Série reúne comidas e bebidas famosas da cultura pop

Federico Mauro é um designer italiano que teve uma ótima sacada quando iniciou um projeto pessoal reunindo itens icônicos relacionados com a cultura pop. Óculossapatos, guitarras, armas, lâminas…. teve até uma edição especial dedicada aos objetos famosos de Breaking Bad. Todas estas peças, reunidas aqui e ali, acabaram chamando atenção para o diretor de arte, que de uma forma muito simples conseguiu mexer com a memória afetiva de muita gente. E o projeto continua, desta vez com Famous Food & Drinks.

Desta vez, Federico Mauro nos conquista pelo estômago, reunindo algumas delícias (ou não) da ficção. A maçã de Branca de Neve, os donuts de Homer Simpson, os bombons de Forrest Gump, o creme brulée de Amélie Poulain, as lembas de O Senhor dos Anéis… Tem também as bebidas… O Cosmopolitan, de Sex and the City, o milk-shake de Pulp Fiction… mas tem também o cérebro de Hannibal e os ovos de Violência Gratuita.

A lista ficou bem bacana, mas não teve como não perceber a ausência do Dry Martini. Batido, não mexido.

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Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Lições da Cozinha

Há muito mais em Gordon Ramsay percorrendo cozinhas de restaurantes ao redor do mundo, ofendendo chefes, desafiando proprietários, educando equipes do que um reality show sobre culinária. Algo chamou a atenção em “Kitchen’s Nightmares” (exibido pela BBC America, aqui nos Estados Unidos, Fox Life no Brasil) e iniciei uma verdadeira maratona para descobrir a verdadeira razão por trás disso. Não demorou muito e a resposta veio, não como um elemento em especial, mas com a função do programa e o fato das lições do chefe escocês transcenderem os limites da cozinha e, adivinhem, cair direto na mesa dos criativos.

Percorro entrevistas coletivas e palestras desde o começo da minha carreira no jornalismo (algo que aconteceu logo no primeiro ano da faculdade, então junte a isso os debates na escola) e o elemento básico desses eventos é um só: dúvidas. Todo estudante tem dúvidas, todo profissional quer ter certeza para não errar, todo criativo procura no erro, ou no conselho, alheio a solução para seu bloqueio ou dificuldade. Sempre temos dúvidas e enquanto as bolas de cristal não são inventadas, obter informação continua sendo o melhor jeito de se fazer isso. Curiosamente, depois de 16 anos no mercado, noto que isso não muda. Sempre queremos informação, jornalistas continuam curiosos e criativos continuam procurando novas inspirações. Todos deveríamos trabalhar na cozinha!

Ou melhor, numa cozinha guiada por Gordon Ramsay.

Gordon Ramsay

Vejo Ramsay como um editor linha-dura, um diretor de criação que não aceita desculpas ou gente que foge da raia

Ao transpor as lições e mantras trabalhados por ele no programa, percebi que, no fundo, as dúvidas são as mesmas noutro ramo e que, olha só, as soluções também são. Uma das coisas mais marcantes do discurso de Ramsay é a simplicidade. Diversos chefes – tanto na Europa quanto nos Estados Unidos – pecam pelo excesso. Tentam florear os pratos, extrapolar sabores, exagerar nas combinações ou nas “tentativas de experimentação” e, invariavelmente, falham. Interessante pensar nesse cenário, pois a simplicidade tem uma função: garantir o entendimento do cliente e transmitir uma mensagem. No caso dele, é garantir a fidelidade do prato. Se é pato, que tenha gosto de pato. Um bom gosto. Se é macarrão a bolonhesa, não tente inventar colocando frutos do mar.

Gordon Ramsay

Quantas vezes não pecamos pelo exagero? Escrever um artigo cheio de referências obscuras? criar um logotipo dúbio ou visualmente lindo, mas distante da função? Editar um vídeo cuja narrativa só você entenda? É importante mencionar que, nesse caso, simplicidade não tem a ver com nivelar por baixo ou ser menos criativo. A mensagem é clara: seja honesto e vá direto ao ponto. Ando usando muito isso em textos e roteiros recentemente. Se a ocasião permite, e o público-alvo vai ser beneficiado, por que buscar uma estrutura complexa e sofisticada em vez de usar um simples “sinto sua falta”? Pensar dessa forma tem feito muito sentido e, claro, refletido positivamente na produção.

Ramsay também faz algo que Hollywood pratica: insiste ostensivamente no procedimento. É preciso criar um padrão, ou um ritmo de produção, e segui-lo. Cozinhar exige consistência e um dos índices de satisfação mais altos da prestação de serviços da sociedade e errar não é uma opção. Em muito do mundo criativo, ainda temos oportunidades de afinar o trabalho antes de apresenta-lo, na cozinha, não. Uma vez servido, o prato vai decidir se aquele cliente volta e traz os amigos, ou se torna um porta-voz negativo para sempre. O procedimento resolve isso. Pelo que ele diz, funciona na cozinha. Pelo que vivo aqui, funciona no cinema. É um esquema linha de produção, entretanto, se o objetivo está alinhado e cada membro da equipe faz bem a sua parte – e só a sua parte, sem o hábito da “multi-tarefa” bastante comum no Brasil – o produto final, seja ele qual for, vai ser bom.

Vejo Ramsay como um editor linha-dura, um diretor de criação que não aceita desculpas ou gente que foge da raia. Ele é um cara necessário hoje em dia, assim como clones da sua postura. Ele fala a verdade, não enrola e sempre tenta arrumar as peças, em vez de bancar o ditador, demitir e pronto. Cansei de ver editores vendidos nas grandes revistas brasileiras, gente incapaz de garantir a qualidade do que editava em prol da “idiotização” da cultura (exemplo, optar por falar de fitness e shampoo com um grande ator e ignorar outra entrevista com o mesmo sujeito sobre assuntos relevantes, carreira e reflexões). Devemos dar os devidos descontos pelo fato de Ramsay ser famoso, respeitado e ter dinheiro? Sim. Entretanto, ele está fazendo! Mostra como todo restaurante pode servir bem e, no processo, levou-me a entender que devemos levar essa pegada para o mundo criativo.

“I act on impulse and I go with my instincts.” – Gordon Ramsay

Gordon Ramsay

O formato do programa se torna recorrente, mas as soluções são valiosas

Ele bate muito na tecla da comunicação entre equipes e há outra lição aí. Esqueça os e-mails longos, aquelas reuniões inúteis e cheias de pretensões a cada etapa do processo de criação (vivi muito isso quando trabalhei numa agência de comunicação). O contato direto e efetivo funciona muito mais. Você pergunta, o outro responde, o processo anda. Isso também é interessante para evitar grandes elocubrações ou ideias viajadas. Qual seu objetivo? “Emocionar com uma história de amor”. Ponto. Toda e qualquer pergunta a partir daí precisa ser direta. O que tal personagem quer? Ficar sozinho! E aquele outro? Encontrar alguém para se aventurar. Se você começa a enrolar em grandes teorias sobre cada uma dessas razões, as chances de se perder são gigantescas. E, com isso, o objetivo vai para o espaço.

Claro que o desenvolvimento é necessário e, como disse, simples não significa raso, mas falha na execução e distanciamento do objetivo primário é uma das maiores mazelas de trabalhos criativos nos últimos anos. Às vezes, a genialidade está justamente na capacidade de falar menos e dizer tudo. É um pouco assustador perceber que precisei de um chefe de cozinha para pontuar tudo isso – fora tantas outras lições sobre apresentação, comunicação com público, identidade visual e postura profissional – e não me arrependo nem um pouco. O formato do programa se torna um pouco recorrente, pois muitos dos restaurantes visitados sofrem dos mesmos problemas, mas as soluções são valiosas. Que essas lições da cozinha melhorem a sua vida!

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Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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