Procura-se: Público disposto a ler bons textos, independente do tamanho

Meses antes de sequer imaginar que teria a chance de conhecer William Shatner na última Comic-Con, fui surpreendido por sua série de entrevistas – Raw Nerve, no canal Bio – com atores de “Jornada nas Estrelas” e outras celebridades. Cheguei a acompanhar o Mind Meld – no qual Shatner e Leonard Nimoy batiam papo sobre a série e os filmes – mas não carreguei muita coisa, de fato, daquelas conversas.

Nessa nova fase, porém, um Bill mais experiente e contemplativo surgiu e essa versão fez com que toda essa relação de amor e ódio estabelecida ao longo dos últimos 20 anos (por conta de minha devoção inabalável a “Guerra nas Estrelas”, claro) fizesse sentido. Se não falhe a memória, na entrevista com Walter Koenig, ele disse algo inesquecível:

“Quero conhecer as pessoas, quero entender o que faz com que elas funcionem, como pensam e por que pensam”.

Por mais idealista que possa soar, Shatner definiu a essência de qualquer comunicador, que, antes de comunicar, precisa compreender qual mensagem precisa transmitir. É um pensamento indispensável nos dias de hoje com o público pulverizado, maior acesso à informação e, seja na publicidade, seja no jornalismo, com clientes perdidos no tiroteio de opções.

Em meus anos de faculdade, ninguém questionava a validade do trabalho do jornalista. Não havia opção à escola da reportagem e ao grande veículo impresso, rádio ou programa de TV, logo, boa parte das conversas de dedicavam a prepara a técnica, manter a ética e respeitar aquela neutralidade utópica que, de fato, nunca existiu. Veio a Internet. Boom. A escola clássica despencou e o resultado é uma imprensa perdida, em busca de novos formatos, de novas rendas, mas, acima de tudo, em busca de uma razão para continuar existindo.

“Seu texto é muito longo, ninguém lê”

Aproximando esse cenário do meu dia a dia como correspondente de entretenimento, um dos mais afetados pela nova mídia, a coisa piora um pouco, pois quando não se existe mais o elemento “especial” da proximidade com o astro e se a janela de lançamento caiu de 1 ano para 3 meses, o que sobra? É aí que William Shatner acerta em sua definição, é aí que editores brasileiros – especialmente os online – precisam lembrar das razões que os levaram a essa profissão e focar no objetivo do que fazem. Hollywood é de todo mundo.

Qualquer blog consegue traduzir entrevistas, pegar fotos, repercutir feeds de notícias e se chamar de “site de notícias”; quem faz isso vai ter milhares de concorrentes exatamente iguais, fato, mas estamos falando de jornalistas ou de verdadeiros redatores que, felizmente, puderam se expressar sem o filtro da grande imprensa. Negada que faz isso para tentar ficar famosa quer saber de hit, não do efeito que seu trabalho causa nas pessoas.

Quantas vezes não ouvi “seu texto é muito longo, ninguém lê”. Eu luto contra essa mentalidade e já perdi muito trabalho por isso. Não é reclamação, foi uma opção. Ouvi isso hoje, aliás. Aquela desculpinha do “ninguém lê texto grande na internet” não cola, desculpe. Se a internet é realmente o novo canal de comunicação, significa que todas aquelas pessoas que aprenderam a apreciar a boa matéria apurada e informativa, ou aquela opinião fantástica do articulista preferido, desaprendeu e vai ser obrigado a “análises” de quatro parágrafos? Duvido. Quando digo Hollywood é de todo mundo, falo do acesso; hoje, pulverizado e quase sempre insosso criado pelo atual sistema de assessoria de imprensa, que encara o profissional como uma mera ferramenta do departamento de marketing.

Olhando esse cenário, um modo de escapar da cobertura rasa e do nivelamento por baixo – o que realmente matou o jornalismo, por conivência de editores e preguiça de “repórteres” que não vivem sem IMDB ou Wikipedia – é justamente a compreensão que Shatner busca em suas aventuras como entrevistador.

Em algum lugar nessa internet de Deus e o Diabo deve existir um público disposto a ler bons textos

Claro que a fofoca sempre vai existir como filão milionário ao revelar as últimas estripulias de gente relevante como as Kardashians ou Lindsay Lohan, entretanto o cinéfilo quer e precisa conhecer seus ídolos, sejam eles atores ou diretores. Com o avanço tecnológico, as chances do cinéfilo se arriscar como produtor de conteúdo é gigantesca com um blog ou até mesmo fazendo seus próprios filmes. A existência de uma base de informações confiável e relevante se torna fundamental e precisa ser oferecida em algum lugar que não os extras dos Blu-Rays.

Ao entendermos como as pessoas bem-sucedidas tomam suas decisões, o que as inspira, onde procuram talentos, o que julgam valioso nos dias de hoje, podemos compreender melhor o mercado do entretenimento, planejar nosso próximos passos e, sem dúvida nenhuma, aprender com erros dos outros. Foi algo James Cameron comentou uma vez:

“Ninguém mais faz filmes bons sobre H.P. Lovecraft, por que muita gente errou demais quando tentou; já sabemos o que não fazer”.

De certa forma, esqueceram da função do jornalismo, a de reportar e registrar, e só querem saber de resolver o problema: voltar a vender. Mudou-se o fim, perdeu-se o meio, danou-se tudo.

Alterando levemente as palavras de Shatner, quero conhecer meus entrevistados e meus ídolos, quero entender o que faz com que eles funcionem do modo como funcionam, quero saber como pensam e por que pensam.

Quero entende-los e compartilhar essas descobertas, pois sei que, em algum lugar nessa internet de Deus e o Diabo exista um público disposto a ler bons textos, independentes de seu tamanho, que clame por informação e ainda se empolgue com as declarações com alguém capaz de te emocionar na tela e te deixar orgulhoso fora dela. Pode chamar de idealista, mas eu prefiro ser chamado de jornalista.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Não é uma ação, mas poderia ser. Entrevista com Túlio Bragança, o homem por trás de Pagodeversions

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A eterno debate do viralzinho ganha mais uma peça importante.
Nem vou chover no molhado dizendo que viral não é criável.
É até possível criar coisas com humor ou elementos atrativos o suficiente para que tenha algum POTENCIAL viral. Mas quem promete, mente.

Com isso na cabeça, pegamos aí o caso do Túlio, que se apropriou de uma brincadeira que todo mundo já fez, até o Lulu Santos (haha) e traduziu da forma mais literal do mundo, para o inglês, os pagodes mais chicletes que já passaram por aí.

Fiquei aqui pensando: se foi espontâneo, ótimo. Se não foi, o cara entendeu bem como funciona o meio e a comunicação, porque pô, a idéia tava ali quicando há anos e ninguém tinha feito ainda. Sei lá, se não é uma ação, poderia ser.

Por enquanto são 5 vídeos com marcas de acessos em 1500 views em 3 dias. No twitter a coisa foi que foi. No youtube as pessoas comentam e pedem músicas.

Então fui ali no twitter tirar a prova dos nove. Te sigo ali, me segue de lá, e pronto.

Com vocês, Mr. Pagode Versioner, Túlio Bragança:

Zannin – B#9: Oi Tulio. Olha só: não queria uma entrevista com perguntas e respostas duronas, mas por email não tenho muita alternativa né. haha Então vamo assim:

Vi no twitter que vc é redator. Pagode Versions foi uma idéia pensada pra ser viral ou foi pensada pra ser uma farra que caiu no gosto do povo?
TB: Pagodeversions nasceu como uma piada interna, que estou descobrindo ser bem maior do que imaginava. Não esperava ver tanta gente se idenfificando com esses sucessos suingados dos anos 90.

Zannin – B#9: E o que rolou de resultado? Quase 20 mil views nos seus videos, entrevista no B#9 (hehe) e o que mais?
TB: Rolaram entrevistas em sites, jornais, revistas, vários posts em blogs que nunca ouvi falar, um possível contrato para comercializar música para celulares, um tweet do vocalista do Exaltasamba dizendo que curtiu a versão para “Me apaixonei pela pessoa errada” e e-mails de duas ex-namoradas.

Zannin – B#9: Alguma marca já lhe procurou tentando fazer campanha contigo?
TB: Um amigo publicitário de Curitiba pediu para usar um pagodeversion num anúncio da Rádio Rock de lá, mas não sei como terminou essa história ainda.

Zannin – B#9: Como você divulgou seus vídeos? Já era um usuário das redes sociais? Onde o Pagode Versions já está presente?
TB: Divulguei basicamente pros amigos no twitter e facebook. Depois da terceira música vi que os retweets aumentaram bastante. Uso bastante redes sociais, tenho até uma camiseta original do ORKUT que ganhei por participar de um focus group deles em 2005! hahaha Pagodeversions só está no Orkut, estou pensando em fazer alguma coisa no Facebook e um MySpace. (Nota do editor sobre a camiseta do Orkut: o.O)

Zannin – B#9: Pensa em fazer um site?
TB: Quero ver até quando vai durar toda essa doença, mas estou pensando sim. Se alguém quiser ajudar avise por favor!

Zannin – B#9: O que os seus fãs podem esperar como sequencia no repertório? Quanto tempo demora pra fazer uma versão dessas?
TB: Podem esperar o melhor dos clássicos do pagode, até mesmo das bandas ‘One hit wonders’. Quem sabe mais pra frente eu abra o leque musical e saia do pagode. Cada versão leva umas 2 horas para fazer no fim de semana. A letra sai tranquilo, o complicado mesmo é eu aprender a tocar.

Zannin – B#9: E shows, já rolou algum convite?
TB: Houve um convite para tocar com o bloco/banda Exalta Rei no Rio de Janeiro. É uma pena que não rolou de ir, mas estou analisando qualquer coisa que aparecer.

Zannin – B#9: Sobre publicidade… Quais são os ditos “virais” que mais lhe marcaram?
TB: Gosto bastante dos que o Burger King fez:  “Whoper Virgins” e “Whopper Freakout“. São sensacionais. Como trabalho com TV, acabo ficando mais por dentro do que os canais fazem.

Achei ótimo esse novo do FlashForward que usa suas informações e fotos do Facebook e também uma do Dexter que o FX inglês fez, que você personaliza com infos do seu amigo e diz que ele vai ser a próxima vítima. Reproduzimos aqui para a América Latina, adaptando a ideia a um orçamento quase zero e conseguimos um resultado bem bom.

Zannin – B#9: Qual foi o maior viral FAIL na sua opinião (desses que as grandes marcas fazem achando que vai dar certo?)
TB: Não sei se são exatamente virais, mas as primeiras coisas que vem na minha cabeça são:
– O FAIL total da “Marisa Monte lê meu blog”, onde qualquer um podia embedar o video dela dizendo que lia tal blog, mesmo que você tivesse um especializado em pedofilia.
– E claro, o da SKOL – Redondo é rir da vida, que além de ser sem graça (como metade dessa moda de stand-up comedy),  ficou ainda pior pois eles não souberam como lidar com a paródia inteligente e sensata feita pelo Ronald Rios.

Zannin – B#9: O último YouPIX foi sobre virais. Eles chegaram a uma enorme conclusão sobre elementos que devem conter num vídeo para que ele seja viralizado. O que você acha precisa existir para o vídeo ter esse potencial?
TB: Posso tentar filosofar e teorizar sobre o pagodeversions para responder isso. Para mim funcionou porque é uma grande piada interna. Só acha graça quem viveu essa febre do pagode, tem essas músicas na lembrança e, além disso, manja um pouco de inglês, o suficiente para entender que a tradução está mal feita. Ou seja, fala direto para um público. Minha mãe não entende, os meus amigos argentinos também não. Talvez seja isso: fazer que as pessoas sintam que é uma piada interna só pra elas.

Túlio Bragança mora em Buenos Aires há quase 4 anos, onde trabalha no Departamento de “Creative Services” da Fox Latin American Channels, junto com outro brasileiro, André Takeda. É o departamento que cuida da imagem na tela de todos os canais do grupo, mas também temos uma mãozinha em web e mídias sociais.

Nesse papo super legal por email, ele ainda manda um mínimo de auto-promoção e mandou essas 3 chamadas que ele compôs e cantou pro Family Guy. O do Brian, o mais legal na minha opinião:

Peter: http://www.youtube.com/watch?v=qVBEcAYnRtk
Stewie: http://www.youtube.com/watch?v=JyzfTK92LQE

É isso. Obrigado Túlio e obrigado leitor por chegar ao final do texto. :)

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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