Olá, antidesigners e brainstormers!
Neste programa, Ivan Mizanzuk, Rafael Ancara e Thiago Grossmann vão fazer você perder quase duas horas da sua vida ouvindo as leituras de comentários dos programas passados, geração de tretas desnecessárias e, para apimentar a relação, uma boa dose de piadas (sem graça) de português a cada 10 minutos.
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Nem só de trollagem se vive no universo dos comentários na internet. Pelo menos é o que comprova 100 Reasons to Love Volvo, projeto desenvolvido pelo ilustrador Matt Johnstone, da Jelly London, para a Volvo do Reino Unido.
Para comemorar a marca de 100 mil likes no Facebook, a montadora solicitou aos fãs que compartilhassem suas histórias e lembranças favoritas com seus carros, que foram ilustradas por Johnstone. O resultado foi um trabalho único, que teve sua criação registrada em vídeo.
Na semana passada, o YouTube colocou em prática o novo sistema de comentários, anunciado em setembro. Integrado ao Google+, o objetivo é oferecer uma “classificação mais inteligente”, destacando mais conteúdos de pessoas que o usuário conhece e estimular a interação por meio do +mencionar, tornando as conversas mais significativas. Uma das consequências desta mudança poderá ser a redução de trollagens no site, reconhecido por concentrar alguns dos comentários mais deprimentes da internet. O problema é que, pelo menos de cara, a novidade não agradou muita gente, como a cantora Emma Blackery, que resolveu musicar sua desaprovação em My Thoughts on Google+.
A música, em si, é divertida e tem uma levada fofa. Não fosse pela letra: na primeira parte do refrão, Emma vai direto ao ponto: “Foda-se, Google Plus/Nós não queremos o seu maldito barulho/Você arruinou o nosso site e chamou isso de integração/Estou escrevendo esta canção para desabafar nossa frustração…”
No ar desde sexta-feira, o vídeo tem quase 700 mil views.
No vídeo abaixo, o YouTube faz uma breve apresentação do novo sistema de comentários.
Há algumas semanas, o site Popular Sciencepublicou um texto explicando a razão de não aceitar mais comentários nos novos textos, daquele dia em diante. “Comentários podem ser ruins para a ciência. É por isso que, aqui no PopularScience.com, nós estamos encerrando-os”, dizia o primeiro parágrafo. A decisão foi atribuída ao excesso de trolls e spambots, que inundavam um espaço dedicado à reflexão e ao debate de ideias. E, apesar de respeitar os argumentos dos editores, discordo da decisão tomada por eles.
No caso da PopSci, entre as justificativas foi citado um estudo realizado na Universidade de Wisconsin-Madison por Dominique Brossard e Dietram A. Scheufele, que apontava que os comentários grosseiros ou mais duros poderiam distorcer de maneira significativa a percepção dos leitores sobre o texto principal, causando impacto em seu entendimento sobre a ciência.
Mas daí fica a pergunta: por que não no site? E mais: se comentários são tão ruins assim para a ciência, por que outros sites não fazem o mesmo?
De acordo com os editores, a partir do momento em que se considera que os comentários formatam a opinião pública, que por sua vez formata as políticas públicas, que consequentemente determinam como, se e quais pesquisas serão financiadas, então a responsabilidade fica muito maior. O texto termina com um pedido para que os leitores continuem interagindo com a publicação, mas por outros meios, como redes sociais e e-mails. Mas daí fica a pergunta: por que não no site? E mais: se comentários são tão ruins assim para a ciência, por que outros sites não fazem o mesmo?
Talvez porque os comentários sejam menos ruins para a ciência e muito mais para a autoestima da equipe do PopSci, que certamente deve estar cansada das trollagens constantes, citadas em sua justificativa. Por um momento eu penso: quem pode culpá-los?
Não é fácil se manter na mira constante de pessoas que muitas vezes não se dão ao trabalho de realmente ler o que você escreveu, que tiram conclusões apressadas a partir de um título e no máximo uma linha fina, que fazem questão de distorcer o que você escreveu de acordo com o que eles conseguiram interpretar – e que geralmente não tem nada a ver com a intenção inicial do autor -, ou ainda que não entendem que o autor de um texto tem direito à opinião – especialmente quando a assinatura dele está ali -, ainda que ela não seja compartilhada pelos leitores ou pela publicação em si. É neste momento que eu me lembro de uma máxima aplicável a inúmeras situações, inclusive à exposição pública de ideias:
“Se não sabe brincar, não desce para o play”.
Os trolls vencem
No caso específico da PopSci, a equipe do site resolveu descer para o play e simplesmente colocar um cadeado no portão, para poder brincar sozinha. Em resumo, os trolls levaram a melhor: se eles não podem comentar, ninguém mais pode. Acabou o debate, acabou a troca de ideias, acabou a liberdade de dizer o que se pensa, independentemente se você está concordando ou discordando do outro. Pelo menos no domínio deles.
O curioso, entretanto, é que não é o conteúdo dos comentários que importa, segundo eles, mas sim o tom adotado.
A dupla de pesquisadores Dominique Brossard e Dietram A. Scheufele, responsável pela pesquisa que ajudou a fundamentar a decisão do Popular Science, também escreveu um artigo para o The New York Times. No texto, eles explicam que “em se tratando de ler e entender novas histórias online, o meio pode ter um efeito surpreendentemente potente na mensagem”. O curioso, entretanto, é que não é o conteúdo dos comentários que importa, segundo eles, mas sim o tom adotado.
“Nosso cenário emergente de mídia online criou um novo fórum público, sem as normas sociais tradicionais e a auto-regulação que tipicamente governam a maneira como nos relacionamos pessoalmente – e esse meio, cada vez mais, formata tanto o que sabemos quanto o que nos pensamos que sabemos”, diz o artigo.
Basicamente, as pessoas tendem a perder o filtro quando estão em frente ao computador (tablet ou smartphone, que seja). Se no mundo real as pessoas costumam ter um pouco mais de cuidado com o que dizem, e não saem por aí ofendendo os outros sem motivo aparente, no mundo virtual qualquer um pode se tornar um especialista e dono da verdade, ainda mais quando se tem aquela sensação automática de que se é ouvido.
Enquanto há quem adote a saída mais fácil e opte por simplesmente proibir comentários, há outras alternativas para lidar com trollagens e afins, como mostra a artista Vi Hart no vídeo Vi Hart’s Guide to Comments.
De uma forma bastante divertida, Vi quebra alguns dos comentários mais comuns que vemos por aí ao mostrar o que está por trás deles, lembrando que é muito fácil encontrar coragem para ofender o outro quando a interação é meramente virtual. E ainda destaca alguns tipinhos típicos, como aqueles que adoram falar mal de um autor ou do seu trabalho, porque não só acreditam que são melhores que ele, mas porque estão desesperados por atenção.
Então, em vez de simplesmente proibir comentários, é possível fazer uma escolha simples, como sugere um popular perfil do Twitter: não leia.
The Disapproval Matrix
A questão seguinte, então, é que nem todos os comentários negativos são feitos por trolls e haters. Às vezes são pessoas que apenas discordam da sua opinião e preferem fundamentar seus argumentos com informações, e não com insultos. Isso significa que, se você resolver ler os comentários, como poderá diferenciá-los uns dos outros?
A jornalista Ann Friedman tentou responder à pergunta com a criação do The Disapproval Matrix, uma espécie de plano cartesiano que propõe ajudar a separar os haters dos feedbacks produtivos. Os quadrantes são divididos entre aqueles a quem você deve ouvir e aqueles que você deve ignorar. Ao primeiro grupo pertencem os críticos – pessoas que têm real conhecimento do assunto, mas não estão gostando da forma como você o trata. Suas sugestões podem ser úteis para ajustar o seu trabalho -, e os lovers – pessoas que acreditam em você, mas que também estão dando feedbacks negativos, mas racionais, porque eles querem que você aperfeiçoe seu trabalho.
No segundo grupo, aquele que deve ser ignorado, estão os frenemies – aquelas pessoas que conhecem você e o seu trabalho, mas quando fazem uma crítica, no fundo ela é direcionada a você como pessoa, e não ao seu trabalho. Em resumo, são aquelas pessoas que estão mais interessadas em detonar você do que manter um diálogo produtivo -, e os haters – aqueles que não precisam de argumentos racionais para detonar você e o seu trabalho, e costumam fazer isso sem mesmo saber do que estão falando. O conselho de Ann?
“Ignore! Interagir com eles não vai tornar você melhor no que você faz. E fique tranquilo, pois ter haters é a prova de que seu trabalho está encontrando uma grande audiência e incentivando conversas”.
Uma banana para o leitor
Em abril de 2011, o site Ars Technica realizou um excelente experimento com seus leitores, confirmando o que todo autor/editor suspeita em algum momento: a maioria realmente não se dá ao trabalho de ler a íntegra de um texto antes de postar um comentário. A comprovação foi feita com a publicação do artigo Guns at home more likely to be used stupidly than in self-defense (Armas em casa são mais suscetíveis de serem utilizadas estupidamente do que em autodefesa), discutindo se faz sentindo ter armas em casa, do ponto de vista da saúde pública.
Lá pelo final do sexto parágrafo, John Timmer, o autor do texto, escreve o seguinte:
“Se você leu até aqui, por favor, mencione Bananas em seu comentário abaixo. Nós temos certeza de que 90% das pessoas que responderão a esta história nem a leram primeiro”.
Primeira página, 40 comentários, e nada de bananas. Segunda página, mais 40 comentários e nenhum sinal das bananas, que só começaram a ser citadas lá pela metade da terceira página, 93 comentários depois. O mais divertido é que, mesmo após a primeira banana ser revelada, seguiram-se incontáveis outros comentários com opiniões pré-fabricadas, de quem nem se deu ao trabalho de ler o texto.
O mais interessante é que, apesar de todos os problemas causados por trolls e haters, alguns sites preferem manter os comentários abertos por acreditarem no direito que todos têm de expressar suas opiniões, por mais absurdas que elas sejam. A ironia está no fato de muitos leitores, então, decidirem usar este espaço para tentar calar o autor do texto, ora porque não concordam com o que foi dito, ora porque acham que o autor não tem capacidade para falar sobre determinado assunto e trouxe uma visão muito rasa, ou apenas porque não vão com a cara dele e ponto final.
Já perdi as contas de quantas vezes alguém já adotou um tom decepcionado ao usar uma frase do tipo “não esperava isso do site x” ou da revista y ou jornal z, simplesmente porque não gostou do que leu.
Quando você ouvir o Braincast 89 – Rei do Camarote: Verdade ou Mito, que foi ao ar hoje, fique atento ao trecho em que Wagner Martins – o Mr. Manson – falou sobre como estamos, cada vez mais, discutindo coisas que chegam a nós pela visão de outras pessoas, via redes sociais. “Estamos formando nossa opinião pela visão de outras pessoas, sem clicar no link e ler”, disse ele, definindo isso como uma espécie de deformação na maneira como nos informamos.
A impressão que se tem é que qualquer um pode ter e emitir uma opinião, desde que ela esteja de acordo com o que o outro espera
Mr. Manson lembra, ainda, como o algoritmo do Facebook determina as informações que chegam até nós, de acordo com nossas interações. Em outras palavras, se eu interajo mais com alguém que compartilha das minhas opiniões, atualizações de quem tem opiniões contrárias aparecerão com menor frequência em meu feed.
O resultado disso, conclui Mr. Manson, é uma formação cada vez mais distorcida, tanto da nossa opinião quanto do nosso caráter. A impressão que se tem é que qualquer um pode ter e emitir uma opinião, desde que ela esteja de acordo com o que o outro espera que você diga ou escreva.
De verdade, eu espero que os veículos que eu acompanho continuem trazendo opiniões diferentes da minha, especialmente daqueles autores de quem eu discordo completamente. Considero isso um ótimo estímulo para buscar informações que fundamentem o meu posicionamento sobre este ou aquele assunto. Ou, como disse Voltaire,
“Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”
… Ainda que, para isso, seja preciso ignorar o que trolls e haters têm a dizer. Porque, a partir do momento em que uma pessoa é calada em função da sua forma de pensar, não vai demorar muito para que todos nós sejamos silenciados.
É constante, para não dizer diária – quiçá de hora em hora, como aqueles avisos da Telesena -, a reclamação que ouço de colegas e amigos que trabalham em propaganda sobre a babaquização do mundo. As pessoas, segundo a opinião destes colegas e amigos, estão muito “caretas” hoje em dia. O consumidor “não sabe mais rir de uma piada”, virou um “chato”. Até porque, “porra, é só uma brincadeira”.
Não raramente a reclamação vem acompanhada de uma lista com os últimos comerciais questionados junto ao Conar e com a já célebre consideração de que “Os Trapalhões” e suas piadas sobre gays, negros, mulheres e nordestinos, nunca seriam produzidos hoje, quanto mais veiculados no domingo às 7 da noite.
Não sei se vocês já estão por dentro, mas tem um lance aí chamado internet, que parece que veio pra ficar. Com ela, a rede mundial de computadores, vieram e estão ficando os fóruns de discussão, as caixas de comentários e as páginas das empresas no Facebook, que usualmente recebem uma enxurrada de postagens quando alguma mensagem publicitária ou decisão mercadológica desagrada um determinado grupo ou ajuntamento de pessoas.
Se há algo que podemos aprender sobre o que vivemos nos últimos dez, quinze anos, a primeiríssima infância da internet, é que gente que não tinha voz agora tem. E antes que você pergunte: não, eu não freqüento o Fórum Social Mundial.
Sim, dói muito quando ouvimos que o babaca da vez somos nós
Continuando. Existe uma montanha de gente que acha patético uma mulher se matando de fazer regime no comercial só para aparecer gostosa para os homens. Existe uma porrada de gente, que acha uma babaquice, pra utilizar o mesmo termo, esse lance de fazerKinder Ovo azul pra menino e Kinder Ovo rosa para menina. Um daqueles meus amigos ou colegas de profissão diria que isso é a ditadura do politicamente correto.
Bem, se você acha que mil reclamações sobre um comercial na página de uma empresa no Facebook é uma ditadura, do que você classificaria um comercial empurrando conceitos goela abaixo de 120, 130 milhões de brasileiros todo santo dia? Ou um programa de tevê em rede nacional reproduzindo a velha cartilha sexista de que meninos tem que brincar de carrinho e meninas tem que brincar de casinha? Ou uma multinacional torrando milhões de dólares para informar a você, que tem pelo no peito, que você é nojento?
O que nos leva a uma dedução simples: não é que o mundo embabacou. Agora as pessoas, todas elas, é que podem dizer quem ou o quê elas acham babaca. E, sim, dói muito quando ouvimos que o babaca da vez somos nós
– “Então o que você está querendo dizer, seu filho da puta…”
Filho da puta, não! Babaca.
Marcas e empresas se preocuparão ainda mais em não errar, o que é diametralmente oposto à vontade de acertar
– “Então o que você está falando, seu babaca, é que nós publicitários, não estamos preparados para receber críticas ao nosso trabalho; ainda não nos acostumamos com opiniões contrárias, um comportamento infantil que foi reforçado por décadas de ‘diálogo de mão única’ em que falávamos o que queríamos, sem dar ouvidos a ninguém; e que geralmente recorremos a desqualificação do outro para nos sentirmos confortáveis com nossos próprios conceitos e preconceitos?”
É…, é mais ou menos isso.
– “Então vai tomar no meio do seu cu, seu escroto!”
Calma, cara…
– “Calma é o caralho, porra!”
Pô, vamo conversar!
– “Que conversar o quê, seu babaquinha de merda!”
Acho que fui claro no meu ponto, não fui? Mas se por um lado não sabemos lidar com a opinião alheia – o que é ruim -, estamos sendo forçados a aprender a lidar – o que é muitissimamente bom. E em fase de aprendizado, os erros e equívocos são freqüentes. Nem todas as decisões do Conar são acertadas (na minha opinião, bem entendido), nem todos posts de reclamação no Facebook estão corretos (na minha opinião…).
Estamos aprendendo empiricamente, na base da porrada, do erro-e-acerto – mais erro do que acerto. E, sim, departamentos de marketing, que já não são sinônimo de coragem, criatividade e eficiência, se encapsularão ainda mais na covardia, no conservadorismo e na ineficiência.
Marcas e empresas se preocuparão ainda mais em não errar, o que é diametralmente oposto à se preocupar em acertar. Mas isso é uma charada que nós, redatores, diretores de arte, profissionais de mídia e planejamento, é que temos que resolver. O que há de claro e cristalino nessa bagunça toda é que, se existe algo errado, meus amigos e colegas, não é a opinião dos outros.
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