Projeto cria DVD colaborativo do show do Radiohead no Brasil

Radiohead Rain Down

Quando eu fui no show do Radiohead no Rio me pelei de medo de ter o celular roubado e deixei o iPhone em casa. Pra minha sorte várias pessoas não fizeram o mesmo e filmaram pedaços dos show, colocando como sempre esses trechos no YouTube. A idéia de cada uma dessas pessoas nunca foi fazer um videoclipe e sim marcar um “eu estive lá” para os amigos.

Até que um cara chamado Andrews Ferreira Guedis chamou para si a responsabilidade e falou: vou colar todos esses pedaços e fazer um DVD do show user-generated. Os Beastie Boys já tinham feito algo nessa pegada no Awesome; I Fuckin’ Shot That!, mas as câmeras foram distribuídas ao público e a edição foi profissional. Aqui com o Radiohead tudo é na base da raça.

O resultado ia sendo liberado no YouTube aos poucos e, finalmente finalizado, está disponível desde a virada do mês no Projeto Rain Down – Live in São Paulo. A paciência chinesa (e o alvo de minha reverência) é do Andrews, mas o projeto é de literalmente centenas de pessoas. Gente que usou desde celulares até câmeras fotográficas que “filmam” em alta definição, como o enxame.tv (que libera todo seu conteúdo em Creative Commons).

O áudio vem também das câmeras dos fãs e da versão (incompleta) transmitida pelo Multishow.

O trabalho final pode ser baixado em versão para gerar um DVD ou em um arquivo AVI, via torrent e outros métodos. Eu já estou baixando o meu. Até porque daqui a pouco algum inteligentíssimo executivo brasileiro vai achar isso tudo errado e criar caso.

Eu não sei você, mas é esse tipo de coisa que me deixa arrepiado por horas, pensando em como o mundo está mudando bem diante dos nossos olhos. E é incrível como o Radiohead encabeça várias dessas mudanças.

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Beatles: Rock Band | TV Ad

Rock Band Beatles

Relutei em estrear minha participação aqui no B#9 falando justamente de um filme de TV. Relutei só por picuinha boba de online e offline. Mas digamos que o assunto é muito digno da minha estréia.

Até agora vimos trailers e mais trailers de gameplay e introduções de tirar o fôlego, sobre o jogo mais comentado e aguardado da história.

O jogo que faz os mais jovens conhecerem os Beatles, e os mais velhos conhecerem os games.

Eu, como beatlemaníaco, não podia deixar de pesquisar por tudo o que conseguir, e obviamente não posso deixar de aguardar ansiosamente o lançamento do jogo e do box com os discos remasterizados.

Esse aí de baixo, é o primeiro filme de TV pra promover o jogo. Nada de andróides. O filme conta com os Fab 4 de verdade (ou quase) atravessando a famosa Abbey Road, rodeados de fãs e com “Come Together” servindo como trilha.

Não achei os créditos do filme, então suponho que tenha sido produzido pela própria Harmonix. Desculpem se estiver errado.

E o dia 09.09.09 está tão longe, e cada vez mais perto.

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KISS: Música ou Marketing?

KISS

Para alguns eles são quatro palhaços de luxo que usaram a música como desculpa para ganhar dinheiro, para outros milhares formam a maior banda de rock do mundo. Desde que eu comecei acompanhar a carreira do KISS, por volta de 1996 (apenas um moleque de 15 anos) depois de explodir a cabeça com álbum “Destroyer”, nunca encontrei pessoas no meio termo: é sempre 8 ou 80, amor ou ódio, mas com a certeza de que a banda constitui um dos maiores impactos culturais da década de 1970.

Há quem, até hoje, acuse a banda de incompetência musical camuflada pela maquiagem e pelos efeitos especiais, ou acredite que não tem credibilidade alguma por causa de tanto merchandising. Mas uma resposta de Gene Simmons a um repórter que questionou a mesma coisa diz tudo: “Credibilidade? Está louco? Nós nunca tivemos credibilidade alguma, então por que devemos nos preocupar? Quanto mais dinheiro eu ganhar, melhor. Não estamos forçando ninguém a comprar nada. Se os fãs querem, o que podemos fazer senão satisfazer seus desejos?”.

Se você ainda não sabe o que esse post tem a ver com esse blog (além do autor ser um fanboy), ainda não deve ter parado para pensar no KISS como uma marca. Nada aconteceu por acaso. Desde que começaram compondo e ensaiando em um apartamento minúsculo e imundo em Manhattan, Gene Simmons e Paul Stanley já planejavam criar um fenômeno musical, proporcionando ao público não só música e sim um espetáculo sonoro e visual completo.

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Baseados em simples mas excelentes estratégias de marketing, alcançaram níveis de popularidade que muita banda séria jamais sonhou. Já começando pela criação de personagens, adicionando storytelling, como um grupo de super-heróis de diferentes personalidades. Maquiados e fantasiados de “The Starchild” (Paul Stanley), “The Demon” (Gene Simmons), “Space Ace” (Ace Frehley) e “The Catman” (Peter Criss). Como bem já disse J.J. Abrams: mistério vende, e assim mantiveram suas identidades “secretas” por mais de uma década.

Nos primeiros shows, ganhando 35 dólares por noite, o KISS era motivo de risos, piadas e deboches por grande parte do público, mas chamaram atenção de muita gente não só pela estética, mas porque já nesse início pareciam ter grande sucesso. Bobagem, eram ainda apenas pé-rapados.

Para passar a imagem de que eram uma banda famosa, contrataram o popular grupo Brats para abrir um show e mandaram convites para imprensa em nome do KISS. Como se já não bastasse, mesmo endividados até o último fio de cabelo, alugaram uma limousine para chegar ao local da apresentação em grande estilo.

Toda essa jogada de marketing não foi em vão. Dezenas de jornalistas e produtores de gravadoras compareceram ao show movidos pela curiosidade de ver quem eram aqueles ilustres desconhecidos que haviam contratado os famosos Brats para uma apresentação.

“Lotamos toda a primeira fila com camisetas feitas em casa, que continham o logotipo da banda. Então, quando as pessoas entravam no clube e viam vários fãs vestidos com camisetas da banda, pensavam: – Esta banda deve ser importante”, revelou Gene Simmons sobre o primeiro grande show do KISS anos mais tarde. Alguém falou em marketing de guerrilha?

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Foi depois desse episódio que conseguiram um contrato com Neil Bogart, presidente da recém-inaugurada Casablanca Records, até então. O sucesso foi inevitável e o dinheiro começava a aparecer, mesmo assim a banda ainda adotava truques curiosos para economizar e impressionar o público. Entre outras manobras, eles amontoavam caixotes de madeira vazios com uma frente falsa no formato de amplificadores, construindo assim uma suposta parede gigantesca de amplificadores.

Tendo em vista que cada amplificador Marshall utilizado no palco custava na época o equivalente à US$ 600, a mídia se perguntava: “Como era possível que uma banda desconhecida possuísse tamanho equipamento?”.

O KISS é uma banda com slogan. A partir da turnê de “Hotter Than Hell”, uma mensagem acompanha todos os shows. Sempre ao início de cada apresentação, um mestre de cerimônias berra a seguinte frase: “You Wanted the Best and You Got the Best. The Hottest Band in the World, KISS!”. Esta repetição constante da mensagem tornou-se emblemática na carreira da banda, um slogan que marca, definitivamente, o conceito KISS de ser um super-grupo.

KISS
Creative Commons License foto: Denis O’Regan

Nesta fase, surge o empresário Bill Aucoin, renomado profissional que passa a controlar os negócios do KISS. Começam a associar a imagem da banda em quase tudo, o que fazia que ficassem cada vez mais populares e arrecadassem mais dinheiro. Podia-se encontrar centenas de produtos com a marca do KISS, incluindo posters, lancheiras, fotos, radinhos de pilha, revistas, máquinas de fliperama, bottons, adesivos, carrinhos de brinquedo, jogos, quebra-cabeças, chaveiros, fósforos, gargantilhas, moedas comemorativas e cartões postais.

Ainda na década de 1970, funda-se o KISS Army, exército de fanáticos em todo o mundo que é comandado pela própria banda. O KISS Army responsabiliza-se, como um fã clube mundial, pela promoção e divulgação da banda, produzindo fanzines e comercializando diversos materiais relacionados ao grupo. Existe ainda uma curiosa lenda em torno do KISS Army, onde dizem que o fã-clube possui uma gigantesca fortuna que será distribuída como herança aos fãs após a morte de seus ídolos.

KISS

Como se isso não bastasse, em 1978 o KISS realizou uma parceria com a Marvel Comics em mais estratégia de marketing. Lançaram uma revista em quadrinhos da banda, transformando Ace, Paul, Gene e Peter em super-heróis, tendo como base Capitão América, Super Homem e Homem Aranha. O detalhe é que as primeiras trezentas cópias da HQ continham sangue dos próprios músicos misturado com a tinta utilizada na impressão (você viu a Adidas fazer o mesmo há dois anos). No dia da retirada do sangue de cada integrante num laboratório americano, a imprensa acompanhou tudo de perto. Segundo declarações da banda, seria uma forma de “dar nosso sangue pelos fãs”.

Tudo isso transformou o KISS em uma banda com adoradores, e não apenas com fãs. A turnê mundial era monstruosa, com mais de 50 pessoas na equipe, 16 toneladas de equipamento pessoal, 24 toneladas de som, 17 toneladas de luz, 18 toneladas de cenário. Com o som e a iluminação eram gastos um milhão de dólares e só o custo do cenário estava avaliado em cerca de um milhão e cem mil dólares. Eram necessárias 24 horas de trabalho intenso para montar toda a estrutura do show. Tudo ficava pré-estabelecido nos contratos, desde a dimensão do local escolhido para a apresentação até caracterizações detalhadas sobre os camarins. E de escasso, o dinheiro passou a ser farto, nessa época a banda também já possuía seu próprio avião, chamado “Of Course”. Desde 1975 até 1980, o Kiss já havia percorrido cerca de três milhões de quilômetros.

Começaram a acontecer por todo o mundo as chamadas KISS Conventions, uma espécie de congresso em que os fãs trocavam informações, fotos, revistas, camisetas, etc. Nesses eventos, era possível conhecer desde sósias dos integrantes até roupas originais utilizadas nos shows. Ao final de cada evento, a banda realizava um show acústico em que os fãs determinavam o repertório. Além disso, o KISS concedia uma coletiva em que os repórteres eram o próprio público.

Quando a banda se perdeu sonoramente na metade da década de 1980 e com a popularidade em queda, resolveram aparecer em público pela primeira vez sem maquiagem, dizendo que estavam cansados de seus personagens. Mais uma tentativa de chamar atenção da mídia e do público. No retorno da formação original, em 1996, o impacto também foi grande: convocaram uma misteriosa coletiva de imprensa e, sem ninguém esperar, apareceram maquiados e fantasiados novamente.

KISS

O primeiro show dessa reunião teve os ingressos esgotados em 45 minutos, e em 1998 lançaram a turnê do disco “Psycho Circus”. Era o primeiro show 3D em tempo real da história da música. Na porta do estádio eram distribuídos óculos especiais para o público visualizar os efeitos em terceira dimensão. Além disso, explosões, fumaça, efeitos de luz e som, números cospe-fogo e cospe-sangue, 10 minutos de fogos de artifícios no encerramento. Uma produção nada modesta: foram desembolsados 10 milhões de dólares para que fosse realizada tal monstruosidade visual e sonora. Resultado: Foi a turnê mas lucrativa nos EUA na década de 1990, no ranking da revista Forbes.

O KISS nunca foi elogiado pela crítica, provavelmente nunca vai ter uns de seus discos em uma lista séria de “melhores de todos os tempos” (apesar de eu achar que deveria ter pelo menos uns três), e sempre vão ser considerados palhaços de luxo por muitos, mas ainda assim deixaram uma marca indelével na história do rock e do show business. Pergunte para Pink Floyd, Stones e U2 em quem eles se inspiraram para produzir seus mega-shows, ou aos cariocas o que foi aquele 1983 no Maracanã.

Amanhã, depois de 10 anos, vou novamente ver a banda ao vivo e a cores, e contaremos em quantas explodidas de cabeça se faz um show de rock. Provavelmente, a última vez que os brasileiros poderão conferir isso tudo de perto. Com ou sem marketing, truques de palco e fogos de artifício, ouvir KISS ainda continua sendo uma das coisas mais divertidas de se fazer.

E para responder a pergunta do título deste post, vale citar mais uma vez Gene Simmons, um dos maiores publicitários de nosso tempo. Quando perguntado pelo apresentador britânico Tony Wilson, em 1976, sobre o que era mais importante para a banda, se a música ou todo o circo de marketing, o baixista respondeu: “o público”.

PS: O vídeo abaixo foi gravado anteontem, é a abertura do show no Chile. Só para dar uma idéia aos que não conhecem. Se quiser saber mais, escrevi uma biografia da banda, também há quase 10 anos, para o Whiplash!.




Radiohead e a “a música do Carlinhos”

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Creative Commons License foto: Krudo.

Ontem comentei no Twitter que, pela história da música no Brasil, o Radiohead teria obrigação de tocar “Fake Plastic Trees” em suas duas apresentações por aqui. Depois disso parei para pensar no significado de um comercial ter sido o responsável por isso, um comercial que possivelmente apresentou a banda britânica aos brasileiros (mesmo que a maioria ainda nem faça idéia de quem sejam).

Provavelmente, é apenas no Brasil que “Fake Plastic Trees” pode ser considerada a música mais pop da banda. Se você tocar “Creep” ou “Paranoid Android” poucos lembrarão de Radiohead, mas se for “Fake Plastic Trees”: “Ah, a música do comercial do Carlinhos”. Lembro-me que, na época do comercial (1997 ou 98, por aí), a EMI mandou colar adesivos na capa do disco “The Bends” com a inscrição “Incluindo ‘Fake Plastic Trees’, a música do comercial…”, ou algo que o valha.

Quando falei do comercial da Shelter, que tem a música “House of Cards” do Radiohead como trilha, os próprios leitores lembraram nos comentários sobre o filme criado pela DM9 para falar de Síndrome de Down e preconceito, e contaram algo que não sabia: a música foi doada pela banda.

Claro que seria ingenuidade dizer que o comercial foi o responsável pelo sucesso do Radiohead no Brasil, até porque a banda já tinha lançado três discos, mas certamente ajudou a popularizar, fazendo do Carlinhos um case de recall e um marco da história da propaganda brasileira.

O que eu me pergunto é: cada vez menos importantes e assistidos, seria um comercial capaz de repetir o feito nos dias de hoje? Novela da Globo não vale na discussão. E a outra questão é: será que Thom Yorke, com sua mania de odiar que suas músicas façam sucesso (e provavelmente ele sabe do sucesso desse comercial no Brasil), vai querer tocar “a música do Carlinhos”?

| UPDATE [23.mar.09]

Em São Paulo rolou “Fake Plastic Trees”. Assista abaixo, a qualidade do som está bem boa. Vídeo por Factóide!. O show todo foi de explodir cabeças, aliás.