AntiCast 113 – Black Mirror: S01E02

Olá, antidesigners e brainstormers!
Neste programa, Ivan Mizanzuk, Marcos Beccari e Rafael Ancara estreiam o primeiro programa de 2014 já com os dois pés no peito, discutindo o segundo episódio de Black Mirror. Entenda as nuanças críticas que estão por trás deste episódio, a sociedade do espetáculo como sistema econômico, o poder transformador da beleza e, no fim, porque (provavelmente) somos todos uns vendidos.

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>> 0h02min26seg Pauta principal
>> 1h34min38seg Leitura de comentários
>> 1h52min05seg Música de encerramento: “Wake the White Queen”, da banda The Crüshadows

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Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Nada Será Como Antes: O musical emocionante que homenageia Milton Nascimento

Se você é fã de Milton Nascimento, leve uma caixa de lenços para o teatro quando for ver “Nada Será Como Antes“, o musical que homenageia a obra de Bituca, em cartaz em São Paulo.

Eu não levei, e fui pego de surpresa. Na verdade, eu nem sabia o que esperar. E fiquei simplesmente extasiado com o que se sucede em cima daquele palco: um dos mais bonitos, criativos, apoteóticos e emocionantes tributos à obra monumental de Milton.

Já achei sensacional a iniciativa de se homenagear alguém que ainda está vivo. A peça, pra mim, serviu pra ficar ainda mais encantado com cada uma daquelas músicas que povoa minha vida desde pequeno, e eu espero que o musical desperte o gosto pela música dele em novos ouvintes.

Milton

Um palco que exala a “mineirice” de um carioca que é patrimônio cultural universal

São canções tão históricas, tão ousadas, tão fortes e fundamentais para a nossa cultura que fica impossível não sentir milhares de arrepios na espinha a cada releitura que a peça faz. Esses novos arranjos – e o orgulho com o qual seu elenco os interpreta – só reforçam a importância da música do Milton. E este espetáculo não seria possível se as músicas não fossem tão ricas a ponto de permitir essa nova roupagem. E, claro, se elas não fossem, simplesmente, tão tão boas.

Vá preparado. A peça é um baque emocional atrás do outro. “Minas”, “Maria Maria”, “Clube da Esquina 2″, “A Lua Girou”, “Travessia”, “Milagre dos Peixes”, “Para Lennon e McCartney…” É hino atrás de hino, é soluço atrás de soluço.

Todos esses clássicos atemporais do Milton são como velhos amigos. Ver o espetáculo é sentir o conforto e o abraço de bons companheiros, num daqueles encontros que acontecem pouco mas que trazem a sensação de que a amizade continua a mesma, intacta e com a mesma força.

Milton

É muito reconfortante redescobrir todas essas pérolas nas vozes desses novos talentos. Eles cantam tudo com tanta paixão que fica impossível não se emocionar. E a imensidão da música carrega você para os mais longínquos espaços no pensamento, na beleza, na emoção e na riqueza do nosso passado. Tudo isso brilhantemente recriado em cenas e coreografias lindas e ousadas num palco que exala a “mineirice” de um carioca que é patrimônio cultural universal.

Um dos maiores gigantes da nossa música ganhou uma homenagem à sua altura

O talento do elenco impressiona e surpreende quando eles revisitam as músicas em que Milton desfilava seus falsetes, suas notas mais potentes e suas melodias mais sinuosas. Todo mundo canta tudo, e canta alto, forte, potente, bonito, poderoso. As músicas são poderosas. Elas despertam a musicalidade dentro de cada um, e o espetáculo conta sua história sem precisar de um diálogo sequer. Tudo está dito nos movimentos, nas danças, nas notas que saem escancaradas de cada garganta.

Milton

A iluminação é precisa. Cada música ganha um ambiente próprio, uma textura nova que enriquece os olhos enquanto as melodias arrebatadoras confortam os ouvidos. Os novos arranjos são ousados e densos, carregados de camadas sonoras que exploram ao máximo as nuances dos arranjos originais. Se é uma música mais calma, a delicadeza impera. Se é um rock, ele é explorado, aumentado e se agiganta com múltiplas guitarras e distorções, mostrando como é prazeroso se trabalhar com uma matéria-prima tão abrangente.

A única “falha” (note as aspas) que encontrei foi na duração do espetáculo. Mesmo para mim, que sou fã incondicional de Milton, foi um pouco longo. Fora isso, a peça é um primor. Ah, e quem for esperando ouvir exatamente o que está nos discos pode se decepcionar um pouco. O espetáculo é um musical, e por isso as músicas ganharam uma leitura nova, teatral, que faz todo o sentido quando é levada para o palco.  Quem entender isso vai ganhar seu dia e sair do teatro como eu saí: extasiado, desmoronado de tanto se emocionar. Com a certeza de que um dos maiores gigantes da nossa música ganhou uma homenagem à sua altura.

E “com o coração doendo de tanta felicidade”. Obrigado, Milton, por todas as canções. Eternamente.

Milton

| Serviço:
Teatro GEO
Rua Coropés, 88
Pinheiros – São Paulo/SP
Sessões sexta, sábado e domingo

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Regina Spektor faz show irretocável em SP

Eu já falei da Regina Spektor aqui, quando ela lançou no ano passado seu mais recente disco, o excelente What We Saw From The Cheap Seats. Pois ontem tive o privilégio de ver o show dessa turnê, no Credicard Hall (SP).

Privilégio mesmo. Me senti honrado de poder chegar perto dessa cantora de 33 anos que faz um espetáculo só com um piano, uma bateria, um violoncelo e um teclado.

Musicalmente falando, a apresentação de Regina é um deleite do começo ao fim. O entrosamento dela com a banda é de assustar, e o setlist trouxe uma enxurrada de hits tocados com uma precisão erudita. Sua é voz impecável e absurdamente afinada – mesmo com a garganta “almost ok”, como ela mesma comentou em um dos intervalos entre uma música e outra.

Tímida, reservada e encantadoramente charmosa, Regina Spektor tem um carisma tão grande quanto seu talento musical. Ela é tão simpática, mas tão simpática que dá vontade de adotá-la. Mesmo com um público que não sabia a hora de parar com os berros irritantes de “Eu te amo” e outras tietagens adolescentes, ela foi elegante do começo ao fim e retribuiu o carinho tocando cada nota com uma entrega de arrepiar a espinha.  Sua intimidade com o piano e a delicadeza com que ela toca é algo quase nobre.

E aí a gente percebe que um espetáculo, pra ser bom, não precisa de raio laser, pirotecnias e cenários hollywoodianos em cima do palco. Basta passar o bastão para uma artista que transborda talento pelos poros e que sabe dominar seu público com um repertório matador.

Apesar de alguns problemas técnicos que impuseram à banda um intervalo forçado, o show teve quase 2 horas de duração, e não houve uma sílaba sequer de cada letra que o público não cantasse em uníssono. Dava gosto de ver como as pessoas estavam felizes. E isso se refletia em Regina. Foi uma empolgação mútua, e ela agradecia com um delicado “obrigada” sempre que podia.

A gente é que agradece, Regina. Seu show é o espetáculo do talento, do profissionalismo, da simpatia e da humildade. Por favor, venha sempre!

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Unidos pelo muro

Você não precisa ser necessariamente fã de Pink Floyd para ficar maravilhado com o show The Wall, do Roger Waters (que encerra sua passagem por São Paulo hoje, no Morumbi).

O que se vê ao vivo é um espetáculo, no sentido mais literal da palavra. É um banquete para as retinas. Um muro gigantesco se estende de uma ponta a outra do palco, e vira um grande telão onde são projetadas animações e efeitos visuais de arregalar os olhos durante 2 horas de apresentação.

Claro, se você for fã de Pink Floyd (como eu), o show ganha muito mais graça dado o apego emocional que se tem com cada nota tocada em cima daquele palco. O The Wall é um dos discos mais famosos e amados da história do rock, e vê-lo ao vivo, na íntegra, é uma experiência emocionante. Parece que, finalmente, a grandiosidade do álbum ganhou uma apresentação à sua altura.

Tecnicamente falando, o show é um espetáculo da tecnologia, desde o som ultra-mega-blaster-boost-surround que cerca todo o Morumbi com uma definição cristalina até cada um dos milhares de pixels que preenchem o imponente muro de 140 metros de largura. De onde quer que você esteja, é surpreendido com estrondos arrebatadores, com imagens deslumbrantes e com a precisão irretocável de uma banda que não faz feio em reproduzir fielmente um disco que está no sangue das pessoas há mais de 30 anos.

E é aí que toda a parafernalha tecnológica se justifica. As músicas merecem todo esse esforço, elas merecem cada frame de animação de que se projeta no muro descomunal. O The Wall merece ser revivido com toda essa pompa porque isto só mostra o quanto ele ainda é atual, universal e atemporal. Seu conceito e seus questionamentos são tão pertinentes hoje quanto eram em 1979.

Roger Waters, hoje com 68 anos de idade, resgata os mesmos ideais que tinha quando jovem, e nos presenteia com uma das mais belas turnês dos últimos tempos, fechando com chave de ouro uma carreira pontuada por belíssimos e marcantes momentos para os fãs e, principalmente, para a história do rock.

Todo mundo que já sonhou em chegar perto de uma guitarra deve muito ao Pink Floyd.

Fora o próprio show, a plateia é um espetáculo à parte. No Morumbi, dia 01.04, foram mais de 60 mil pessoas cantando tudo em uníssono, deixando ainda mais bonito um momento já ímpar por natureza. Fãs de todos os tipos e idades, pais com filhos, gerações distintas. Na hora que as luzes se apagam e In The Flesh estoura nos alto-falantes e arrepia a espinha, todos são iguais. Realizando o mesmo sonho.

Mother, did it need to be so high?


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O bom e velho Francisco

Dá gosto de ver o atual show do Chico Buarque. Com mais de 45 anos de carreira e ainda exibindo um incomparável vigor criativo, ele faz um espetáculo que soa libertário numa época em que, salvo raras exceções, a Música Popular Brasileira sofre com um assustador ostracismo.

A turnê é baseada em seu mais recente álbum, Chico, lançado em dezembro do ano passado, mas vai muito além do repertório do – belíssimo – CD. Entre uma música nova e outra, Chico presenteia os fãs de longa data com clássicos de sua carreira, pinçados de todas as épocas. O Velho Francisco abre o espetáculo. Da longínqua Desalento, passando por Geni e o Zepelim, Cálice (numa nova e moderna versão, curta demais pro meu gosto), Sob Medida, O Meu Amor, Todo o Sentimento e até Anos Dourados (numa emocionante homenagem ao maestro Tom Jobim), Chico revisita grandes momentos de sua obra, e nos relembra como ela tem força e sobrevive ao tempo.

As músicas novas já soam como clássicos, com todo mundo cantando junto como se elas já estivessem aí há anos. Já são tão familiares quanto qualquer outra do seu repertório, e mostra que o disco novo não só foi extremamente bem aceito, mas absorvido com furor pelos fãs que, havia 5 anos, não ouviam uma música nova de Chico Buarque.

Um dos momentos mais bonitos do show é durante a música Sou Eu, em que Chico chama o lendário baterista Wilson das Neves para dividir o palco e os vocais com ele.

De repente, aquele pedaço de chão fica pequeno para abrigar tanta história.

Essas duas figuras representam tantas conquistas, tantas músicas, tantas barreiras derrubadas, tantas influências a tantos outros artistas que fica impossível não se emocionar com eles dois ali, a poucos metros de distância. Wilson das Neves toca bateria na banda do Chico Buarque há pelo menos 35 anos, e já tocou com centenas de outros artistas da MPB. É uma lenda viva, um patrimônio da nossa cultura. Merecidamente, foi ovacionado quando a música chegou ao fim.

E o resto do show prossegue e Chico Buarque vai desfilando cada pérola do setlist com o gosto e a empolgação de quem está tocando pela primeira vez, mas com a certeza de ser o dono de uma obra que empolga e orgulha brasileiros há mais de 40 anos, certo de si e da força que sua produção tem. Soberba, atual, desafiadora e excitante, mesmo depois de tanto tempo nas nossas mentes e corações.

Que bom que ele ainda faz shows. É uma chance que a gente tem de agradecer pessoalmente por todas as contribuições que suas músicas já fizeram pela nossa inteligência, senso de humor e caráter.

Valeu, Chico. Volte sempre.




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