Primeiro álbum do London Grammar continua a beleza dos primeiros singles

Jogue num liquidificador: Florence + The Machine, Bat For Lashes e Lorde. Misture bem. O resultado é London Grammar, um trio pop-atmosférico-trip-hop que lançou seu primeiro álbum em setembro do ano passado.

A produção do disco é impecável, e os vocais quase líricos de Hannah Reid perfuram as músicas com força e impacto.

Eles são ingleses e fazem um som simplesmente lindo. Seu primeiro single, Hey Now, apareceu em 2012 e virou um objeto de culto tanto na Inglaterra quanto na Austrália. Com o sucesso, gravaram o EP Metal & Dust, que foi direto para o quinto lugar em vendas na iTunes Store.

O estilo que eles encontraram misturando os efeitos de teclado com percussão, guitarras e o vocal catedrático de Reid definiu a cara da banda: um som contemplativo (não dá pra imaginar ouvi-los num churrasco), daqueles que você coloca no volume máximo, deita na cama e apaga a luz pra viajar junto.

Momentos como Stay Awake são raros, e essa música upbeat é quase um contraste com o tema predominante do disco, onde a mágoa, a melancolia e a solidão ganham mais espaço.

Apesar de parecer tristes, são sentimentos como estes que impulsionam Reid, Dot Major e Dan Rothman a alcançar momentos sublimes como a impressionante Wasting My Young Years, uma verdadeira tempestade sentimental deflagrada por uma das melodias mais bonitas do disco.

Só por esta faixa, If You Wait já tem tudo para se destacar em meio à grande maioria das outras bandas sem personalidade que há por aí. Mas o disco tem tantas outras músicas boas que já esbanja potencial para virar um pequeno clássico. Se isso vai mesmo acontecer, daqui a 10 ou 20 anos descobriremos. Mas por enquanto, If You Wait pode muito bem ser o disco do ano (no mundo do pop, pelo menos).

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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The Origin Of Love: talento vs. excesso

E o desinibido Mika voltou à cena recentemente com seu terceiro álbum de estúdio, The Origin Of Love, que chega com o fardo pesado de manter o excelente nível pop dos dois primeiros, Life In Cartoon Motion e The Boy Who Knew Too Much.  

Aqueles discos tem, para mim, o grande mérito de soar absolutamente contemporâneos e modernos enquanto, ao mesmo tempo, revelam uma erudição impressionante do compositor Mika, que é um virtuoso no piano e nos vocais. Esse cara sabe fazer música pop decente e que combina com seu tempo: refrões memoráveis, melodias inteligentes, arranjos divertidos – eletrônicos por vezes – mas nunca sem profundidade.

Pelo menos nos dois primeiros discos, as músicas são leves e divertidas, mas tem diversas camadas, sendo lapidadas com um cuidado que não se vê com muita frequência na música pop de hoje em dia. E mesmo não sendo um grande fã de músicas que abusam do eletroniquês, eu considero um pop que dá gosto de ouvir.  Justamente porque a ideia sempre foi mais importante do que o recurso. Ou seja, uma batida eletrônica aqui, um efeito de voz ali, isso servia como tempero para uma base rica e inteligente, e por isso eram bem-vindos.

Mas agora parece que o recurso ficou mais importante do que a ideia, e The Origin Of Love sofre com um excesso de efeitos, loops, vocoders, sintetizadores – e tantas outras firulas feitas para a pista de dança – a ponto de parecer que é nada mais do que um apanhado de firulas, e no meio disso tudo a música ficou esquecida.  Felizmente esse não é o caso de todas as faixas.

Quando Mika deixa suas músicas respirarem, elas brilham.

E aí entra em cena o bom e velho compositor talentoso de sempre, com o mesmo vigor dos discos anteriores. Lola é um belo exemplo de que música pop pode se manter em pé sozinha sem as muletas eletrônicas, e a faixa esbanja uma linha de baixo que parece ter vindo dos anos 70, uma levada vintage e uma melodia sublimemente construída. Aí fica legal, porque Mika sabe o talento que tem e brinca com backing vocals e com seu surpreendente piano. Outros bons momentos são Kids, Heroes, o single Celebrate e a belíssima Under Water, de longe a coisa mais bonita do disco inteiro.

O resto do álbum não é ruim, mas parece que ele está tentando mostrar a qualquer custo que sabe se comunicar com um público mais jovem, e aí força a barra, sufocando músicas boas com elementos caricatos de pista de dança. Ele sempre soube usar esses elementos com bom gosto, mas agora pesou a mão um pouco demais.

Depois de ter feito dois discos impecáveis e de um pop invejavelmente maduro, não sei se o disco novo é a origem do amor, como seu título sugere. Mas com certeza é a origem de uma certa decepção.

 



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