Conteúdos patrocinados do NYT são tão populares quanto os conteúdos editoriais

A habilidade de contar histórias é um talento que serve bem tanto ao jornalismo quanto à publicidade. Entre uma coisa e outra, existe uma vasta zona acinzentada, em que não se sabe exatamente se o material é jornalístico (já que existe alguém patrocinando, pode haver um viés) ou propaganda com conteúdo.

Esse tipo de história não é novo, mas a sua adoção por grandes veículos é razoavelmente recente, e os primeiros resultados chamam a atenção.

Em uma apresentação em um fórum da American Associaton of Advertising Agencies, Meredith Levien, VP de propaganda do New York Times, revelou que os conteúdos patrocinados da publicação têm alcançado audiências tão boas ou melhores que os seus conteúdos editoriais. Desde janeiro deste ano, o jornal fechou parcerias com 8 anunciantes, que patrocinam conteúdos que levam sua marca ou que falam sobre algum de seus produtos ou serviços.

É o caso da matéria interativa sobre os Jogos Olímpicos de Sochi, que foi produzida em parceria com a United Airlines, e que recebeu cerca de 200 vezes mais visualizações que uma matéria editorial do mesmo nível.

Em paralelo ao caso de sucesso de propaganda nativa do NYT, o Yahoo também lança um novo modelo de anúncios em seus sites, que foram apelidados de unidades ‘in-stream’. Feitos para se misturarem ao conteúdo editorial, esses anúncios aparecerão claramente marcados como propaganda, mas podem ‘enganar’ quem passa os olhos, já que eles usam uma linguagem,  estilo de redação e design bem semelhantes aos conteúdos editoriais do site.

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Com essas estatísticas, executivos como Jonah Peretti, do BuzzFeed, ganham um reforço para a teoria de que conteúdos patrocinados não pioram o jornalismo, mas melhoram a publicidade – com uma mãozinha de quem sabe contar histórias, o material da propaganda fica mais atrativo, e retém a atenção da audiência. Para os diretores de jornais, é uma prova de que a publicação não fica ‘queimada’ com o leitor (já que, afinal de contas, eles estão ativamente consumindo conteúdo patrocinado).

 Anúncios nativos aparecerão claramente marcados como propaganda, mas podem ‘enganar’ quem passa os olhos, já que usam uma linguagem,  estilo de redação e design bem semelhantes aos conteúdos editoriais.

Na outra ponta da história, os mais ferrenhos apontam que o principal problema é que a propaganda nativa quer ‘parecer’ jornalismo sem o ser, e parte desse pressuposto de se disfarçar de algo que não é. Bob Garfield, do The Guardian, elenca as publicações que já estão trabalhando com conteúdos patrocinados: The Economist, Forbes, The Atlantic, The Huffington Post, Washington Post, Time, NYT, Yahoo, antes de afirmar que o conteúdo patrocinado é uma das últimas estratégias de tentar trazer dinheiro para uma indústria que está com o pé na cova.

O professor de jornalismo Anton Harber também acredita que esse modelo baseia-se em ludibriar o leitor, na esperança de que “ele perceba nesse tipo de conteúdo a mesma credibilidade e autoridade de uma notícia”.

Diante desse cenário, eu não consigo concluir se é o jornalismo que se vende ou a publicidade que melhora. Certamente o jornalismo não será, nos próximos anos, o mesmo jornalismo que conhecemos hoje em dia, com as mesmas premissas e códigos de ética. A publicidade também dá sinais de precisar ser mais encorpada, e não uma vã historinha para boi dormir.

A única certeza que me resta, nesse quesito, é que a habilidade de contar uma boa história está cada vez mais valiosa.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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E até a palavra do dia do Merrian-Webster agora é propaganda (!)

Nem ao abrir o dicionário você estará livre de publicidade. A palavra do dia destacada pelo Merriam-Webster nesta terça-feira foi a expressão ‘Walter Mitty’, dicionarizada em 1973 com o significado de ‘pessoa que não é aventureira, mas que tenta escapar da realidade através de sonhos lúcidos’. No entanto, a escolha não foi uma mera coincidência – tratava-se de uma campanha em parceria com a 20th Century Fox para promover a chegada do filme ‘Walter Mitty’ em DVD.

walter-mitty-palavra-dia-merriamAlém da edição no site, a ‘Palavra do Dia’ do Merriam-Webster também é enviada por email, tendo mais de meio milhões de pessoas cadastradas em sua newsletter. Todo esse público foi impactado pela escolha da palavra do dia, e continuará sendo atingido nos próximos dias: até o fim desta semana, toda a seleção de expressões da seção ‘Word of the Day’ terá conotações sonhadoras ou positivas, na vibe da história do filme.

BuzzFeed, Gawker e até o Wall Street Journal têm feito uso desse tipo de publicidade, que ainda que informativa, é claramente enviesada 

Esse tipo de campanha – que foi complementada com banners sobre o longa-metragem ao redor da página – é um exemplo do que tem sido considerado um ‘conteúdo nativo’, em geral um conteúdo que foi divulgado por incentivo e interesses de um patrocinador. Sites como o BuzzFeed, Gawker e até o Wall Street Journal têm feito uso desse tipo de publicidade, que ainda que informativa, é claramente enviesada.

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