Como um computador assiste a um filme

Interessado pela visão e pelo poder de “escolha” de uma máquina, o artista Ben Grosser colocou seu computador para assistir à grandes filmes – e com narrativas e visual bastante diferentes entre si – como Matrix, A Origem, 2001: Uma Odisséia no Espaço, Táxi Driver, Beleza Americana e Annie Hall.

Uma máquina sem nosso senso de narrativa, visão e padrões históricos assiste ao mesmo que nós?

Para isso, Grosser escreveu um software com algoritmos de visão computacional que ficassem de olho em áreas como padrões, cores, proeminência e outros aspectos relevantes de cada quadro em um filme, a fim de identificar e rastrear itens interessantes – como rostos, prédios, sinais e elementos de paisagens.

Porém, a diferença deste experimento para qualquer outro programa de reconhecimento de imagem é a seguinte: aqui, o próprio computador (no caso, a inteligência de algoritmos) que “escolhe” no que focar. E é justamente este ato de “procurar por algo” da máquina que representa o estado de “assistir”.

Todo esse sistema pode ser visualizado através de um sketch interativo que é realizado de forma temporal pelo software, e representa o processo pelo qual a máquina passa ao “assistir” a um filme.

A Origem

A Origem

Beleza Americana

Beleza Americana

Matrix

Matrix

Táxi Driver

Táxi Driver

Sem comando algum, o sistema desenha o que “escolhe” ver.

Nas obras resultantes, é possível ouvir o áudio original do filme sobreposto ao canvas branco, que vai sendo desenhado aos poucos até preencher a tela por completo.

Para Grosser, a intenção era analisar o que uma máquina “faria” se não houvesse uma necessidade tão importante e instrumental para o seu usual processo de intensificação e rastreamento, ou seja, sem comando algum do ser humano.

No clipe sobre o filme A Origem, é possível ver uma análise da diferença entre a visão humana e a do computador. Por exemplo, quando a máquina assiste às explosões, ela enxerga uma série de pequenas e rápidas mudanças no campo visual. Assim, sua representação ganha pequenos rabiscos voando pela tela e contemplando seus movimentos. Já nós, humanos, focamos nos atores e em suas reações perante às explosões.

Todas as análises e peças finais podem ser vistas aqui.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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The Declassification Engine quer descobrir o que está por trás das tarjas pretas de documentos confidenciais

The Declassification Engine é um projeto ambicioso que visa ajudar os cidadãos a descobrir e procurar por um tipo muito particular de informação: os segredos do governo dos EUA.

Desenvolvido na Columbia University e lançado há um ano, o projeto usa métodos avançados de ciência da computação, big data e processamento de linguagem para dimensionar o que alguns estudiosos tem se esforçado para fazer à mão por décadas: documentar o surgimento do sigilo governamental, aprender mais sobre o que o governo não está liberando e descobrir novos padrões de milhões de documentos que são desclassificados porém contem informações de peso.

As ferramentas que o The Declassification Engine criou, até agora, oferecem um vislumbre dentro do excesso de sigilo que fere a democracia.

Visando a liberdade de informação, historiadores, estatísticos, engenheiros da computação e advogados da universidade envolveram-se no projeto por temerem que o passado se torne um grande segredo. Hoje, por exemplo, para revisar todos os documentos confidenciais americanos criados todo ano, demandaria um trabalho em tempo integral de cada funcionário federal e estadual nos EUA. É muita informação secreta, o que diminuem a realidade e a história dos fatos.

O National Declassification Center atualmente possui um backlog de 370 milhões de páginas de documentos. E, enquanto o governo gasta $10 bilhões protegendo seus segredos, apenas $50 milhões são alocados para esta seção de documentos.

A primeira missão foi coletar a maior quantidade possível de documentos confidenciais e passá-los para o banco de dados. Algumas das fontes foram: National Archives, empresas privadas como ProQuest e Gale Cengage Learning, arquivos já coletados pelo Internet Archive. A partir deste trabalho, programadores e cientistas criaram aplicativos e ferramentas de visualização de dados para ajudar nas análises e buscas.

Muitas vezes, por exemplo, o governo revelou documentos em lugares e momentos diferentes – o que significa que as tarjas pretas adicionadas para manter a conficialidade podem ser diferentes também. Daí surgiu a ferramenta Redaction Archive, que combina documentos editados e não-editados lado a lado, analisando as tarjas e descobrindo o que está por trás delas.

Redaction Archive

Redaction Archive

Redaction Archive

Redaction Archive

Sphere of Influence, outra ferramenta, é uma visualização  interativa de telegramas e mensagens eletrônicas do Departamento de Estado entre 1973 e 1976 que mapeia padrões de coomunicação pelo mundo, ajudando a levantar dados e anomalias na história.

Sphere of Influence nos EUA

Sphere of Influence nos EUA

Sphere of Influence no Brasil

Sphere of Influence no Brasil

Com relação à privacidade, a equipe conta que tem tomado todo o cuidado para que seu processamento de big data não vá tão longe a ponto de espalhar informações que possam prejudicar qualquer um.

O projeto The Declassification Engine está apenas começando. Com o objetivo de ajudar cidadãos, pesquisadores e jornalistas, também espera contribuir para que o próprio governo americano passe a priorizar a liberdade de informação e a decupação de um passado mais real.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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