“O Hobbit: A Desolac?a?o de Smaug” sofre com a ingenuidade de Peter Jackson

“O Hobbit” sempre teve uma história simples: um grupo de personagens precisa vencer desafios para derrotar um dragão, encontrar riquezas e retomar uma cidade perdida. É a famosa base da indústria do RPG: “uma aventura”. Foi assim que Peter Jackson iniciou sua segunda visita à Terra-Média com “Uma Jornada Inesperada” (falei dele aqui), primeiro da série de filmes encomendados pela Warner Bros. para adaptar o trabalho inicial de J.R.R.Tolkien.

Inicialmente, tratava-se de uma dobradinha que, logo, por conta das bilheterias, virou trilogia. Festejei a decisão, afinal, quanto mais tempo passeando por Mirkwood, Esgaroth, Bree e Bolsão melhor, não? Idealmente, sim. Na prática, a coisa foi diferente e o resultado de “A Desolação de Smaug” coloca em risco a imagem, e a eficiência, de Peter Jackson.

Logo de cara, é preciso dissociar simplicidade de infantilidade. Ideias simples podem ser complexas e o mercado infantil já emocionou e transformou muitos espectadores. Nenhuma das duas coisas é, necessariamente, negativa. Muita gente usa o conceito do próprio Tolkien sobre “O Hobbit” ser uma obra mais infantil para diferenciar essa nova trilogia de “O Senhor dos Anéis”. Sempre foi, tanto que é leitura de Ensino Médio nos Estados Unidos e na Inglaterra.

The Hobbit

Para muitos a presença de Smaug justifica as três horas de projeção, para outros tantos é enrolação e obviedade demais

O que acontece nos novos filmes é isso: uma ideia simples, ganhando mais volume, complexidade e uma injeção de adrenalina. Muito, claro, por conta da necessidade dos três filmes – inspirado num livro de menos de 300 páginas – e da maior novidade: um segundo longa com a história deveras diferente do original. Esse elemento chama a atenção não apenas por novos personagens ou cenas prolongadas, mas pela transformação da índole de personagens. Curioso lembrar que uma das críticas a “Uma Jornada Inesperada” foi justamente a fidelidade ao livro. Tudo mudou. E funcionou?

Essa questão é subjetiva demais. Para muitos, a história vai ter arcos mais elaborados e a presença de Smaug justifica as três horas de projeção, para outros tantos é enrolação demais e obviedade demais. Mesmo não tendo amado “Uma Jornada Inesperada”, comprei o Blu-Ray e já assisti mais de 20 vezes. Farei o mesmo com esse novo filme, mas por ser fã.

O fã vai querer visitar a Terra-Média, embora considere, até o momento, a Batalha do Abismo de Helm melhor que todas as horas da nova trilogia. Fã é fã e estou feliz com esse meu lado. Agora, o cara que gosta de sentar na poltrona, ser carregado por uma boa história e ver um bom filme. Ah, esse está sofrendo aqui. Detonar por detonar é um desserviço, afinal, subjetividade é sinônimo de porrada hoje em dia. Logo, vamos a alguns fatos.

Peter Jackson no set

Peter Jackson no set

Um cineasta para todos analisar

The Hobbit

Primeiro, lembra que metade do texto anterior falava sobre os 48 quadros por segundo? Sumiu! Muitas salas têm disponibilidade, mas a Warner preferiu mostrar a versão 24fps para a imprensa, não divulgou uma linha sobre o formato e mantém a oferta na surdina. Cerca de 750 salas nos Estados Unidos e mais de 2500 no resto do mundo. Fato: o experimento falhou e nenhum outro grande filme abraçou a ideia. Toda a revolução tecnológica e o blablabla caíram por terra (pelo menos por enquanto, James Cameron está filmando “Avatar 2 e 3″ com mais quadros por segundo), mesmo com uma significativa margem de aceitação. Sobrou apenas o 3D tipicamente mais escuro e, via de regra, desnecessário.

Aí vem um dos maiores problemas: “A Desolação de Smaug” é ingênuo. Bobo mesmo. E a culpa é de Peter Jackson, que, aliás, é o primeiro personagem a aparecer em cena. Simples pode ser bom; infantil também. Bobo é difícil de engolir. O diretor aprovou (teoricamente) uma edição óbvia e desinteressante. A primeira cena do encontro entre Thorin e Gandalf, e os dois “caras maus” é descarada ao extremo, sem tensão, sem criatividade. Algo feito no automático.

E a sensação não se dissipa ao longo da projeção. Peter Jackson usa e abusa da repetição dos movimentos de câmera, recicla suas próprias ideias (a cena na qual Tauriel, em bom papel de Evangeline Lilly, cura um dos membros da companhia de Thorin é exatamente igual ao salvamento de Frodo por Arwen) e caiu na armadilha do segundo filme. Ele assume ter “filmado demais”, mas, na inexistência da trilogia, muitas das cenas seriam mais breves ou ficariam na edição. Kill your darlings, é a regra máxima e ele a desrespeitou. Cinema é entretenimento, mas não é parque de diversões e essa é uma das deslizadas de “A Desolação de Smaug”.

Peter Jackson abusa da repetição dos movimentos de câmera e recicla suas próprias ideias

Assistir à fuga nos barris garante a mesma sensação de visitar o brinquedo do “King Kong”, dirigido e criado por Peter Jackson para o Universal Studios, aqui em Los Angeles. Correria, movimento, aquela forçada de barra básica – mas plenamente aceitável – e a relevância dramática nula. O mesmo vale para a montanha-russa dentro de Erebor, na qual tanto roteiro quanto PJ soltaram a franga e deram vazão a todos os sonhos mais malucos. Seriam ótimos extras para o Blu-Ray, com certeza, e atrações garantidas no eventual parque temático tolkeniano! Fica difícil não imaginar duas coisas: como teria sido caso Guillermo Del Toro dirigisse; e como seria tão mais empolgante, e igualmente lindo, em dois (ou mesmo um!) filmes mais condensados.

The Hobbit

Hobbit

Um Fã para Todos Adorar (alguns spoilers)

Houve melhorias, claro. A maior delas foi a melhor efetividade da trilha sonora, que fugiu da repetição ad eternum da música tema dos anões e carregou a trama com mais variedade e força. A atuação de Martin Freeman, que já era fantástica, melhorou mais ainda. E, claro, Smaug foi revelado com magnanimidade, imponência e fogo! O monstro ficou fantástico e fez jus ao trabalho de voz de Benedict Cumberbatch. Uma combinação bela e assustadora.

O descompromisso com o material original permitiu maior liberdade ao roteiro, sem dúvida. Um triângulo amoroso surgiu, assim como diversas ligações – de validade questionável – com “O Senhor dos Ane?is” e uma nova rodada da discussão de Merry e Pippin com Barbárvore, desta vez, diluída entre Legolas & Tauriel e Bardo & Anões. Lutar é preciso? Ser egoísta é sempre visto com péssimos olhos no universo cinematográfico de Tolkien.

Mas, justamente por soar como preambulo, a discussão não é concluída. Thorin e Bilbo (subutilizado nesse capítulo) enfrentam seus demônios frente a frente. O hobbit sofre pela tentação do Um Anel, enquanto o anão é confrontado com a ganância de seus antepassados e, novamente, falha na maioria dos testes. O Thorin de Peter Jackson é extremamente falho, com alguns momentos de grandiosidade. Provavelmente, uma construção para um desfecho de grande escala no terceiro filme durante a Batalha dos Cinco Exércitos.

The Hobbit

The Hobbit

Há muito acontecendo. Gandalf desvenda o “mistério” da identidade do novo senhor de Dol Guldur, depois de fazer uma visitinha aos picos de Rhudaur; os homens de Esgaroth – uma cidade castigada pelos séculos de esquecimento e empobrecimento desde a queda de Erebor – tentam se manter vivos mesmo como clara alusão à corrupção e ao definhamento social; e Thranduil, pai de Legolas, se torna o catalisador de preconceito, arrogância e egoísmo e, até certo ponto, é o vilão do filme, afinal de contas, o novo super-orc não faz muita diferença.

Beorn foi totalmente desnecessário, diga-se de passagem. São vários arcos, várias continuações de conceitos iniciados no primeiro filme e que só vão fazer sentido no capítulo final. E aí mora um dos problemas, pois fica difícil encarar “A Desolação de Smaug” como um filme fechado, pois não há uma trama específica contida nele e sua conclusão também fica no meio do caminho, inconclusa.

E qual a função de um filme de passagem? Protelar algo claro desde o princípio. Haverá uma grande batalha antes da Guerra do Anel. E ela vai envolver todos os povos apresentados por essa looooonga introdução. Homens sem esperança, anões divididos, orcs e goblins sob a liderança de Sauron e as águias, sempre as águias.

“A Desolação de Smaug” é um exercício de paciência, alimentado pela expectativa de um desfecho digno. A diferença é clara entre a mentalidade da finada New Line, que não permitiria tantos exageros – até mesmo por estar com o pé atrás no início da produção – e da Warner, que aposta no “quanto mais, melhor!”. Dois estúdios, duas trilogias, um mesmo diretor reagindo de formas completamente diferentes.

“A Desolação de Smaug” é um exercício de paciência, alimentado pela expectativa de um desfecho digno

Peter Jackson disse que essa é “provavelmente, a última vez que voltará a visitar a Terra-Média” como diretor, então, está aproveitando para filmar tudo que quer. Eu entendo. E, sem dúvida, faria o mesmo. E erraria do mesmo jeito.

Da última vez, torcemos pelas versões estendidas, agora o sentimento é o oposto. Torço muito para que essa não seja a “trilogia frustrante” da geração atual, assim como os últimos de George Lucas foram para a minha, mas só um filme brilhante salvará o dia, a Terra-Média e dará relevância a tanta enrolação.

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Fábio M. Barreto é tolkeniano, adoraria morar em Minas Tirith e é autor da ficção “Filhos do Fim do Mundo”.

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Air New Zealand, a “companhia aérea oficial da Terra Média”

Para quem trabalha na Air New Zealand, o fantástico mundo criado por J.R.R. Tolkien faz parte do dia a dia. Pelo menos é o que mostra Just Another Day in Middle-earth, comercial criado pela True para lembrar, mais uma vez, que a ANZ é a “companhia aérea oficial da Terra Média”.

Com participação do ator Dean O’Gorman e narração de Sylvester McCoy – o anão Fili e o mago Radagast, o Castanho – de O Hobbit -, o filme aproveita o lançamento do segundo episódio da trilogia, A Desolação de Smaug, para lembrar que a Terra Média está  mais perto do que se imagina. Destaque, ainda, para os papeis desempenhados pelos próprios funcionários da Air New Zealand.

Além de Just Another Day in Middle-Earth, a companhia aérea também fará um voo especial partindo de Auckland,  quando um Boeing 777-300 deverá chegar a Los Angeles bem a tempo da premiere de O Hobbit 2, no dia 2 de dezembro. A estreia mundial – inclusive Brasil – está prevista para 13 de dezembro.

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Último trailer de “O Hobbit: A Desolação de Smaug” antes da estreia

A segunda parte da trilogia “O Hobbit” chega no Brasil em 20 de dezembro (uma semana depois dos EUA) e, com a proximidade do lançamento, a Warner divulgou o que provavelmente será o último trailer do filme antes da estreia.

São três minutos de amostra da continuação da jornada de Bilbo, Gandalf e os anões pela Terra Média, que finalmente vai mostrar o enfrentamento com o dragão Smaug. Assista acima.

Já no vídeo abaixo, Peter Jackson nos leva para um passeio pelos bastidores de “O Hobbit: A Desolação de Smaug”.

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Mountains of Mist

Voici « Mountains of Mist », le nom d’une excellente série de clichés du photographe polonais Jakub Polomski. Inspiré des paysages décrits par J.R.R. Tolkien pour sa trilogie de livres Le Seigneur des Anneaux, de magnifiques images sont à découvrir sur son portfolio et dans la suite de l’article.

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O Hobbit: Uma jornada de decisões inesperadas

Três parágrafos informativos são necessários antes de começarmos a falar sobre “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, afinal, nem todo mundo entende de frame rate e motion blur. Aí vão eles, de forma bem curta.

Frame rate: normalmente, assistimos filmes com 24 quadros por segundo (frames per second, ou fps, em inglês), ou seja, a cada segundo, o projetor mostra 24 imagens. O resto é preto. Nossa retina faz o trabalho de unir cada imagem criando assim o movimento. Esse é o modo atual de se filmar, projetar e ver filmes no cinema. Na TV, essa velocidade fica entre 29.94 e 30 fps.

Motion Blur: esse movimento criado pela união dos 24 quadros gera algo chamado motion blur, ou seja, um sensação de “borrão” ou transição da imagem. Por isso que, quando você dá pause, nem todas as imagens estão em foco. Culpa dessa natureza borrada dos 24 quadros.

48 quadros por segundo: nessa velocidade, o projetor mostra 48 imagens por segundo, ou seja, o dobro do habitual. Qual o resultado? Você tem mais informação, a imagem é mais perfeita e o motion blur é reduzido drasticamente ao olho humano, afinal, há menos espaço vazio para ser preenchido e a sensação de foco dura mais tempo. Aliás, esse é o mesmo conceito aplicado à câmera lenta, pois quanto mais quadros você tiver, mais você pode diminuir a velocidade sem borrar tudo. Filmei com 200fps uma vez, foi divertido!

Peter Jackson e Martin Freeman no set

Peter Jackson e Martin Freeman no set

A escolha de Peter Jackson

Diretor e estúdio resolveram fazer uma mudança da forma mais traumática possível: num blockbuster tão relevante para os nerds quanto para o mercado

Pois bem, agora podemos falar sobre “O Hobbit”, afinal de contas, essa é a maior e mais relevante discussão envolvendo o novo filme de Peter Jackson. Ele resolveu mudar a velocidade de filmagem e projeção de 24fps para 48fps. Há um resultado essencialmente neutro aí: ele mudou o jeito de vivenciarmos o cinema. Mas a neutralidade dura pouco, pois bastam alguns segundos de filme para o espectador escolher um lado. Isso é mais importante do que parece, pois, especialmente quem não gostou da mudança, vai passar o filme todo incomodado e procurando diferenças. Esse é um dos maiores inimigos do bom cinema: tirar o espectador da história e permitir que o aspecto técnico o distraia.

Ou seja, para muita gente, esse é o maior convite para odiar “O Hobbit” logo de cara. Estão errados? Difícil dizer, pois o espectador compra ingresso, nesse caso, para voltar à Terra-Média, não para ver as últimas invenções da Terra. Mas, como tudo no cinema, o resultado é subjetivo e muita gente adorou, especialmente quem já se acostumou com aquela modalidade de aceleração de imagem que TVs HD oferecem há um tempo. Tanto na TV quanto no cinema, o resultado é o mesmo: a imagem fica diferente, parece mais real, como se fosse uma janela em vez de uma tela; logo, a relação do espectador com a obra muda.

O Hobbit

E daí surge a discussão sobre essa decisão de Peter Jackson. Mudanças desse tipo tendem a acontecem em movimentos cinematográficos menores, em filmes sem tanto apelo financeiro e precisam de maturidade e embasamento técnico para, depois, serem abraçadas pelos grandes estúdios. PJ e o estúdio resolveram fazer isso da forma mais traumática possível num blockbuster tão relevante para os nerds quanto para o mercado (tendo em vista que todos “O Senhor dos Anéis” foram máquinas de fazer dinheiro). Ou melhor, em três blockbusters, afinal, “O Hobbit” foi dividido em três e todos foram feitos 48fps.

Não há meio termo nessa luta, ou dá certo e criasse um novo tipo de espectador, ou vamos relembrar a virada do milênio, quando “Star Wars: Episódio I” decepcionou tanto que afundou “Episódio II”, um filme melhor, mas ignorado pelo público. Sim, são paralelos distantes, mas o mercado tende a repetir comportamentos. Mas essa é apenas uma possibilidade.

Se der certo, vamos ter o maior racha das escolas de cinema, com PJ liderando um novo estilo. Ignorando totalmente os estúdios oportunistas da base da cadeia alimentar que vão filmar até festa de aniversário com 48fps só para entrar na onda (fãs de “Premonição”, preparem-se!), a briga vai ser similar à recente reintrodução dos filmes 3D. Algo necessário ou truque? No caso de “O Hobbit”, a mistura 48fps com 3D infelizmente borda a segunda opção com um festival de objetos sendo arremessados contra a tela.

Um problema conceitual é: como o diretor quer que vejamos o filme?

O 3D, responsável por investimentos históricos na atualizações de salas de cinema ao redor do mundo, já recua e tem opositores fortes como Christopher Nolan, que optou pela filmagem nativa em IMAX para sua trilogia “Batman”. Entreter, provocar, os dois ao mesmo tempo? Qual a função do cinema? Peter Jackson fez ótimo trabalho na primeira trilogia e cravou seu nome na história, mas, como todo realizador, quer contribuir de outro modo. Fez sua jogada. Apostou numa nova geração, no uso diferenciado da tecnologia a seu dispor e gastando todos os cartuchos com os fãs de Tolkien e, por que não, de Peter Jackson. Por isso chamei a decisão de traumática.

Não tem volta.

Outro problema conceitual é: como o diretor quer que vejamos o filme? Sempre lembro do Sergio Leone mandando um 2:35 (o formato mais widescreen de todos, antes do Anamórfico) e valorizando a paisagem ao máximo. Foi assim que ele viu o filme, era assim que ele queria que víssemos. E agora, como fica? PJ quer que vejamos “O Hobbit” em 24fps? 48fps? 24 3D? 48 IMAX? Preto e branco com banda ao vivo? Nesse aspecto, o ato de fazer filmes está virando uma zona e amplia as brigas entre espectadores, afinal, o formato afeta, e muito, a resposta ao produto. I have a bad feeling about this.

Ian McKellen retorna no papel do mago Gandalf

Ian McKellen retorna no papel do mago Gandalf

O Filme

A abertura do filme é de cair o queixo, rivalizando com a Batalha da Última Aliança, vista em “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”

Mas nem só de tecnicalidades vive “O Hobbit”, não é mesmo? Há um mundo de controvérsias à sua volta e outra delas é a separação da história em três filmes. “O Hobbit” é um livro só, mas o mundo criado de Tolkien é gigante demais, oferece opções infindáveis e, nas mãos de um diretor e fã competente como PJ, pode ser maravilhoso. Ele respeita a obra ao máximo e a transformou de “infilmável” em “sucesso incontestável”, agora fez de novo.

Entretanto, vai passar por provações difíceis. Como obra inicial, “O Hobbit” define personagens e apresenta aquele mundo com um olhar inocente e curioso. O filme faz uso dessa característica, mas incorre em exageros, especialmente em um personagem “novo”: Radagast, o Castanho. O mago apaixonado por animais e natureza faz as vezes de palhaço do filme e podia ter ficado de fora, assim como outros elementos que, de certa forma, infantilizam a história. Opa, peraí.

Radagast: Personagem citado só de passagem na obra de Tolkien

Radagast: Personagem citado só de passagem na obra de Tolkien

Infantilizar? Não é algo ruim, afinal, a obra de Tolkien tem essa função, é leitura obrigatória em escolas inglesas e americanas e, especialmente “O Hobbit”, foi escrito para crianças e adolescentes. Todos esses conceitos mudaram, nós mudamos. Queremos toda a aventura da Terra-Média, mas consideramos os elementos lúdicos como desnecessários (assim como eu, acima) e esperamos algo completamente traduzido para nossa mentalidade, nosso tempo. É uma situação bem complicada, não? Ser criança e adolescente mudou, a “vida adulta” invadiu muito desse território, mas “O Hobbit” continuou do mesmo jeito.

O Hobbit

Nesse aspecto, pergunto se não aceitar a tolice é falha nossa, em vez do diretor que optou por mantê-la do jeito que foi concebida? Gostar ou não é outra história.

A abertura do filme é de cair o queixo. Anões! Anões na Montanha Solitária! Smaug! Porrada e ruína! Ela rivaliza com pompa e circunstancia a Batalha da Última Aliança, vista em “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel”, e mostra como o passado da Terra-Média foi mais glorioso e grandioso do que o mundo à beira do colapso pelo qual o espectador se apaixonou anteriormente. É um espetáculo visual! Comentário de fã: isso só aumenta as esperanças de, um dia, ver “O Silmarilion” nos cinemas!

O roteiro é simples e, como esperado, um pouco estendido para justificar os três filmes. O maior problema, porém, é a reciclagem de ideias e tomadas. Toda aquela grandiosidade das paisagens da Nova Zelândia impressionou em “O Senhor dos Anéis”, agora ela retorna, mas com menor impacto, afinal, já vimos tomadas aéreas, montanhas gigantescas e os heróis – nesse caso os anões sem-teto – cruzando longas distancias com a música épica (também repetitiva com uso descarado de leitmotiv com variações do tema principal dos anões). Gandalf repete alguns de seus truques (usa uma mariposa como mensageira); retornamos a um reino subterrâneo (Goblin Gate); e vemos um herói ser derrotado temporariamente (sem spoilers, mas o paralelo é a Gandalf cair com o Balrog).

O quanto o espectador médio vai lembrar depois de anos sem ter visto “O Senhor dos Anéis” é um mistério, mas, no meu caso, os paralelos foram gritantes, logo, relevo por estar fora da curva. Como filme independente funciona e faz uma escolha clara: é mais leve, óbvio e mantém o mesmo ritmo ao longo da projeção. Nesse ponto, segue a receita de J.R.R. Tolkien, que utilizou “O Hobbit” como tubo de ensaio para o que viria a fazer nos livros seguintes.

O Hobbit

Com Tolkien funciona assim: aprecie seu mundo, viva com seus personagens e maravilhe-se com sua beleza.

As relações entre Bilbo Baggins (em ótimo trabalho de Martin Freeman) com os anões refletem esse espírito, de fato, aventureiro e divertido. Ninguém se conhece direito, mas barreiras são quebradas instantaneamente, há um sentimento de perda muito grande, algo que Bilbo vai entender ao fim de sua jornada. Esse livro é a cartilha básica do RPG clássico: o herói inicia uma missão, encontra aliado, encontra itens mágicos, passa por provações, descobre novas habilidades conforme o nível de dificuldade aumenta. Logo, corre riscos similares a “John Carter”, por manter uma estrutura narrativa dos anos 30 (o livro de Tolkien foi lançado em 1937) e expô-la ao espectador moderno, descaradamente carente por ação, encadeamento de ideias mastigado e sem paciência.

O Hobbit

As presenças de Galadriel (linda demais!), Elrond e Saruman no encontro do Conselho Branco servem para aproximar o espectador desavisado de que os elfos e magos já estão aprontando com o destino da Terra-Média há um tempo e também para confundir tudo, afinal, Saruman ainda estava do lado dos mocinhos naquele ponto. A menção do “Necromancer”, porém, mostra os princípios de sua corrupção. Essa era a única função de Radagast, aliás, fazer essa fofoca.

O objetivo infanto-juvenil é claro: não há sangue (adeus ao sangue negro dos Orcs), nem mesmo quando passam a faca na barriga do Rei Goblin; as decapitações acontecem em tomadas mais distantes; o roteiro preza pelo didatismo; e a edição escorrega pouco. Numa das cenas mais arbitrárias do filme, os heróis resolvem visitar uma caverna de Trolls sem a menor necessidade, apenas para encontrar três das espadas mais poderosas da Terra-Média. Essa foi a melhor ideia encontrada por quatro roteiristas, entre eles PJ e Guillermo del Toro? Fato, é assim que encontram as espadas no livro, mas o espectador de cinema adora reclamar de “forçadas de barra” como essas. Quer outra? Thranduil, o rei élfico e pai de Legolas, reúne o exército e vai até a fortaleza anã, durante o ataque de Smaug, só para olhar, fazer cara de nojinho e virar as costas.

O Hobbit

No geral, “O Hobbit” evolui bem, apresenta seus personagens, promove três batalhas em larga escala, novamente, estabelecendo a diferença primordial com “Game of Thrones”, e dois conflitos menores e mais pessoais, cumprindo a obrigação com o livro e estabelecendo os limites dos personagens. Embora alguns dos anões sejam soldados veteranos, a maioria da companhia de Thorin Escudo de Carvalho não é formada por porradeiros seculares e, assim como Bilbo, precisam aprender a encarar toda a fauna inimiga de Tolkien.

Tirando alguns elementos já citados, fiquei empolgado com “O Hobbit”, reencontrei a felicidade de voltar à Terra-Média com uma história que, recentemente, comecei a ler para minha filha e só tenho boas expectativas em relação aos próximos dois episódios. “A Sociedade do Anel” sempre foi o mais devagar da trilogia original, mas precisava apresentar tudo, depois veio aquele espetáculo de direção de “As Duas Torres”. O mesmo deve acontecer com a nova trilogia. Há muito que ser construído antes da Batalha dos Cinco Exércitos e o confronto bombástico com Smaug!

Gostei? Não gostei? E os críticos que detonaram? E quem disse ser o melhor filme do ano? Não quero saber, vou ver novamente, dessa vez em 24fps, e novamente, e novamente, e novamente. Com Tolkien funciona assim: aprecie seu mundo, viva com seus personagens e maravilhe-se com sua beleza. Qualquer coisa além disso é descartável.

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O Hobbit: Uma Jornada Inesperada [Trailer 2]

Saiu o novo trailer de “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, a primeira parte da trilogia de Peter Jackson, espremendo a obra de Tolkien até a última gota.

Estou jogando dinheiro na tela e nada está acontecendo. E agora?

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Nova Zelândia lança campanha associando o país à Terra Média

Peter Jackson e a Warners Bros. podem economizar milhões com isenção de impostos na Nova Zelândia, mas o país também quer aproveitar bem a exposição com as filmagens de “O Hobbit”. O mesmo aconteceu com a trilogia “O Senhor dos Anéis” no começo dos anos 2000, mas agora o departamento de turismo do país prepara uma campanha específica para isso.

“100% Middle-earth, 100% Pure New Zealand” associa o mundo fantástico de Tolkien com as belezas e possibilidades da Nova Zelândia, como magos que transformam água em vinho, criaturas que vivem em cavernas antigas e montanhas protegidas por deuses.

O filme (abaixo) promete ser a primeira de muitas ações da campanha na esteira dos próximos três filmes de Peter Jackson. Há alguns anos, a Nova Zelândia descobriu em pesquisa que 6% dos turistas (algo entre 120 a 150 mil pessoas) citaram “O Senhor dos Anéis” como um dos principais motivos para visitar o país.

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