Fórmulas de filmes são desconstruídas em Movie Meets Movie

Diz a lenda que o roteiro de Alien só foi comprado porque foi descrito como “Tubarão encontra Perdidos no Espaço”. Quem é fã de cinema, provavelmente já encontrou referências em alguns filmes que reproduzem bem essa equação X+Y=Z, que é a razão de ser do projeto Movie Meets Movie.

Criado por Chris Baker e Jeanelle Mak, o site defende que essa fórmula é uma maneira “sucinta e quase mais interessante de explicar rapidamente sobre o que é um filme, além de mostrar seu conhecimento cinematográfico”. A dupla, então, acredita que estas combinações deveriam ser divulgadas, assim como seus autores.

Selecionamos algumas delas aqui e, apesar de muitas serem óbvias, outras exigem um pouco mais de observação e repertório. De qualquer maneira, este é um site bacana tanto para explorar as combinações de outros usuários, quanto para criar suas próprias “equações”.

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Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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O roteiro interativo de “Moonrise Kingdom”

Indicado a Melhor Roteiro Original no Oscar 2013, “Moonrise Kingdom” de Wes Anderson contou com uma grande campanha da Focus Features durante todo o ano.

Uma dessas peças promocionais, voltada para os votantes de festivais, foi um roteiro interativo. Escrito pelo próprio Wes Anderson, junto com Roman Coppola, o trabalho foi publicado online, com imagens, desenhos, anotações e storyboards.

Através do site (focusguilds2012.com/mrkscript), é possível enxergar um pouco do processo criativo do diretor, e suas intervenções depois do texto já pronto. Wes Anderson demorou pra usar o coração em seus filmes, mas quando o fez, acertou em cheio.

Moonrise Kingdom

Moonrise Kingdom
Moonrise Kingdom
Moonrise Kingdom

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Do conceito ao roteiro, ao cinema e às livrarias

Criar é fácil. Quer ver? Quero contar a história dos homens-pássaro do planeta P’tere, prestes a ser invadido por uma colônia de insetos do espaço-sideral. Pronto, boa ou não, a história foi criada. Em tese, foi fácil. O complicado é a execução que, no caso de um roteiro ou de um livro, separa as ideias capazes de ver a luz do dia daqueles milhares de conceitos entulhados no Mundo das Ideias Que Nunca Foram para a Frente (humm, daria até para escrever a respeito, imaginando um Mundo habitado por esses ‘seres’).

É tudo questão de estrutura e, sem dúvida, de prática. Mas, ultimamente, existe um novo agravante, que é a natureza multi-plataforma desse tipo de criação. Como manter a unidade em diversas mídias, momentos e públicos? Aprendi tudo isso da pior maneira possível, ao decidir escrever o começo de um romance, que inspirou um curta-metragem, e acabou virando livro de verdade. “Filhos do Fim do Mundo” (When It Ends, no formato cinematográfico) é um bom exemplo do novo formato de negócios envolvendo o mercado literário, que, finalmente, começa a brincar de gente grande no Brasil.

Como o lançamento só acontece em janeiro, pelo selo Fantasy, da Casa da Palavra, leia aqui um “capítulo excluído” e exclusivo do B9. Se gostar, curta nossa página no Facebook: facebook.com/FilhosDoFimDoMundo

Filhos do Fim do Mundo

De qualquer forma, gostaria de falar sobre esse formato e as dificuldades, e soluções, da concepção e execução em multi-plataforma. “Filhos do Fim do Mundo” nasceu como conceito de um livro há menos de dois anos. Como disse no começo, criar a história é algo fácil. Encontrei os elementos certos, organizei num rascunho e, em menos de 10 minutos tinha um esqueleto do livro. O lógico seria ter desenvolvido esse material até o final, porém, ano passado, apareceu a chance de trabalhar em um curta-metragem.

Já tinha visto vários desses booktrailers e pensei na coisa mais óbvia, por que não juntar as duas coisas? A ideia fez sentido e comecei a trabalhar num breve roteiro para “When It Ends” e foi uma das experiências mais válidas nesse processo todo. Especialmente por conta dos erros, claro! Por saber do potencial comercial da obra, não queria mostrar nada da história principal no filme para preservar as surpresas. Acabei não mostrando nada e perdi uma boa chance de estabelecer personagens na tela. A maior lição, porém, veio do conflito entre estrutura literária e estrutura visual.

Basicamente, escrevi um prólogo estendido e optei por manter a maioria dos diálogos fieis à obra. Cometi o maior dos pecados da “auto-adaptação”, levei um livro para o cinema e resultado é um ritmo muito arrastado, numa obra com problemas para se manter por conta própria. Houve acertos, claro, como a confirmação da necessidade por histórias mais amplas e linhas narrativas paralelas, que, em princípio, estavam em segundo plano.

É difícil assumir erros, mas quando eles ensinam e mudam seus paradigmas, isso é motivo de orgulho. De qualquer forma, a primeira etapa falhou no aspecto da independência. Porém, compreender a lógica dessa conversa entre literatura e roteiro cinematográfico influenciou absurdamente o livro, que ganhou em agilidade e permitiu maior uso das referências do leitor. Também compreendi a necessidade pela escolha de um meio termo entre o teor literário e a velocidade de cinema.

Curioso como essas duas mídias tem tanto em comum e precisam se comunicar. Com o vídeo sendo escolhido como principal fonte de entretenimento do sujeito moderno, permitir que algumas de suas características se façam presentes na literatura é um jeito justo de se manter na corrida e evitar cair no desuso. Pelo menos foi assim que encarei.

Há uns 5 anos, meu amigo Jurandir Filho, do podcast RapaduraCast, brincou que eu “dominaria o mundo em todas as mídias”. Nunca tive esse objetivo, mas, sem querer, ele matou a charada. Anos mais tarde, vejo ser impossível se manter relevante na comunicação em um único meio, sem experimentar em vídeo (seja com vlogs ou programas informativos), sem gravar podcasts, sem ser fonte de informação ativa nas mídias sociais.

A soma de todas essas ferramentas, como usada de forma consciente, tem muito a agregar. E isso aconteceu comigo. Notava a evolução a cada novo capítulo, a cada revisão. E também encontrei um modo de deixar a experiência jornalística permanecer mesmo no formato literário. Tudo por conta da troca entre as mídias, e um bocado de testes, claro. Pensando bem, ser jornalista e escritor tem uma coisa em comum: contar histórias. Se narrativas ou factuais não faz diferença, mas o fim é o mesmo.

Bem, com o filme concluído, e a primeira versão do livro pronta era hora de fazer o mais difícil: vender. Montei esse pacote a exemplo do que muitos diretores tem feito aqui em Hollywood, tentando conquistar executivos dos estúdios com visual, em vez de colocar o roteiro na pilha. Deu certo! E culminou na seleção de “Filhos do Fim do Mundo” pelo selo Fantasy, coordenado pelo best-seller Raphael Draccon, da editora Casa da Palavra, uma das integrantes do grupo LeYa.

Trabalho com jornalismo há 16 anos e sempre pensei em escrever romances, mas nunca havia passado de pequenos contos até decidir fazer essa transição. Não fechar os olhos para novas ideias ou seguir regras dos livros clássicos foi muito importante. Pude experimentar, encontrar soluções próprias e, com certeza, inventar erros só meus, porém, pude ver um plano comercial, literário e de mídia funcionar de maneira prática, direta e funcional.

Em janeiro colocamos tudo à prova com o lançamento de “Filhos do Fim do Mundo”. Gostando ou não, a estrada já foi trilhada e se você sonha em escrever seu próximo livro, esse foi meu caminho. Siga-o se quiser, afinal, no fim das contas, quanto mais gente percorrer todo o trajeto, melhor!

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“Os Vingadores”: Quando a criatividade e a imaginação viram produção em massa

Pensando em processos criativos e exigências comerciais – que é, afinal, a essência do que esse blog trata diariamente – posso concluir dois pontos: 1. “Os Vingadores” é um pastel de vento (roubei a definição do Diego Maia). 2. Não poderia ser muito diferente disso.

Criatividade e dinheiro: Essa sim é uma verdadeira união heróica não alcançada por “The Avengers”

Aliás, com poucas exceções, é o que a Marvel tem feito com as suas franquias desde que iniciou a onda de filmes de super-heróis com o despretensioso “Blade” em 1998. Eu excluiria poucos do julgamento de espectador que farei nos próximos parágrafos, são eles: “X-Men 2″, o “Hulk” do Ang Lee, “Homem-Aranha 2″, “Homem de Ferro” e, com alguma boa vontade, o recente “X-Men: Primeira Classe”.

De resto, é a companhia buscando o máximo de bilheteria possível sem arriscar o legado de seus personagens com diretores metidos a artista. Deu certo com Sam Raimi, mas a maioria considera o excelente “Hulk” do Ang Lee – citado acima – um desastre. Então porque insistir no “erro”?

Não conheço o ambiente interno dessas super produções, mas consigo imaginar que muitas delas são geradas mais em salas de reunião cheias de executivos, do que nas mãos de um roteirista/diretor talentoso. E é exatamente esse cenário que enxerguei em praticamente toda a preguiçosa projeção de “Os Vingadores”.

Resumo: Um diretor com pouco poder criativo, que precisa colocar um monte de personagens na tela sem gerar uma confusão, atender a demanda de “blockbuster família” com violência tolerável sem sangue, e garantir sucesso de bilheteria para as continuações já agendadas.

Não há nada de errado em ser apenas divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de ousadia não faz mal

Mas é aqui que chego na minha segunda conclusão: 2. Não poderia ser muito diferente disso. Tento imaginar – caso fosse dono de dezenas de personagens de quadrinhos multi-milionários – se teria coragem de arriscar e fazer de outra forma. Provavelmente não, e nada existe de errado nisso.

A Marvel já sabe a fórmula, e continua repetindo-a ano após ano. Que a empresa queira aproveitar ao máximo seus heróis com filmes rentáveis, eu posso entender, só não é possível dizer que “Os Vingadores” é a melhor adaptação de quadrinhos já feita. O mesmo se pode dizer da franquia “Transformers” de Michael Bay, por exemplo, passatempos rentáveis, mas nenhuma obra que valha a pena revisitar no futuro.

Quem conhece as HQ’s diz que “Os Vingadores” foi muito fiel ao crossover original – eu só lia “Wolverine” e “Super-Homem” na adolescência, portanto não posso opinar – mas como obra cinematográfica a adaptação acaba pasteurizando os personagens e a trama. Um resultado muito parecido com o que vemos diariamente nos ambientes de criação atrelados a altas performances comerciais (leia-se, publicidade).

Eu sei que o filme é divertido e funciona muito bem como passatempo descompromissado – não precisa dizer que tenho um pão embolorado batendo no peito – mas é realmente só isso o que se esperava de “Os Vingadores”? Eu nunca exigiria um “Batman: O Cavaleiro das Trevas” do Joss Whedon – a essência é completamente outra – mas um pouco mais de ousadia não faria mal ao longa.

Eu engulo todas as vezes a velha história de fim do mundo, do artefato alienígena com poder incomensurável, e do vilão que decide roubá-lo com ambições pouco convincentes – estamos falando de quadrinhos, afinal – mas estou cansado da ação repetitiva só para mostrar mais efeitos e barulho na tela.

É possível unir sequências de puro entretenimento com dramaticidade capaz de realmente nos fazer importar com o destino dos personagens… e do mundo. Para tanto, não estou falando de ser dark e tenso como os Batman’s de Nolan, mas esperto e sagaz como o segundo “Homem-Aranha” do Sam Raimi, o segundo “X-Men” de Bryan Singer, e o primeiro “Homem-de-Ferro” Jon Favreau.

Também entendo que Hollywood se assegure nas fórmulas de sucesso para a maioria dos filmes de verão (norte-americano), só acho uma pena desperdiçar tantos personagens do nosso imaginário, desde criança, com adaptações bobas e descartáveis. Não há nada de errado em ser simplesmente divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de provocação poderia me fazer ter vontade de assistir o filme novamente, ao contrário dos bocejos a partir do momento em que o porta-aviões sai do lugar.

O Nolan também deve ter suas brigas com a Warner e a DC Comics, mas não precisa ter mais de um olho funcionando para perceber que, com a carreira que ele desenvolveu, a liberdade é bem maior. O cara trata o personagem com respeito, gera blockbusters milionários e ao mesmo tempo nos faz sair do cinema levando aquilo na cabeça pelos próximos dias.

Também entendo que a Marvel não queira arriscar suas principais propriedades intelectuais, e seu universo seja muito mais leve e bem humorado do que a concorrência. Porém, fico ainda mais decepcionado ao ter certeza de que eles acertam em cheio quando as amarras são mais soltas. Todos os outros filmes da empresa que citei acima se encaixam nisso, mas a maior prova disso responde hoje pelo nome de “Kick-Ass”.

Não tem Capitão América, nem Homem de Ferro, nem Viúva Negra, nem Thor ou Hulk, mas criativamente falando é memorável. Acontece que, na hora do vamo-ver da bilhteria gerou muito pouco para a Marvel, e aí voltamos novamente para a luta no globo da morte entre criatividade e dinheiro. Essa sim é uma verdadeira união heróica para os poucos Nick Fury da vida real que a alcançam.

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Avatar vs. Pocahontas

Muito já se falou da semelhança de “Avatar” com dezenas de outros roteiros de filmes, todos com o mítico padrão da Jornada do Herói descrita por Joseph Campbell em seu “O Herói de Mil Faces”.

Maior ainda é a semelhança do filme de James Cameron com s história de “Pocahontas” da Disney. A imagem abaixo é um exercício de troca de nomes de personagens e lugares. E não é que tudo se encaixa?

Avatar Pocahontas

| Via /Film

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