A arte de “The Beatles: Rock Band”

Beatles Rock Band Art

De tudo que já se falou sobre o game do ano (apesar da tonelada de bons lançamentos nos últimos meses), considerado o maior lançamento do mercado de entretenimento em 2009, o que mais resta dizer? Provavelmente nada, agora só o que você tem que fazer é jogar e experimentar com os próprios olhos, mãos e coração. Até porque o emblemático 09.09.09 chegou.

Mas porque, mesmo em meio a tantos games musicais que chegaram ao mercado nos últimos anos, “The Beatles: Rock Band” quebrou a barreira da sua própria mídia e causa um furor que só pode ser comparado ao lançamento do iPhone? Bom, a primeira resposta é óbvia: The Beatles. Envolver a banda mais famosa da história da humanidade, e ainda mexer com um catálogo que permanecia intocável nos cofres da Apple Corps., não poderia gerar menos repercussão do que a que estamos presenciando.

A Viacom, dona da MTV, que por sua vez adquiriu a Harmonix, criadora do concorrente “Guitar Hero” anos antes, desembolsou uma quantia estimada em US$ 40 milhões em “The Beatles: Rock Band” antes mesmo de ter qualquer perspectiva de receber 1 centavo de volta. O movimento ambicioso da MTV parecia apenas uma ideia impossível quando iniciaram as conversas com o filho de George Harrison, Dhani, 31 anos, ainda em 2006 (Detalhe: O primeiro “Rock Band” ainda nem tinha sido lançado).

As épicas negociações, uma abertura sem precedentes aos arquivos dos Beatles, dificuldades tecnológicas, alinhamento de interesses, e alcançar o consenso entre familiares e grandes corporações que detém o direito do acervo musical da banda, são fatores que transformam um jogo de videogame em um dos maiores feitos da indústria do entretenimento.

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Foi essa responsabilidade, aliás, que fez a Harmonix não tratar “The Beatles: Rock Band” como apenas um outro spinoff da franquia “Rock Band”. E, por consequência, o trabalho conjunto de mais de 300 pessoas fez de um jogo uma peça de arte. Um disco de plástico que é um game e um documentário interativo ao mesmo tempo, com cara de feito artesanalmente e por quem conhece intimamente o mito com que estava lidando.

Nenhum outro título da série, e nem mesmo o concorrente “Guitar Hero”, contam com a dimensão do apuro visual empregado em “The Beatles: Rock Band”, jogos restritos a rock stars genéricos até então (mesmo considerando “GH: Aerosmith” e “GH: Metallica”). Segundo o diretor de criação da Harmonix, Josh Randall, o objetivo foi capturar uma psicodelia modernizada, um caleidoscópio da carreira da banda, enquanto o jogador toca cada música. Vale dizer que essa foi inclusive uma exigência da Apple Corps., que o jogo fizesse uma retrospectiva de cada fase dos Beatles.

Randall teve uma primeira reunião de trabalho (leia-se, não todos juntos em uma mesma sala) com Paul McCartney, Ringo Starr, a viúva de George Harrison, Olivia, e a viúva de John Lennon, Yoko Ono, no início de 2008. Na ocasião, ele apresentou uma versão de “Rock Band 2″ com 5 músicas dos Beatles, mais um vídeo conceitual que mostrava os integrantes da banda em machinima. Foi nesse momento, quando parecia que o jogo caminharia para apenas uma expansão de “Rock Band”, que John Randall e sua equipe perceberam que tudo precisaria ser revisado, recebendo assim um tratamento único e criativo.

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Como declarou Dare Matheson, designer chefe do projeto, parecia óbvio que aquela não era a melhor maneira de lidar com os Beatles. A partir de então, a equipe da Harmonix passou semanas consumindo tudo quanto é tipo de material referente a banda. Ouviram todos os discos, analisaram todas as artes, assistiram todos os filmes, e praticamente decoraram o “Anthology”.

A Apple Corps. abriu todos os seus arquivos para os produtores do jogo, que tiveram acesso a material raro, referências e até as roupas usadas pela banda. Outro “detalhe” que não se pode ter todo dia: Olivia Harrison convidou Randall e Matheson para visitar a casa onde George morou, apresentando pilhas de objetos, e claro, a sala lotada de guitarras.

Quando a segunda reunião aconteceu, com Paul, Ringo, Olivia e Yoko, parecia um outro produto. Para Randall, criar o visual de músicas que todo mundo conhece foi o maior desafio. Cada pessoa tem uma imagem pré-definida na cabeça, e tentar corresponder a isso parecia, no mínimo, amedrontador. Mais uma vez, a necessidade de atender expectativas tornou-se fundamental no maravilhoso design de produção do jogo.

Durante o processo de caracterização dos integrantes da banda, os designers da Harmonix estudaram horas de filmagens para capturar as nuances, estilo e energia de cada um. O que eles fazem quando falam ou cantam, como se movem no palco, como os cabelos se movem, e mais dezenas de detalhes para serem reproduzidos em avatares 3D.

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Outra importante decisão foi a criação de um visual cartunesco. A estética do jogo descarta o realismo para criar bonecos virtuais estilizados, valorizando a empatia e alegria no palco. Conforme o jogador avança na carreira dos Beatles, o design também se altera, apresentando cada época em particular.

No auge da psicodelia, “The Beatles: Rock Band” faz uso das sequências de sonho. Os diretores de arte da Harmonix rasbicaram idéias do que cada canção os faziam sentir. Sem ficar tão presos as letras de forma literal, representam o espírito das músicas na tentativa de tocar emocionalmente as pessoas.

“Como em ‘Octopus’s Garden’, por exemplo. Não queríamos simplesmente colocar um polvo gigante dançando ali. Queríamos, sim, passar a vibração daquele ambiente, mas sem exagerar no óbvio. A primeira dreamscape que fizemos foi para ‘Here Comes the Sun’. Eu me lembro de ver todas as pessoas da sala sorrindo ao assisti-la. Na hora, pensei: ‘Uau, acho que conseguimos.’ Quando eu jogo videogames, não costumo ter esse tipo de envolvimento. Nunca me senti fisgado emocionalmente por ver uma cena de um game. Então, chegamos a uma conclusão: ‘Ok, este é o lance do game, fazer as pessoas terem conexão emocional com esses personagens e com o espírito da banda’.”, revelou John Randall em entrevista a Pablo Miyazawa, do Gamer.br.

Abaixo, o Brainstorm #9 compilou algumas das belíssimas transições presentes no jogo. Além disso, você pode (e deve) assistir o trailer para ver mais da estética durante a jogabilidade, e claro, rever a fantástica animação de abertura que já passou aqui pelo site.

Nesse 09.09.09, com “The Beatles: Rock Band” finalmente nas prateleiras, a discografia dos Beatles relançada e remasterizada, e os boatos de que todo o catálogo da banda estará disponível (também depois uma negociação épica) na iTunes Store, podemos permanecer tranquilos em afirmar que esse ficará marcado como o dia em que a beattlemania voltou.

| Fontes USA Today, MTV, Gamer.br

Brainstorm #9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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