Fragile e a era de ouro do rock progressivo

Londres, 1971.

A nova geração de bandas pós-Beatles efervescia e borbulhava na capital inglesa (e em todo o país). Por todos os cantos da se ouvia um som novo, um movimento diferente, uma força motriz nova para a forma de expressão mais libertária de todas as juventudes.

O Yes surgira em 1968 e fazia parte da vertente progressiva – vertente esta que viveu seus anos de ápice e glória de 1970 até 1976, mas que luta para manter sua chama acesa até hoje. Lá nos anos 70, o movimento que pegava fogo e ditava os padrões de comportamento de milhares de jovens.

1971 foi um ano de discos fundamentais para muitas bandas. O Yes lançou o Fragile, o Led Zeppelin lançou o IV (de Stairway to Heaven e Black Dog), o Pink Floyd lançou o Meddle, o Emerson Lake & Palmer lançou o Tarkus, o Jethro Tull lançou o Aqualung, o Gentle Giant lançou o Three Friends, o Mothers Of Invention de Frank Zappa lançou seu clássico Fillmore East, o Genesis lançou o Nursery Cryme… só para dar alguns exemplos. Ou seja, concorrência pesadíssima.

Competir nesse ambiente não devia ser tarefas das mais fáceis, e ao mesmo tempo eu não consigo imaginar o deleite que devia ser ouvir rádio nessa época.

Fragile inaugurou a era mágica da formação clássica do Yes. O novo membro Rick Wakeman se juntava à trupe que já havia produzido o sensacional Yes Album um ano antes, mas que ainda não havia concebido o grande disco da consagração.

A consagração chegaria agora. Jon Anderson, Chris Squire, Steve Howe e Bill Bruford conseguiram desenvolver uma obra cheia de elementos que iriam se tornar marcas registradas do Yes. Características inconfundíveis aparecem aqui pela primeira vez, tanto na parte instrumental quanto na temática das letras.

Muito do entrosamento que o Yes Album trouxe a eles foi aproveitado e ampliado na hora de preparar este disco. Um ano depois, com tecladista e maturidade novos, o Yes finalmente conseguiu seu primeiro grande êxito: Roundabout. A música que abre o disco não só é uma das mais famosas da banda como também foi o ponto de transição entre o fanzine cult e a atenção das massas. Se à primera leitura isto parece um demérito, não o é. Isso porque o Fragile, e muito por causa de Roundabout, detém a grande façanha de ter aberto milhares de novos ouvidos para o rock progressivo. Ou seja, fez o público querer descobrir a cena, e não “se adaptou” ao gosto do público correndo o risco de sair da cena mal tendo feito parte dela.

Fragile ensinou muita gente a ouvir música.

Roundabout foi o grande divisor de águas. A música, exaustivamente executada até hoje em rádios do mundo todo, é a primeira grande vitrine das qualidades consagradas do Yes: a sutileza e afinação irretocáveis dos vocais, a capacidade de criar ambientes distintos para sustentar uma narrativa exótica, o talento individual de cada músico focado no resultado coletivo final da canção (e não o contrário, como acontece em muitas bandas onde o pessoal só quer “se mostrar”) e – o mais importante – a qualidade e o bom gosto das próprias composições.

Praticamente todas as músicas desse disco viraram objetos de devoção entre os fãs da banda, que até hoje ovacionam seus ídolos quando ouvem as primeiras notas de “Heart Of The Sunrise” ou “Long Distance Runaround”, por exemplo. Nessas duas, em particular, tem-se a prova de que Jon Anderson é um exímio cantor e sabe posicionar sua voz impecavelmente de acordo com a necessidade da música, em seus diversos momentos.

“We Have Heaven”, “Five Per Cent For Nothing”, “Cans and Brahms”, “The Fish” e “Mood For a Day” são as contribuições individuais de cada integrante para completar o disco. Cada uma é especial à sua maneira, e todas elas servem de transição para os grandes pequenos espetáculos ao longo do álbum.

Fragile é um disco fundamental na obra do Yes. Ele é um dos representantes mais recorrentes e contundentes do Progressivo, é discoteca básica em qualquer coleção de rock que se preze, é o retrato de uma época mágica do psicodélico e é também a primeira obra-prima do Yes.

A segunda viria um ano depois, um clássico absoluto chamado Close To The Edge.
Mas isso é assunto para outro post.


Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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