprio da Vox, o Chorus, que já foi elogiado por publicações como o TechCrunch pelos benefícios que oferece aos seus escritores, como permitir editar e ilustrar o material, além de interagir nas redes sociais e responder leitores, de uma forma bastante intuitiva.

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Em todo caso, os leitores são devidamente avisados de que o site Vox é um experimento em desenvolvimento. “Estávamos sendo puxados para trás não apenas pela tecnologia, mas também pela cultura do jornalismo, que usa algumas convenções do impresso”, explica Ezra, citando que o modelo de ‘incremento diário da cobertura’, que precisa ocupar o espaço de um jornal impresso, não é mais uma necessidade atual. Ele conta que queria criar algo completamente novo – a Vox Media, segundo ele, possui as ferramentas de que ele precisa para tentar esse ‘novo experimento’.

Para o NYT, esse pode ser um novo paradigma do mercado jornalístico: perder jovens talentos porque eles estão atrás de empresas que tenham tecnologias que ajudem a fazer um melhor jornalismo. O Chorus da Vox Media foi tão chamativo que funcionou quase como uma ferramenta de recrutamento: além de Ezra Klein, Melissa Bell, que era diretora de plataformas no Washington Post, também decidiu fazer parte do time da Vox Media.

Novo paradigma do mercado jornalístico: perder jovens talentos porque eles estão atrás de empresas que tenham tecnologias que ajudem a fazer um melhor jornalismo. 

O esforço de tentar fazer algo diferente é pago com a confiança de talentosos profissionais, que veem futuro na iniciativa da Vox, e nas suas ferramentas – “O Chorus é como se fosse um unicórnio com um gatinho nas costas. As pessoas pensam que ele é um sistema mágico, que resolve tudo”, brinca Melissa. Obviamente que existem detalhes que sistema nenhum irá resolver, mas certamente ter uma publicação customizada para as necessidades da própria equipe pode fazer a diferença na hora de incentivar um trabalho criativo.

A conta fecha?

Vira e mexe, uma notícia sobre algo diferente traz junto a pergunta: ‘mas a conta fecha?’

A preocupação com um modelo de negócios para o jornalismo é latente, e aparentemente esta é uma daquelas perguntas que vale um milhão de dólares. Ninguém sabe.

Publicações bem estabelecidas como o Guardian também andam fazendo experimentos nada ortodoxos, como colocar um robô para selecionar o ‘melhor’ material de um determinado período, automaticamente imprimindo um jornalzinho que faz a curadoria da nata do material da publicação, de acordo com curtidas, comentários, compartilhamentos e outras métricas de engajamento. Não há como saber se o ‘robô jornalista’ do Guardian vai ser bem sucedido, mas é preciso tentar.

Além do Vox, outros sites com a premissa de ‘explicar e contextualizar’ o noticiário tem surgido. A maioria deles aposta também no chamado ‘jornalismo de dados’, onde o repórter usa suas habilidades jornalísticas para encontrar materiais relevantes dentro de pilhas e pilhas de dados que circulam na rede. Entre as iniciativas recentes estão o 548, capitaneado por Nate Silver, ex-NYT, e o The Upshot, do mesmo NYT que antes acolhera Nate, que foca em assuntos políticos e legislativos, já de olho nas eleições norte-americanas.

Na pegada da explicação, o VentureBeat até montou um gráfico básico explicando as semelhanças e diferenças desses sites, adicionando ainda a seção noticiosa do BuzzFeed:

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Steve Buttry diz que

jornalismo digital não é feito na zona de conforto de ninguém. É preciso lidar com o desconforto de ter modelos de negócios que ainda apresentam buracos, ou iniciativas que não se sabe bem se vão ser rentáveis.

Em todo caso, a Vox conseguiu chamar a atenção dos investidores. Desde a sua idealização, em 2008, a Vox Media já conquistou investimentos da casa dos 80 milhões de dólares, de investidores como a Accel Partners e a Comcast Interactive Capital, entre outros. Esse valor foi utilizado para levantar sites como o The Verge, que trabalha sob um severo código de ética que não permite nem mesmo viagens pagas para os seus jornalistas cobrirem eventos – ‘se o evento for mesmo relevante, o próprio The Verge pagará pela estadia dos seus repórteres’, esclarece o texto – e outras publicações da Vox Media, como o Eater e o Curbed.

O curioso é que a estratégia da Vox Media é diferente de outras publicações, que apostam em títulos caça-cliques, enquetes, quizzes, listas, e outras formas de interação com os leitores. A premissa da Vox pode parecer altamente maluca, mas pode ser melhor no longo prazo, ainda que por enquanto envolva o esforço de apenas 20 repórteres. Em um mundo digital onde obter informação é simples e fácil – e em alguns casos, a informação é abundante demais – o esforço ‘kamikaze’ da Vox é tentar oferecer contexto, opinião e idoneidade. Pode dar super certo, ou ser um completo fracasso.

Mas o que seriam das revoluções se não houvessem pessoas que acreditassem que era possível algo novo, não é mesmo?

O trabalho da Vox é tão assustador quanto parece empolgante. No entanto, se olharmos para metade das tecnologias que usamos hoje em dia, eram feitas as mesmas considerações. “Muitas pessoas pensaram que essa era uma péssima ideia, tanto estratégica quanto de produto”, conta Paul Buchheit, criador do Gmail, sobre como a sua empreitada foi recebida há 10 anos atrás, quando era lançada.

Quem sabe Ezra é como uma versão jornalística de Larry Page e Sergey Brin. Quem sabe a Vox não é o Gmail de 2024. Apenas observem e aguardem.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Guardian Media Group lança projeto que une jornalismo e crowdfunding

Contributoria é o novo projeto experimental do Guardian Media Group, holding por trás dos grandes The Guardian e Observer.

“Era hora de criar uma abordagem diferente, uma combinação de novas tecnologias, novos processos de trabalho e novos modelos de pagamento.” – Matt, Sarah and Dan, no blog do projeto 

Funcionando como uma plataforma de jornalismo que opera em três diferentes frentes – planejamento, produção e publicação – o projeto combina crowdsourcing, financiamento coletivo e produção de conteúdo.

No estágio de planejamento, jornalistas que foram pré-aprovados na Contributoria podem propor suas ideias e pautas, que são classificadas por membros em um sistema de pontuação que dá diferentes pesos aos membros, dependendo do tipo de assinatura que possui.

Como em um modelo de crowdfunding, as ideias precisam arrecadar “bakers” (pontos) suficientes para passar para a produção.

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Nesta fase, a Contributoria fez parceria com Poetica, uma plataforma que permite edição de arquivos em tempo real por diversos usuários, similar ao sistema do Google Docs. Aqui, os membros ajudam na elaboração do rascunho final.

Na última fase, o artigo é publicado no site para todos e também disponível sob licença Creative Commons. Por fim, os jornalistas são pagos através de um fundo que tem origem nas taxas pagas pelos membros do projeto.

Se tiver sucesso, a plataforma pode ajudar não só a comunidade de jornalistas freelancers com maior apoio e recompensa, mas também a repensar todo o processo de criação de conteúdo nos dias de hoje.

 

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Storify lança versão paga para empresas

Storify lançou recentemente uma nova versão do seu site, o Storify Business, que inclui novos recursos voltados para marcas e empresas. Para quem não está familiarizado, Storify é uma ferramenta que permite que você construa uma história a partir de posts compartilhados nas redes sociais.

Com o Storify Business, as marcas podem criar histórias privadas, visíveis apenas para quem possui o link, o que torna seus dados mais rastreáveis para relatórios de métricas. Além de ser algo útil quando se tem um público bem segmentado.

Outro avanço é que pode-se customizar o visual da história criada de acordo com o design da marca, mudando cores e acrescentando o logo. Essa versão também será livre de anúncios e terá suporte de SEO.

O plano sai por $59 mensais, se for feito até dia 15 de maio. Depois, passa a custar $79.

Empresas como Pepsi, Microsoft, IBM, HBO, NBC News, Time e The Guardian já eram populares adeptas da plataforma. Agora, com estas novidades, Storify tenta combinar vários mundos em uma ferramenta de marketing, facilitando para as empresas a criação de conteúdo, o compartilhamento segmentado, a curadoria e filtro de tantas informações e análises de resultados mais apurados.

É uma versão com potencial, mas não deixa de lado a importância do tempo gasto pelas marcas em estudar tendências nas redes sociais para fazer uso das notícias mais úteis e pontos-chave para a marca.

Sem esse investimento interno, o Storify perde o propósito social e o poder de criação de histórias.

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Guardian Witness: aplicativo transforma usuários em jornalistas

Guardian Witness é uma nova forma do público enviar suas próprias histórias, fotos e vídeos para o The Guardian, que publicará as melhores.

O aplicativo funciona através de tarefas disponíveis para serem cumpridas, normalmente seguindo algum tema/pauta popular no momento. As tarefas cobrem as seções de notíciais, esportes, cultura e estilo de vida, mudando de tema a cada semana de acordo com o que os editores estipulam.

O serviço permite cobertura de notícias de forma mais completa, capturando todos os pontos de vista.

Com a facilidade de se produzir qualquer conteúdo multimídia hoje, devido aos smartphones e tablets, espera-se que fotos e vídeos sejam os tipos mais enviados.

Sabendo que o modelo tradicional de publicação de informação já está fadado ao passado, o aplicativo é um passo na frente para fazer uso e disseminar, de fato, conteúdos construídos de forma colaborativa.

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Abaixo, um vídeo de como funciona o Guardian Witness.

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New York Times apresenta redesign de seu website

Para a maioria dos sites que buscam se atualizar, há um debate interminável entre estética e experiência do usuário. Já para o New York Times, seu redesign tenta principalmente repensar como cada história é consumida, o que a liga estritamente ao seu significado e até mesmo a sua veracidade.

De cara nova, as histórias ganham scroll infinito e todos os elementos de interação – fotos, vídeos, infográficos – não se escondem mais em miniaturas no canto da página. Agora, todas as mídias são embedadas diretamente no corpo do texto.

As páginas ganham respiro e bastante espaço em branco, sumindo com muitos dos links que ficavam ao redor. Antes, era regra para os grandes portais darem ao leitor o número máximo de links em uma página, para clicarmos infinitamente. Hoje, os usuários estão acostumados às experiências mais suaves, limpas e intuitivas, principalmente depois da ascensão do mobile.

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Uma das maiores mudanças, além da simplicidade, está nos comentários. Antes sempre posicionados ao final de cada artigo, agora  estão mais próximos do autor, ocupando o mesmo peso e espaço. Assim, a voz dos usuários ganha importância de discurso e a conversa ao redor dos artigos dão continuidade ao tema.

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Já a divisão do conteúdo em categorias continua sendo aplicada, mesmo com algoritmos podendo propiciar uma navegação mais personalizada e natural, como temos visto acontecer quando falamos startups de conteúdo.

Essa opção de busca e seções tradicionais mantém certa tradição do jornal, que prega por transparência e abertura a todos os fatos. A interação e personalização acontece na marcação de favoritos e na barra de navegação das categorias, tornando-a mais próxima do usuário, sem a necessidade de usar algoritmos para prever o interesse de cada um.

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As mudanças indicam a necessidade do NYT de mudar para preservar sua perspectiva editorial confiável em um mundo que muda a todo instante.

Para o jornal, tendo você um iPhone, um Adroid, um laptop ou web app, o importante é que a publicação seja a mesma, confiável e que propicie uma experiência que permita engajar os leitores. Aqui, o layout não é mais uma discussão sobre uma página na tela, e sim sobre a informação.

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Por enquanto, o redesign do NYT é um protótipo em beta aberto a alguns usuários que pedirem acesso através deste site.

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