Londres ganha praça móvel e portátil

“Cricklewood é uma área bastante ocupada, mas não tem biblioteca, nem praças ou bancos nas ruas.” – Tom James (Spacemakers)

A agência Spacemakers, focada em ambientações e intervenções na cidade, criou uma praça móvel que será transportada de bicicleta por Cricklewood, no noroeste de Londres, durante as próximas semanas. O objetivo é discutir a falta de espaço público nesta área da cidade.

Junto com a estrutura de dez metros quadrados e uma base de cinco rodas – com design do Studio Kieren Jones – uma série de eventos gratuitos como shows, filmes open air e bate-papos sobre arquitetura e urbanismo irão passar pela praça, tudo em prol de uma cidade mais inteligente e aproveitável.

O projeto, financiado por Outer London Fund, é parte da iniciativa de rejuvenecer o centro de Cricklewood. Spacemarkers, que já tinham trabalhado na regeneração do Brixton Village, inicialmente entraram com o trabalho de transformar lojas vazias na área em espaços melhores aproveitados pelos habitantes.

Deixar os moradores decidirem como o espaço deve ser e definirem suas próprias regras é essencial.

Mas a ideia acabou se desenvolvendo em uma praça móvel após estudos sobre o local, quando descobriram a falta de espaços públicos na area. Como os proprietários das áreas não permitiram a transformação deste espaço, a opção foi criar algo portátil e móvel.

A estrutura conta com uma torre do relógio feito à mão, e vai abrigar bancos e assentos feitos por fornecedores locais, utilizando materiais reciclados.

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Uma solução prática e lúdica, que proporciona um cenário vivo e ajuda a enquadrar os espaços.

O projeto quer mostrar o que os espaços públicos podem oferecer à comunidade, e como pequenos pedaços de terra podem ser usados para criar novos sentidos para a região. Mas mais do que isso, pretende-se instigar as pessoas locais a fazerem uma pergunta: “que tipo de espaço queremos, e onde podemos encontrá-lo?”

A praça, mesmo que temporária, espera encorajar mudanças de longo prazo em Cricklewood.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Aceite e incentive também o sofativismo

Desculpe o transtorno na cobertura especial sobre Cannes. É por um bom motivo: estamos querendo mudar o país. 🙂 Aqui está o post prometido durante o nosso Braincast especial sobre as manifestações que tomaram o Brasil nas últimas semanas.

O termo “sofativismo” é, por si só, bastante pejorativo: fala sobre um tipo de ativista que não sai do sofá e, por isso, permanece alheio à sua própria causa. Mas este post tentará fazer alguma justiça ao ativismo pela Internet.

Estava lendo uma entrevista feita há alguns meses com o professor Pierre Lévy (sim, você leu textos dele na faculdade, mas ele continua bem vivo e bastante ativo no Twitter), justamente defendendo o sofativismo. Ele apresentou há alguns anos o conceito de ciberdemocracia, em que as ferramentas digitais possibilitarão aos cidadãos um maior conhecimento sobre o país, Estado, município e comunidade onde vivem e exigirão das esferas de governo transparência nas contas e nas relações políticas. Mas sabe que o caminho para chegar lá demanda outras revoluções.

E não é o que estamos assistindo desde o ano passado no mundo inteiro? O que foi a Primavera Árabe se não um grande levante popular contra os governos de diversos países por maior liberdade de expressão, troca de conhecimento e transparência?

E os levantes europeus contra as soluções empacotadas para a crise econômica do bloco – grandes empréstimos aos bancos e apertos nos gastos públicos, que incluem uma série de benefícios para a população? De alguma maneira não pediam um diálogo maior com os anseios da população por soluções menos prováveis, como a da Islândia – que prendeu ex-governantes e banqueiros e construiu uma nova constituição de maneira colaborativa e online?

Finalmente falando de Brasil, o que estamos vivendo nos últimos dias, ainda que com um estopim pequeno como o aumento do transporte público nas principais cidades, mas com claros sinais de que as esferas governamentais não representam seu povo?

Para Lévy, o sofativismo é uma forma alternativa para o cidadão fazer o mesmo que o ativista tradicional, mas dispondo de ferramentas digitais. Na prática, o sofativismo ajuda a manter as pessoas informadas sobre os diferentes pontos de vista e, assim, a definirem posições sobre temas importantes.

Muitos focam-se nas imagens da repressão policial durante o Quarto Ato contra o Aumento das Passagens, mas se esquecem que uma semana antes, durante o Primeiro Ato, o Movimento pelo Passe Livre levou às ruas menos de 1000 pessoas. Ou seja: antes mesmo das cenas de violência policial desnecessária, até os telespectadores do programa do Datena já eram favoráveis aos manifestantes, com ou sem baderna, e não foi a TV que formou esta opinião.

E o que vem agora que levamos centenas de milhares de pessoas para as ruas? Agora é que o sofativismo deve manter todos em alerta.

A Internet deve continuar quente, sim. Deve ser o palco do aprofundamento de discussões importantes. É ali que iremos entender melhor que “Fora Dilma, Alckmin e Haddad” ou “Chega de corrupção desses canalhas do Congresso” servem como gritos na rua, mas não como bandeira do movimento. Se fosse assim, o Movimento Cansei teria tido algum êxito. A passeata contra o Mensalão, também. Longe de defender que o fim da mobilização deve acontecer quando o governo baixar as tarifas de ônibus, mas discutir transporte público nas principais capitais do país já é um imenso desafio!

Não é depois de ter mobilizado todas as pessoas conectadas e de levar uma boa parte delas às ruas sem a ajuda dos principais veículos do país que agora devemos seguir uma cartilha de manifestação dos jornais, só porque eles mudaram de idéia (#TEAMManifestantes?).

É muito fácil para alguém que viu tudo de fora até ontem mencionar o que está faltando para o protesto enfim se tornar “legítimo”. Se bem que, num momento em que a opinião pública é favorável, todo mundo vai dizer que já apoiava as manifestações desde sempre. Ainda bem que inventaram o permalink.

Se você achar que anda lendo opiniões estranhas demais, meu caro amigo, não desanime. Use a mesma Internet para compartilhar os seus pensamentos e convencer amigos de que algo está acontecendo. Não deixe a discussão cair em velhos antipetismos ou antitucanismos, porque até vinte míseros centavos valem mais do que isso.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Dá pra melhorar o mundo sem sair da cadeira?

Convenhamos: se você tem acesso diário à internet, raramente levanta a bunda da cadeira pra resolver coisas. Você não precisa mais ir ao banco, à farmácia, ao supermercado, à banca de jornal, a um restaurante. Em níveis extremos, seria sim possível viver anos e anos sem sair de casa e não perder muito do que se faz hoje em dia. Até que chegamos ao já popular (e altamente criticado) ativismo de sofá.

Já escrevemos sobre isso aqui, já falamos sobre isso aqui, já se fala muito disso em tudo quanto é canto. Mas o principal questionamento é sobre o quão eficiente é clicar num link e esperar que crianças não passem mais fome, políticos parem de roubar e animais parem de ser mortos. Não é assim que se resolve problemas. Todos sabemos, mas a maioria de nós não se preocupa o suficiente pra mudar de atitude. E daí estamos criando um mundo onde as pessoas não sabem mais conviver.

Só que ontem, vi algo que me pareceu diferente. Amanhã posso mudar de ideia, mas a princípio achei mais real do que os outros. Porque se propõe a movimentar e questionar com um vídeo uma realidade que tem seu principal problema numa falha de comunicação, numa distorção histórica de documentos mal interpretados. Como costumam ser todas as guerras. Vejam:

 

O vídeo é claro, sem firulas, sem exagero no tom emocional. Ele toca num ponto quase óbvio: até que ponto a decisão de nossos governantes, nossos representantes de fato representa aquilo que a população pensa / quer / faria se decidisse diretamente?

A iniciativa que começou no facebook ganhou apoio, viralizou, ganhou resposta (dos “inimigos”, confirmando que não são inimigos), saiu da internet e foi parar nos meios de comunicação mais tradicionais. E sim, é só o começo.

Mas um começo que a nós, brasileiros, faz pensar na relevância das mensagens que compartilhamos. A escolha ao clicar em “share” é maior do que “quero ser popular”, ela precisa sim passar por perguntas bobas na consciência individual de cada um: O que eu espero com isso? O que eu vou provocar nos meus amigos? Que informações as pessoas que receberem essa mensagem vão absorver?

Eu não tenho nada contra gatos e nem contra comida, muito pelo contrário. Eu realmente acho que o Facebook é um lugar onde se busca entretenimento. Eu acho “orkutização” um termo pejorativo e preconceituoso.

Mas é ignorância subestimar e subaproveitar o poder de compartilhamento que a internet e as redes sociais nos dão hoje em dia.

Depois de tudo o que fizemos para chegar onde estamos, paramos. Toda essa evolução tecnológica para nos comunicarmos das mais variadas formas possíveis, derrubar fronteiras, globalizar tudo e (teoricamente) superar diferenças deixou a gente meio besta, atônito. Não sabemos mais o que fazer e como fazer.

Mas já sabemos que podemos fazer. O que pode ser um bom começo.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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Com 32 milhões de views em 3 dias, “KONY 2012? redefiniu o conceito de ativismo digital

Eu já perdi a conta de quantos emails, tweets e facebooks de leitores do B9 pedindo pela publicação da campanha “KONY 2012″ por aqui (obrigado a todos que entraram em contato). O vídeo, que já atingiu impressionantes 32 milhões de views no YouTube em apenas 3 dias, é provavelmente a maiorvelocidade viral que já testemunhamos em redes sociais.

Pra quem ainda não sabe, trata-se de um movimento de uma ONG americana chamada Invisible Children. A intenção é fazer o mundo tomar conhecimento de Joseph Kony, líder do Lords Resistance Army (LRA), um grupo de guerrilha armada em Uganda.

Kony é acusado pela organização de sequestrar mais de 60 mil crianças no país durante os últimos 25 anos. Meninos são obrigados a converter-se em soldados, enquanto meninas se tornam escravas sexuais. Quem não aceita, morre.

Assisti o filme na segunda passada, mas, desconfiado do estilo Hollywoodiano e da proporção de uma campanha para uma ONG, decidi esperar antes de falar qualquer coisa, além de procurar saber o queria dizer também todo o criticismo em torno da denúncia.

Apesar do sucesso do vídeo, muitas pessoas o criticam por informações erradas – como a localização de Kony (que nem em Uganda está) e o suposto tamanho exagerado de seu exército – e principalmente por retratar Uganda de uma maneira equivocada.

Foi criado até um Tumblr para reunir as críticas de “KONY 2012″, e nessa manhã a própria Invisible Children tratou de responder os questionamentos, apresentando mais informações de pesquisa e inclusive um relatório financeiro depois de ter sido acusada de ter gasto quase 9 milhões de dólares no ano passado, e apenas 32% disso com serviços diretos.

Resumindo: A Invisible Children estaria gastando seu dinheiro de doações para fazer filmes com fatos distorcidos e dados exagerados, segundo a Foreign Affairs.

É natural que uma campanha de tamanho sucesso encontre seus detratores, mas a verdade é que o cinismo acabou misturando duas coisas diferentes: a ação pretendida pelo vídeo, que é a de espalhar o conhecimento e cobrar atitude dos líderes de outras nações; e a maneira como a peça soa maniqueísta com sua produção

Poderia até ser julgado dessa maneira quando se tenta encaixar o filme na categoria “documentário”, mas – política à parte – a verdade é que como peça de comunicação “KONY 2012″ é brilhante, principalmente por se tratar de ativismo digital.

Quanto as informações prestadas pela ONG e para onde vai o dinheiro doado, isso realmente precisa ser questionado e investigado. Mas e para aqueles em que o problema da campanha é parecer com roteiro e produção de Hollywood?

Basta lembrar que tem moleque de 14 anos fazendo vídeo em casa com muito mais audiência que produções profissionais. Faz tempo que a capacidade de gerar buzz e as ferramentas necessárias para um trabalho de comunicação não estão mais nas mãos de poucos e grandes.

Jason Russell, CEO e co-fundador da Invisible Children, colocou um líder militar de guerra civil no mapa, mas também acaba de redefinir o conceito de trabalho humanitário e, principalmente, a maneira como mobilizar a mídia e as redes sociais em torno de uma causa.

Brainstorm9Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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