O “novo” Paul McCartney

Para entender o novo disco de Paul McCartney, basta olhar o título e a capa. O álbum é colorido, elétrico, pop-art, explosivo, aceso, pulsante.

Como sugere o título, “NEW” traz um Paul renovado, se reinventando como há muitos anos não fazia. Seis anos atrás, em “Memory Almost Full”, ele meditava sobre sua vida e suas conquistas em pequenas obras-primas auto-analíticas. Aqui a pegada é outra: Paul está olhando para frente, empolgado com o presente e o futuro.

“NEW” é absolutamente sobre sentir-se renovado, jovem novamente, ansioso por novos desafios. É sobre mostrar que ainda há fôlego, criatividade e tesão em fazer música.

E como se reinventar quando você tem 50 anos de carreira, foi um dos responsáveis pelo maior fenômeno musical do século XX e já passou por todos os territórios musicais desde trilhas para James Bond a Radiohead?

Bom, estamos falando de Paul McCartney. E é aí que o cenário fica interessante. O cara tem 71 anos e está fazendo pop/rock muito melhor do que muita banda nova por aí.

“NEW” é Paul de roupa nova, cheio de fôlego e esbanjando bom-humor

Mesmo com toda a idade, ele não se intimida. E até  sua voz cansada no disco é uma prova disso: com orgulho, ele mostra que isso não o atrapalha em nada e entrega um dos discos mais jovens e cheios de vida que você vai ouvir este ano. Quem esperar um outro “Band On the Run” vai se decepcionar, mas quem mergulhar de mente aberta vai descobrir uma das experiências mais interessantes da carreira de Paul McCartney.

Paul

O cara não é bobo. Ele sabe o que precisa fazer e sabe que pra se manter atual é necessário se alimentar de referências atuais. Então convocou 4 produtores do mais alto quilate (Giles Martin, Mark Ronson, Paul Epworth e Ethan Johns) e fez com que cada um o ajudasse a revestir cada melodia, cada harmonia, cada ideia com uma camada densa de contemporaneidade. O disco brilha do começo ao fim e em muitos momentos você se pergunta: isso é mesmo Paul McCartney?

Mas é só continuar ouvindo e você percebe que sim, é o Paul  de sempre, com o tino inabalado para as melodias inteligentes e a esperteza única de construir estruturas pop que você acha que pode prever, mas não consegue. E se por acaso as ousadias de “Appreciate”, “Alligator” ou da espetacular “Queenie Eye” lhe soarem estranhas, ele vai lembrar você de que este ainda é um disco de Paul McCartney em momentos como “Early Days”, “On My Way To Work”, a faixa-título (com seus 3 minutos de puro deleite pop que lembram “With a Little Help From My Friends” ou “Penny Lane”) e a ultra-direta “Everybody Out There”, simples e infalível.

NEW é outro patamar. É Paul de roupa nova, cheio de fôlego e esbanjando bom-humor. Ele já chegou num ponto da vida onde não precisa provar mais nada pra ninguém e pode simplesmente aproveitar seu momento e se divertir.

E ele está mais do que certo. Se eu também tivesse 71 anos de idade e fosse o compositor popular mais bem-sucedido de todos os tempos, faria exatamente o mesmo.

Bem-vindo ao novo.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Um pouco mais de Beatles: The White Album

O Álbum Branco foi o primeiro disco que os Beatles fizeram após a morte de seu lendário empresário Brian Epstein. Talvez por isso o disco seja uma vitrine de emoções à flor da pele, de momentos oscilantes entre muita revolta, muita ternura, muita calmaria e muita descontração. Talvez por isso, também, a banda tenha se permitido explorar rumos ainda inalcançados (mesmo depois de Sgt Peppers!!) e extravazar as explosões criativas sem censuras.

E, talvez por isso ainda, o Álbum Branco seja um dos discos mais versáteis, revolucionários e aclamados de todos os tempos.

Aqui, vemos cada um dos integrantes dos Beatles fechado em seu próprio mundo, explorando seus próprios limites individuais e indo mais fundo dentro de suas próprias viagens. Pela primeira vez na história dos Beatles, ficava clara, absolutamente clara e nítida a autoria de cada canção. E, como sugere a capa do disco, totalmente branca e livre de interferencias, pela primeira vez os 4 se apresentavam nus e crus, sem disfarces e absolutamente autênticos e individuais.

Aqui a gente consegue saber exatamente qual música é do John e qual é do Paul, mesmo quando os dois resolvem expandir a abrangência de seus próprios estilos. Blackbird, dona de uma sutileza melódica inigualável e de uma beleza lacrimejante, convive com Helter Skelter, que esbanja toda a raiva incontida de Paul. John, por sua vez, esculpiu a belíssima Dear Prudence (em homagem à irmã de Mia Farrow) ao mesmo tempo em que satirizava o mundo com Yer Blues. George fez um dos maiores hinos do rock – While My Guitar Gently Weeps – e até o Ringo se empolgou e escreveu sua divertida Don´t Pass Me By.

É um disco tão versátil que já foi considerado pela revista Rolling Stone como “um dos maiores acontecimentos da história da música popular”.

“The White Album” – como ficou gentilmente conhecido – é uma avalanche de hits universais dos Beatles, e já vendeu até hoje mais de 35 milhões de cópias. É um momento importantíssimo de transição de uma banda que passava por dias tortuosos enquanto ainda dominava o planeta.

E hoje, quase 45 anos depois de seu lançamento, continua dominando.




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